Vai-se tornando importante com o tempo. A segurança económica, a social, a da saúde. A idade adulta traz disto. Fazemos PPRs, pagamos 11% do que ganhamos para, se um dia for preciso, na doença ou desemprego, termos algum apoio. Fazemos seguros de vida, de acidentes, seguros do carro, da casa, anti-incêndios, de bens. Tudo é “segurável”, até partes do corpo. E da segurança emocional, ninguém ainda se lembrou?
“Eu queria fazer um seguro contra desgostos, se faz favor.”
Quando a cabeça e o coração ainda estão na adolescência, atiram-se de cabeça, não viveram ainda o suficiente para saber que dói muito mais do que se vê nos filmes, que têm sempre finais felizes, ou pelo menos justos. Não se sabe o quanto a puta da vida custa, que as perdas deixam crateras enormes e para todo o sempre. Na adolescência do coração, não se conhece limites. Tudo o que se tem, dá-se, que não há fantasmas nem esqueletos no armário nem cicatrizes. Assim, sem ponderar nem equacionar nada. De peito aberto, convicto que aqueles instantes vão durar para sempre e nunca vai existir um lado B. Não se avistam finais, nem distâncias, tudo é forever e 200%. Depois, invariavelmente, vem a dor. Vem a perda. Vêm incêndios da alma que roubam tudo quanto foi alegria, que apagam em cinzas os sorrisos. Aprende-se que o forever pode afinal não durar sempre e o absoluto pode afinal ser tão relativo. Aprende-se que a reconstrução é lenta, penosa e pode nem ser sólida para aguentar-se às tempestades. Porque se sabe então que vão abater-se mais tempestades e a estrutura vai ter de resistir, sob pena de se ficar com a alma desalojada. Às vezes fica-se e a alma, penada, deambula longamente sem sair do mesmo sítio.
Quando a cabeça e o coração se tornam adultos, à custa dumas valentes quedas da cloud number nine, desconfiam. Não significa que deixem de ser puros e de sentir com a mesma verdade. Tornam-se renitentes. Não sucumbem de imediato às vontades, sequer às provas de que vale a pena dar um mergulho no vazio. Precisam de garantias e certezas e tornam-se medricas, tremem de medo das nódoas negras (mais as facadas) sentimentais. Não cedem se não estiverem muito certos do que querem. Precisam de atingir um ponto, entre a tentação e a segurança, que lhes permita deixarem-se ir, e a tentação tem de ser enorme. Tem de valer a pena os possíveis danos que dantes se desconhecia. O risco de perder o juízo e aniquilar os remendos nas cicatrizes versus a felicidade sonhada. Só quando vêm no fundinho do seu imaginário, o desejo, o sonho (o tal que comanda a vida), promessas de oásis no deserto árido da solitude, estrelas cadentes e fogo-de-artifício, a rendição acontece. Entrega-se a alma dentro do coração, de bandeja, como uma aposta de tudo ou nada. E não havendo seguro contra desgostos, é mesmo isso. Ou se perde tudo, ou só se ganha.