Assunto polémico e propenso a clivagens, por norma a opinião acerca de touradas não reconhece posições intermédias. Ética e humanamente, ou existe a constatação óbvia de que um "espectáculo" que se centra na tortura animal não pode ser outra coisa que não uma barbárie e a única coisa de espectacular que pode ter é a exibição de toda a ignorância, vaidade e falta de compaixão dos humanos que participam e colaboram nesta exibição abjecta pelos restantes seres vivos ou se faz activamente a apologia desta mesma ignorância - porque a passividade em situações de agressão só fortalece o agressor -, apoiando, assistindo ao vivo ou na televisão, lucrando com ela ou permitindo que continue a existir.
Os supostos argumentos que se filiam a favor da perpetuação desta prática são, todos eles, coxos e alheios a qualquer vestígio de validade científica ou cultural. É por isso mesmo interessante reflectir no aproveitamento político (ou ausência dele) do tema. Se à direita não espanta que os valores obtusos de que não se espera algum tipo de racionalidade se alinhem com o tradicionalismo, com os interesses económicos dos latifundiários, com a perpetuação do culto classista das elites e do acesso parcimonioso a certos eventos, à esquerda pedem-se responsabilidades sobre a colagem ao argumento da "tradição"*, que não tem outra finalidade que não a tentativa desesperada de manter eleitorado nas regiões em que a tourada tem forte implantação. O financiamento público desta "actividade cultural" é ultrajante e inaceitável e o assunto é fracturante o suficiente para determinar a perda ou o ganho de votos, quer em eleições legislativas quer autárquicas. A "esquerda" que tenta salvar o capitalismo não faz grande alarido porque sabe que os atentos recordarão a sua actuação no único município que geriram. A esquerda mais séria já não é levada a sério há bastante tempo quando o tema é a tourada. Atravancando os discursos até dos seus mais lúcidos representantes na defesa do indefensável, tentando segurar os cada vez mais escassos votos de barranquenhos e ribatejanos, ainda não percebeu que se neste tema vocalizar a razão e colocar a abolição das touradas nos seus programas (ou pelo menos, para não ter de se justificar uma clivagem tão brusca com a assumpção de um erro antigo, da abolição do financiamento público das touradas ou devoção de parte dos orçamento municipais para obras de conservação de praças de touros, que seria o mínimo aceitável), a fidelidade do seu eleitorado não só não abalará, como o balanço entre os votos que perdem e os que deixam de perder (como o desta que vos escreve) poderá ser positivo. [Esta é uma crítica antiga que faço ao PCP, uma das que motivou a minha demora na filiação, das que motivou o meu voto avesso ao partido muitas vezes e uma das que permaneceram o suficiente para engrossar os motivos de afastamento.] Claro que a abordagem tão claramente eleitoralista de uma esquerda que, se cumprisse com o seu papel, seria revolucionária, interventiva e resistente, independentemente dos assentos parlamentares, já é por si só motivo de desgaste e falta de confiança (não quero falar de vergonha para os ideais marxistas neste texto, mas a bem da clareza também não posso deixar de parte este apontamento). De referir ainda que, onde o PCP se encolhe e tenta passar pelos intervalos da chuva, os Verdes não se impõem como uma força política distinta que não são.
Não é preciso "pensar muito, muito, muito" para se sentir empatia com animais, mamíferos como nós, que sentem dor como nós, que são mutilados e espancados entes de entrarem numa arena para, ao som da ignorância e crueldade dos bichos cientes que deveríamos ser nós, serem espetados com ferros aguçados no lombo, desorientados, sangrados, quebrados, atacados. Contudo, não me peçam empatia para com os toureiros e forcados que ficam feridos, que ela não existe. Pelo contrário, assumo a vertente violenta presente em mim e confesso que sinto, sempre que ocorrem feridos na arena, uma pequena satisfação nessa espécie de vingança simbólica de todos os touros trucidados às mãos daqueles bandalhos. É que estes foram de livre vontade para a arena, foram fazer parte do que apelidam de espectáculo, foram representar o papel para que são pagos, de heróis cobertos de brilhantes e lantejoulas a afrontar pobres animais derrotados e indefesos. Onde os olhos de extrema direita de Assunção Cristas vêem "bailado", pessoas com um pouco mais de profundidade de raciocínio lógico (não falo sequer dos mínimos olímpicos para se ser humano) veêm desperdiçada uma excelente oportunidade política e humana de deixar o silêncio não envergonhar a espécie.
