Os beijos saem por instinto, a qualquer momento, aonde te chego: cotovelo, ombro, costas, queixo. Quase em névoa de sonho, puxada de repente do sono pela tua mão quente a afagar a perna fria que deixaste descoberta quando roubaste o lençol, o que nos cobre carinhos e ternuras, quase sai em jeito de suspiro um "meu amor". Ousadia proibida, essa de assumir que a mão cheia de nada que é o que existe podia ser uma mão cheia de tudo. São intervalos por cima dos telhados, excepções que devolvem o sentido ao que é irracional. Brechas em estrondo na normalidade pálida que se cimentou. A tentação de dinamitar tudo para evitar uma morte triste e murcha seduz. Uma enorme explosão é sempre mais poética do que um definhar lento e sofrido. Com fogo e luzes, isto que é nada até parece ser alguma coisa a ser sugada com avidez pelas chamas, até parece que havia pilares e coisas frágeis que se partem em grande estardalhaço. No lugar de cinzas vão ficar planos para os quais nunca houve tempo, mais umas páginas rasgadas do teu caderno e a culpa da revolução falhada uma vez mais.
Mais para ler
Tornou a sentir-se desconsolada. Pediu desculpa por não o ter abraçado, tinha sido essa a sua intenção, mas acabou por ficar meio esquecida, meio sem jeito, entre alguma pressa de subir para o autocarro que chegou cedo demais e uns acenos de cabeça para dissimular o desapontamento perante a distância que as escusas e recusas tornavam mais nítida de quando em vez. Na verdade, pedia desculpa a si própria por não ter agarrado uma pequena oportunidade de fingir que existia simetria onde se sabia não existir. Oportunidade de guardar o calor desse abraço como recordação preciosa que um dia serviria de testemunho de que alguma coisa bonita havia passado por ali. Por vezes necessitava, como de ar, de acreditar que tinha tido, por uma vez na vida, alguma poesia a brotar só porque sim, sem sede de tapar um lugar vago, sem finalidades utilitárias, sem comodismo ou resignação, sem mentiras ou fatalidades a esterilizar o terreno. Por vezes sentia-se mera ferramenta de um propósito estudado, oleada a custo por esporádicos beijos secos, isentos de emoção. Ou um conforto, um doce que não fazia salivar mas lá servia de prémio de consolação, deglutido sem particular entusiasmo, com a frustração inerente de quem suspira por um refinado e leve éclair mas só tem na mesa bolachas Maria moles e sem graça. Ou um penso rápido, descartável logo que a ferida esteja fechada ou novos golpes peçam tratamento fresco. Sempre acreditou que o que não é necessário é supérfluo, o que não é desejado deve ser descartado, e ia alargando os passos para se afastar antes que já não tivesse como se poupar a uma rejeição.
Descartada. Desnecessária. Sozinha.
Achou-se novamente sozinha, sem ter quem a tomasse nos braços com vontade de abraçar com força e restaurar o que havia sido quebrado. Não que alguém o conseguisse. Deixou os pensamentos vagabundearem pelos caminhos proibidos que evitava quando embrulhava todas as fragilidades num canto e trancava as portas. Tremia de frio recordando outros abraços que tinham ficado por dar, em dias quentes e suados. Voltou a conciliar as coincidências com uma geografia pouco ousada que conta as mesmas histórias. Ali mesmo, onde o autocarro já havia terminado o seu percurso, as conversas já se tinham demorado no casulo abafado que era o automóvel onde se tinham beijado meses antes, ele ofegante e ela aterrada. A angústia e tensão andavam domadas por aqueles dias, coisa rara. Não quis estragar tudo com uma pequena manifestação da paixão insensata que a perseguia como a própria sombra. Ele falava de viagens, ela via-se a explorar os antípodas com ele pela mão por entre as copas das árvores. Ele contava episódios tristes, ela queria desdobrar o universo em dois para resgatar a infância do menino grande quebrado, romper-lhe a gaiola a que se agarrava. Ele a ecoar a voz grave que sabia que lhe agradava tanto, e ela com ganas de se atirar ao pescoço dele e calá-lo com beijos. Foi a última vez que um abraço podia ter mudado tudo, criado um desfecho inédito escrito por pássaros azuis, tão provável como os comboios mergulharem nos céus em serpentinas de destinos trocados.
