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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Um clique, um instante, e toda a história é resumida. Uma fotografia que conta uma história de estórias feita, entrelaçadas e unidas. Podia ser a preto e branco, de tão nítida e forte, mas tem cores. Almas fortes, encontradas e unidas por acasos a que não seria possível escapar. Tão diferentes. Tão irmãs. O que se vê é a definição de sororidade. Unidas por uma rede de aço invisível, por todo um chão comum e divergências que as tornam complementares. Umas em primeiro plano, outras mais distanciadas. Os risos adivinham-se, sonoros, que são constantes, mas as lágrimas de todas, tantas já engolidas, soluçadas, abafadas, ficam apertadinhas nos segredos só delas, nas cartas adivinhadas, nos pensamentos dissecados e alguns nunca verbalizados. Unidade. Para tomar as ruas, para incendiar espíritos, para carpir em conjunto as dores, para chamar à razão, para acalmar e dar raspanetes, para tudo compreender, tudo perdoar, para dar o impulso na subida e o amparo na queda. Elas sorriem e brindam, que um copo cheio sempre afaga alguma carência, mesmo que só a fingir, mesmo que só por um instante. Eles, sempre omnipresentes, em primeiro plano ou em background no pensamento delas, todos citados sem excepção. Pactos e promessas reafirmados, sem necessidade, que cada uma sabe bem quem a leva no coração. Sorte grande, esta de ter grandes amigas.

Pessoas que são um sumidouro de energia alheia, que sugam a boa vontade, o carinho, a disponibilidade. Que para toda a gente têm sorrisos, palavras doces e simpatias, mas para ti não, mal reconhecem a tua existência. Pessoas que te deixam pendurada à espera de respostas, que não retribuem com um mero aceno de cabeça, para fazer valer o seu silêncio, que mói e machuca. Pessoas que quase parece que fazem um favor em brindar-te com as suas palavras quando não precisam de nada, mas que não se fazem de rogadas em usar e abusar da tua estima para se protegerem das agressões externas (e internas, tantas vezes). Pessoas que colocas num pedestal na tua vida, no teu coração, mas que ignoram se estás bem e nem se dão ao trabalho de perguntar. Pessoas que se esquecem do teu aniversário ou das coisas realmente importantes para ti (porque tu não és assim tão importante). Pessoas que passam por ti e olham para o outro lado. Pessoas que fazem mil planos e promessas contigo, mas que nunca têm tempo ou oportunidade ou vontade de  concretizar nada. Pessoas que mostram o quão insignificante és a cada oportunidade que surge. Que não querem saber de ti. As mesmas pessoas que te dizem que és tão importante, que és fenomenal, que não querem nem sabem viver sem ti, que te rasgam elogios que te derretem, mas que jamais dirão um décimo de tudo isso em público e que te mostram exactamente o oposto, dia após dia. Pessoas que fazem de ti suas muletas mas sabem que têm o poder para dispor do teu humor, que abusam da desproporcionalidade para se sentirem lá no topo do buraco de onde as resgatas tantas vezes. Pessoas que viram todos os argumentos para te deixarem o ónus nas mãos, que chegam efectivamente ao ridículo de te dizerem que se gostas  delas é problema teu, que dizem que fariam tudo por ti e no momento da verdade nem vê-los. Pessoas que sabem que te querem por perto, mas não sabem porquê. Que dizem que te estimam e que te respeitam e gostam "muito muito" de ti, mas afinal onde cabes tu cabem tantas outras um degrauzinho acima e se um dia ousas exigir retribuição te viram costas porque estás a pressionar e a ser exigente e podes bem morrer que se lhes dá igual. Pessoas que não sabem o que querem, só sabem que é "algo entre o tudo e o nada" e não têm urgência nenhuma em chegar a alguma  conclusão porque te têm ali de reserva, na prateleira dos planos B ou C ou Z, com a etiqueta "usar para remendar o ego". Pessoas que usam a tua casa, o teu dinheiro, a tua vida, o teu coração como hotel, instalam-se como se pertencessem ali, aproveitam todos os benefícios incluídos, mas saem de repente sem dar uma explicação, sem entregarem as chaves, deixam tudo revolto e sujo para tu começares de novo e varreres os cacos. Pessoas que te custa a assumir, mas que te usam. Pessoas que te arrumam bem lá no fundo do baú das memórias, juntamente com as partes da vida que querem deixar para  trás e que nem se dignam a espreitar quando retornam de visita. Pessoas que nem sabem o teu nome quando te beijam às escuras. Pessoas que só te beijam às escuras ou dentro de quatro paredes e têm vergonha de ser vistas contigo em público. 

