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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Desejo-te perto e vens buscar-me, levas-me de urgência escadas abaixo para contemplar o rio à beira-chuva. Descalços, ambos, por relvas e troncos e pardais. Sensualidade molhada de seios e umbigo, arrepios, do frio e da proximidade da tua pele. Não sorris, sequer vocalizas o que quer que seja. Os teus dois olhos escurecidos, carregados de verdade. Pegas-me nos pulsos e olhas-me de frente como se me fosses anunciar um fim de mundo. Sério, grave. Os lábios entreabrem-se como que a desenhar palavras no ar, como que a tomar coragem. Toda eu um ponto de interrogação, exclamação, reticências… O cabelo molhado, sem ordem, a enganar. Um fingido cansaço desarma e a respiração acelera. Pingos grossos acariciam a cara, lambem os ombros, deslizam matreiros pelas costas. A névoa que sempre separa os meus olhos dos teus dissipa-se num bafo. Procuro ler-te, ansiosa por pular para dentro dum sonho. Murmuras: “E se disser que gosto de ti?” Conheço bem esta espiral, que sempre impões diante de mim, sem portas nem refúgios, apenas o infinito, aberto, à espera de ser colhido. “Quando o pensamento de mim te siga a todas as horas, quando souberes que a vontade é maior do que só a de ter o casulo do ego acarinhado; Quando reconheceres muito mais que uma doce empatia. Quando sob pálpebras cerradas o coração chamar o meu nome. Só nesse dia voltarás a ter-me tua.”


 


Solto uma mão e com um polegar afago a tua face desmascarada. Apertas-me contra o peito, não te importas de confessar uma lágrima, espessa, outra. Carinho, dor, amor, identidade. Estes que somos.


 


Por te amar, mudei. E decidi tornar a amar só quando esse dia chegar. Naquele abraço permanecemos, sem tempo, enquanto a chuva molhar.

Deram as mãos e deixaram-se ficar por debaixo da forte chuva que caía. Deram as mãos com tanta força que fizeram feridas que a água que caía do céu prontamente lambeu. Deram as mãos como se estivesse para se aproximar uma tempestade que os pudesse levar dali. Que lhes arrancasse todos os órgãos dos seus frágeis corpos... e as mãos. Porque mais do que o beijo que deixaram de dar, eram as mãos, unidas de forma cerrada, que os mantinham num só. Era um laço, um nó. Era toda a força que tinham e mais outra que pediram emprestada, que albergavam naquela parte do corpo. Mais do que agarrar, apertar, erguer um troféu, aquele nó estava carregado de medo, angústia. E tudo o que não diziam, deixavam para as mãos dizerem. Deram as mãos e ali se deixaram ficar. Por debaixo da forte chuva que caía.


 


Advogada do Diabo, 09-10-2010

E poderia ser uma boa altura para vos deixar um dos meus poemas preferidos, mas não é. Ainda não é. É preciso, para já, que chova mais, muito mais, é preciso que me sinta encharcada até aos ossos, de cabelos a pingar, é preciso um beijo (ou mil) à chuva, é preciso que, da chuva ou dos beijos, sinta arrepios pela espinha, que o calor não se dilua, é preciso dançar com as gotas e sacudir as asas.


So let it rain.


 












"come take my hand, we can walk to the light"



lyrics )

 


 

A mozzarela de búfala explodiu no frigorífico. O dentista mais fofinho (até hoje) diz para não abrir tanto a boca (e chama-me querida, faz festinhas e dá beijinhos, mais os sorrisos na moldura barbuda e os olhares intelectuais quando lhe respondo com palavreado científico). Mal sabe ele dos excessos da mente que nem chegam a sair boca fora, ninguém os quer ouvir. Trambolhão que me deixou com severas dificuldades em subir e descer escadas.


Pensamentos nas ausências do passado e do futuro. Quão frágeis somos, de corpo e de alma. Lá fora, a chuva. Vontade de fazer disparates que podem custar caro, mas a vontade está cá, a espicaçar, a provocar. Não tenho medo da chuva. Molha, mas nem tanto. Ah, mas ajuda a escorregar. Os disparates não eram necessariamente para fazer à chuva. Podia ser em frente da lareira. Ou no fim do mundo, ou na lua, desde que com ele.


A psicoterapeuta admite que concorda comigo, mas ainda insiste que devia ir à procura do que não quero encontrar. As fotos ficaram bem mais giras do que imaginei. Sem vontade dos doces natalícios, excepção feita a uma ou outra azevia de grão (com pouca canela). A avó do falecido faz umas azevias como eu gosto, inundadas de canela e limão. Afinal sempre tenho ainda transtornos com a separação.


Litradas de chá quentinho.





