Os primeiros beijos contam toda a história da relação que selam. Um pouco como a máxima da ontologia recapitular a filogenia em reverso. O quando, o onde e o como dizem tanto sobre os enamorados.
Às vezes penso nestas coincidências que o Universo nos apresenta, ou que teimamos em escarafunchar até as descobrir.
À porta de casa, como nos filmes, beijo de cinema, longo e lento, uma mão que levava a chave para se despedir, num final já antecipado - e que afinal saiu tão ao lado.
Um atrevimento num comboio lá do outro lado do mundo, com a noite estrelada a lambuzar de azul dois rostos que brilhavam, espantados, mais que nunca, além da projecção imaginada. Ao som de carris a cantar às constelações, a marcar com sinais atabalhoados a surpresa na vida de cada um. Algo mágico que só funciona noutro continente e com outra pele, como um capítulo inteiro entre parêntesis rectos - a retomar um destes dias, bem sei.
E depois os beijos roubados, de repente, a meio de uma rua da cidade, no dia (instante?) em que nos conhecemos, coração a palpitar e pernas a tremer - e agora, o que é que eu faço?!
Beijos inesperados, antecipados num outro cenário ou com outro guião, que saem do plano, que trocam as tintas e as voltas - sou pião, barata tonta, nómada sem mapa. Ainda não lhes sei antever rumo certo, ou suave. Destinados a ser desde a primeira sílaba, inevitáveis, fatais como o destino de que tentamos escapar a todo o custo. Como se acreditássemos em fados, como se não fosse o nosso âmago cristalizado em qualquer coisa sem nome certo, alma ou coração ou quem somos, que nos empurrasse para aquele momento, aquela fuga. Desastre, ruína, sangue e entranhas a escorrer, e tudo está certo e no seu lugar, que o único desfecho possível é morrer de amor de todas as vezes.
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Ainda me lembro de quando me mostraste as estrelas. Foi quando as palavras pausaram e deram lugar à eloquência do silêncio.
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pequena, discreta, numa constelação de estrelas maiores, mais vistosas e brilhantes, ninguém repara quando ela se apaga.
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we found each other. Two sparkles in randomness linked across starry skies.
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Num dia de Verão em que o frio existia lá dentro, no peito, escuro e húmido como uma gruta, ela impôs-se diante do espelho: não mais! Destino ou coincidência ou um acaso daqueles que ficam atrás da orelha, o retorno da vida não se fez esperar. Uma achega da Yoko Ono e sem ninguém perceber, foram lançados os dados. Começou assim, de mansinho, uma porta cerrada a destrancar-se. E depois bateu, empurrada pelo vento e pela Luz, e ela deixou-se inundar com a torrente que lhe levantou os pés do chão.
Ela sonhava com um primeiro olhar no silêncio sepulcral da Lua, sonhava com mãos que se reuniam depois das promessas, num encontro de velhos amigos. Sonhava com olhares lânguidos e sorrisos a brotar por detrás. Sonhava com ideais avessos e com realidades mais cruas. E todo ele foi surpresa, choque, demorou-lhe um pedaço a digerir a distância entre a imagem criada e a real, que ali se apresentava sem fraquejar. A digerir também alguma decepção, que o início não teve silêncios nem mãos entrelaçadas. Nenhum silêncio, aliás, que a conversa fluiu como cerejas maduras no pico do Verão, como aliás o tinha sido antes. Ela tremia, rodeada das mil e uma dúvidas que tanto acarinha e que parecem sempre estar presentes nos instantes decisivos. A cabeça a mil à hora, apesar de tornar sempre à mesma questão “o que é isto que me está a acontecer?”.
Ele, sempre a superar o nível de irrealidade. Poesia, sempre a poesia tão azul.
