Para os frequentadores habituais, como para qualquer pessoa que já tenha feito uma única visita à Festa do Avante, os mitos propagados pela maioria da comunicação social e pelos anti-comunistas de forma geral são apenas hilariantes. Mas não precisam de acreditar em mim. Podem ver com os vossos olhos ou, melhor ainda, dar o benefício da dúvida e experimentar ir um dia para confirmar in loco que a maior parte das ideias pré-concebidas acerca da Festa são mitos fomentados pela desinformação. Alguns dos mais caricatos:
A Festa do Avante é um festival de música.
Só uns poucos comunistas que vivem para o Partido é que frequentam a Festa.
Os comunistas são todos velhinhos.
Esse pessoal é todo drogado.
O comunismo é bafiento e sisudo
A Festa do Avante está em declínio, quem é que ainda lá vai!?
O que me choca mesmo é que haja pessoas que desconhecem os processos democráticos a ponto de genuinamente acharem que o que ser passou dia 10 na Assembleia é uma "aberração", "palhaçada" e outros mimos que ouvi e li por aí. Mal informadas, seguramente, mas diligentes o suficiente para propagarem as suas verdades de bolso como se fossem a voz da razão.
Não é demais repetir até à exaustão que as eleições legislativas elegem representantes do povo no Parlamento, ou seja, deputados. Não determinam as cores do governo e muito menos que o que quer que seja sujeito a votação na AR seja aprovado, nomeadamente o presidente da Assembleia, os orçamentos, os programas de governo e quaisquer iniciativas legislativas. Chama-se democracia.
Também me chateiam os pessimistas que não acreditam que isto vá resultar. Até podem estar certos, mas não ouviram dizer que pelo sonho é que vamos? Vamos esperar para ver antes de ditar sentenças de morte, sim? Eu sei que a mudança assusta muita gente, até alguns dos que votaram à esquerda, mas quando as coisas não estão bem (e só os patrões podem achar que as coisas estavam bem sob a desgovernação ultra-neo-liberal da coligação, não me lixem!) não vai melhorar sem essa mudança.
Chamem-me idealista e utópica à vontade, mas mesmo com todas as reservas em relação ao PS e ao António Costa, o que se passou ontem fica para a história, e pode bem ser o início de uma união à esquerda que eu anseio há décadas, assim o espero.
E sim, comovi-me quando li "o governo caiu", quando abracei o meu amor, quando cheguei ao Rossio e a cidade me cheirou a esperança nova, e ainda agora enquanto escrevo estas linhas. Comovi-me porque já não me lembrava de ter orgulho neste país e pela primeira vez em muitos, muitos anos, tenho alguma esperança da vida dos portugueses melhorar um pouco, de não ser obrigada a emigrar para criar uma família em condições.
Mesmo que tudo corra mal, agora sabemos que é possível. Já não é só um desejo, uma conjectura, uma hipótese etérea. É real.