Mas o que fazia falta era um tubinho de Hirudoid. Ai...


 


*não se espera nada mais, e ainda nem toquei no moscatel.


Gosto de gelados no inverno e de chás quentes no verão. Gosto de fazer rabo-de-cavalo e totós. Gosto de dar beijinhos. Gosto de usar lenços ao pescoço. Gosto de fotografias a preto-e-branco. Gosto do Algarve quando chove e da Serra da Estrela sob um Sol abrasador. Gosto de aventuras grandes e pequenas. Gosto de pessoas genuínas e transparentes. Gosto de surpresas. Gosto de negro total. Gosto de aprender e de ensinar. Gosto de botas e de sapatos de plástico. Gosto de rugas de riso nos cantos dos olhos. Gosto de pão mal cozido e nada estaladiço. Gosto de velocidade. Gosto de nuvens densas e chuvadas de granizo. Gosto de açúcar amarelo e edulcorantes artificiais. Gosto de cicatrizes. Gosto de aguardente e de nescafé, de leite magro e iogurtes naturais. Gosto de ruas escuras e estreitas. Gosto do mar sem ondas nenhumas. Gosto de alturas. Gosto do som do violão e da gaita-de-foles. Gosto de comer chocolate de culinária. Gosto de cabelos brancos e grisalhos. Gosto de andar descalça e de peúgas grossas. Gosto da Lua e do céu estrelado. Gosto de tactear texturas. Gosto de ter as unhas muito curtas e sem cor. Gosto de limpar e arrumar. Gosto de estar completamente perdida no meio de nenhures. Gosto de arte surrealista. Gosto de me esconder atrás dos óculos escuros. Gosto de extremos. Gosto de ouvir pessoas a rir. Gosto de sal e de picante. Gosto de lápis macios e escuros e papel liso. Gosto de peles mulatas e de olhos em bico. Gosto de roupa interior preta e básica. Gosto de malmequeres brancos e desalinhados, de lírios e de túlipas. Gosto de passear de mão dada e de abraços. Gosto de cheirar a frutas e gomas. Gosto de ver filmes de terror e romances de fazer chorar. Gosto de miminhos na alma.


 


Muitas ideias para quando eu fizer anos e está quase, quase!



 

 

 



 

Adoro chuvadas de Verão, trovoadas a irromper pela madrugada. Raios de braços abertos, a chamar, quebrando a silenciosa monotonia das noites sempre iguais. O nascer do Sol espelhado nas poças de água, o chapinhar musicado de rodas e de pés. Deliciosamente convidativo, o travo atrevido de infusões herbais servidas frias.

 

Estes dias foram feitos só para acontecerem coisas boas...

Estamos em Setembro. Não é ano novo? Pois não. Mas apetece-me fazer new year resolutions, o que é sempre uma boa desculpa para levantar os olhos da puta da tese. Como não tenho tido tempo para me coçar (nem para dormir, nem estar com os amigos e família, nem para ser fada do lar umas horas por semana, nem para nada que não seja trabalhar para 'eles' e, nos intervalos, trabalhar para mim), toca de fazer planos para quando o meu tempo for igual aos das outras pessoas crescidas, quando os fins-de-semana forem sinónimo de descanso e actividades lúdicas, quando a palavra férias for familiar, quando as noites puderem incluir um ocasional jantar, as tardes um ocasional refresco.


Dada a justificação, que só eu pedi (ser chefe de mim própria é quase uma bipolaridade), cá vamos. Assim que tornar a ter vida quero:


 


- viajar muito mais (esta é óbvia para quem me conhece): agarrar numa das minhas companhias preferidas e ir de fim-de-semana para qualquer lado no mundo; estão na lista das urgências Paris, Suiça, Holanda, Bélgica, Picos da Europa, Douro Internacional, Sevilha, Escócia...


- Experimentar viajar sozinha (este é um desafio);


- Ir uma semanita de férias com amigos pela Croácia e Bósnia fora; Ir a Havana antes do Fidel ir embora (apesar dele ser imortal, quero dar-lhe uma beijoca nas barbas... ou não!);


- Férias grandes pela África profunda (3 semanas pela Tanzânia, Quénia, África do Sul...);


- pensar numa maneira de ter dinheiro para as viagens todas que quero fazer;


- (arranjar tomates para) partir à luta pelo homem que amo (e como é que isso se faz? beats me...);


- Fazer o trans-siberiano (mais um sonho antigo);


- Ir até aos antípodas e ganhar sotaque, ver dingos e cangurus;


- tirar um curso de fotografia 'a sério';


- escrever mais regularmente e arregaçar mangas para lançar um projecto (a definir, aceitam-se sugestões);


- virar do avesso a minha vida profissional (arriscar e mudar tudo outra vez, enveredar por uma área que me dê mais gozo; ou seja, arranjar lenha para me queimar);


- arranjar coragem para fazer mais uma dieta a sério (que isto do stress dá-me para tudo menos para perder peso) e perder uns 7 Kg; ou 12; a ver...