[Não serei actriz secundária da minha vida. Não me colocarei em segundo lugar nunca mais.] 

 

Pessoas acima identificadas, hoje digo-vos apenas isto: estimo que se fodam!

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Amizade é a gratidão e o espanto de ter outra pessoa a querer saber de ti, a gostar de ti, a devolver-te a admiração que tens por ela. Um amigo aceita-te com toda a bagagem que tragas e ajuda a arrumá-la ou a deitá-la fora para te tornar o caminho mais suave. 

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[Publicado originalmente a 13.07.2010.  E mantenho cada palavra.]

 

 

Hoje vou citar. E vou citar aos bochechos, que muito há para dizer. E quem vou citar? O Edson Athayde, no ionline. Ora vamos:

Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. A vida, para mim, é isso. Tudo mais é complemento, é consequência, é redundância.

 

Não sou tão extremista. Há mais na vida para além dos amigos e, pese embora deva ser uma vida incomparavelmente triste e pobre, há quem não tenha amigo algum (acreditem, há) e tenha uma vida, lhe confira significado e talvez até tenha interesse. E há que separar o trigo do joio. Hesito em chamar amigo a pessoas que conheço, até com profundidade, se não as gosto. Outras há que, conhecendo em menor extensão, confio sem second thoughts, de natural que é. Daquelas coisas que não se explicam com muita lógica, mas que se sentem sem dúvida.

 

Fazer amigos: o mais difícil, com o passar do tempo. Quando miúdos, só são necessários uns interesses em comum. Entre os rapazes a coisa é ainda mais simples: basta ser adepto da mesma equipa, gostar do mesmo sabor de gelado, demonstrar alguma habilidade no Subbuteo, ter uma certa fixação pelos seios da professora Sónia. E assim começa uma longa amizade. Depois de cruzarmos o cabo da boa esperança dos 30 anos aparecem as complicações. Mais ninguém que nos aparece é assim tão confiável. Fazemos colegas de trabalho, companheiros de futebol, cúmplices de bares, mas amigos novos é coisa que vai rareando.

 

Na infância, os conceitos de lealdade e confiança são menos permeáveis às nuances das realidades que a vida adulta impõe. E talvez por isso mesmo, quer-me parecer que sempre coloquei as fasquias demasiado elevadas, e cada vez mais com o passar dos anos. No entanto, a vida te-me reservado boas surpresas (ao menos) neste campo. Não guardo amigos de infância. Alguns da adolescência, mas devo dizer que as pessoas excepcionais que fazem ou fizeram parte do meu círculo de Amigos, encontrei-as em grande parte em idade adulta. A comunicação vai muito para além do corriqueiro e toca sensibilidades que não estão expostas aos 15 anos. A frontalidade, o despretenciosismo de se dizer o que se pensa sem querer impressionar ninguém, ajuda imenso a conhecer as pessoas com quem se interage. E por vezes bastam meia dúzia de frases, uma empatia inicial que abre caminho a gargalhadas ou a reflexões. Falo por mim, que tomo consciência de que tenho feito novos amigos, de quem gosto genuinamente e a quem abro a alma sem reservas. As duas moças do curso de escrita, de quem sinto falta das cumplicidades. O pescador gótico com um sentido de humildade que me tocou. A ex-chefe a quem arregalava os olhos e não poupava críticas, de onde nasceram laços profundos. A velha colega de curso que de repente se revelou em palavras à distância. A amiga de amigos com quem estive em duas ocasiões apenas e me lê mais pensamentos do que os que partilho. O dentista que passei a tratar por tu por entre estórias de vida. A colega de trabalho com quem podia conversar dias a fio. É preciso não ter medo. Medo de ser quem somos, de assumir os nossos sonhos e as nossas falhas. Dar um pouco de nós aos outros não nos torna frágeis nem susceptíveis. Torna-nos mais ricos. Dar um sorriso que seja, não custa nada e pode alegrar o dia de alguém. Mais, pode convidar a entrar na nossa vida pessoas que, só por existirem, fazem da vida um sítio melhor.


