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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

No outro dia estava particularmente triste e desencantada com a vida em geral e desactivei a página, o perfil, coloquei o blogue privado. Quase ninguém notou, quem notou achou que o tinha bloqueado (haja paciência). Encontro-me numa fase complicada em termos pessoais e a questionar uma série de opções, nomeadamente em relação ao que escrevo. Às vezes tenho vontade de fechar portas e fazer um interregno ou mandar tudo às urtigas. Outras vezes tenho vontade de acabar com o anonimato e passar a assinar tudo com o meu nome real (não, não é Sofia), mas sei (porque já o fiz antes) que uma liberdade não compensa a castração do outro lado e se o vier a fazer deve ser insanidade temporária, que sei bem que ter um nome real faz com que acresçam as expectativas e as responsabilidades, e aqui prefiro ser moderadamente inconsequente. Aqui posso carpir dores e usar o coração estilhaçado para procurar sentido nas palavras sem ter que fazer um esforço extra para contornar questões incómodas e privadas, posso dizer tudo sem ser castigada pelo excesso de sinceridade.

Não está fácil de gerir e é possível que isto fique meio morto por uns tempos. Achei que não devia só desaparecer, fazer ghosting mesmo num blogue é feio e há por aí pessoas de quem gosto muito, mesmo sem as conhecer a 3D (não interessa mesmo nadinha) e me merecem uma explicação. Aqui está ela. Não morri, não fui raptada por aliens, ando só triste e com oscilações de humor que pode ser melhor manter à parte deste universo. Até já!

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2017 foi um ano bom. Do caraças, mesmo. Insólito, como são sempre os melhores anos.

Apaixonei-me. Fiz Amigos para a vida toda, ou enquanto me queiram. Descobri coisas insuspeitas sobre mim própria, que me fizeram mudar uma série de paradigmas e desafiar-me a mim e ao que me rodeia. Tive uma série de problemas novos, é certo, mas o balanço final é que as coisas boas, que são quase sempre pessoas, multiplicam-se se deixarmos. Vi sororidade brotar de desertos improváveis, aprendi que o que eu quero pode e deve ser tão importante como o que os outros querem, arrisquei quase tudo e assumi o que queria e quero. Não perdi, mas também não ganhei e por isso não desisti. Descobri que há outros bichos raros como eu por aí (o que é um pouco assustador). Abri-me e pus a alma a nú perante desconhecidos. Cortei alguns laços que eram lassos. Perdi vergonhas. Por breves instantes, senti-me realmente especial e capaz de mudar o mundo. Fui à luta e a Luta continua.

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"Isso acabou." "Não haverá próxima vez."

Ela não lhe via os olhos mas sabia que ele provavelmente acreditaria nas suas próprias palavras e sabia de cor que os olhos dele vagueavam cabisbaixos, à procura da certeza que ela tinha na voz, ou de uma confirmação divina de que bastavam as suas melhores intenções para lhe evitarem os desvios.

Ele não sabia que mentia porque não é preciso mentir quando todo o caminho ainda por percorrer existe num plano passado a limpo em cadernos quadriculados, e está fotografado de antemão em película por revelar. Ela tinha o condão de ler as pessoas e de saber, com uma certeza inexplicável que nunca se enganara, tudo o que precisava de saber, qual mística Blimunda. Ainda assim, insistia em dar o benefício da dúvida, uma e outra e mais outra vez. Recolhia os cacos do seu ego estilhaçado e lambia as próprias feridas, quase pedindo desculpa por incomodar com as marcas de sangue nos degraus.

Que teimosia era aquela que a fazia avançar sem hesitações quando sabia, por ter visto por dentro, que cada novo tropeção lhe esfolaria novamente os joelhos já em osso?

Que perdão concedido à partida era aquele que, por amor ou condescendência, garantia a quem (sem querer?) a agredia, repetidamente?

"Vive as coisas com naturalidade" - aconselhava ele antes de mudar de assunto, com ingenuidade forçada, como que a dar uma odiosa palmadinha nas costas, e talvez seguro de que uma próxima agressão não seria ainda a última, não seria ainda o limite, não seria ainda suficiente para ela sair sem bater com a porta, de mansinho, a meio de um Domingo distraído e solarengo em que nenhuma promessa se havia cumprido.