À esquerda parlamentar que defende as touradas como forma de expressão cultural e de identidade 'nacional' (termo que por si só me causa alguma urticária, como deveria causar a todos os comunistas) tenho a relembrar que outrora (ou em outros lugares) também eram ou são tradições aparentemente apreciadas por algumas fracções do povo os autos de fé, a queima de bruxas na fogueira, a queima de gatos na fogueira, o enforcamento de 'criminosos', as lutas de gladiadores, de cães e de galos, o apedrejamento de mulheres suspeitas de adultério, ou o lançamento de anões. Que hipocrisia, não?
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Não tendo grande explicação para o facto além de Barcelona ser, a par do Porto, a minha cidade europeia preferida, mas sempre me senti em certa medida catalã, pelo menos no coração. Conheço razoavelmente bem o resto de Espanha, também gosto muitíssimo do País basco e da Galiza, gosto imenso de Sevilha, de Madrid e de uma série de outras cidades e regiões, não gosto do sul árido, detesto Granada... Mas Barcelona é especial, é uma paixão assolapada (tal como o Porto).
Imagino-me, com toda a facilidade, a viver feliz em Barcelona. Não só pela arte e pela arquitectura, que me dizem muitíssimo, mas sobretudo por aquele factor X em que não se consegue bem colocar o dedo. Gosto das pessoas, que acho tão diferentes dos estridentes madrilenos, artísticos e rebeldes, anarco-freaks de todas as gerações, gosto do cheiro das ruas a serem lavadas pela manhã cedo, gosto do mar e da serra. Gosto da espontaneidade com que as velhinhas falam comigo em catalão nos mercados, da feira da ladra tão a minha cara, do sorriso com que me abriram uma vez as portas de um supermercado que já estava em horário de encerramento porque precisava mesmo de comprar mais uma garrafa de espumante. Ali, sinto-me em casa, como se pertencesse às gentes e aos lugares e a cidade fosse também um pouco minha. Barcelona tem tudo e creio que seja impossível viver lá e passar um dia de marasmo. Há sempre tantas coisas a acontecer: festivais, concertos, exposições... Já visitei Barcelona talvez uma dezena de ocasiões (houver um ano em que calhou lá ir 3 vezes em poucos meses) e fico sempre com pena de vir embora, a cidade não me cansa. E depois há o resto da Catalunha, há os tascos de beira de estrada, as botifarras, o sorriso malandro das pessoas que nos cruzam o caminho e fazem questão de esclarecer que não são espanhóis, isso é outra coisa.
As esteladas penduradas nas varandas, os motins espontâneos em defesa da ocupação de um edifício que queriam demolir - estive lá em 2014, no centro do bairro em que os protestos aconteciam, os transportes públicos parados, as ruas fortemente policiadas, vidros partidos (sobretudo de bancos), caixotes de lixo queimados. Sempre com uma magnífica sensação de paz, sem sombra de receio, porque rapidamente se percebia que a reacção orgânica se dava apenas contra quem devia, as forças burguesas e capitalistas e o seu braço armado, os Mossos - e isso desperta a Shiva que há em mim. Nem o pequeno comércio nem as habitações alguma vez estiveram em risco, mas aquela malta não se ensaia nada em passar a luta para as ruas e atirar uns cocktails molotov para se fazer ouvir. E isso para mim é poesia. Porque a luta não é consequente se nunca passar do debate, do papel, do referendo ordeiro e perfeitamente indiferente.
Obviamente que o argumento da ilegalidade face à constituição espanhola é apenas ridículo e o mais bacoco que o imperialismo podia trazer para o seu fraquinho argumentário. É claro que nenhuma revolução se faz à letra da lei. É claro que a independência das nações não pode ficar presa porque não está "autorizada". Se querem cingir-se ao legalismo, recordo que a Constituição Portuguesa diz:
Temos assistido a um escalar da intransigência do governo de Rajoy a uma mera consulta popular, com recurso a uma desproporcionalidade de forças e autoritarismo tal (nomeadamente passando por cima do estatuto de autonomia da Catalunha, com apreensão de urnas e boletins de voto, prisão de pessoas, encerramento de websites sobre o referendo, reforço exageradíssimo da presença policial e subordinação dos Mossos d'Esquadra à Guardia Civil) que é impossível responder com outra coisa a esta inegável manifestação fascista (que tresanda a franquismo) além do mais profundo repúdio. Se dúvidas houvesse, ficou claro nas últimas semanas o quão "democrático" é o PP, partido de direita no poder, bem como a burguesia sistémica que compõe as fileiras também do PSOE, do Podemos e do Ciudadanos.
