Meu coração doido é pólvora, explode em festim desregrado à ignição certeira.
Meu coração despedaçado, espalhado em granulado pelo mundo,
não tem poiso quieto nem caminhos pavimentados em que deslizar.
Meu coração gelado, pingado a cada ebulição,
contido em caixas estanques para não evaporar.
Coração bravio, valente e solto, ousa desafiar regras que ninguém ditou.
Meu coração pachorrento, encostado a cada lugar,
derretido em poemas e canções de embalar.
Coração perdido, vagabundo e trôpego, embriagado de sal e de vinho a sangrar.
Coração vadio, disputa com o vento a leveza e não sabe aterrar.
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Não tinha falsas modéstias, sabia que tinha uma cabeça interessante, um discurso cativante, rebelde e uma dose de poesia na alma que, nas raras ocasiões em que a revelava, não colhia indiferença.
Bicho-do-mato, arisca, bruta, conseguia afastar qualquer um antes de dar a hipótese de ser rejeitada. Não concebia que pudesse ser mais a outros olhos do que era aos seus próprios e sacudia com força quem ousasse aproximar-se. Quem não toca não magoa e esse parecia ser o segredo para não morrer de amor. Não se reconhecia na imagem que devolvia o espelho, que evitava olhar de frente. As formas flácidas, as curvas esmorecidas, papos, borbulhas e cicatrizes atacavam de frente a miúda atrevida que queria ser, chamando a atenção de que afinal o tempo de ser miúda já passou e o atrevimento podia ser ridículo. Voltava costas e tentava esquecer-se do reflexo que lhe tolhia as ousadias. Todos os dias odiava as suas contradições, enquanto ia aprendendo a amar-se. Queria mudar o mundo, mas não cabia nos moldes mundanos. Todos os dias corria atrás de um ideal que não sabia definir. Queria ser especial mas para ser invisível era preciso ser banal. Apontava as fugas de toda a gente, incapaz de se deter e se despir. Gabava-se de não temer nada mas soluçava o choro seco de quem lamenta existir. Queria ser leve, simples, fácil, mas era um vendaval surreal.
Sofia apagou-se um dia, com o coração em remendos e a alma em cacos.
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Gostava de reparar, todos os dias ao acordar, que tínhamos dormido de mão dada. Gostava de te ouvir os beijos antes das palavras e do despertador.
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As provas de amor não são jóias, não são ramos de flores sem fim, não são carros nem férias de luxo. As provas de amor nunca são presentes que se pedem ou que se avaliam pelo valor transaccional. As provas de amor são sempre actos de dedicação, de carinho, são surpresinhas que espantam e deliciam. As provas de amor valem pela atenção com que se ouve o outro, pelo quão bem se demonstra conhecê-lo, pelo cuidado de o mimar. O amor não tem preço, não se pode comprar nem vender. Por isso não se pode (não se deve) querer dizer com um presente "gosto tanto de ti que gastei duzentos euros"; é ofensivo, a sério. Se eu nem uso relógio, como posso achar que um Tissot xpto seria uma prova de amor?!
As melhores provas de amor são pequenos detalhes, são momentos instantâneos e actos tangentes. São pequenos nadas como ele levar o formulário de inscrição à piscina para ela não ter de lá ir de propósito, ou convidá-la para o acompanhar à Biblioteca porque ela mencionou que tinha de renovar o cartão. São lembranças como deixar-lhe a mesa posta e uma flor na jarra quando ele chega cansado à meia-noite, ou abdicar de três horas de sono só para lhe dar um beijinho. São ir esperá-lo à estação a meio da noite para o ver sorrir, perguntar como correu aquela coisa no trabalho, ter sempre um pacote das bolachas que ele gosta, ou deixá-lo escolher um filme aborrecido. São poemas que ele escreve a pensar nela e prosas que ela escreve a pensar nele, são fotografias em que se vê uma beleza que os outros nem vislumbram. Provas de amor são improbabilidades como ela levá-lo a um jogo de futebol da equipa que abomina ou compilar uma playlist das músicas que ele gosta. São, por vezes, sacrifícios como assumir as culpas por um erro do outro, tolerar o cheiro pestilento a tabaco emaranhado nas roupas e cabelos, e são as súplicas para que se páre de fumar. São voluntarismos como antecipar as tarefas domésticas que a deixam de rastos antes dela pedir ajuda, ou dar-lhe uma massagem nas costas doridas. São cuidados como perguntar a opinião antes de tomar decisões que afectam o outro, levantar a horas para que não atrasar quem tem mais pressa, não fazer barulho para não acordar o outro, oferecer uma torrada se se vai fazer outra ou perguntar se também quer vir dar um passeio pela rua. São elogios às pequenas particularidades, ao pequeno sinal na bochecha, ao penteado ou ao cheiro bom da pele.
