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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Enquanto comunista, esta é mais uma das posições em que não me revejo, de todo, no que já deixou de ser o meu partido. Situações há em que a divergência de posições existe mas os argumentos apresentados até são compreensíveis. Por exemplo, na votação da lei que permitiria às pessoas transsexuais alterarem legalmente a sua identificação no registo civil caso a mesma não tivesse sido vetada pelo Presidente da República dos afectos-quando-convêm (nem outra coisa seria de esperar de um católico da direita empedernida), o PCP absteve-se mas justificou a abstenção com argumentos sólidos. Continuo a não concordar com o sentido da votação, a ter argumentos contrários, mas aceito.

Já a tomada de posição do PCP em relação à eutanásia (ou morte assistida, como pretendem diferenciar) é lamentável, contrária aos pilares ideológicos comunistas, a defesa da liberdade individual e da igualdade de todos, e que por isso engrossa a lista de razões que me têm vindo a afastar do PCP. [Ou como disse há tempos a uns antigos camaradas, o PCP não me representa - eu sou comunista.]

Afirmar que esta legislação "não corresponde a uma necessidade prioritária para a sociedade" é ultrajante. Na verdade, qualquer argumento que se sustente na hierarquia de causas é, no mínimo, arrogante, injusto e a pior desculpa esfarrapada que se pode dar. Nunca durante esta legislatura se viu o PCP reagir da mesma forma em relação a tantas outras votações - porquê agora? Estará em ensaio uma cisão com o parceiro de coligação, PEV, que não só vai votar favoravelmente as propostas como foi um dos partidos que trouxe o tema a discussão na AR?...

Na chamada dos cuidados paliativos a discussão pública estamos em acordo, é um debate muito necessário, porque é absolutamente vergonhosa a escassez de opções de cuidados paliativos decentes em Portugal (a não existência de cuidados paliativos no IPO de Lisboa, por exemplo). Não creio é que esta discussão deva ser imiscuida com a questão da morte assistida porque como é óbvio (para toda a gente menos para a direita e o PCP) uma não invalida a outra. Ter acesso a cuidados médicos universais e gratuitos para todos é um direito de que nunca deveremos esquecer na luta política. Ter a opção de terminar a própria vida com condições controladas quando esta já se tornou Insustentável e sem criminalizar quem seja requerido para ajudar, também. É uma questão de liberdade individual e de dispor da própria vida e do próprio corpo. Só isso. Eu compreendo o receio de se transformar a eutanásia numa 'sugestão' de terminar os cuidados médicos a um paciente, mas parece-me tão infundado como o receio que era apontado na despenalização da IVG desta ser usada como "método contraceptivo" (como, aliás, advogava a direita). E fazendo de advogada do diabo, reparem que no caso da IVG trata-se de uma (possibilidade de) vida alheia e não da própria (obviamente que a minha posição pessoal sempre foi e será a favor da despenalização da IVG desde que seja essa a escolha da mulher grávida, cuja vontade tem de se sobrepor a tudo o resto, mas estou a estabelecer uma comparação de argumentos).

Toldar as minhas opções relativas ao meu corpo e à minha vida, seja em relação à gravidez, à morte assistida, ao consumo de álcool e drogas ou como e com quem escolho ter relações sexuais, é sobrepor uma vigilância do Estado sobre mim. E mais do que um paternalismo ridículo de me fazerem sujeitar a regras de outrem em assuntos pessoais e íntimos é uma afronta à minha liberdade e à minha capacidade de fazer as minhas escolhas. E isso não pode ser tolerado, jamais.

A agravar a situação, grassa uma sensação que não é só minha de que a maioria, ou pelo menos uma grande parte, do eleitorado do PCP é favorável à eutanásia e esperava maior abertura por parte do partido. Se assim for, é mais um tiro no pé do partido que estava mais bem colocado para ser uma opção de esquerda real, mas que mais uma vez não consegue arriscar libertar-se do conservadorismo, seja por falta de estratégia política e medo de perder algum eleitorado católico, ou por real incapacidade de acompanhar algumas das questões fracturantes do momento em coerência com a ideologia, em consonância com as bases e com uma demarcação clara das posições da direita.