Não se adivinham tempos fáceis para os independentistas catalães. Naturalmente que o referendo, a existir (já tive mais dúvidas, mas ainda subsistem porque já se viu que o governo central está disposto a montar um cenário de guerra para impedir a votação), não irá por magia resolver alguma coisa. Mas será um primeiro passo muito claro e que é preciso segurar com os olhos postos no objectivo, doa o que doer. Sabemos que a Greve Geral marcada para dia 3 de Outubro pode bem ser o ponto de viragem, se a mobilização o permitir, que poderá fazer a diferença e lançar os alicerces sólidos de uma revolução popular em nome de uma República Socialista Catalã.
Sou catalã no coração, que está hoje ao alto. Solidariedade absoluta para com a causa da independência e a luta que vai requerer, orgulho máximo e respeito infindo por todos os que fazem a sua parte para que a vontade popular se sobreponha ao fascismo.
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A esquerda continua a insistir em marcar as suas diferenças em vez de se concentrar nas semelhanças, e assim continua a perder eleições e votos. Carvalho da Silva teria sido um candidato unificador, com provas dadas, conhecido por todos e independente (como fazia falta que fosse).
Eu continuo a estar num sítio muito específico, com a certeza da ideologia comunista, e com a frieza de discordar em vários pontos e a desfaçatez - dirão - de admirar alguns outros pontos nos "adversários".
Por muito que a comunicação social o deseje, BE e CDU não são adversários naturais. São distintos, sim, mas na maior parte dos aspectos importantes, são idênticos e complementares. E espantem-se, nenhum dos dois é dono da razão. O BE defende, e bem, o fim das touradas, ao passo que a CDU até é a favor do regime de excepção em relação aos "touros de morte" em Barrancos, a bem duma "tradição" bárbara e cruel. A CDU é, e bem, contra o Acordo Ortográfico que o Bloco defende (sendo que a Marisa Matias discorda do seu partido, o que lhe vale pontos adicionais no meu respeito e consideração). Mas o Bloco defende a despenalização das drogas leves e a CDU nem sequer faz distinção entre drogas leves e pesadas. Ambos advogam os direitos igualitários entre géneros, mas se no Bloco a liderança e as figuras fortes são (grandes!) mulheres, ė na bancada do PCP que a paridade é (muito) mais sentida.
A piadola de Jerónimo de Sousa não tinha Marisa Matias como alvo, estou quase certa (pareceu-me que os alvos seriam os populistas Marcelo e Vitorino). Tenho Jerónimo como pessoa de bem e exemplar no trato para com os outros; uma atitude misógina deste calibre não se coaduna com a pessoa e muito menos com o líder político. Se a infeliz frase foi mesmo dita com a intenção de minimizar politicamente uma mulher e uma força política que têm mostrado o quanto merecem o respeito do povo português, é triste, grave e lamentável. Convinha o esclarecimento, já agora.
O PCP peca, e perde, pela falta de agilidade na comunicação, onde o BE é exímio e acutilante. Se o PCP quer acompanhar o ritmo frenético do Séc. XXI, tem de sair do Avante! para o mundo, tem de deixar-se contaminar pelo fulgor da juventude, tem de marcar uma presença forte e coerente nas redes sociais, tem de dotar o discurso de maior capacidade de improviso, de subjectividade (ou seja, autenticidade). Bater sempre na tecla da "política patriótica e de esquerda" e afins é um erro, é dar argumentos a quem etiqueta tudo como "a cassete" e nem se dá ao trabalho de escutar o seu significado.
Do mesmo modo (e aqui Edgar Silva é o último exemplo flagrante), não pode existir hesitação nem respostas enigmáticas a questões muito objectivas. Se há democracia na Coreia do Norte, a liberdade de expressão em Angola, etc. e tal. Há que agarrar o toiro pelos cornos e assumir, com toda a frontalidade, onde os outros projectos comunistas falharam; há que assumir deliberadamente que o projecto do PCP não passa pelos mesmos moldes e explicar, com factos, argumentos e propostas, qual é a proposta do PCP para Portugal.