As provas de amor são silêncios de concordância, são espaços de partilha, são diálogos com o olhar, risadas cúmplices e margem para erros. São perdões, são tolerâncias, reconhecimento e agradecimentos, são meter o orgulho de parte, tomar riscos e enfrentar contrariedades. São entregas de corpo e alma, são intimidades no sexo e para além dele, atender sempre o telefone, ter sempre um ombro amigo e nunca virar as costas.
As provas de amor são as mesmas que as provas de desamor. Umas estão lá, as outras não.
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Está frio cá dentro de mim. Os pássaros recolhem, as flores caíram, o branco toma conta do tempo. Do ontem, do amanhã e depois. Doem os ossos encolhidos, a pele áspera arde. A geada. Está escuro neste inverno de mim. Ainda cheira a lenha queimada, as brasas abandonadas persistem na memória e queimam...
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E quando conheces o teu coração e sabes que ele não cansa? Quando sabes que do mesmo modo que sempre arranja fôlego para amar mais um pedacinho, para perdoar, para aguentar o insustentável, o teu coração quando ama não deixa de amar, não te deixa esquecer?
Há corações assim. O luto dura, e dura, e dura, as memórias são corridas a pente fino e depois repetem e repetem e repetem. E deixa-se correr, na esperança que um dia passe a dor e o amor. E correm suspiros agarrados a lágrimas saídas lá do fundo, correm, correm. Tanto sal, tanto sal. A dor apega-se ao coração, anda sempre juntinha, como um nó que se usa ao peito, à espera que alguém tenha unhas para o desatar. E pesa. E quanto mais tempo passa mais pesa. A dor em estado líquido procura pretextos para se soltar sem assumir o nome que tem, procura uma cena dum livro, um filme lamechas, um silêncio às escondidas. E passam os meses e os anos e a dor está lá, onde ainda está o amor, empedernido e sólido e persistente. Como esqueces, quando deixas aproximar alguém do coração, que deita a mão ao nó, o afaga, te embala, te mostra o amor em cores novas e deliciosas, e acaba por fazer um nó maior e mais apertado em cima do outro? Se um coração sobrelotado já é tão confuso de gerir, como fazer quando precisas de fazer limpezas lá dentro e as portas e janelas estão todas fechadas a cadeado?
Como se desatam nós destes a não ser com navalhas?
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Chorei tanto;
Conheci pessoas de quem gostei;
Criei uma pasta no PC chamada “Gajas 2011”;
Deixei cair uma omelete no chão;
Esperei por um idiota que não chegou;
Fui fotografada com uma SuperBock em frente à tromba cara;
Fui fotografada nO vestido azul;
Consegui dizer aos meus pais coisas que nunca tinha dito;
Quebrei a dieta inúmeras vezes;
Constatei que perdi mais de 1Kg desde a semana passada;
Lanchei bolo-rei ainda morno;
Jantei abacaxi;
Desejei um abraço que não foi dado;
Bati (com força e vontade) em alguém;
Senti o coração parar;
Senti o coração bater como um tambor;
Bebi ginjinha com elas;
Constatei que nunca fui realmente amada por um homem;
Recebi sms dum ex-namorado;
Parti uma gilette;
Senti-me completamente enlouquecida;
Reflecti muito sobre o conceito de perdão;
Abanei fortemente alguns dos pilares por que sempre me defini;
Comprei mais anéis do que os dedos que tenho;
Adormeci no caminho para casa;
Bebi champanhe pela(s) garrafas(s);
Descobri mentiras terríveis;
Chorei a ouvir Lhasa;
Chorei a ouvir Tindersticks;
Chorei a ouvir Caetano;
Chorei a ouvir-me chorar;
Estive noiva;
Comprei tabaco e fumei-o com gosto;
Chovi;
Jantei com alguém que adoro;
Ainda não almocei;
Fui a um hospital;
Ri até me doer a barriga;
Desejei profundamente adormecer e não voltar a acordar;
Tomei ansiolíticos e anti-depressivos;
Rompi o noivado;
Encontrei conforto em pessoas que nunca vi;
Esbarrei no metro com a pessoa de quem mais senti saudades e que era a última que queria ver;
Sonhei com cajús;
Li Ruy Belo, citei Ruy Belo;
Detestei o poema das luvas;
Comecei a planear viagens com amigos de sempre;
Comecei a planear viagens com quase-desconhecidos (outra vez);
Revi amigos muito queridos;
Discuti com a chefia e sugeri que me despedisse;