Enquanto descia as escadas devagarinho, a esconder os olhos do Sol que a abraçava e com toda a bagagem enrolada debaixo do braço, ela pensava nele e em quão desorientado ele se encontraria nos meses todos que ia demorar a notar que ela não regressaria, tinha saído para sempre, sem dar explicações, empurrada com toda a violência por uma leve palmadinha nas costas.

 

O sofrimento é péssimo, tanto na pele como na pele de quem se quer bem. Pelo menos para mim, que tenho uma inevitável capacidade de esponja: absorvo as alegrias e tristezas dos que me rodeiam e são queridos. Se estão contentes, fico contente, se estão a sofrer, eu sofro também.


 


Quando alguém mesmo muito muito próximo sofre horrores, vilanias terríveis, também eu preciso dum calmante e também choro entredentes. Estou tão desolada como se fosse na minha pele. Pudesse eu chamar a mim a tua dor e isentar-te dela, fá-lo-ia sem hesitar. Ao menos eu já estou habituada a desilusões deste calibre.


 


Fuck bananas.


 

Sim, já cometi erros. Os suficientes. Alguns bem grandes. E já sofri com erros alheios.

De todas as vezes aprendi qualquer coisa, sobre mim, sobre outros ou sobre alguma coisa.

E também aprendi quando perdoei erros que me magoaram. Aprendi quando pedi perdão.

 

É que é preciso ter humildade para aprender. Para tentar correndo o risco de se falhar, para aceitar a derrota, para assumir que se erra. E é preciso ter humildade quando se perdoa também, porque perdoar é saber que toda a gente erra, e que nós ta,bém errámos e vamos tornar a errar.

Não perdoar é uma atitude arrogante. E não digo que no perdão esteja implícita uma mensagem permissiva de voltar a permitir que o mesmo erro ou a mesma pessoa nos torne a afectar. Mas digo que o perdão é uma tolerância que traz sabedoria e traz paz.

 

Por saber tudo isto, por já ter alguns calos da vida, já perdoei muitos erros. Alguns demoram muito tempo a processar até chegar lá.

Os mais difíceis de perdoar são os que eu cometi, talvez porque quase todos os dias sinto as consequências na pele.

E os erros que foram cometidos contra mim por conta de erros meus, por quem já eu havia perdoado tanto e tantas vezes... Tenho a capacidade de perdoar dentro de mim, porque sei que sou capaz. Só acho que pode demorar dois ou três milénios...


 


Reborn and shivering


Spat out on new terrain


Unsure, unconvincing


This faint and shaky hour


 


Day one, day one


Start over again


Step one, step one


I'm barely making sense


For now I'm faking it


'Til I'm pseudo-making it


From scratch, begin again


But this time I as I


And not as we


 


Gun-shy and quivering


Timid without a hand


Feign brave with steel intent


Little and hardly here


 


Chorus:


Day one, day one


Start over again


Step one, step one


With not much making sense


Just yet I'm faking it


'Til I'm pseudo-making it


From scratch, begin again


But this time I as I


And not as we


 


Eyes wet toward wide open fright,


If God is taking bets, I pray he wants to lose


 


Day one, day one


Start over again


Step one, step one


I'm barely making sense


Just yet I'm faking it


'Til I'm pseudo-making it


From scratch, begin again


But this time I as I


And not as we

Nunca tive medo da mudança, esse flagelo que parece ser uma epidemia maléfica. Eu gosto de mudanças. Gosto de mudar de ares, de desafios novos, de surpresas. Ficar sem chão de repente pode ser assustador, mas também é entusiasmante, é a melhor oportunidade para aprender a voar.