Assunto polémico e propenso a clivagens, por norma a opinião acerca de touradas não reconhece posições intermédias. Ética e humanamente, ou existe a constatação óbvia de que um "espectáculo" que se centra na tortura animal não pode ser outra coisa que não uma barbárie e a única coisa de espectacular que pode ter é a exibição de toda a ignorância, vaidade e falta de compaixão dos humanos que participam e colaboram nesta exibição abjecta pelos restantes seres vivos ou se faz activamente a apologia desta mesma ignorância - porque a passividade em situações de agressão só fortalece o agressor -, apoiando, assistindo ao vivo ou na televisão, lucrando com ela ou permitindo que continue a existir.

Os supostos argumentos que se filiam a favor da perpetuação desta prática são, todos eles, coxos e alheios a qualquer vestígio de validade científica ou cultural. É por isso mesmo interessante reflectir no aproveitamento político (ou ausência dele) do tema. Se à direita não espanta que os valores obtusos de que não se espera algum tipo de racionalidade se alinhem com o tradicionalismo, com os interesses económicos dos latifundiários, com a perpetuação do culto classista das elites e do acesso parcimonioso a certos eventos, à esquerda pedem-se responsabilidades sobre a colagem ao argumento da "tradição"*, que não tem outra finalidade que não a tentativa desesperada de manter eleitorado nas regiões em que a tourada tem forte implantação. O financiamento público desta "actividade cultural" é ultrajante e inaceitável e o assunto é fracturante o suficiente para determinar a perda ou o ganho de votos, quer em eleições legislativas quer autárquicas. A "esquerda" que tenta salvar o capitalismo não faz grande alarido porque sabe que os atentos recordarão a sua actuação no único município que geriram. A esquerda mais séria já não é levada a sério há bastante tempo quando o tema é a tourada. Atravancando os discursos até dos seus mais lúcidos representantes na defesa do indefensável, tentando segurar os cada vez mais escassos votos de barranquenhos e ribatejanos, ainda não percebeu que se neste tema vocalizar a razão e colocar a abolição das touradas nos seus programas (ou pelo menos, para não ter de se justificar uma clivagem tão brusca com a assumpção de um erro antigo, da abolição do financiamento público das touradas ou devoção de parte dos orçamento municipais para obras de conservação de praças de touros, que seria o mínimo aceitável), a fidelidade do seu eleitorado não só não abalará, como o balanço entre os votos que perdem e os que deixam de perder (como o desta que vos escreve) poderá ser positivo. [Esta é uma crítica antiga que faço ao PCP, uma das que motivou a minha demora na filiação, das que motivou o meu voto avesso ao partido muitas vezes e uma das que permaneceram o suficiente para engrossar os motivos de afastamento.] Claro que a abordagem tão claramente eleitoralista de uma esquerda que, se cumprisse com o seu papel, seria revolucionária, interventiva e resistente, independentemente dos assentos parlamentares, já é por si só motivo de desgaste e falta de confiança (não quero falar de vergonha para os ideais marxistas neste texto, mas a bem da clareza também não posso deixar de parte este apontamento). De referir ainda que, onde o PCP se encolhe e tenta passar pelos intervalos da chuva, os Verdes não se impõem como uma força política distinta que não são.

Não é preciso "pensar muito, muito, muito" para se sentir empatia com animais, mamíferos como nós, que sentem dor como nós, que são mutilados e espancados entes de entrarem numa arena para, ao som da ignorância e crueldade dos bichos cientes que deveríamos ser nós, serem espetados com ferros aguçados no lombo, desorientados, sangrados, quebrados, atacados. Contudo, não me peçam empatia para com os toureiros e forcados que ficam feridos, que ela não existe. Pelo contrário, assumo a vertente violenta presente em mim e confesso que sinto, sempre que ocorrem feridos na arena, uma pequena satisfação nessa espécie de vingança simbólica de todos os touros trucidados às mãos daqueles bandalhos. É que estes foram de livre vontade para a arena, foram fazer parte do que apelidam de espectáculo, foram representar o papel para que são pagos, de heróis cobertos de brilhantes e lantejoulas a afrontar pobres animais derrotados e indefesos. Onde os olhos de extrema direita de Assunção Cristas vêem "bailado", pessoas com um pouco mais de profundidade de raciocínio lógico (não falo sequer dos mínimos olímpicos para se ser humano) veêm desperdiçada uma excelente oportunidade política e humana de deixar o silêncio não envergonhar a espécie.