Mais para ler
(DAVID) When I met you I could see your light It felt so right, you were the one for me I’d never been so in love before So I locked that door and threw away the key But soon enough came the darkest times And all those signs stacked this long list You and I, we can never be one We tried to run but you’re so hard to resist Resist We split ways ‘cus we thought it was right But now none of us can sleep at night Oh no I fell hard for you More than I ever knew (so vicious, so truly repetitious) You won’t get rid of me Well I can’t get rid of you One of us should know Do we stay, do we go? (ambitious and highly superstitious) You’re hard to resist now Why do I keep resisting you?
(ALICE) When I met you I could see your light It felt so right, you were the one for me It was nothing like I’d seen before It was hard to ignore but nothing comes for free Soon enough we were out of control Two angry souls except when we kissed Now I guess I just keep hurting myself I’m out of the shelf but, man, you’re hard to resist Resist We split ways ‘cus we thought it was right But now none of us can sleep at night Oh no I fell hard for you More than I ever knew And it’s getting so vicious So truly, so truly repetitious One of us should know Do we stay, do we go? And still we insist, You’re hard to resist now Why do I keep resisting you?
(DAVID) Oh no I fell hard for you More than I ever knew (so vicious, so truly repetitious) You won’t get rid of me Well I can’t get rid of you (ALICE) One of us should know Do we stay, do we go? And still we insist You’re hard to resist now Why do I keep resisting you? So vicious.
Mais para ler
Morreste-me nos braços num dia igual aos outros, antes de o sonho começar a ser real. Quando me sentia ainda excepção pontual, de inseguranças feita e pernas a tremer. Quando ainda eram os teus olhos irreais demais para os saber de cor.
Não sei dizer-te saudade, não sei chamar-te amor.
Não te vejo a meu lado, não te oiço o respirar, os silêncios reticências sombras suspiros. Nem de ti sei, das tuas noites abertas de dúvida, das manhãs chuvosas que interrompem a música do teu sono.
O fio condutor que te trazia a mim cortei-o com os dentes. Memórias não sustentam ninguém, não retiram do ferro o peso acre ou do vazio no peito o sabor dos beijos. Afago os teus dedos sabendo que nada sentes e consumo esta estética da morte lenta que tece frases cinzentas a meia luz, como cicuta.
Mais para ler
Talvez o último primeiro beijo seja sempre o mais mágico e, na falta de repetições apetecidas, a memória lhe vá conferindo tons mais cristalinos. Chamei-lhe poema. Passam aviões, livros e discussões, e os olhos dele cravados em mim, ficando. Passam dias, semanas e meses, e os meus olhos cravados no espanto, escorrendo ternura na graça que já não escondo.
Numa manhã domingueira, baila o nevoeiro ao ritmo das ondas do rio. Tricoto uma rede de questões doridas, a pensar em quem me habita o coração, em quem poderia habitar, nos degraus da surpresa e da nostalgia, no carinho que se adivinha num olhar.
Surge a face dele numa parede ensolarada, aquele que nos juntou, como uma daquelas pausas que interrompem o riso antes do primeiro beijo no cinema cliché. Apesar de parecer despropositada a imagem mental do teu sorriso surgir na ponta da minha mão estendida, apesar de a tua voz não condizer com os diálogos que me seguem nos sonhos que tenho acordada, apesar de tudo em ti ser desfasado dos sonhos em que me embrulho, é a constatação de que não estás que me rompe a face em lágrimas soluçadas, apneia surgida do nada.
Estava bem até então, sozinha a tocar piano com os pontos de interrogação que me deixam pendurados nos sorrisos doces que respondem em esforço "eu também gosto de ti". A tua ausência inquieta-me tanto quanto a tua presença, sempre de rompante, sem ar, incontrolavelmente, asas a bater contra a espuma e salpicos de mar e vento. "Não sabia que estavas tão quebrada", diz o desatento salva-vidas. Tu saberás. E eu observo ao longe a tua queda de asas abertas, a pique contra garras de ferro que te estilhaçam em sombras, e na ponta da minha mão vazia o teu sorriso de luz não brilha.
Perder sem saber porquê é a parte que torna baça a compreensão e dificulta a cicatrização.
Mais para ler
Dedicado a todos os náufragos de barcas aladas.