Assumir humildemente a derrota nas presidenciais seria um bom começo num virar de página. A substituição da lideranla de Jerónimo, como tem vindo a ser referida por aí, não tem resposta em Edgar Silva (que, apesar de tudo, foi um dos melhores candidatos de sempre do PCP). Ouçam o que eu digo: Bernardino Soares.
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A primeira coisa que Martelo faz quando se dirige ao país pela primeira vez após as eleições presidenciais: "Shhhhhhhhh!"
Venham os próximos 5 anos disto.
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9,7 milhões de eleitores nos cadernos eleitorais. Não sabia que agora as crianças já votavam a partir dos 2 anos.
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Os resultados eleitorais de Vitorino Silva vêm provar que o Manuel João Vieira tinha todas as condições de ir à 2ª volta com Martelo.
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A esquerda apregoa "o povo unido jamais será vencido" e depois apresenta múltiplos candidatos para fazer frente ao único candidato da direita. A vitória de Martelo prova que "a união faz a força".
A culpa é do Carvalho da Silva.
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Momento histórico na nossa jovem e imatura democracia, mas convenhamos que nada mais do que um processo simples e comum nas democracias mais sólidas. Não estou a rebentar de felicidade como vejo alguns amigos do Bloco, ansiosos e talvez ingénuos. O próximo governo (e contando com alguma inteligência de Cavaco, o que não é garantido, bem pelo contrário - não me espantaria nada que ainda tentar forçar um governo de iniciativa presidencial, com elenco do centrão no seu pior) não será de esquerda. Lamento, genuinamente mas, a ser, será apenas um governo PS com controle da esquerda. Esquerda essa que esteve realmente bem em todo o processo, engolindo alguns sapos em prol da libertação do país do neoliberalismo radical. Foram "apenas" algumas arestas do programa PS que a esquerda conseguiu alterar, mas que arestas! Muito bem, fico realmente orgulhosa e ainda mais convicta de que o caminho é uma junção de forças entre BE, PCP, Os Verdes, o Livre, o Mas e, se o PCTP-MRPP voltar a ter gente capaz e racional na sua liderança, também.
Adiante, que esse é um post que tenho em rascunho desde antes da campanha eleitoral e falaremos disso mais tarde. Do que tenho pena é que a esquerda não se tenha querido comprometer e realmente envolver na governação. Compreendo, perfeitamente até, que seja um cinto de segurança, não para proteger votos como tenho lido por aí, mas porque o comportamento errático dos anteriores governos PS não nos deixaram propriamente descansados. É uma desconfiança legítima, infelizmente, mas não basta ter socialismo no nome como garante de políticas socialistas. Seria um risco enorme, é facto, mas o meu idealismo ainda acredita que seria mais proveitoso para o país se estivesse nas mãos de pessoas competentes de esquerda a possibilidade de realmente reformar profundamente áreas críticas, e quanto mais cedo melhor. Enfim, resta aguardar com confiança que seja feito o melhor que se conseguir. E regozijemos, o pior (des)governo de sempre em Portugal vai, finalmente, cair. De quatro.
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Tenho-me divertido à brava com o bluff que o António Costa pôs toda a gente a jogar. Divirto-me, sem ansiedades de maior, porque acredito que não passa disso mesmo, bluff, com o único propósito de:
b) ficar legitimado para o que vem a seguir e tentar não perder o que falta do eleitorado. [Infelizmente, algures pelo caminho ganhei este cinismo que me impede de sonhar a cores com o (tão assustador para alguns) "governo de esquerda". Não vai acontecer.]
E mesmo que o PS e os partidos da verdadeira esquerda (porque não basta ter o socialismo no nome) chegassem a um entendimento, seria ainda um governo centrista - na melhor das hipóteses, e porque puxado por duas rédeas para a esquerda. Convenhamos, sempre que o PS tem sido governo, em matérias sociais como o trabalho, saúde e educação, teve posturas tão ou mais à direita que os governos PSD ou PSD+CDS.
A minha aposta no que vai acontecer: como Costa tem a bola, mas quem tem o campo e as balizas são os meninos queques (PàF), lá chegarão, com enorme sacrifício de parte a parte, a um acordo de amigos. O jogo será arbitrado pela esquerda séria e a sério, espera-se um festival de cartões e até uma ou outra expulsão. As claques vão andar exaltadas e são expectáveis distúrbios de alguma violência verbal (mas não mais do que isso). Na 2ª parte (logo após as eleições presidenciais de Janeiro), é possível que as tendências de jogo mudem...