Odiei a minha mãe;
Bebi demasiado, várias vezes;
Passei dias inteiros sem comer;
Estive 48h sem dormir;
Recebi notícias dum amigo que está longe e não bem;
Andei sempre de saltos ou de chinelos;
Sangrei;
Acabei com o blogue;
Decidi deixar de esperar;
Recebi presentes;
Ainda não bebi café;
Encontrei por acaso um querido amigo com quem não falava há anos e achei que ele mantém o sorriso e o espírito puro que tinha aos 14 anos;
Fui apanhar chuva na cara porque me apeteceu;
Beijei o maior amor da minha vida;
Andei a pedir prozac emprestado;
Constatei que de entre tantas ideias estúpidas a pior terá sido fazer limpezas com as calças de fato vestidas;
Pensei que estava a viver um pesadelo distante da realidade;
Perdi toda a esperança;
Descobri verdades que nunca ninguém me tinha contado;
Andei todo o dia com umas calças azuis que pensei que eram pretas;
Ainda não conheci o meu sobrinho-perú;
Esvaziei uma casa de todos os meus pertences;
Quis tanto acreditar nas cartas da Maya;
Gastei 8 pacotes de lenços de papel em 3 dias;
Fiz reclamações a 3 entidades prestadoras de serviços;
Apaguei cartas de suicídio;
Dei notícias de esperança a quem não espera nada de mim, e menti ao fazê-lo;
Descobri que pareço estar imune às propriedades terapêuticas do etanol;
Contei todos os meus problemas a alguém que conheço mal numa casa-de-banho;
Parece que se calhar não acabei bem com o blogue;
E ainda só estamos a dia 6. 2011 promete...
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No outro dia perguntei-lhe quando é que ele teve a certeza. Porque sabia que ele sempre foi dono e senhor dessa certeza, porque ele nunca hesitou por um segundo, porque ele se atirou de cabeça (e ainda bem que o fez), porque da maneira como me deu aquele primeiro beijo, com tanta serenidade, como se fizéssemos parte um do outro há mil anos, porque as raízes de nós estão tão entrelaçadas sem que as tenhamos visto nascer. Como se sempre tivessem estado aqui, incógnitas, e de repente se tivessem tornado óbvias. A resposta dele veio confirmar o que eu já sabia. A certeza, de alguma forma, sempre esteve lá. E cá.
Que estória bonita a nossa, cheia de sinais, de magia. Um dia sou capaz de contá-la.
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Se calhar é um magnetismo que há na alma que as faz reconhecerem-se quando se cruzam. Que denunciam de imediato uma compatibilidade inquestionável, apesar das diferenças. Se calhar é no olhar que se cruza que é selada a confirmação.
A expectativa imensa que havia em correr para o abraço, que fez do coração um sobressalto, aninhou-se. O aconchego que há nos olhos que brilham.
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Não tenhas medo. Sei que já foste magoado vezes demais. Tu sabes que eu já fui magoada demais. Sabes que tenho um amor atravessado na garganta e eu sei os fantasmas que te fazem frio nos pés. Não tenhas medo. Estou contigo, agarrada a ti. Se escorregares eu seguro-te. Ou consigo agarrar-te ou caímos os dois. Não vou largar a tua mão. Não vou deixar-te sozinho. Não tenhas medo. O meu amor por ti não tem prazo de validade. Não tenhas medo de dar-te nem de tomar de mim o que ainda não quiseste receber. Nem pressa nem medo de nos viver completamente. Estou aqui, contigo e ficarei.
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Ela despiu-se, despediu-se de quem já não era. No mesmo dia ele entrou-lhe pela janela. Descobriram-se. Aproximaram-se e deixaram-se estar. Deram as mãos. Mergulharam nas nocturnas palavras. Sorriram um dentro do outro. Apaixonaram-se. Tiveram medo. Falaram de amor. Voaram. Conheceram-se. Uma hora depois fizeram promessas. Três horas depois ele beijou-a. Beijaram-se sem tempo. Deixaram o silêncio dizer tudo. Cinco dias depois disse-lhe que a amava. Três semanas depois disse-lhe que era para sempre. Partilharam madrugadas; músicas; poemas; vidas. Quiseram cruzar-se em cada amanhecer. Dois meses depois pediu-a em casamento. Ela aceitou. Chegaram a casa nos braços um do outro.
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Adoro que subvertas todas as minhas lógicas. Best surprise ever.