À esquerda parlamentar que defende as touradas como forma de expressão cultural e de identidade 'nacional' (termo que por si só me causa alguma urticária, como deveria causar a todos os comunistas) tenho a relembrar que outrora (ou em outros lugares) também eram ou são tradições aparentemente apreciadas por algumas fracções do povo os autos de fé, a queima de bruxas na fogueira, a queima de gatos na fogueira, o enforcamento de 'criminosos', as lutas de gladiadores, de cães e de galos, o apedrejamento de mulheres suspeitas de adultério, ou o lançamento de anões. Que hipocrisia, não?

Não há Festa como esta!

Este ano ainda não vi na TV as habituais imagens seleccionadas a dedo de velhinhos de bengala sentados perto de um garrafão de vinho e pessoal claramente "sob o efeito de substâncias", como é habitual. Estranhamente, vi imagens de crianças no carrossel, de jogos de cartas e apenas pessoas a passarem perto do Espaço Central. Continua a não ser representativo da pluralidade bonita que é a Festa, mas melhorou.

A programação musical da Festa este ano não me pareceu particularmente apelativa (para o meu gosto pessoal), provavelmente na tentativa de captação de públicos jovens e mais diversos (?), incluindo até artistas com conotações políticas bem divergentes da partilhada por grande parte dos visitantes da Festa. Rui Veloso, por exemplo, que ontem encerrou a noite de dia 2 no Palco 25 de Abril, e apoia o Francisco Assis (PS) no Porto, mas até é mandatário de Fernando Seara (PSD) em Sintra. O alinhamento também me criou algumas dúvidas, até porque normalmente o Rúben de Carvalho não deixa nada ao acaso. Felizmente que a Festa terminou muito bem, com os Língua Franca a darem uma lição de música com mensagens políticas e fraternidade transatlântica.

Mas o melhor da Festa continua a ser o convívio entre todos os camaradas, amigos e visitantes, de igual para igual:

  • as conversas instantâneas com o camarada septuagenário do Algarve que viu os planos furados e ficou sem companhia, mas foi à Festa sozinho, porque já tinha saudades, fez umas chalaças com uma camarada da Margem Certa e divertiu-se à mesma;
  • a camarada que acompanhava o filho teenager no concerto de Mão Morta e ficou surpresa com a voz do Adolfo Luxúria Canibal e com as histórias que lhe contámos, mas aguentou firme e hirta e até gostou de ouvir aquela banda que desconhecia;
  • o camarada que ia a passar e convidou-se a provar as minhas uvas, que partilhei com todo o gosto;
  • a comoção de cada Carvalhesa, entoada de coração ao alto.

 

Fico sempre com uma saudade estúpida logo que a Festa termina, três dias são poucos para fazer tudo o que há para fazer, ver, ouvir, debater e comer. Mas fica também o alento de saber que no próximo ano a Festa será ainda maior, ainda melhor e mais bonita.

Não gosto de desvendar aqui dados pessoais, ou falar de detalhes da minha vida privada (o anonimato é insubstituível como escudo libertador), mas vou abrir uma excepção para dizer algumas coisas sobre a selvajaria que se passa na PT com a tomada de assalto por parte da Altice.

Passei pela PT em várias fases da vida, em várias posições na empresa, conheci desde o call-center aos gabinetes da administração, trabalhei até à exaustão e à depressão, aprendi muitas coisas e conheci muita gente. Alguma gente muito boa, de quem continuo amiga até hoje, anos depois de ter mudado de emprego, e alguma gente que não vale um tostão furado. Em termos de direitos laborais, de progressão na carreira e da forma como as pessoas são, ou eram, tratadas, uma palavra basta: vergonha. Muita coisa, se não quase tudo, assentava no bom velho factor C, na politiquice, nas quintinhas e raivinhas de dentes. Não tenho saudades nenhumas desse tempo de esforços em vão e inglórios a bem do brio profissional, das noitadas até de madrugada que eram tomadas não só como dado adquirido como uma obrigação, a troco de... zero, nem um agradecimento. Uma chefia teve a distinta lata de me acusar uma vez de "usufruir de todos os meus direitos" (o que até estava bem longe da verdade), e de me acusar de ter tido uma baixa por doença (para uma cirurgia major) numa má altura - não interessa que fosse a única altura possível, ao que parece deveria ter adiado a minha saúde por mais um ano ou dois, para minimizar o impacto no calendário de férias da chefia. Dá para ter uma ideia, certo?