Estou para as mudanças como estão para as pessoas com medo de alturas, aquelas vertigens que dão vontade de pular. Quando a maior parte da malta se encolhe ao saber que amanhã tudo vai mudar, eu dou o passo em frente. E acreditem, esta postura faz toda a diferença, em tudo na vida. No meio laboral, porque a instabilidade reina quando se iniciam novas fases, e são os que têm estrutura para seguir em frente com os olhos nos objectivos que têm de orientar a navegação. Na vida pessoal, porque viver exige coragem, e muita. Tudo pode ser um desafio imenso. Ter a coragem de sair duma relação em que não se está pleno, enfrentar uma perda, encarar uma doença. Em vez de gastar energias a lamentar o grande azar, a grande injustiça, os porquês e o como seria se fosse diferente, há que agarrar nessa energia e investi-la em melhorar o que está ao alcance. Arregaçar as mangas e arrepiar caminho, enfrentar os dilemas, tomar decisões e mantê-las.

Parece que estou aqui a falar de galo, que sou a maior do pedaço... Mas nisto, epá, sou! Tenho andado a ver-me ao espelho. Tenho aprendido (a custo, confesso) a gostar de quem sou. Sou uma mulher de armas e muito forte, sou. "Não sou exemplo para ninguém", mas sou o meu melhor exemplo. Quando não estava feliz no trabalho arrisquei tudo e mudei de vida, sem saber ao que ia. Quando perdi pessoas importantes, agarrei-me mais aos que ganhei. Quando me disseram que para ter uma vida mais saudável tinham de martelar-me toda e isso implicava o risco de perder a locomoção, não pensei duas vezes. Quando me vi rodeada de números (que adoro) fui equilibrar-me nas letras (que também adoro). Quando me magoaram, perdoei. Quando errei, enfrentei os castigos. Quando me aborreço de ter o cabelo comprido corto curtinho. Quando me habituo a um caminho, sigo pelo outro. Quando aprendo tudo o que há para saber disto, dedico-me só ao aquilo.

Gosto do risco, gosto de superar os meus limites e de ter a fasquia cada vez mais alta. Gosto de sair da zona de conforto e fazer coisas que nunca me tinha imaginado a fazer. 

Não nos podemos perder do que é importante. Da missão, do objectivo. Não é interessante olhar para trás quando todo um mundo se revela lá à frente. Ir na corrente é para qualquer um. Descobrir a nascente é para os bravos.

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Queria começar de novo. Queria limpar o coração (o meu e também o teu) das mágoas todas, mesmo das que já lá estavam antes. Queria não ter medo. Queria que nos apaixonássemos outra vez um pelo outro sem termos os pesos atrelados do que já passámos. Queria que puséssemos as mãos direitas numa parede e nos descobríssemos, queria que nos déssemos as mãos esquerdas e o corpo todo e a alma toda. Queria que voltássemos a ficar tão encantados um pelo outro. Gostava de ter noites de sorrisos eternos só por sabermos que existimos. Gostava que me escrevesses um pouco do tanto de ti, que te desses aos poucochinhos e que ficasses a braços com a avalanche do excesso de mim.


Gostava que voltasses a gostar de mim.




Queria que soubesses o que eu sinto. Queria que soubesses pôr-te no meu lugar e ter uma ideia do quanto dói. Queria que te superasses para que deixasse de doer. Que estivesses disposto a ir à Lua e voltar só para me devolveres o sorriso. Queria que não achasses que é só com palavras que se restaura o que se perdeu. Queria perceber-te, saber ler-te por dentro. Queria que me acreditasses. Queria que estremecesses de cada vez que a ideia de nunca mais me teres te cruzasse a mente. Queria que te lembrasses sempre de quando me disseste a sorte que tens por eu acreditar em quem tu és no fundo de tudo. Queria que não andasses a dizer aos teus amigos que está tudo bem. Queria que não tivesses medo do confronto. Que não poupasses nas palavras. Queria que a meio da noite tivesses a absoluta necessidade de me abraçar. Queria que não soubesses pela minha voz que estou cativa deste maldito amor que me consome. Queria saber que me amas. Queria nunca mais duvidar.


 


 



 


 

Como se chama aquele sentimento perdulário de quando o filme não acaba como queríamos, quando um amigo falha uma promessa, quando aquilo em que se acredita e prega ao mundo se revela falso, quando palavras e actos ficam tão aquém do que restauraria a harmonia e as crenças?


 





*Desilusão dentro de mim, comigo; as maiores são estas.

