[Crónica publicada no Repórter Sombra.]
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[Crónica publicada no Repórter Sombra.]
Sou tua cliente há muitos anos, como sou cliente do Lidl, e em menor escala do Continente e do Mini-Preço. Vou ao que me der mais jeito, tenho as minhas preferências e como pessoa que tem de trabalhar para comer, os meus critérios passam, em grande parte, pela relação qualidade-preço, e sou grande consumidora de marcas brancas. Por exemplo, os lacticínios (queijos, iogurtes, manteiga, etc.) e cervejas do Lidl metem os vossos a um cantinho. Já os vossos detergentes metem os do Lidl a um cantinho, mas a selecção de vinhos é mais interessante. Nos cuidados pessoais (champôs, sabonetes, gel duche, etc.) prefiro o Continente, por aí fora.
Como o que mais gosto de fazer é viajar, aproveito todas as oportunidades para ganhar vantagens nas viagens, e por isso mesmo utilizo ao máximo o meu cartão de crédito, que me permite acumular milhas com as compras que faço. Como já disse, trabalho para comer e, como sou muito orientada e os €uros custam-me muito a ganhar, não concebo a hipótese de pagar o que quer que seja (excepto a minha casa) a prestações e pagar juros, pelo que tenho no cartão de crédito a opção de pagamento da totalidade dos valores, sem juros, uma vez por mês. Orgulho-me de não dever absolutamente nada a ninguém (excepto, como já disse, uma parte da minha casa ao banco que me concedeu o empréstimo à habitação).
Ora, muitas vezes, em tendo de fazer as compras normais do mês ou quinzena, opto por deslocar-me a apenas um estabelecimento. Desde que tenho o cartão das milhas, opto maioritariamente pelas lojas Pingo Doce em detrimento do Lidl, já que ali não posso utilizar o cartão. Os preços são bastante semelhantes na maior parte dos produtos, pelo que o factor decisivo passa mesmo pelas minhas queridas milhas. As vossas promoções não me convencem - nem os cabazes reúnem produtos que me cativem, muito menos a mega sacanice promoção dos 50%, mas esta apenas porque, por questão de princípios meus, só faria compras num 1º de Maio se se tratasse de uma questão de vida ou morte. (E já agora, aproveito para dizer que fiz muito bem, porque pouco depois fiz compras no Continente com 75% de desconto em cartão e não tive de perder meio dia de vida entre lutas selváticas pela última lata de atum.)
Ir ao Pingo Doce calha-me em caminho entre casa-trabalho-casa (graças a uma das lojas que têm em terminais de transportes públicos), pelo que muitas vezes passo lá só para levar pão quente para o jantar, um ou outro ingrediente que me falte para uma receita, ou seja, compras cujo total é normalmente abaixo dos 20€. E pago com o meu cartão de crédito, sempre que faça sentido (só acumulo milhas com valores superiores a 5€).
Assim sendo, querido Pingo Doce, com a tua nova medida, daqui por 10 dias, sempre que tiver de optar pelo supermercado mais conveniente para mim, cheira-me que o Lidl e o Continente vão passar a vencer mais 'assaltos' e que não me vais pôr a vista em cima tão cedo.
Foi bom enquanto durou, mas tudo o que é bom chega ao fim.
Já pensei seriamente em fazer aconselhamento a famílias sobre onde poupar. Consulta única, 50 "aérios", eu vejo as contas do mês e digo exactamente onde se pode poupar, e muito.
Afinal, sou perita. Vou contar em traços largos porque digo isto e já seguimos o tema.
Nasci pobre e a tendência não tem sido melhorar. Nunca fui habituada a luxos em coisa nenhuma mas nunca me faltou nada indispensável. Quando era miúda precisava de pôr aparelho nos dentes, era muito caro e os meus pais trabalharam a vida toda (desde a pré-adolescência) e não conseguiram fazer esse esforço. Tudo bem, aguentei-me à bronca e com o advento ortodôntico low-cost tratei do assunto há alguns meses. Precisava de fazer uma cirurgia enorme, em escala de risco/delicadeza/impacto e idem em escala de preço - no valor de algo como metade dum apartamento como o meu (estamos a falar de várias dezenas de milhar de euro) no privado, que é onde está o "melhor médico". Em tratando-se da minha saúde e da delicadeza da operação, quis o melhor e nada menos que o melhor, uma excepção à minha regra. E também esperei por ter alternativa (leia-se seguro de saúde) para me escapar ao total e pagar a custo a minha parte da coisa (em prestações, o que também é excepcional para a minha conduta económica).
Ambos os meus pais nasceram pobres (não é remediados, quero mesmo dizer pobres, do género "há uma sardinha para o jantar de três") e foram escapando a pulso, com muito trabalho e sem grandes chances de estudar. Revolução, etc. e tal, eventualmente conseguem o conforto de alugar um apartamento e procriar. Tudo o que têm foi ganho com trabalho, muito trabalho e eu aprendi o valor do dinheiro. Talvez por isso mesmo, nunca lhes pedi nada. Até porque tinha tudo. Educação, amor e carinho. E isso é tudo. Nunca andei em colégios privados, nunca tive roupa de marca nem nada dessas mariquices. Fui bem educada, incutiram-me valores que continuam a ser os meus pilares, sempre fui aluna exemplar, pelo que não tenho qualquer dúvida que nada disso me fez falta ou pode fazer a alguém. As férias de verão significavam passear Portugal fora, de opel corsa com os 5 lugares ocupados, durante 3 ou 4 dias. E eram belas férias, que me deram a conhecer o meu país de lés a lés e alimentaram o bichinho (que entretanto se tornou um monstro) de sair sem rumo e chegar aonde a estrada levar, de improvisar, de descobrir tascas castiças e gente bonita. Cresci e fui a primeira da família directa a frequentar uma universidade. Segui o coração e calhou ir para o mais belo curso do mundo e o único que poderia encher-me as medidas mas que tem empregabilidade zero.