Manter amigos: dependendo de com quem é pode ser uma missão simples. A amizade permite-nos um sem-número de erros, vacilos, pequenas maldades, desconsiderações. A amizade pressupõe uma quantidade hiperbólica de perdões. Claro, há sempre um limite. Mas não há amigos perfeitos, porque não há pessoas perfeitas. E o que seria da amizade sem a misericórdia, sem a compreensão? Aos amigos, tudo. Aos inimigos, o justo.

 

Não há amigos perfeitos, nem pessoas perfeitas. Dos grandes amigos espera-se demasiado, porque são aqueles que admiramos, que prezamos. As pequenas falhas magoam demais e podem tornar-se desilusões. As mesmas que causamos nos outros. Não há regra nem receita para o sucesso. Bom senso e compreensão costumam ajudar. Ver o lado do outro, walk a mile in their shoes. Perguntar "porque fizeste isto?" antes de julgar. E perceber que se a amizade não vale o suficiente para engolir o orgulho e perdoar, então não é amizade, é conveniência.

 

Perder amigos: costuma ser uma tristeza pior que a morte. Quando o que morre é a amizade e não o amigo, o fantasma do que antes era belo assombra e assusta. Quer pior coisa que um ex-amigo? O ressentimento é o cancro das emoções.

 

Não o diria melhor. Tristeza pior que a morte. Sei bem o que é perder um amigo, a pouca importância que têm as culpas e as razões perto do vazio que se instala no peito. Coloca-se tudo em causa: a importância que se teve para o outro, as palavras ditas, a confiança quebrada. Permanece, sobretudo, o sentimento de injustiça. Como pode alguém a quem quero tão bem descartar-me como se lhe fosse incómodo ou nefasto? A amizade valia tão pouco que foi trocada por isto?

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Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. Repito, repito, repito. Penso e repenso nisso ao reparar nas mais de 6500 almas que me adicionaram como “friend” no Facebook. O que devo fazer para não decepcionar essas pessoas que não conheço? Como posso tornar sustentáveis milhares de relações virtuais sem (com isso e para isso) descuidar das pessoas de carne e osso que teimam em ter-me como amigo?
Há muitas respostas para essas perguntas. Mas não gosto de estabelecer regras nem professar ciências. Só queria alertar para que vale a pena pensar no assunto. Conheço gente que, desde que começou a facebookear, passou a tratar com descaso as pessoas reais das suas vidas. Eu mesmo apanho-me de vez em quando enciumado com amigos que postam nas suas páginas coisas que, teoricamente, só os mais íntimos deveriam saber. Se calhar é coisa minha (minha idade emocional não vai muito além dos cinco anos). Mas recomendo atenção. Amigos, amigos, Facebook a parte.
Ou como diria o meu Tio Olavo: “Amigo é alguém que, ao nos conhecer de verdade, não sai a correr.” 

 

Amigo é quem me conhece e, ainda assim, gosta de mim. Digo eu, que nunca privei com o Sr. Olavo. Não vejo porque separar os amigos "reais" do facebook. O facebook (e quem  diz facebook diz qualquer rede social) pode (e deve) conter apenas laços reais, cujo suporte se prolonga no mundo virtual. Longe das advertências do Edson, eu sou apologista incondicional das vantagens emocionais do facebook. Cuide-se da privacidade com bom senso (sempre) - e há ferramentas para isso, e as amizades não têm porque não sair fortalecidas. Claro que não é caso para trocar o convívio pessoal com o virtual. Mas, é inevitável, uma boa parte dos amigos e conhecidos não estão sempre por perto. Há uma boa porção de pessoas que as circunstâncias da vida afastam do dia-a-dia e que nas redes sociais não têm de estar afastadas. Convenhamos, quem vai telefonar ou enviar um e-mail àquele velho colega que está há dois anos emigrado e com quem não se manteve contacto regular só para dizer "olá" ou "ontem li uma notícia que me fez pensar em ti"? E porquê criar anticorpos à tecnologia, se esta, bem utilizada, não só não se substitui aos laços 'reais' como pode mesmo estreitar laços em que, de outra forma, não se investiria o suficiente?...

