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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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[Crónica publicada no Repórter Sombra.]

No rescaldo de mais uma Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas), a COP24, ocorrida em Dezembro na Polónia, ousemos perguntar o que nenhuma televisão ou jornal mainstream perguntou: que avanços fez a maior autoridade mundial no tema em relação à mais premente ameaça global? A resposta é triste. Nada. Zero. Bola. Nicles.

Além de relatórios com dados científicos que apontam as balizas máximas a que podemos permitir que o planeta aqueça (“muito baixo dos 2°C”), cálculos optimistas e prazos demasiado permissivos para nos desviarmos do caminho do descalabro, o IPCC queda-se entre a impotência e a inépcia para realmente mudar o curso fatalista para que o capitalismo nos atirou.

Este organismo da ONU existe há trinta anos e o melhor que conseguiu até agora foi forjar acordos que têm sido incumpridos pelos signatários e desprezados por países que são responsáveis por grande parte da quota de emissões de gases de efeito de estufa. Os Estados Unidos da América anunciaram a saída do Acordo de Paris em Junho de 2017, o Brasil já deu sinais no mesmo sentido, e todos os países cuja economia depende dos combustíveis fósseis rejeitaram o último relatório do IPCC, divulgado em Outubro: EUA, Rússia, Arábia Saudita e Kuwait.

Em 1997, os signatários do Protocolo de Quioto estabeleceram a meta de redução de 18% (20% na União Europeia) das emissões de gases com efeito de estufa em comparação com os valores de 1990. Os EUA não assinaram e desde então Canadá, Rússia, Japão e Nova Zelândia ficaram fora do acordo, pelo que este compromisso só abrange cerca de 14% do total de emissões. Em 2014, a UE ratificou o Acordo de Paris, comprometendo-se com a meta vinculativa de 40% de redução (face a 1990) das emissões até 2030. Como expectável, este acordo de boas intenções não teve impactos significativos fora dos documentos e resultou em coisa nenhuma.

Ainda que fossem cumpridas as metas propostas por um documento que só abrange 55% das emissões de gases de efeito de estufa, as suas repercussões seriam insuficientes. Mas não é o caminho da redução de emissões que o mundo está a tomar. 2018 foi o ano recordista de emissões, com a concentração de CO2 mais elevada dos últimos três milhões de anos. Os vinte anos mais quentes da História ocorreram nos últimos vinte e dois anos. Ao passo que os governos neoliberais enchem manchetes de slogans apelativos a falar da descarbonização, de empregos verdes e de energias renováveis, na prática continuam a apoiar as indústrias petrolíferas e as actividades delas directamente dependentes, a concessionar áreas para prospecção de petróleo e gás, a fomentar a massificação do transporte aéreo, a penalizar os trabalhadores com taxas e impostos sobre veículos e combustíveis, a negligenciar a premência do combate às alterações climáticas e a não apresentar alternativas viáveis para as questões energéticas, alimentares, para a mobilidade ou para as crises sociais decorrentes ou agravadas pela crise universal ambiental e climática.

António Guterres, secretário-geral da ONU, na abertura da COP24 pediu a governos e investidores que "apostem na economia verde, não no cinzento da economia carbonizada". Fê-lo na Polónia, país com uma actual dependência energética de 80% do carvão, na cidade anfitriã de Katowice, cuja mais significativa actividade económica é a exploração de reservas deste combustível fóssil. As próprias reuniões da conferência tiveram lugar numa mina de carvão desactivada e um dos patrocinadores oficiais do evento é uma empresa de exploração de carvão. O presidente polaco, na mesma sessão de abertura, faz a apologia da utilização do carvão pela via da “segurança energética” (leia-se lucro) e segue a sua performance de demagogia extrema ao afirmar que isto não conflitua com a protecção do clima, e que "os diferentes países devem abordar a política económica e climática de uma maneira realista, e evitar situações que ameacem a estabilidade das suas sociedades", já que, embora "a acção climática represente muitas oportunidades e benefícios económicos, sociais e de saúde, também gera custos, especialmente em regiões tradicionalmente baseadas nos combustíveis fósseis". Ou seja, num evento que deveria centrar-se na ciência e nas políticas necessárias a evitar o colapso civilizacional, a palavra mais repetida continua a ser economia e o tema central continua a ser o capital.