Como comunista, estou e estarei sempre do lado dos trabalhadores, todos os trabalhadores, sejam eles quem forem. O que a Altice pretende fazer é passar por cima de todos os direitos e liberdades, dizimar postos de trabalho, fragilizar ainda mais os vínculos laborais e aproveitar ao máximo a permissividade política que existe (permitimos existir) em relação à precariedade, merecendo-me a mais absoluta repulsa.

Contudo, não deixo de achar interessante a ironia de também quem ajudou (e, tantas vezes, levou mais longe) a mão exploradora e opressora do patronato quando estava em posições de chefia a despertar agora - só agora - para a defesa dos interesses dos trabalhadores. Claro que não os vejo nas manifestações nem a dar a cara na televisão, mas vejo os seus apelos e suspiros nas redes sociais, leio os seus desabafos e pedidos de protecção. Talvez agora tenham percebido que não são "chefias" nem "pessoas importantes em cargos importantes" (de um poderzinho medíocre que só se revela no espezinhamento alheio), mas apenas e só trabalhadores como os outros, que valem apenas os números que representam, a quem gostavam de chamar "colaboradores" ou, ainda mais ridículo, "as minhas pessoas".

Daqui lhes envio a minha genuína solidariedade, revestida de benefício da dúvida, porque mais vale tarde que nunca. Tomara que sim, que realmente tenham percebido onde está a linha nem-por-isso-ténue que separa a justiça da exploração, e que não voltem a esquecê-la. Que mantenham os vossos postos de trabalho e posições hierárquicas, para no futuro defenderem os direitos dos trabalhadores nas vossas equipas. Para que não permitam a adulteração de avaliações de desempenho, para não usarem gritos, ameaças de despedimento, chantagens e ofensas como método de "liderança", para não permitirem a perseguição de quem faz greve, para deixarem de incentivar as horas extra não remuneradas, para exigirem condições de trabalho dignas para todos. 

Dedico-lhes esta canção do Jorge, Vermelho Redundante.

letra... )

Para os frequentadores habituais, como para qualquer pessoa que já tenha feito uma única visita à Festa do Avante, os mitos propagados pela maioria da comunicação social e pelos anti-comunistas de forma geral são apenas hilariantes. Mas não precisam de acreditar em mim. Podem ver com os vossos olhos ou, melhor ainda, dar o benefício da dúvida e experimentar ir um dia para confirmar in loco que a maior parte das ideias pré-concebidas acerca da Festa são mitos fomentados pela desinformação. Alguns dos mais caricatos:



  • A Festa do Avante é um festival de música.





 



 




 



 



  • Só uns poucos comunistas que vivem para o Partido é que frequentam a Festa.



 




 



  • Os comunistas são todos velhinhos.







  •  Esse pessoal é todo drogado.






  •  O comunismo é bafiento e sisudo




  •  A Festa do Avante está em declínio, quem é que ainda lá vai!?




  • Os comunistas comem criancinhas.






 


 


 


Nota: fotos e vídeos retirados daqui

A esquerda continua a insistir em marcar as suas diferenças em vez de se concentrar nas semelhanças, e assim continua a perder eleições e votos. Carvalho da Silva teria sido um candidato unificador, com provas dadas, conhecido por todos e independente (como fazia falta que fosse).

 

Eu continuo a estar num sítio muito específico, com a certeza da ideologia comunista, e com a frieza de discordar em vários pontos e a desfaçatez - dirão - de admirar alguns outros pontos nos "adversários".

 

Por muito que a comunicação social o deseje, BE e CDU não são adversários naturais. São distintos, sim, mas na maior parte dos aspectos importantes, são idênticos e complementares. E espantem-se, nenhum dos dois é dono da razão.
O BE defende, e bem, o fim das touradas, ao passo que a CDU até é a favor do regime de excepção em relação aos "touros de morte" em Barrancos, a bem duma "tradição" bárbara e cruel.
A CDU é, e bem, contra o Acordo Ortográfico que o Bloco defende (sendo que a Marisa Matias discorda do seu partido, o que lhe vale pontos adicionais no meu respeito e consideração).
Mas o Bloco defende a despenalização das drogas leves e a CDU nem sequer faz distinção entre drogas leves e pesadas.
Ambos advogam os direitos igualitários entre géneros, mas se no Bloco a liderança e as figuras fortes são (grandes!) mulheres, ė na bancada do PCP que a paridade é (muito) mais sentida.