Mais para ler
Era mais um primeiro dia, adiado há meses por todos os travões que compõem as fugas. Era, como sempre, o Rossio que ampara encontros e desencontros. Era mais uma ginja, daquelas que deviam dar desculpa à língua para se soltar.
Era a cabeça às voltas com as inevitabilidades de fins e começos de motins internos, de desarranjos emocionais. Era a chuva nos óculos dele e um regicídio por celebrar. Foram palavras hesitantes e atrapalhadas, banalidades, sorrisos e silêncios dentro do olhar que diziam muito mais. Havia ali uma estória por ser escrita, a termo incerto.
Novamente, o Rossio. Novamente uma ginja desencontrada e um ano mais sobre o regicídio que abriu portas à República. Novamente, silêncios entre a chuva e decisões idiotas a serem tomadas com parcas palavras, que dos silêncios distantes de uns se fazem as aproximações de outros. Feridas abertas precisam de pensos rápidos quando a negligência já não chega para estancar.
Mais para ler
Tomada por um torpor paralisante, por mais que esprema não me saem as letras que quero dizer. Sei que por mais rodeios em que apanhe boleia, é a ti que vou ter, como sempre, desde sempre. São os teus olhos que me calam, que já não sei mais o que lhes contar.
Consegui dizê-lo pela primeira vez, escorreita; professei o meu amor com todas as letras e de viva voz. Sem abafar o eco que nunca sai destas paredes.
Mais para ler
Só poesia não basta, amor, que as palavras são vãs e ficam dobradas em envelopes rotos dentro de gavetas com cheiro a naftalina, ficam os bilhetes esquecidos nos casacos de Inverno, ficam os livros nas prateleiras, que cuidas com zelo mas deixaste de folhear. Não me ocorre maior poesia do que a que os nossos lábios trocaram no escuro, perdidos, sequiosos de encontrar o que lhes faltava. Voltasse atrás e ter-te-ia calado com beijos meigos logo que começaste a falar, teria pegado nas tuas mãos e não as largaria desde aquele momento. Os planos de fugirmos juntos, de mandar tudo ao ar, de só encostar a minha cabeça ao teu peito sabem a sangue na boca. Que amor triste, o nosso, que matámos antes de poder ser. Que amor frio, o nosso, poesias feitas lâminas de papel. Há um frio que me cresce que só no teu interior vazio e negro pode caber. Duas solidões pelos ares, onde pertencem, num paralelo irreal onde o teu corpo sobre o meu canta magias que ninguém pode ler.
Mais para ler
Mais para ler
Há um ano entraste de rompante, vindo do nada, como se as coincidências cósmicas tivessem um propósito. Disse-te o meu nome, tu disseste o teu nome, deu-se uma espécie de explosão catastrófica e fantástica, cheia de fogos-de-artifício e vórtices de caudal pleno de estrelas e tormentas espinhosas, e nada mais foi como havia sido até então.
Não poderei elencar as dores, as zangas, os abraços, as confidências, os sorrisos, as lágrimas que nos causámos, que excedem em número e em força a disponibilidade da memória. Poderia elencar os beijos e poemas, as promessas cumpridas e as quebradas, mas tu preferes esquecer e eu também. Passei um ano inteiro a escrever-te a ti, de ti e para ti e tudo o que só os teus olhos leram já diz demais, sem nunca dizer as palavras de que fiz barreira maior. Creio que devia parar aqui. Não só de escrever para ti, mas parar por completo. Parar de abrir portas a quem chega de novo com ideias e sentimentos e requisições e entusiasmos. Fechar as frestas que abri antes e parar de sentir frios e arrepios. Parar de me importar contigo, parar de querer dar-te o que te ofereci e não colheste, parar de confundir com afecto que tanto tenhas colhido de mim. Devia parar de sentir, de te sentir ao longe, de te ouvir a voz plena, de te escutar lamúrios e suspiros desanimados mascarados com planos que não te bastam. Devia parar de ser para parar de doer.