Observemos, então, temas colaterais de somenos importância, como vidas humanas. Estima-se que a média anual de deslocados por mudanças climáticas entre 2008 e 2016 chegou a 25,3 milhões e, a continuar a este ritmo, as alterações climáticas serão responsáveis por 200 milhões (sim, duzentos milhões!) de refugiados climáticos até 2050. A Organização Mundial da Saúde estima sete milhões de mortes anuais por causas directamente relacionadas com a poluição. Ainda que observemos apenas a perspectiva capitalista, a mesma OMS estima que, nos 15 países que emitem maior quantidade de gases com efeito de estufa, os impactos na saúde da contaminação do ar custem mais de 4% de cada PIB, ao passo que as acções para alcançar as metas do Acordo de Paris custariam cerca de 1% do PIB mundial. Dá que pensar? Pensemos mais um pouco.

Sabemos que apenas 100 empresas são responsáveis por 71% das emissões globais de gases de efeito de estufa. Estamos a destruir a atmosfera (e a civilização como a conhecemos) para que muito poucas pessoas tenham acesso a lucros estratosféricos. Essas pessoas são tão mortais quanto o resto de nós, os seus descendentes e os nossos. A bem de quê? Do lucro imediato, da sustentação de um sistema que assenta na exploração de quase todos por parte de uns poucos? O lucro não pode continuar a ser colocado acima da vida de biliões de pessoas!

O máximo que podemos permitir que as temperaturas médias globais subam em relação a níveis pré-industriais é 1,5ºC (e até 2018 a subida média registada já é de 1ºC). Para isto ser possível, é necessário cortar as emissões em cerca de 50% nos próximos onze anos, até 2030, e atingir a neutralidade carbónica em 2100. Isto não significa que não existam já consequências graves neste momento (a abundância anormal de fenómenos climáticos extremos, secas e fogos florestais devastadores, a subida do nível médio da água do mar, com impacto directo na vida de pelo menos metade da população mundial), significa sim que, a partir deste limite, a vida nos moldes em que a conhecemos hoje será insustentável. Os efeitos das alterações climáticas e da geopolítica de um mundo orientado globalmente para produção de lucro são directamente responsáveis por crises migratórias, por escassez alimentar, por guerras e por crises sociais e humanistas. As populações mais vulneráveis são as mais pobres e fustigadas e, dentro destas, as mulheres são sempre o grupo mais fragilizado. Além de irracional, é eticamente aceitável que continuemos a permitir, impávidos e serenos, ao homicídio em massa da Humanidade?

Nem todos estamos de braços cruzados a aguardar o ponto de não retorno. O número de activistas envolvidos em protestos contra as alterações climáticas e a exigirem aos seus governos acções concretas e drásticas na redução de emissões de gases de efeito de estufa tem sido surpreendentemente grande, dizem os media, mas este factor surpresa só existe por parte de quem não reconhece a centralidade e urgência desta luta. As consequências das alterações climáticas são catastróficas para todo o planeta e o tempo de agir é agora, pelo que na verdade, do ponto de vista do activismo pela justiça climática, muitos mais (virtualmente, todos) são necessários.

A luta não é vã. Em Portugal, com apenas três anos de luta coordenada entre a sociedade civil e pequenas organizações ambientalistas, foram cancelados 13 dos 15 novos contratos previstos em 2015 para exploração de hidrocarbonetos (e os dois ainda activos, para exploração de gás nas zonas de Aljubarrota e Bajouca serão também suspensos), o que significou uma derrota estrondosa do plano de um governo que tem apoiado de forma despudorada as grandes empresas petrolíferas. Contudo, isso é apenas uma ínfima parte das lutas que têm de ser travadas em todo o mundo, porque a única forma de não mudar o clima de forma insustentável é mudar o sistema. Não há forma de a civilização como a conhecemos ultrapassar isto de outra forma. Não nos podemos dar ao luxo de perder esta luta.

A Maria Vieira e suas opiniões inusitadas e não menos inflamadas faz-me lembrar certos bloggers. Creio que o problema que os move é o mesmo e um único: carência. Há pessoas que precisam de atenção como de água, têm de ser faladas, notadas, ou no caso de bloggers, visitadas.

Se o seu trabalho não é notório e os conteúdos não têm um interesse avassalador para as massas, então a receita certa é simples: disparatar. Dizer coisas incendiárias, que polarizem opiniões, para logo se gerar celeuma em torno do tema. Os temas, normalmente, são tão fracturantes e absolutamente fulcrais para o planeta como as opiniões pessoais em relação a… sei lá... como exemplos avulso: a amamentação, dietas, alianças políticas, o busto ou os gémeos do Ronaldo. Ou seja, nada que interesse.