 

A piadola de Jerónimo de Sousa não tinha Marisa Matias como alvo, estou quase certa (pareceu-me que os alvos seriam os populistas Marcelo e Vitorino). Tenho Jerónimo como pessoa de bem e exemplar no trato para com os outros; uma atitude misógina deste calibre não se coaduna com a pessoa e muito menos com o líder político. Se a infeliz frase foi mesmo dita com a intenção de minimizar politicamente uma mulher e uma força política que têm mostrado o quanto merecem o respeito do povo português, é triste, grave e lamentável. Convinha o esclarecimento, já agora.

 

O PCP peca, e perde, pela falta de agilidade na comunicação, onde o BE é exímio e acutilante. Se o PCP quer acompanhar o ritmo frenético do Séc. XXI, tem de sair do Avante! para o mundo, tem de deixar-se contaminar pelo fulgor da juventude, tem de marcar uma presença forte e coerente nas redes sociais, tem de dotar o discurso de maior capacidade de improviso, de subjectividade (ou seja, autenticidade). Bater sempre na tecla da "política patriótica e de esquerda" e afins é um erro, é dar argumentos a quem etiqueta tudo como "a cassete" e nem se dá ao trabalho de escutar o seu significado.

 

Do mesmo modo (e aqui Edgar Silva é o último exemplo flagrante), não pode existir hesitação nem respostas enigmáticas a questões muito objectivas. Se há democracia na Coreia do Norte, a liberdade de expressão em Angola, etc. e tal. Há que agarrar o toiro pelos cornos e assumir, com toda a frontalidade, onde os outros projectos comunistas falharam; há que assumir deliberadamente que o projecto do PCP não passa pelos mesmos moldes e explicar, com factos, argumentos e propostas, qual é a proposta do PCP para Portugal.

 

Assumir humildemente a derrota nas presidenciais seria um bom começo num virar de página. A substituição da lideranla de Jerónimo, como tem vindo a ser referida por aí, não tem resposta em Edgar Silva (que, apesar de tudo, foi um dos melhores candidatos de sempre do PCP). Ouçam o que eu digo: Bernardino Soares.

Momento histórico na nossa jovem e imatura democracia, mas convenhamos que nada mais do que um processo simples e comum nas democracias mais sólidas. Não estou a rebentar de felicidade como vejo alguns amigos do Bloco, ansiosos e talvez ingénuos. O próximo governo (e contando com alguma inteligência de Cavaco, o que não é garantido, bem pelo contrário - não me espantaria nada que ainda tentar forçar um governo de iniciativa presidencial, com elenco do centrão no seu pior) não será de esquerda. Lamento, genuinamente mas, a ser, será apenas um governo PS com controle da esquerda. Esquerda essa que esteve realmente bem em todo o processo, engolindo alguns sapos em prol da libertação do país do neoliberalismo radical. Foram "apenas" algumas arestas do programa PS que a esquerda conseguiu alterar, mas que arestas! Muito bem, fico realmente orgulhosa e ainda mais convicta de que o caminho é uma junção de forças entre BE, PCP, Os Verdes, o Livre, o Mas e, se o PCTP-MRPP voltar a ter gente capaz e racional na sua liderança, também.

 

Adiante, que esse é um post que tenho em rascunho desde antes da campanha eleitoral e falaremos disso mais tarde. Do que tenho pena é que a esquerda não se tenha querido comprometer e realmente envolver na governação. Compreendo, perfeitamente até, que seja um cinto de segurança, não para proteger votos como tenho lido por aí, mas porque o comportamento errático dos anteriores governos PS não nos deixaram propriamente descansados. É uma desconfiança legítima, infelizmente, mas não basta ter socialismo no nome como garante de políticas socialistas. Seria um risco enorme, é facto, mas o meu idealismo ainda acredita que seria mais proveitoso para o país se estivesse nas mãos de pessoas competentes de esquerda a possibilidade de realmente reformar profundamente áreas críticas, e quanto mais cedo melhor. Enfim, resta aguardar com confiança que seja feito o melhor que se conseguir. E regozijemos, o pior (des)governo de sempre em Portugal vai, finalmente, cair. De quatro.