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Nem sempre só faz falta quem está. Às vezes parece-nos que faz muita falta quem não está por não querer estar. Parece-nos, porque às vezes deixamo-nos viver numa ilusão de que o que era bom era o que já tivemos e nunca vai ser tão bom se não tivermos. Queremos acreditar, porque a saudade é um bicho que nos habita e não arreda. A saudade é só saudade, é necessidade de voltar a sítios onde nos achámos inteiros. Mas nunca pode ser uma sentença de não mais tornar a ser inteiro noutro sítio diferente. Pode até não tornar a ser tão bom como já foi, mas pode ser melhor (a retórica ganha). Sem largarmos as ilusões como podemos sentir as luzes que cintilam e são uma realidade (mesmo que irreal)? Se sentimos, tornámos a acreditar. (Tornámos a acreditar.) E isso significa que sabemos olhar as ilusões nos olhos e dizer-lhes "vai-te embora." Não queremos mundos de mentira e sem conteúdo. Não queremos mãos que se procuram se procuram encher a ausência de outras mãos. Não queremos beijos falsos. Não queremos nada se não for de verdade. E queremos a verdade toda a pulsar nas mãos.
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You are glowing, why is that?
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Sorríamos sem saber porquê. Roídos pela dúvida, pela surpresa. Borboletas no estômago, todos os clichés, conferiam. O futuro estava ali no beiral da porta. Tu tinhas medo do confronto com a verdade, sempre tiveste. E eu não conseguia respirar sem a esventrar. Disse-te que só havia uma maneira de saber. Como sempre, atirei-me de cabeça e agarrei-te pelo pescoço no caminho.
Devia ter sabido logo que os teus olhos arderam na minha pele em vez de me invadirem a alma. Fiquei presa nos segredos verdes e indolentes desses teus olhos, anzóis em mim. Devia ter percebido quando seguia à tua frente e queria que estivesses a meu lado. Soube, quando antecipei que as promessas eram só palavras e que as palavras não eram todas. Quando as tuas cartas deixaram de ser folhas toscas arrancadas com paixão a cadernos maltratados e passaram a ser postais com corações. Sabia, e não to disse, quando as flores me desiludiam, o tempo e os momentos nunca chegavam e os beijos tinham hora marcada. E fui eu que tentei fintar as inevitabilidades e substituir magia por esforço, também fui eu que caí das nuvens. E a seguir percebi que sempre quis ir para além das estrelas. ...
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Dançar sem música. Ou com uma música que só ouvimos na nossa cabeça, mas ouvimos a mesma. E dançamos ao mesmo ritmo, em público, sem querer saber de quem passa e nos acha insanos. E rimos descontroladamente, e rodopiamos, e ficamos tontos, e agarramo-nos um ao outro e abraçamo-nos e beijamo-nos. E quem passa pode ainda achar que somos insanos, mas somos mesmo é felizes.
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Corri um risco, pelo isco.
Tinha nome de constelação. Era tudo o que parecia ser e parecia um tesouro raro, com qualidades que aprecio e me falam ao coração. Cheia de defesas (armadura de ferro e arame farpado) fui abrindo a porta e os sorrisos. Querendo acreditar, mas cheia de medo de novas nódoas negras emocionais, que as novas já não têm onde caber e as antigas não dão sinais de sarar. Ou procurando comprovar que não, que nunca mais, que ninguém. O receio falou mais alto. Bati todos os records de rapidez e consegui enxotar a constelação inteirinha enquanto o diabo esfrega um olho. E com uma grande pinta.
Podem passar um certificado de estupidez em nome de sótôra Ventania. Eu mereço!
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Deixa-me ser tua namorada por um dia. Assim como que à experiência. Tirávamos as dúvidas e eu podia morrer em paz, tendo sido feliz mesmo que só por um dia. Só pedia um dia. Um dia que ia querer esticar ao infinito para lhe caber tudo o que quero fazer contigo, tudo o que quero dar-te. E dava-te os meus dias, todos, inteiros, e as minhas noites com lua e estrelas. Ama-me um dia. Um que seja. Pausa a vida que te afasta de mim, esquece tudo o que já aconteceu e dá-me um dos teus dias. Como se eu fosse novidade. Deixa-te amar por um dia. Tenho mais beijos que minutos, mais sorrisos que palavras. Só um dia. Acordamos juntos e chamamos o sol para as nossas mãos. Não precisas de bagagem nem relógio, traz só o coração limpo e dois braços abertos. Deixa-me fazer dum dia o primeiro nosso dia. Todo nosso, de verdade. Mesmo que a seguir tornes a partir sem olhar para trás. Queria um dia. Um dia em que não tivesse de chamar por ti com todas as energias que já não tenho. Um dia de ti.