Em suma: o discurso do ódio rende. Move apoiantes e opositores prontos a digladiarem-se em praça pública (que é como quem diz, na internet), e entretanto o autor do disparate (ou opinião pessoal) colhe os seus dividendos: protagonismo, visitas, popularidade.

A Maria Vieira (ou lá quem actualiza o seu Facebook) prima por disparar em todas as direcções. O meu remédio para estas febres é, normalmente, aquilo que mais enerva quem busca protagonismo: ignoro em absoluto. Não partilho links, não entro em discussões com trolls cibernéticos (já me bastam os trolls que sou obrigada a aturar ao vivo). É a melhor forma de antagonizar o disparate.

Quanto ao aquecimento global, por ser efectivamente um tema por demais prioritário e que, creiam ou não os trolls, interessa a cada um de nós, deixo este *,.gif que não podia ser mais claro.

Ambientador ecológico e low cost, e ainda uma maneira de reutilizar uma das maiores maravilhas da natureza no que aos aromas diz respeito, quem quer?


 


Falo de uma solução caseira usando paus de canela, esse ingrediente fantástico existente em qualquer cozinha. Eu sou suspeita para falar, porque a canela é um dos meus aromas e sabores de eleição, mas desde que tive esta brilhante ideia não quero outra coisa.


Perfeito para borrifar na cozinha, sobretudo depois de cozinharmos coisas que deixam um odor persistente no ar, como caril, mas também ideal para ser usado na casa de banho e deixar um cheirinho fresco, ou em qualquer divisão da casa, e mesmo nos armários de sapatos, por exemplo.



 




Como fazer? Colocando em uso a política dos 3 Rs:


- Reduzir o consumo de sprays nocivos para o ambiente, bastando para tal não os comprar! ;-)


- Reutilizar um frasco borrifador (eu uso uns de um produto para o cabelo, mas qualquer um que permita abrir e encher serve, enquanto o borrifador estiver a funcionar).


- Reciclar, dar um novo uso a algo que já foi usado. Neste caso, a paus de canela que já passaram por um gostoso arroz doce, ou um chá, o que seja.


Lavar 2 ou 3 paus de canela em água, esfregar com os dedos se for necessário para retirar eventuais resíduos de comida. Depois, deitá-los no frasco borrifador. Encher com álcool etílico.
Depois é deixar a macerar uns dias, até o álcool ficar amarelo (quanto mais tempo passar, mais intenso ficará o aroma e a cor), e utilizar sempre que quisermos.


Uma óptima variação é acrescentar uns cravinhos da Índia (deixa um cheirinho exótico mesmo bom), mas o melhor mesmo é ir fazendo experiências com outros ingredientes, como cascas de limão ou laranja (só a parte vítrea), sacos usados de chás e infusões daqueles nem aromáticos (menta, baunilha), rodelas de gengibre...

Nós também não temos carro, não nos faz grande falta. Usamos os transportes públicos diariamente, para as deslocações casa-trabalho-casa e, se muitas vezes reclamamos do tempo que demoramos e do preço dos passes, logo nos recordamos dos dias como o de ontem, em que tivémos boleia de carro para casa - e chegámos mais de uma hora (!) mais tarde em relação à hora habitual. Mas se um dia decidirmos que podemos e devemos, vai ser uma coisa parecida com esta*. 



 * Não é à toa que digo isto, já há um Leaf na família (modelo actual e não o protótipo do vídeo, naturalmente) e o balanço é muito, muito positivo. As vantagens são imensas, a começar pela poupança incrível e pelos ganhos ambientais. Eu já era fã da Nissan, foi um Sunny o único carro com que tive uma daquelas relações emocionais meio tolas (era conhecido na família como "o melhor carro do mundo", para terem uma ideia), mas o Leaf foi mais longe e as "emissões zero" conquistaram-me completamente.


 

A propósito da COP - 21 (Conferência do Clima), tema que me é particularmente caro e, em boa verdade, não pode deixar ninguém indiferente (desenganem-se os cépticos, toca mesmo a todos, queiram ou não), pus-me outra vez a imaginar quão diferente poderia ser o mundo hoje e nas próximas décadas se, em vez do burgesso George W. Bush, tivesse sido Al Gore o presidente eleito (como deveria, já que teve a maior parte dos votos).