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Há amores vivos e pulsantes, bonitos, mágicos. E há amores que morrem e há ainda amores que são abandonados. Os amores que são abandonados, não chegam, portanto, a morrer. Ficam arrumados (esquecidos não) num qualquer canto do coração, que tem espaço para muitos amores. O espaço disponível num coração para alojar amores é exponencialmente proporcional à quantidade de amores contidos num dado momento. Partilhar espaço dentro dum mesmo coração também não minimiza, em teoria, a sua grandeza, a sua posição, não invalida a devoção do coração a cada um dos amores. Mas há amores que se dão mal uns com os outros. São maus roomates. Se um está na varanda, o outro quer ir à varanda, se o outro está no sofá, o primeiro quer expulsá-lo. Desarrumam os espaços um do outro, não conseguem comportar-se e, eventualmente, a disputa acaba em olhos negros e arranhões a premiar o mau génio de cada um, e a baralhar todo o conteúdo do coração revolto. Explica-se-lhes que não têm de competir, há espaço para ambos, são ambos importantes ou não estariam a ocupar aquele T2 do coração. Que um não é menor que o outro. São os dois imensos e imprescindíveis, só tiveram a sorte de aparecer em alturas diferentes e terem crescido em tempos diferentes. Have I made myself clear? No? That’s ok too.
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E se todos os milhares de pedacinhos dizem o mesmo que os fez estilhaçar? E se nada muda, se nada nunca mais mudar? Se não houver cola que me valha? Se todas as portas por onde vou fugindo forem dar ao mesmo lugar? E se este amor nunca morrer, nem depois de me matar? Viver com um coração morto não me deixa em paz. Mesmo com tudo o resto, os muitos sonhos, os desafios, a vida que me pulsa, sempre a pedir mais. Seguir o coração, mas e o coração, onde fica, se o que resta dele é pó, cinza? Arrumado num baú e escondido nos antípodas, será longe o suficiente para fugir dele? E porque não ser o coração a seguir-me a mim?
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Não me venhas espiar as sílabas, não. Continua a fingir que cessei de existir e segue sem o entrave que fui eu. Segue rápido e feliz e vive tudo o que procuravas na fuga de mim. Não me venhas tomar o cheiro quando em vez, saber se já morri ou me tornei em quem não reconheces. Não me visites amiúde, não te quero aqui. Não sintas a temperatura a ver se está frio o suficiente para não queimar, ou morno o suficiente para te tirar o gelo do coração. Não te escondas debaixo desse manto de invisibilidade presunçosa que, sabes, não funciona comigo. Não vás retirando sanções até te julgares no direito de apagar o passado. Não. Deixa o tempo passar devagar. Quando me sentires a falta, não de quem preencha a minha vaga nas funções, mas de MIM, virás. Nesse dia, ler-me-ás de rajada e recordarás cada momento como um tempo que cristalizou. Far-se-á Luz na caverna escura de ti e o degelo será um flash. Nesse dia, se o dia chegar, entornarás significados antigos que evitaste e tudo será claro e límpido como a verdade que te vai ensurdecer. E nesse dia vais procurar por mim. Em cada rosto, em cada palavra, em cada um dos pequenos vazios dentro de ti, em cada saudade que descobrires. Vais ensaiar aproximações, negociá-las com o medo da rejeição. Eu não sei onde vou estar. Só sei que não estarei onde me deixaste, naquele sítio onde cabiam o teu mundo e o meu, onde tudo estava por ser. Não vou regressar a esse sítio nunca mais. Não acredito em regressos. Só acredito no infinito e em mim.
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For my nude heart is pure and has only you in it.
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Deixa-me ser tua namorada por um dia. Assim como que à experiência. Tirávamos as dúvidas e eu podia morrer em paz, tendo sido feliz mesmo que só por um dia. Só pedia um dia. Um dia que ia querer esticar ao infinito para lhe caber tudo o que quero fazer contigo, tudo o que quero dar-te. E dava-te os meus dias, todos, inteiros, e as minhas noites com lua e estrelas. Ama-me um dia. Um que seja. Pausa a vida que te afasta de mim, esquece tudo o que já aconteceu e dá-me um dos teus dias. Como se eu fosse novidade. Deixa-te amar por um dia. Tenho mais beijos que minutos, mais sorrisos que palavras. Só um dia. Acordamos juntos e chamamos o sol para as nossas mãos. Não precisas de bagagem nem relógio, traz só o coração limpo e dois braços abertos. Deixa-me fazer dum dia o primeiro nosso dia. Todo nosso, de verdade. Mesmo que a seguir tornes a partir sem olhar para trás. Queria um dia. Um dia em que não tivesse de chamar por ti com todas as energias que já não tenho. Um dia de ti.