- endireitar alguns ossos...


- fazer uma permanente de pestanas;


- ir às festas lisboetas do Santo António em 2010;


- aprender a mergulhar;


- começar a conduzir mais (o que se calhar implica arranjar um canela-móbil e maneira de sustentá-lo...);


- fazer cursos de castelhano e francês para desenferrujar; melhorar o alemão; aprender mais uma língua (italiano, chinês ou russo);


- fazer almoços e jantares para os amigos, cá em casa, em volta dum bom vinho, petiscos na varanda a ver o rio, hmmm...


- começar a fazer psicoterapia;


- ir ao cinema pelo menos 2 vezes por mês;


- descobrir sítios novos para jantar fora (o FoundYou e o Bem-Me-Quer estão na calha);


- ir aos festivais de verão e a outros concertos, que eu adoro música ao vivo;


- aprender a andar de bicicleta e comprar uma baratuxa;


- aprender a andar de saltos altos (pois... mergulhar e andar de bicicleta parece ser tão mais fácil!);


- nunca mais perder uma Festa do Avante;


- Ir à Redbull Air Race;


- Andar de balão, fazer pára-pente (tirar o brevet de piloto quando for rica);


- ir às compras com as amigas como as "gajas normais";


- terminar os detalhes no palácio (pintar as paredes, ultimar com umas fotografias artísticas, compôr a garrafeira, etc.);


 


(aposto que esta lista vai crescer muito mais)

Desejo-te perto e vens buscar-me, levas-me de urgência escadas abaixo para contemplar o rio à beira-chuva. Descalços, ambos, por relvas e troncos e pardais. Sensualidade molhada de seios e umbigo, arrepios, do frio e da proximidade da tua pele. Não sorris, sequer vocalizas o que quer que seja. Os teus dois olhos escurecidos, carregados de verdade. Pegas-me nos pulsos e olhas-me de frente como se me fosses anunciar um fim de mundo. Sério, grave. Os lábios entreabrem-se como que a desenhar palavras no ar, como que a tomar coragem. Toda eu um ponto de interrogação, exclamação, reticências… O cabelo molhado, sem ordem, a enganar. Um fingido cansaço desarma e a respiração acelera. Pingos grossos acariciam a cara, lambem os ombros, deslizam matreiros pelas costas. A névoa que sempre separa os meus olhos dos teus dissipa-se num bafo. Procuro ler-te, ansiosa por pular para dentro dum sonho. Murmuras: “E se disser que gosto de ti?” Conheço bem esta espiral, que sempre impões diante de mim, sem portas nem refúgios, apenas o infinito, aberto, à espera de ser colhido. “Quando o pensamento de mim te siga a todas as horas, quando souberes que a vontade é maior do que só a de ter o casulo do ego acarinhado; Quando reconheceres muito mais que uma doce empatia. Quando sob pálpebras cerradas o coração chamar o meu nome. Só nesse dia voltarás a ter-me tua.”


Solto uma mão e com um polegar afago a tua face desmascarada. Apertas-me contra o peito, não te importas de confessar uma lágrima, espessa, outra. Carinho, dor, amor, identidade. Estes que somos.


Por te amar, mudei. E decidi tornar a amar só quando esse dia chegar. Naquele abraço permanecemos, sem tempo, enquanto a chuva molhar.



- em que olhas para o espelho e não reconheces quem vês?


- em que recordas quando pensavas ter tudo e percebes que tudo na vida é efémero?


- em que chegas à conclusão que aquele dia em que te faltou o chão era inevitável e foi um dos mais libertadores de sempre?


- em que recordar aquele primeiro beijo no comboio te leva às lágrimas?


- em que davas quase tudo para voltar 3 meses para trás no tempo?


- em que sentes que a tua saúde mental já teve melhores, mas também piores, dias?


- que devia ter sido o mais feliz da tua vida e sentiste apenas solidão?


- em que tiveste incontroláveis ataques de riso?


- em que percebes que a tua dor é idêntica à dor que criticas?


- em que sabes que a vida não é aqui mas daqui não arredas pé?


- em que as boas notícias foram más e as más notícias foram boas?


- em que olhaste nos olhos dum amigo e a dor da saudade se antecipou?


- em que te apeteceu acender o rastilho antes de sacudir a pólvora das mãos?


- em que o frio que sentes vem de dentro para fora?


 




Eu chamo-lhe ‘qualquer dia desta semana’. Ou TPM deslocada.