Não tenho paz nas saudades que sinto. O que fazer com os abraços que se amontoam e os beijos que ficam por estrear? Não sei onde guardar de mim os pedaços que são só teus, não tenho cavalo alado que me leve além das estrelas, onde a tua memória não exista.


 


Sinto-me tão impotente como se habitasses uma dimensão diferente da minha. Disseram-me uma vez que a saudade era uma medida do amor. Que quando se gosta mesmo de alguém sente-se saudades, muitas, daquelas que apertam e fazem arder o peito. Disseram-me que é assim que se identifica o amor. Há mais quem corrobore. A saudade é daqueles sentimentos que nem se consegue forçar nem forjar. E muito menos explicar, por muito que se tente. E eu tento, na vã esperança da verbalização ajudar a exorcizar o que te sinto. Como sempre tinha ajudado, até me faltares.


 


Sinto-me pobre, no mais profundo dos sentidos, por não te ter presente, não ver o teu sorriso, não te escutar as ideias, não te afastar a franja da testa. Sinto-me (de novo) a ilha que fui até te conhecer (fomos arquipélago um dia, fomos península duma alma à outra quando de mãos dadas navegámos o vento). Não me sinto incompleta sem ti, só infeliz. Não deixo de ser quem sou sem ti, mas contigo tudo era melhor, e eu também. Há momentos em que sou apenas um fantasma em desespero, ir ou ficar, rir ou chorar, tanto faz. Sem medo de nada, porque já nada importa.


Odeio palavrões. Odeio ouvi-los, lê-los, odeio as bocas imundas que os proferem. Estão abolidos do meu vocabulário. Não sou púdica, mas sou sensível. Digo merda (oh, em múltiplos sentidos, digo tanta merda!, mas antes dizê-la do que ficar a remoer e a azedar por dentro). E escrevo muita merda também. Nem sequer considero que seja uma palavra hardcore. Jamais palavrão, só palavrinha. Mas não consigo não ficar chocada quando começo a ouvir, até nos ambientes que deveriam primar por uma certa esterilidade de conteúdos (por exemplo, o laboral - e o meu não é propriamente em cima duns andaimes), palavras e expressões que não me permito citar. Mas 'tá tudo doido? Ou é efeito da crise? Essa puta(na) (pois, também digo puta(na) quando em vez, quando a dita me exaspera) também me dá vontade de protestar por todos os meios, mas tenhamos modos, saibamos a dimensão e o contexto das coisas...


 


E sobre o vernáculo, chega. Mas já agora, que falo das comichões nos nervios, há mais duas expressões perfeitamente banais com que embirro solenemente:


1) "fazer amor" - desde quando é coisa que se faça? Ou acontece, ou se sente, ou se querendo referir a intercourse, use-se o coito, as relações sexuais, mesmo a reducionista queca. "Fazer" pressupõe um processo construtivo, como se dum mero coito apaziguador de necessidades fisiológicas brotasse um sentimento nobre e desconcertante. (Oh, daqui poderia nascer uma tese, mas já jurei que este ano não me metia noutra dessas!)


2) "católico(a) não praticante" - hein? como em praticar ténis ou râguebi ou vólei de praia ou ginástica?! O que quer dizer a imensidão de gente que se acomoda nesta muleta, não faço a mais pálida ideia. Provavelmente, que até foram baptizados e à catequese mas não estão para aplicar os princípios católicos às suas vivências diárias. É o que me parece, deste lugarzinho frio e crítico que ocupo no trono acima das crenças e das fés (assim, sem maiúsculas, que não lhes tenho consideração - às fés, pelas maiúsculas nutro até muito carinho). Se se estão a cagar para as missas e os confessionários, porque não dizem claramente que "até acredito em deus e nos santinhos, que foi o que a minha mãe me ensinou, mas não tenho pachorra para padres", ou uma variação sobre o tema? Mas não me digam que praticam ou não esse desporto de rezar terços e bajular figurinhas de gajos semi-nus pregados a cruzes e bonecas com vestidinhos entrapados.


 


E pronto, passa das 4 da manhã e apetecia-me desabafar qualquer coisa sobre temas que não os que me atazanaram os cornos até esta hora. Sim, também digo cornos. Não é palavrão, é palavrinha (de rigor científico; como mamas).