Estão a ficar umas pirosonas do piorio! Não todas, mas algumas, de um círculo laboral do passado. Não é muito mau estar a fazer um post sobre isto se lhes digo o mesmo na cara e olhos-nos-olhos, pois não? Olhem, se for, que se lixe, é a mais pura das verdades, e uma pessoa tem de desabafar. É que passei 10 minutos no livro das fronhas e ainda estou um bocadinho em choque, a interrogar-me como é que isto aconteceu, quem são estas pessoas e - o pior - será que alguma vez vou ficar assim?


Vejamos:



  • Estão loiras-platinadas-mesmo-muito-loiras-quase-suecas. Isto nos primeiros três dias após a coloração, depois começam a ver-se as raízes escuras e passados quinze dias baixa o look Buraca-Damaia-Cova da Moura. (Impossível não pensar naquela prima da minha colega de faculdade que se interrogava "porque é que estas raparigas loiras tão giras pintam as raízes de preto?")

  • Uma delas colocou mesmo extensões. A mise dá uma trabalheira e como tem de aguentar a semana toda, mete-se uns raibantes a fazer de bandolete, a ver se disfarça as raízes oleosas.

  • Vão a concertos do Tony Carreira. A Rihanna eu ainda tentei compreender, o Anselmo Ralph já foi demais, mas o Tony?! Se isto é assim agora, quando tiverem 40 anos vão vibrar com quem, o Marco Paulo e o Emanuel?

  • Fazem likes nos próprios posts. Em todos e cada um deles. E partilham citações da Chiado Editora, e dizem bom dia e boa noite todos os dias no FB, com imagens de animaizinhos ou poeminhas cheios de erros ortográficos.

  • São as rainhas das selfies. Quatro em cada cenário, sempre a fazer pose, num exercício narcísico contínuo, piores que as adolescentes. Há todo um esforço para parecer que as fotos são 'profissionais' (como em tiradas pelo fotógrafo que mete os noivos na montra numa montagem cheia de corações), mas depois têm os pés cortados ou um caixote de lixo ao fundo.

  • As produções das fatiotas às vezes fazem lembrar aquelas boutiques finas onde as irmãs Kátia Andresa, Ariana Cristina e Bianca Raquel compram os vestidos de folhos para os casamentos. Ele é racha, ele é decote, ele é justinho, ele é transparências. Tudo ao mesmo tempo.


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  • A maquilhagem também está sempre completa (para ficar bem nas selfies, pá!), laranja até ao pescoço. E unhaca de gel (juro que uma delas andava com uma unha de cada cor - "c'horror!").

  • E depois há o bling! Ah, os meus olhos!!! Na sandália, no pescoço, nos dois pulsos, nas orelhas, nos dedos. O statement necklace sentiu-se sozinho e chamou toooda a família. Todos a fazerem statements muito alto.

  • Vivem em apartamentos sem varanda, mas têm cadelas, iguais, a que põem laçarotes na "franja" (?) e casaquinhos no inverno.




  •  Last, but not least, os amantes/namorados que estas moças arranjaram... Elas são boas moças, que são, mas com o tino foi-se a auto-estima. Que os fulanos tenham troncos de seguranças de discoteca e falhas na dentição, que não saibam fazer uma conta de somar, que mostrem as correntes de ouro sobre os peitorais oleosos ou que mastiguem de boca aberta, gostos não se discutem. O que me amofina mais é que o seu Q.I. seja inversamente proporcional à capacidade de infidelidades ata/desata por mês. E que ainda assim possam ser um upgrade em relação aos anteriores.