Já perdi a conta a quantas vezes escrevi sobre a Festa. Não tenho a respeito da Festa opiniões isentas. Sou comunista convicta desde muito antes de saber que as minhas ideias (sempre, desde criança sem saber ler nem escrever, me pareceu tão óbvio, não havia como não concordar) tinham este nome, por decisão própria e absolutamente isenta de influências familiares ou outras. Nem sempre estou totalmente de acordo com o Partido, mas isso não vem ao caso, porque a Festa não é só para comunistas nem só do comunismo, é a Festa de todos!

 

Fui à minha primeira Festa do Avante ainda habitava o útero de minha mãe. Não fui todos os anos (falhei duas por me encontrar fora do país, falhei outra por estar em recuperação de uma cirurgia e estar impossibilitada de caminhar), mas fui muitas vezes, e muitas mais irei, conquanto esteja viva e capaz. Já fui com namorados, com amigos e amigas (de todos os quadrantes políticos, note-se), com família, com menores, já fui com calor infernal, com frio e com muita chuva e trovoada também. Foi no Avante que comi o meu primeiro kebab, que enjoei cerveja (calma, só durante uns tempos, já passou), que vi os Xutos tantas vezes (e no Domingo verei novamente), que encontrei amigos e conhecidos que só já encontro no Avante, que lhes conheço a prole e as voltas da vida.

 

 

 

 

Sou daquelas pessoas que em Outubro já têm saudades da Festa, que sonham com ela o ano inteiro e que basta ouvirem a Carvalhesa para que o espírito de encha de ânimo, alegria e confiança. Emociono-me muitas vezes ao som da Carvalhesa, com lágrimas nos olhos e tudo. Estes três dias são, para mim, uma amostra de como um mundo podia ser: não perfeito, mas tão bom, tão melhor do que o que enfrentamos diariamente. Não há formalismos, somos todos iguais, sem cor nem credo nem género nem idade. Milhares de pessoas reúnem-se naquele espaço belíssimo, com interesses diferentes, com tradições e gostos diferentes, com histórias diferentes, cada uma com um universo dentro de si. E há lugar para todos. Há música (de todos os géneros), cinema, teatro, dança, desporto, debates, feira do livro e do disco, há gastronomia de todos os cantos do país, há representações internacionais (muitas delas também com gastronomia ou venda de artigos típicos), há debates, há política, há ciência, há espaços e actividades para as crianças. Há alegria. Tanta alegria. Há realmente camaradagem. Há famílias inteiras, há uma tão grande paz entre toda a gente, os grupos de adolescentes com as hormonas aos saltos e os reformados que trazem farnel de casa sorriem uns para os outros, mete-se conversa na fila para as bifanas com desconhecidos como se fossem amigos do peito, se porventura entornas o teu copo nos pés de alguém, levas uma palmadinha nas costas e dizem-te "tudo bem, amigo, não há azar, boa festa!" Ninguém olha de lado para ninguém. Não há desacatos. Não há mesmo Festa como esta!

 

Talvez seja orgulho de estarmos todos a respirar o aroma a baía misturado com aroma de pinhal, talvez seja por dançarmos todos ao som da mesma Carvalhesa. Há qualquer coisa de mágico, de indescritível, que se passa no Seixal no primeiro fim-de-semana de cada Setembro. Não sei se o Mestre (Jorge Palma, para os amigos) estava inspirado pela Festa quando escreveu o refrão da Terra dos Sonhos, mas é para lá que sou transportada sempre que oiço esta canção.

 

 

 

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar


Em relação ao meu post abaixo e em jeito de resposta ao certeiro comentário da Maria... Não, nem todos merecemos o país e o (des)Governo que temos, porque nem todos contribuímos para a sua eleição. Cruzes, canhoto!

 

Mas a verdade é que vivemos em democracia, com todas as suas falhas e virtudes, e que, não sendo perfeita, é a melhor tentativa de estado justo* que conhecemos. E nesta democracia, temos um (des)governo eleito com a maioria dos votos da população eleitora, a representação parlamentar que os eleitores escolheram, o "Presidente da República" (desculpem mas não consigo escrevê-lo sem as aspas) também democraticamente eleito.