No outro dia, os que me querem e conhecem bem, só ainda não todo o avesso, que só sabem um resumo da nossa estória, brindaram à tua ausência, à tua saída com a porta a bater e a fazer estremecer as minhas paredes. Tiveram essa audácia, apesar de suspeitarem o quanto me dói este naufrágio sem jangada, para me convencerem com afronta de que estou muito melhor sem ti. Sem saberem que ruí por completo, que me perdi no caudal de mim mesma. Enquanto os copos tiniam, pensava em como nunca te culpei de nada e na ambição em que se tornou o teu sorriso. Nunca me arrependi daquele Janeiro escuro em que te encontrei de olhos vendados, te tirei as máscaras e derrubei os muros todos, como disseste no primeiro dia. Olhei para o fundo de um copo, imóvel e calada, concentrada em não deixar cair lágrima alguma, a muito custo. Tenho saudades, sim, e preciso de saber que estás bem, que alguém te cuida e aquece o bloco de gelo com que proteges o coração.
Tantas vezes me aconselharam a voltar-te costas, a não te dar a importância que nunca me deste, a proteger-me. Mas prometi que não te deixaria só, e não me interessa quantas barreiras e novos muros nos separem, só não ficarás. Prometi que não seguiria sem ti e aqui estou, estagnada. Já tentei retomar a marcha, com um pedaço a menos, que me falta, mas seguindo. Ainda não consegui o reequilíbrio, talvez o pedaço que me faltas seja mais central do que antecipava.
Mais para ler
365 dias.
Mais para ler
"O amor não tem prazo de validade; ou está e existe e é um manto que cobre a existência - por cima como um calor enrubescente de que não se pode fugir, por dentro a inundar de arrepios desnorteados, cortantes, que dilaceram cada célula com a ânsia absurda de estarem noutro lugar - ou não está, é alheio a sugestões e esforços e requerimentos. Ou arrasa o espírito com urgências de tumultos irracionais, partilhas e sexos aos gritos ou será um afecto morno e terno, ponderado, responsável e contido - o oposto do que é o Amor."
Dar desinteressadamente é das atitudes mais louváveis do ser humano. A generosidade para com o outro não é necessariamente traduzida em valores materiais, mas é dar afecto, o seu tempo, o seu carinho, a sua atenção, dar uma mão para ajudar a levantar ou para amparar uma queda, ou também dar apoios palpáveis para concretizar um sonho ou suprimir uma necessidade. Pode traduzir-se de milhares de formas diferentes, das mais complexas às mais singelas. Pode ser apenas uma companhia, uma boleia, uma frase, um incentivo ou um abraço, ou qualquer outra demonstração de zelo pelo bem-estar do outro.
Dar abertamente o que se tem e pode, sem agenda, sem ulterior interesse ou sem sentimento de dívida ou expectativa é uma manifestação de altruísmo genuíno. Talvez seja empatia, talvez seja solidariedade, ou muito mais do que isso, amizade.
Não confundir a generosidade com a caridadezinha, com a esmola, que de altruísta tem muito pouco, movendo-se antes pelo culto do ego, da imagem externa, de uma pretensa superioridade moral ou religiosa. Quem dá de boa vontade não informa o mundo que o faz, dispensa bem a publicidade, a exibição e o elogio.
Quem recebe, se não sofrer de complexo narcisista ou não tiver capacidades emocionais ou intelectuais afectadas, sentir-se-á grato por ser alvo da ternura ou bondade de outro. Mas quando o sentimento de gratidão se transforma num balancete entre o deve e o haver, numa medida calculista que atribui valores quantitativos e materiais a cada acto, o sentimento é desvirtuado. Chega mesmo a ser um pouco ofensivo que aqueles a quem se dá façam questão de retribuir “em igual medida” ou excessivamente, para saldar uma dívida que não existia. Chamei em tempos a esta forma calculada de agradecer "gratidão de contabilista".
Quem dá de coração aberto, porque quer e gosta, não mantém um livro de contas em que regista o que dá, quando dá ou quanto vale o que deu. Quem dá com amor, dá porque sim, para despertar uma alegria do outro lado, nunca para formalizar uma dívida, jamais para ficar numa situação de superioridade ou de poder em relação ao outro.
Repito amiúde “a amizade não se agradece, retribui-se”. No entanto, quando a retribuição surge como uma obrigação, forçada, contida em moldes formais, pensada ao detalhe para não defraudar eventuais expectativas, porventura trabalhada ao exagero para manifestar uma gratidão que até pode ser real, soa a falso. Normalmente até são gestos que traduzem uma gratidão bem real, mas tão demasiado pensada, tão equilibrada ou abundante no seu retorno, que fica constrangida e diminuída até caber nos moldes do socialmente aceite e conspícuo. Tanto, que é desconfortável e intimidante.