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ESPERAR UMA VIDA INTEIRA - CARLOS MGL TEIXEIRA
Tenho noites em que a acidez oblíqua da chuva, não fende apenas as árvores ou os insuspeitos nevoeiros da rua. Rasga a natureza comum dos dias que se vão somando, e expõe a dúvida. Olho da janela ao alto, deixando o corpo descair no canto do quarto. E vejo todos os milénios de um mesmo dilúvio extrair de uma matriz que ignoro, essas dúvidas vermelhas. Há noites assim, de dúvida escarlate. E observo a luz dourada de um qualquer candeeiro na rua, lembrar-me subitamente de como eram dourados os cabelos dela, quando a luz se lança do vidro fosco para a tela breve da noite. Dourados os cabelos, escarlate o sangue que verte da dúvida, cinzas as nuances cristalinas do nevoeiro. Há noites assim, em que se espera uma vida inteira.
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Porquê, em cada foto, a vontade de me colar em beijos a ti? Esses olhos de amêndoastristes que me gritam e me imploram que os devolva à vida, quando os lábios dizem não.
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Se viesses fazia-te um chá. Mostrava-te o quadro que quero pintar. Se viesses perfumava a casa toda com aroma de maçãs verdes e dava-te um abraço para te receber. Se viesses verias os meus olhos a brilhar, e sorrias a confirmar todas as certezas. Se viesses dava-te aquela romã, adoçada. Far-te-ia uma festa na cara e no cabelo. Se viesses eu ria muito e tu também. O tom de voz estaria mais elevado e agudo e o sol brilharia com mais força, até de noite. Se viesses mostrava-te a lua a reflectir no rio e as copas das árvores prateadas. Se viesses ficava contigo na varanda, a combater o teu frio. Dava-te a mão e o resto, pela alma fora.
Se viesses, eu ia gostar e tu quererias ficar.
Quando vieres, não vou deixar que te vás.
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(and I want it now, by the way!)
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Gosto de gelados no inverno e de chás quentes no verão. Gosto de fazer rabo-de-cavalo e totós. Gosto de dar beijinhos. Gosto de usar lenços ao pescoço. Gosto de fotografias a preto-e-branco. Gosto do Algarve quando chove e da Serra da Estrela sob um Sol abrasador. Gosto de aventuras grandes e pequenas. Gosto de pessoas genuínas e transparentes. Gosto de surpresas. Gosto de negro total. Gosto de aprender e de ensinar. Gosto de botas e de sapatos de plástico. Gosto de rugas de riso nos cantos dos olhos. Gosto de pão mal cozido e nada estaladiço. Gosto de velocidade. Gosto de nuvens densas e chuvadas de granizo. Gosto de açúcar amarelo e edulcorantes artificiais. Gosto de cicatrizes. Gosto de aguardente e de nescafé, de leite magro e iogurtes naturais. Gosto de ruas escuras e estreitas. Gosto do mar sem ondas nenhumas. Gosto de alturas. Gosto do som do violão e da gaita-de-foles. Gosto de comer chocolate de culinária. Gosto de cabelos brancos e grisalhos. Gosto de andar descalça e de peúgas grossas. Gosto da Lua e do céu estrelado. Gosto de tactear texturas. Gosto de ter as unhas muito curtas e sem cor. Gosto de limpar e arrumar. Gosto de estar completamente perdida no meio de nenhures. Gosto de arte surrealista. Gosto de me esconder atrás dos óculos escuros. Gosto de extremos. Gosto de ouvir pessoas a rir. Gosto de sal e de picante. Gosto de lápis macios e escuros e papel liso. Gosto de peles mulatas e de olhos em bico. Gosto de roupa interior preta e básica. Gosto de malmequeres brancos e desalinhados, de lírios e de túlipas. Gosto de passear de mão dada e de abraços. Gosto de cheirar a frutas e gomas. Gosto de ver filmes de terror e romances de fazer chorar. Gosto de miminhos na alma.
Muitas ideias para quando eu fizer anos e está quase, quase!