A quem não viu, peço por favor que veja o documentário Uma Verdade Inconveniente. Chamem os filhos, os pais, os amigos, toda a gente deve ver este filme, informar-se sobre os aspectos que lhe causar dúvidas, ter noção da dimensão do problema e da parte que está ao alcance de cada um de nós (todos, sem excepção!) para tentar minimizar o já inevitável estrago. Questionem, pressionem, incomodem, e sobretudo pensem bem como querem definir o futuro global do planeta e dos seres vivos que dele dependem.


Está nas nossas mãos!



 


Al Gore sou e tuuuu, Al Gore sou eu e tuuuu,


Vamos salvar a Terra, o nosso pelaneta, o pelaneta azuuul.

Animais fantásticos, maravilhosos mesmo. Não consigo perceber a repulsa de algumas pessoas para com estas fofuxas. Que, para mais, ajudam a livrar o mundo de algumas melgas, essas sim, bichas sanguinárias.


 


Tenho um colega que se pela de medo de aranhas. O mesmo que me conta, para me horrorizar, como, quando era miúdo, ateava fogo a lagartixas dentro duma garrafa. Acho que vou comprar daquelas aranhas de borracha para enfeitar uma certa secretária...


 


É de estranhar que eu não seja vegetariana. Isto a propósito dos traumas de infância. As rolas que viravam canja sem eu perceber e que deixaram de sair da gaiola para a panela quando percebi. As enguias estripadas que ainda assim fugiam pelo quintal. Os linguados acabados de pescar: “o pequenino é para a menina.” O coelho morto com uma pancada na cabeça e o tenebroso som da pele a ser separada do corpo, enquanto meio metro de mim assistia petrificada por trás da porta da cozinha, de lágrimas a escorrer sem soluços. O conflito interno de ver os meus avós a cometerem aquele crime atroz, o pedaço de respeito que morreu naquele momento. Os frangos e perús a serem escaldados e depenados. Os caracóis e as sapateiras enfiados vivos nas panelas. Tudo tão familiar e natural. Nunca deixou de chocar-me, nem antes nem depois de se instalarem, amadurecidos, ideais mais verdes. Nem nunca chocou o suficiente para recusar as vítimas no meu prato. E eu, que sempre gostei mais de arroz.


 


(E agora, vou meter as mãos na massa, literalmente. Filhós de abóbora!)


 



 

Desconhecia este projecto e graças à ursa Pólo Norte acabei de descobri-lo. E em que boa hora! Andavam os senhores progenitores de Ventania a falar em como se desfazer duns itens domésticos que, já não lhes tendo utilidade, estão funcionais e em bom estado. E Ventania, ambientalista-e-grande-opositora-de-todo-o-desperdício que é, comprometeu-se a arranjar uma solução, nem que isso implicasse espremer tudo dentro da sua arrecadação (cuja vocação, como não sabem mas até podem saber, é a de guardar calçado de inverno no verão e vice-versa, cavaletes, telas e material de pintura, alguns mantimentos e, sobretudo, alojar uma pequena garrafeira com aspirações a ser um dia um pequeno tesouro vinícola). Pois que o problema se afigura resolvido, com ênfase nos dois primeiros dos três R (de Reduzir e Reutilizar), e ajudando quem mais precisa: instituições de solidariedade social. Isto como uma alternativa a doações de proximidade. Se têm amigos, conhecidos, vizinhos, que tenham falta de alguma coisa que tenham a mais, por favor, não deitem fora. Passem por cima dos preconceitos, e ofereçam, certificando-se que os itens doados não são a seguir postos num latão de lixo. E vice-versa! Se precisamos de alguma coisa que alguém conhecido tem e quer oferecer ou deitar fora, é aceitar! Dá-se nova vida a qualquer coisa, e poupa-se uns trocos que fazem falta a todos (especialmente em alturas de vacas magras como a que atravessamos - há anos, aliás). Afinal, a ‘caridade’ começa em casa.

P.S. – Não, não é demagogia. Contam-se nos palácios presentes e passados desta que vos escreve dois televisores, copos de vinho, um quarto, um colchão, uma fruteira, quatro mesas, uma secretária, uma cadeira giratória… Tudo usado, e aproveitado sem pudores. E foram doados a amigos e desconhecidos outro quarto, um forno, um esquentador, varões para cortinados, torres de CDs, infindáveis quantidades de roupas, calçado, etc. e tal.