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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Nunca desejei ser melhor que os outros. Mas sempre fiz questão de ser a melhor que conseguisse, em tudo.


Ia contar uma estória de pessoas feias, que ficaram contentes quando a croma da turma (moi même) só teve um 14 num teste de Matemática, piscavam olhos trocistas (apesar de terem notas piores) e cochichavam divertidas. Pessoas feias que encontram alento em ver os outros menos bem, pessoas a quem os sorrisos caíram no chão quando o professor (Olímpio de seu nome) me chama de novo, tinha-se esquecido de somar toda uma parte do teste e a nota afinal era 19. Mas pessoas que eram feias e se calhar ainda são não merecem o meu tempo nem as minhas palavras.


Portanto era só para dizer que em relação ali ao primeiro parágrafo, estou bastante contentinha. Sem decepções para comigo própria, e isto é bom.


 


 



 


 

"Em Portugal e também na Europa." Pois, concerteza que se é em Portugal, também é na Europa. Goste-se ou não, lamento informar, Portugal está na Europa, na geográfica e na política.


Ouvir isto lembra-me sempre da D. Amélia, que tentando relatar as suas primeiras férias fora de Portugal com o máximo detalhe, dizia e repetia, convicta, que depois de chegada a Atenas tinha apanhado outro avião para a Grécia.

Cansei-me do snobismo moralizante da escritora (de quem gosto, de há muito, enquanto escritora) que se deixa enganar pelo corrector ortográfico. (Promíscuas tem acento sim, querida.) Demasiadas vezes a criticar do alto dum poleiro que não se justifica. E a disparar em todas as direcções (parece eu, que mau feitio!), desde acções de caridade pelos tigres (porque hão-de ser menos merecedores que pessoas com fome? Desconhece porventura o valor da biodiversidade, é que a humana não está em risco!) aos menus das tias de Cascais.


Já não há paciência para filtrar de entre tanto disparate uma ou outra pérola acutilante que se aproveite. Fora do meu Google Reader, xô!


A amiga mais nova, também escritora e com bem pior rigor ortográfico, é genuína. Gosto da arrogância e do mau feitio desta, vem-lhe de dentro como a ironia que lhe dá salero. Essa, fica.


 


 



 

"O jogador da equipa visitada, Micolli, desmandou-se em velocidade tentando desobstruir-se no intuito de desfeitear o guarda-redes visitante. Um adversário à ilharga procurou desisolá-lo, desacelerando-o com auxílio à utilização indevida dos membros superiores, o que conseguiu. O jogador Micolli procurou destravar-se com recurso a movimentos tendentes à prosecução de uma situação de desaperto mas o adversário não o esagarrava. Quando finalmente atingiu o desimpedimento desenlargando-se, destemperou-se e tentou tirar desforço, amandando-lhe o membro superior direito à zona do externo, felizmente desacertando-lhe. Derivado a esta atitude, demonstrei-lhe a cartolina correspectiva."


 


(Extracto verídico do relatório do árbitro Carlos Xistra relativo à apresentação do cartão amarelo ao jogador Micolli do Benfica, segundo Rita Ferro, no Acto Falhado.) Dear god!

Há dias encomendei um produto online, dum site holandês, que disponibiliza o mesmo em várias línguas. A tradução para português está ininteligível, apesar do pouco texto que se apresenta. "Whatever", pensei, e procedi à encomenda e pagamento. Recebi depois um e-mail de confirmação do pagamento, de título "Pacote Enviado". (Começa bem...) Transcrevo o dito, que contado tem menos graça:


 


Rezado Sr. / Sra., Ventania,



Obrigado pela sua encomenda!


Seu pacote acabou de ser enviada. Se conseguirmos um Track & Trace código, você receberá um e-mail com a faixa e número de rastreamento. (Usamos correios diferente. Nem todos os serviços de correio entregar uma faixa eo número de rastreamento).


Com a faixa eo número de rastreamento, você pode seguir o pacote durante o transporte para o seu endereço.


Esperamos que você aprecie a compra e obrigado por sua confiança em nossa empresa!