Para saber dar, é necessário saber receber. Quem tem dificuldade em aceitar elogios, afecto ou um mimo, seja porque nunca o teve de forma sincera, porque tem a auto-estima desfeita, porque tem uma imagem desfigurada de si próprio ou por outro motivo qualquer, não tem padrões nem referências aos quais se comparar, fica perdido, muitas vezes com medo, aterrorizado de que este afecto lhe seja cobrado de formas a que não pode corresponder. Não sabe como receber essa dádiva estranha, acha que não merece, crê que fica em dívida para com quem dá e tenta colmatar o défice logo que possa, atabalhoada e exageradamente.
Quem não está habituado a sentir-se amado fica de tal forma espantado com demonstrações abnegadas de afecto que pode confundir o amor com uma benesse ou uma espécie de favor. É uma visão deturpada dos afectos, mas é comum quando a visão do próprio é, também ela, deturpada. Assim, tem maior probabilidade de ter uma forma calculista de reciprocar, o que muitas vezes cai no exagero, na subserviência, numa hipérbole que não toma toda a extensão que aparenta. Contorce-se em agrados, capaz de sacrifícios que ninguém quer e que se tornam até incómodos.
O amor (seja em que forma for) não é uma concessão, não é um prémio que se atribui mediante atributos ou provas de esforço, até aí todos sabemos – por muito difícil que seja a sua definição, a natureza ambígua dos afectos será consensual.
Quem gosta do outro só o quer ver bem. Quem gosta do outro quer e precisa de retribuição. Somos animais sociais e carecemos de validação, dependemos do suporte emocional de uma rede de proximidade. A expectativa depositada nessa retribuição não é cobrança, é perfeitamente legítima e contradiz o desapego, reforça os laços que permitem o crescimento e aprofundamento das relações humanas. Quem gosta quer ser gostado de volta.
Não se agradece a amizade ou o afecto. Não se compra, nem com géneros nem com gestos magnânimes. Merece-se. Conquista-se. Respeita-se. Retribui-se a seu tempo, quando a ocasião se proporcionar, se houver vontade e reciprocidade. Ninguém quer beijos falsos. Ninguém gosta de abraços forçados. Ninguém precisa de poemas e odes que não sejam verdadeiros. Basta aceitar e acender um sorriso.
Mais para ler
Um clique, um instante, e toda a história é resumida. Uma fotografia que conta uma história de estórias feita, entrelaçadas e unidas. Podia ser a preto e branco, de tão nítida e forte, mas tem cores. Almas fortes, encontradas e unidas por acasos a que não seria possível escapar. Tão diferentes. Tão irmãs. O que se vê é a definição de sororidade. Unidas por uma rede de aço invisível, por todo um chão comum e divergências que as tornam complementares. Umas em primeiro plano, outras mais distanciadas. Os risos adivinham-se, sonoros, que são constantes, mas as lágrimas de todas, tantas já engolidas, soluçadas, abafadas, ficam apertadinhas nos segredos só delas, nas cartas adivinhadas, nos pensamentos dissecados e alguns nunca verbalizados. Unidade. Para tomar as ruas, para incendiar espíritos, para carpir em conjunto as dores, para chamar à razão, para acalmar e dar raspanetes, para tudo compreender, tudo perdoar, para dar o impulso na subida e o amparo na queda. Elas sorriem e brindam, que um copo cheio sempre afaga alguma carência, mesmo que só a fingir, mesmo que só por um instante. Eles, sempre omnipresentes, em primeiro plano ou em background no pensamento delas, todos citados sem excepção. Pactos e promessas reafirmados, sem necessidade, que cada uma sabe bem quem a leva no coração. Sorte grande, esta de ter grandes amigas.
Mais para ler
Conheço pessoas assim, que não têm caixa de mudanças. São exactamente iguais a si próprias em cada momento, cada frase, cada pequeno detalhe, tal como nos momentos decisivos, marcantes, grandes. Estejam numa sala só comigo ou com mais duzentas pessoas. São a verdade, sempre. O que eu admiro e almejo isto não tem explicação. Fico de coração cativo, colado ao espanto. 💙