E nós a gostar de ver...
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Queria comentar mais amiúde os resultados eleitorais, mas de cada vez que escrevo uma frase depois de "grande resultado do Bloco e da Esquerda", fico com náuseas. Portanto, falarei só da abstenção.
A abstenção é a maior inimiga da democracia. Os valores são absurdos. São trágicos. Cerca de 43,1% dos eleitores abdicam do seu maior poder quanto a determinar o rumo do país.
9.375.466 eleitores portugueses inscritos (dos quais votaram 5.333.888). Não votaram 4.041.578 eleitores, sensivelmente o dobro do que o número de votos na coligação PàF, a opção mais votada!
Algo me diz que este valor está longe do real; não retirando importância à enormidade do valor da abstenção, era mesmo capaz de apostar que há qualquer coisa como um milhão de mortos nas listas, pelo menos. E limpar os cadernos eleitorais, hein?
Ao longo do dia, muitas pessoas nas redes sociais partilhavam que nunca haviam visto as mesas de voto com filas tão grandes. Eu não notei grande diferença, na Freguesia onde voto (e votei na maior parte dos meus anos de eleitora) há sempre fila. Não me lembro de em alguma eleição não ter de esperar. Verdade que não estive presente em todas, porque houve o ano em que o Cavaco marcou as eleições autárquicas para as minhas férias (que eu tive de marcar antes de haver data para as eleições e tive em atenção a data que se dizia ser a mais provável para ir a votos). Na altura, o cidadão comum não podia votar se estivesse ausente ou distante da freguesia em que está recenseado. Só se fosse atleta ausente em representação da Selecção Nacional, militar, hospitalizado ou presidiário, era possível aceder ao voto antecipado. Se estivesse acamado de forma súbita ou imprevisível, se estivesse fora em trabalho, ou lazer, não interessa, perdia o direito a votar. A lei eleitoral parece que já mexeu qualquer coisa e já não é bem assim. Afinal, apesar de tanto foguete lençado porque aparentemente a abstenção teria diminuído muito discretamente, não diminuiu coisa nenhuma.
Quanto aos emigrantes, não é fácil votarem, devido a uma carga burocrática irrealista. Recordo-me de umas amigas que viviam numa grande cidade alemã enquanto faziam o doutoramento e era mais fácil voarem para Portugal na altura das eleições do que conseguirem votar na Alemanha (e ainda assim teriam de deslocar-se a Berlim).
Estas coisas fazem-me comichão no neurónio. Em pleno século XXI, na Era da Comunicação, que sentido faz que o voto ainda se processe com cadernos eleitorais de papel e com estas limitações geográficas? Não seria bastante fácil permitir o voto em qualquer secção, com controle electrónico? Recordo-me de, há uns anos, terem sido testadas umas cabines de voto electrónicas. O que aconteceu a esse projecto?... Se se quer realmente combater a abstenção (duvido, dizem os estudos que quando desce a abstenção, ganha a esquerda), esse seria um belo começo.
A seguir, o próximo governo, se for minimamente sério, deveria dedicar-se a combater o problema na sua origem e a atacá-lo de frente. Se fosse eu a mandar podiam ter a certeza que o voto seria obrigatório. Mas também tornado bastante mais acessível e facilitado.
Ficam algumas dicas. Vão-se lá entreter agora a contar deputados e a esperar pelas contagens da emigração. Eu ficarei a sonhar com um acordo sério entre os partidos de esquerda para umas próximas eleições menos más.
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Mas qual debate? Não estavam os dois a dizer o mesmo?
Os óculos do Passos são cosméticos, para lhe darem um ar mais maduro e menos trafulha, certo?
O Costa andou claramente a ter lições de como controlar a linguagem corporal. E andou a estudar um discurso vagamente inspirado na esquerda, mas que só convence os idiotas e amnésicos.
Ninguém se quer comprometer com nada de muito concreto. Há políticas para isto e aquilo, mas ficamos sem saber quais.
Ninguém fez perguntas realmente fracturantes e importantes.
Passos não se arrepende de nada. Eu gostava de perguntar aos que votaram PSD e CDS se já se arrependeram do voto ou o que mais é necessário para que se arrependam.
A Judite começou bem mas depois enrolou-se toda no seu costumeiro ridículo.
O jornalista da RTP devia estar com sono, pareceu-me.
A Clara de Sousa foi a vencedora da noite. Está cada vez mais gira e nova.