Atenciosamente,


 


Ainda tentei controlar-me, mas já calculam que há coisas mais fortes que eu, refilona de primeira apanha, hiper-crítica e intolerante a facadas deste calibre na minha Língua. (Misturar o meu nome e rezas na mesma frase foi a gota de água!) Lá escrevi um e-mail aos senhores, em inglês, a alertar para a trapalhada que andam a largar nas palavras deles, e com muito boas intenções, mas não sem uma pontinha de ironia, ainda me ofereci para, nas condições certas, lhes dar uma ajuda. E não é que os bacanos me respondem a dizer que agradecem muito se eu lhes corrigir os textos?! E agradecem com duas unidades extra do produto que comprei! O valor comercial da coisa é de meros euritos, mas depois de me rir à gargalhada, vou aceitar a proposta. Será a boa acção do dia. :)


 


(Começa bem a minha 'carreira' nas Línguas!)


 


Met vriendelijk groet,

Hoje com travo a vegetais. Diz uma notícia do IOL Diário, aqui, que a Catherine Deneuve critica a posição da primeira-dama francesa, Carla Bruni, que pode ser uma "faca de dois legumes". Ficaram por apurar quais os legumes, porém. Mas há mais:


 


No 2º parágrafo, não há ponto final; No 3º parágrafo há um "a gora" (primo do Al Gore?); Por fim, refere a notícia um actor de nome "Gérard Depardiue".


 


É triste, e o melhor remédio é rir (e denunciar, e corrigir).

Sabem que eu gosto de ver as previsões da Maya (ajudam ao optimismo), apesar dos atentados à Língua Portuguesa. E esta é das que mais me mexe com os nervos. Não é "manifesta-se", caríssima, é "manifestasse", boa?


 


 



 


 


Mas este era mais um dia excelente para acertar em cheio, hein?!


 


Adenda #1: São 15:15 e nada, nem propostas profissionais nem gestos de amor. Pfff!


 


Adenda #2: são 22:26. Propostas profissionais, népia (mas ainda não vi os últimos anúncios e pode bem lá estar um que pague 5 dígitos mensais para me ter a escrever e a viajar - my dream job, e também ainda não vi se ganhei o Eurotostões). Gestos de amor, não propriamente, mas gestos de 'qualquer coisa', isso confirma-se. A saúdinha vai indo, obrigadinhas.

Alexander Fleming era português e Manet nasceu Maria Ermelinda em Bucelas. São dois dos disparates que a Wikipédia expõe e propaga.


 


É isto que se lê à data de hoje na enciclopédia aberta, na página dedicada à Tapada das Necessidades, mas que podia perfeitamente estar na rubrica da TimeOut, petas para contar a turistas. Haja criatividade!


 


"Édouard Manet, pintor de génio, deixou nas suas Memórias a confissão de que a sua obra-prima Le déjeuner sur l'herbe deve tudo, ou quase tudo, a uma sua curta estadia no Palácio das Necessidades, em 1859, por motivos que o pintor deixa por esclarecer. Estudiosos da obra do mestre aventuram interpretações de alguns sinais através dos quais Manet quis passar uma mensagem críptica. Segundo Jean-Jacques Dupond, da escola dita de Denhaut, o artista ensaiou uma declaração política de aproximação ao bonapartismo (reinava em França Napoleão III), sobretudo através do jogo de cores figura feminina/roupa caída; segundo Jean-Michel Dupont, este da escola Denbat, há antes um código que conduz a conclusões surpreendentes sobre a origem do planeta Terra e sobre a verdadeira descendência de Jean-Pierre Dupons, alguém que Manet não conhecia, e que, curiosamente, não aparece representado no quadro.


Em Portugal, tem sido Serafim Valadares Meireles, o homem que demonstrou cabalmente que Alexander Fleming (Sebastião Silva Saraiva), o descobridor da cura para o sarampo, era português, a seguir a interessante pista que leva a questionar a identidade da mulher nua no primeiro plano da obra. Identificada por alguns como sendo a encarnação do Desejo, do Amor platónico ou da Liberdade, vem agora Valadares Meireles dizer que a figura feminina representa o próprio Manet, aliás Maria Ermelinda da Silva, que, para fugir à pobreza da sua Bucelas natal, emigrou para França, aí tendo assumido a identidade e a profissão de pintor, com o êxito que se conhece."


 


Bem real, porém, era o génio de Manet:


 













 

E depois há os outros anormais, os que sabem tudo, os que são melhores que toda a gente, aqueles a quem dói sempre mais do que aos outros. Tenho a 'sorte' (que vai mudar, ah se vai!) de privar com criaturas destas naquela actividade que se chama emprego (só porque no fim do mês fazem um depósito a título simbólico na minha conta bancária) mas que eu podia chamar "senzala" (se me alimentassem) ou "antro" (se não confundisse com o antro anterior onde trabalhava na medida do que me apetecia, não tinha chefes e ganhava o dobro).