 

Eu nunca votei em nenhum deles, nem nos partidos que representam, nem nos últimos nem em nenhum acto eleitoral. Mas não concordar com o sentido de voto da maioria não nos desresponsabiliza, não nos iliba da culpa do "estado a que chegámos", como dizia Salgueiro Maia. Além de considerar que o voto é um dever fulcral à cidadania, também acho que a mobilização, a incitação ao voto e à participação, o são ou devem ser. Não basta mandar umas chalaças no café e nas redes sociais, faz falta agir em concreto. Faz falta sair à rua para fazer ouvir a nossa voz, dar a cara e o nome e o corpo ao manifesto, assinar as petições, discutir abertamente com quem nos rodeia, apontar sem medos o que está mal feito, confrontar. Contra mim falo, que confesso ser uma péssima militante, com um imenso défice participativo e interventivo. E também por isso me incluo nesta primeira pessoa do plural quando digo e repito: temos o país que merecemos.

*Talvez o melhor método fosse um despotismo justo, como diz um grande amigo meu. Talvez. Mas sem garantias de imunidade à corrupção que o poder encerra, sem garantia de pluralidade e sem o aval popular, deixe-se estar a democracia.

 

    • Quem fala de política sem medo de divergir da maioria.

 

    • Quem é fiel aos seus princípios e defende até ao fim aquilo em que acredita.

 

    • Quem trata bem os animais.

 

    • Quem sorri quando fala e ouve falar de viagens boas.

 

    • Quem leu pelo menos dez vezes mais livros do que teve namoros.

 

    • Homem com barba.



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Disclaimer: as minhas definições, a vocês (os três) que me lêem, estejam à vontade para discordar.

Cravos vermelhos. 25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais. A minha favorita de sempre e que tenho como lema de vida e pilar fundamental do meu sistema de crenças: o Povo Unido jamais será vencido.

 

Nasci no seio de uma família de fazedores de Abril. Da geração que cresceu na ditadura, com muitas dificuldades - dificuldades sérias, é preciso explicar, que a palavra se banalizou. De avós operários das fábricas, sem instrução, sem casa própria, que viviam em águas furtadas sem casa-de-banho, que tinham de fazer duas sardinhas e um ovo esticar para alimentarem três bocas. O 25 de Abril trouxe possibilidades inegáveis de uma vida melhor, a capacidade de ambicionar algo mais, direitos, participação cívica, desenvolvimento pessoal. Já não era necessário entrar à socapa nas salas onde se reuniam membros dos partidos políticos clandestinos, atrás da sede do clube de futebol local. Os meus avós ousaram então, só então, sonhar com uma casita alugada, paga do salário deles, com quartos e cozinha e casa-de-banho, até um quintal para poderem semear uns legumes. Os meus pais ousaram encerrar o ciclo: casar e constituir a sua própria família, sem a condenação inevitável da pobreza, sem ser necessário mandar os filhos trabalhar ainda pré-adolescentes para ajudar ao sustento da casa.

 

Eu, tendo nascido anos depois, sinto-me filha de Abril. Tudo o que sou deve-se àquele momento em que homens e mulheres valentes ousaram derrubar o sistema e entregar o destino do país às mãos do povo. 

 

O 25 de Abril é o dia mais bonito. O cravo vermelho é a flor que toca todos os corações. 11155032_10204008002743919_252136526884919777_o.jp25sempre.jpg

 

A Democracia está longe de ser perfeita e está, para mal de todos nós, desvirtuada. Ao 41º aniversário da Revolução dos Cravos as notícias dão-nos conta de mais um vil atentado à liberdade de imprensa pelo arco da governação das últimas décadas, mais um retrocesso nas portas que Abril abriu. Apelo aqui à memória da ditadura, na 1ª ou 3ª pessoas, para que não se ceda nem mais um milímetro dos direitos arduamente conquistados há quatro décadas (salário mínimo, direito à educação e saúde gratuitas, igualdade de géneros, direito à greve, a férias, Segurança Social, etc., etc., etc.), porque ainda há muito a conquistar para que esta sociedade seja realmente justa.