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Há pessoas, que serão representativas duma secção importante do eleitorado, calculo eu, que tentam desculpar o voto ignóbil chamando-lhe "voto útil", que consiste em votar num grande partido ou coligação para que outro grande partido ou coligação não "ganhe" eleições. Defendem-se com o ainda mais ignóbil argumento de que os pequenos partidos nunca irão "ganhar".
Quando às legislativas, não só essa interpretação se esquece de que o CDS, a quarta força política do país, conseguiu constituir (des)governo com os laranjas, como - muitíssimo importante - se esquecem de que as eleições legislativas servem primeiramente para eleger os deputados representantes dos respectivos círculos eleitorais. E só depois para o(s) partido(s) mais representado(s) ser(em) convidados pelo P.R. para constituir governo. Trocando por miúdos, gostava que ninguém pensasse que no próximo 4 de Outubro tem de escolher entre a dupla Passos + Portas (= ❤?) e o Costa. Gostava que ninguém tivesse dúvidas que não é disso que se trata. (Até porque, aqui entre nós, entre uma e outra opções, venha o Diabo e escolha.) Um deputado honesto e competente pode fazer uma enorme diferença. Cada voto conta. Conheçam as listas de todos os partidos a votos no vosso círculo eleitoral, pesquisem sobre o seu trabalho se já foram eleitos ou ocuparam cargos públicos anteriormente.
Perdoem a expressão, mas não se limitem a escolher entre a merda e o cagalhão (rima e é verdade). Façam-se representar!
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Em relação ao meu post abaixo e em jeito de resposta ao certeiro comentário da Maria... Não, nem todos merecemos o país e o (des)Governo que temos, porque nem todos contribuímos para a sua eleição. Cruzes, canhoto!
Mas a verdade é que vivemos em democracia, com todas as suas falhas e virtudes, e que, não sendo perfeita, é a melhor tentativa de estado justo* que conhecemos. E nesta democracia, temos um (des)governo eleito com a maioria dos votos da população eleitora, a representação parlamentar que os eleitores escolheram, o "Presidente da República" (desculpem mas não consigo escrevê-lo sem as aspas) também democraticamente eleito.
Eu nunca votei em nenhum deles, nem nos partidos que representam, nem nos últimos nem em nenhum acto eleitoral. Mas não concordar com o sentido de voto da maioria não nos desresponsabiliza, não nos iliba da culpa do "estado a que chegámos", como dizia Salgueiro Maia. Além de considerar que o voto é um dever fulcral à cidadania, também acho que a mobilização, a incitação ao voto e à participação, o são ou devem ser. Não basta mandar umas chalaças no café e nas redes sociais, faz falta agir em concreto. Faz falta sair à rua para fazer ouvir a nossa voz, dar a cara e o nome e o corpo ao manifesto, assinar as petições, discutir abertamente com quem nos rodeia, apontar sem medos o que está mal feito, confrontar. Contra mim falo, que confesso ser uma péssima militante, com um imenso défice participativo e interventivo. E também por isso me incluo nesta primeira pessoa do plural quando digo e repito: temos o país que merecemos.
*Talvez o melhor método fosse um despotismo justo, como diz um grande amigo meu. Talvez. Mas sem garantias de imunidade à corrupção que o poder encerra, sem garantia de pluralidade e sem o aval popular, deixe-se estar a democracia.
AntiBlogueQue disparate! A D. Marisa Moura não percebe porque é que os boletins de voto não têm opções "não respondo", eu explico: a Democracia faz-se com a participação do povo. Com decisões, com opiniões, com vontades. Não se faz com ombros encolhidos nem com silêncio. Votar em branco, nulo, ou abster-se é exactamente a mesma coisa, leia-se desresponsabilização. É dizer "o que vocês decidirem, por mim está bem." Não é um protesto, nem sequer silencioso. É não votar. É não assumir a responsabilidade e não exercer o seu direito e dever. As eleições legislativas servem para eleger representantes dos cidadãos num Parlamento. Ora, os votos em branco, nulos e afins não se traduzem em qualquer representação. Faria sentido que o Parlamento tivesse cadeiras vazias na proporção dos "votos mudos"?! Quem é que (des)governava o país então? As cabecinhas têm de ser usadas para pensar, não pode ser só para usar penteados e chapéus!
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O Sr. Silva anunciou foi a data das legilativas. Seja lá isso o que for. Ora atentem.