"Então, estás melhor (da anemia)? - Não sei, hoje não medi a hemoglobina. - Ah, então 'tás melhor, esse é que é o espírito, não preocupar!" - Claro que estou numa boa a curtir, nem me passou pela ideia ir ali ao armário da casa-de-banho buscar a máquina dos hemogramas, que guardo entre a balança e o desfibrilhador.


"Vais ficar de baixa tanto tempo? Vais mas é de férias!" - São as chamadas férias de pobre. Circuito quarto-wc-cozinha com passagem ocasional pela sala, em veículo de luxo a que costumo chamar chinelo. Se o tempo ajudar, cometo uma loucura e vou à varanda apanhar ar!


"Ah, já sei o que te vão fazer, tenho um amigo que também foi operado, tinha uma hérnia. Tu tens o quê mesmo, é uma hérnia onde?" - Não, ignóbil, hérnia é aquilo que tu tens no hipotálamo!


"Estás quase a ir-te embora, quem me dera..." - Tens mesmo a certeza que preferias ser aberta ao meio, martelada, aparafusada, soldada e confinada a uma cama de hospital uma eternidade e meia, ó atraso de vida?


"Ah, foste ao anestesista? Eu também levei uma anestesia para me tirarem as pedras dos rins, fiquei tão mal, perdi a noção do tempo, a minha mãe só chorava..." - Coitadinho do bebé, levou uma anestesia local para fazerem ultra-sons e ficou atarantado? Claro que sim, cheio de mazelas, 'tadinho, isso foi coisa para te traumatizar quase tanto como aquela dor de cabeça que te impediu de vir trabalhar naquela segunda-feira, já percebi.


"Olha, assim que acordares, agarra-te ao carrinho do soro e dá uma volta pela enfermaria que é para te começares a habituar! Foi o que o meu pai fez quando foi operado." - Naturalmente que sim, eu vou acordar cheia de força e vontade de fazer caminhadas no hospital, ou até corridas ao pé-coxinho com o pessoal da traumatologia! Os médicos que me dizem que tenho de passar x dias sem me levantar da cama não percebem nada disto. Afinal, se foi o teu pai que fez quando lhe fizeram uma laparoscopia à vesícula, é garantido. Tem tudo a ver.


 


Que Alá me dê paciência, porque se me der força, eu bato-lhes!


 




Porque é que aquelas pessoas que nunca têm tempo para nós, para passarem tempo a dar um passeio, a almoçar num sítio fresco, a ir a um concerto ou ao cinema, a disfrutar da companhia mútua, são as mesmas que não passam sem nos vir visitar ao hospital quando estamos com cara de quem foi torturado, entupido com drogas, com tubos a sair e a entrar por todo o lado? Se não têm tempo para nos telefonar quando estamos bem, só para saber de nós, para congratular quando atingimos uma meta importante, como é que arranjam sempre tempo e vagar para fazer questionários completos a nós, à família, aos (outros) amigos, sobre detalhes clínicos dos quais não percebem um cú...


Maldito património tuga da expiação das dores alheias, irra!


 




Não acho normal (e se um dia achar normal, por favor levem-me ao hospital psiquiátrico): escrevo um e-mail a uma entidade que me presta serviços; coloco nove questões. Espero um dia e re-envio a mensagem, alertando para a urgência necessária na resposta. Recebo uma resposta, com duas linhas, onde conto sem esforço nove erros ortográficos (da ausência de pontuação nos sítios certos, ao espaço anterior às vírgulas, passando por um "deve dirigir se há recepção", assim, sem hífen e com H), take your pick. Ah, e igualmente grave: só me são fornecidas respostas a duas das questões.


 


Sou só eu que acho que quem maltrata assim a Língua Portuguesa não pode, em caso algum, ser titular de um grau académico?

A maioria raramente escolhe o de melhor qualidade, o mais adaptado, o mais versátil. As decisões da maioria são questões de popularidade, de facilidade, de falta de alternativa, de pouco interesse em procurar mais e melhor.


 


E eu, minoria assumida, protesto. Não gosto do IE (muito menos do 6) e sou obrigada a instalar e usar o dito cujo porque há sites de que necessito que, simplesmente, não correm noutro browser. (Podia ser um protesto político, também.) Os próprios Blogs do Sapo estão optimizados para browsers que não são os que uso (o que se torna bastante chato para dimensionar imagens, por exemplo). "'Tá mali, mali, mali!"


 


Pela libertação da mediocridade!