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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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As provas de amor não são jóias, não são ramos de flores sem fim, não são carros nem férias de luxo. As provas de amor nunca são presentes que se pedem ou que se avaliam pelo valor transaccional. As provas de amor são sempre actos de dedicação, de carinho, são surpresinhas que espantam e deliciam. As provas de amor valem pela atenção com que se ouve o outro, pelo quão bem se demonstra conhecê-lo, pelo cuidado de o mimar. O amor não tem preço, não se pode comprar nem vender. Por isso não se pode (não se deve) querer dizer com um presente "gosto tanto de ti que gastei duzentos euros"; é ofensivo, a sério. Se eu nem uso relógio, como posso achar que um Tissot xpto seria uma prova de amor?!


 


As melhores provas de amor são pequenos detalhes, são momentos instantâneos e actos tangentes. São pequenos nadas como ele levar o formulário de inscrição à piscina para ela não ter de lá ir de propósito, ou convidá-la para o acompanhar à Biblioteca porque ela mencionou que tinha de renovar o cartão. São lembranças como deixar-lhe a mesa posta e uma flor na jarra quando ele chega cansado à meia-noite, ou abdicar de três horas de sono só para lhe dar um beijinho. São ir esperá-lo à estação a meio da noite para o ver sorrir, perguntar como correu aquela coisa no trabalho, ter sempre um pacote das bolachas que ele gosta, ou deixá-lo escolher um filme aborrecido. São poemas que ele escreve a pensar nela e prosas que ela escreve a pensar nele, são fotografias em que se vê uma beleza que os outros nem vislumbram. Provas de amor são improbabilidades como ela levá-lo a um jogo de futebol da equipa que abomina ou compilar uma playlist das músicas que ele gosta. São, por vezes, sacrifícios como assumir as culpas por um erro do outro, tolerar o cheiro pestilento a tabaco emaranhado nas roupas e cabelos, e são as súplicas para que se páre de fumar. São voluntarismos como antecipar as tarefas domésticas que a deixam de rastos antes dela pedir ajuda, ou dar-lhe uma massagem nas costas doridas. São cuidados como perguntar a opinião antes de tomar decisões que afectam o outro, levantar a horas para que não atrasar quem tem mais pressa, não fazer barulho para não acordar o outro, oferecer uma torrada se se vai fazer outra ou perguntar se também quer vir dar um passeio pela rua. São elogios às pequenas particularidades, ao pequeno sinal na bochecha, ao penteado ou ao cheiro bom da pele.


As provas de amor são silêncios de concordância, são espaços de partilha, são diálogos com o olhar, risadas cúmplices e margem para erros. São perdões, são tolerâncias, reconhecimento e agradecimentos, são meter o orgulho de parte, tomar riscos e enfrentar contrariedades. São entregas de corpo e alma, são intimidades no sexo e para além dele, atender sempre o telefone, ter sempre um ombro amigo e nunca virar as costas.


 


As provas de amor são as mesmas que as provas de desamor. Umas estão lá, as outras não.


 


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