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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Bem sei que não é nenhum feito extraordinário. São só 2.000 likes. É pouco, quase nada. Mas para mim é muito, porque estes apenas 2.000 likes são fruto apenas das minhas palavras e de gente que algum dia engraçou com alguma coisa que tenha escrito. São 2.000 likes sem grandes impulsos externos, sem auto-promoções em bicos de pés, sem choradinhos ou vitimizações, sem grandes boleias de quem tem mais visibilidade, sem dever favores. São só 2.000 likes, mas são-no sem entrevistas ou menções na rádio, sem convites de amigos para posições de cronista, maratonista ou malabarista, sem destaques nos blogues do Sapo, sem ter chamado a maior parte dos amigos pessoais para fazerem claque, número ou publicidade, sem ser convidada de nenhum evento literário ou poético, sem prémios, sorteios, patrocínios, sem lamber botas a quem quer que seja e até esquivando-me a uma ou outra oportunidade de ocupar um palco.
 
Não me entendam mal, nada tenho a apontar a quem cria ou agarra boas oportunidades, tivessem surgido no meu caminho e talvez tivesse aproveitado também; só não foi o meu percurso até aqui. Estes 2.000 likes não têm outra história, são likes no escuro, sem sequer ter mostrado a cara, sem cativar pela imagem, figura ou lindos olhos que não tenho. Mas são 2.000 e muitos mais sorrisos, esses sim, sempre genuínos.
 
São 2.000 likes e um espaço minúsculo que partilho com gosto, de coração aberto, com quem acho que merece a divulgação, com quem gosto muito de ler, seja ‘maior’ ou ‘menor’ do que eu, com vários ou nenhuns livros editados, porque o que me interessa é a boa literatura, é poder ler e dar a ler palavras maravilhosas, quer nunca saiam do facebook ou quer já sejam best-sellers de autores consagrados.
 
São só 2.000 likes, que sendo tão poucos são-me tanto. São 2.000 likes conquistados com textos que são quase sempre auto-retratos, diários, confessionários, raios-X da alma. São 2.000 likes com meia dúzia de leitores fiéis, que sempre têm uma palavra de incentivo e de carinho, que são um apoio inestimável, gigante por ser desinteressado, por serem incansáveis divulgadores, de pessoas que, se me puseram a vista em cima, foi não mais do que uma ou duas vezes. A vós devo ter encontrado forças para apanhar os cacos e continuar o caminho sempre que quebrei (e se quebrei!...).
 
São 2.000 likes que podem até ser alvo de chacota de tão singelos, mas são meus, são os melhores de todos, e dão-me uma imensa alegria. Só tenho a agradecer, com toda a humildade, a cada um dos que me deu o seu ‘like’, até aos que deram e depois tiraram. Bem-hajam.
 
"Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar." 💙
 

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A minha mais recente crónica publicada ontem no Repórter Sombra.

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Estamos na era da informação rápida, da Internet, da acessibilidade quase imediata a todos os conteúdos possíveis e imaginários com a facilidade de sacar de um smartphone do bolso e fazer uma pesquisa ou aceder a uma aplicação. A tecnologia permite facilidades e pequenos luxos como ir ao banco às duas da manhã, falar com a família do outro lado do mundo a custo quase zero, encomendar livros, queijo e detergentes enquanto estamos numa viagem de comboio entre casa e o trabalho ou criar afinidades e amizades com pessoas do outro lado do monitor, na rua abaixo ou do outro lado do mundo. Contudo, com o poder de alcance quase ilimitado da Internet e o imediatismo e potencial de dispersão das tecnologias, chegou também uma vasta panóplia de fenómenos perturbadores, para usar um eufemismo.

 

O potencial de dispersão de conteúdos digitais passíveis de ganhar destaque de forma exponencial (ou “viralizar”) é notável, nomeadamente através das redes sociais. A facilidade de expressão e de acesso veio democratizar o espaço anteriormente reservado apenas para uma elite privilegiada e poderosa e isso é extraordinário e uma das maiores virtudes destas novas formas de comunicação. A visibilidade possibilitada a todas as opiniões, teorias, correntes e contra-culturas marginais pode ser bastante positiva, uma vez que a verdade é que escasseiam os meios de comunicação idóneos, fiáveis, sérios, abrangentes e, convenhamos, que não estejam a soldo de uma agenda política neoliberal, centralista e que serve os propósitos dos poderes instaurados. É preciso procurar, muitas vezes em nichos específicos, sem expressão popular ou comercial de monta, mas as alternativas existem. Isto é válido tanto para informação noticiosa quanto para grupos de interesses específicos que jamais chegariam ao mainstream (do ambientalismo anticapitalista a talentos literários sem meios de autopromoção).

 

Contudo, com este recém-descoberto poder de influência ao alcance do comum mortal e, sobretudo, a que o comum mortal se torna susceptível, surge também a possibilidade de disseminação de conteúdos que representam perigos sérios, por propagarem falsidades com impacto social e político, teorias sem credibilidade científica ou apenas enormes embustes, alimentados pela ignorância e pelo ódio. Sem o efeito de megafone universal da Internet, teriam os anti-vaxxers ganho expressão suficiente para colocarem riscos sérios à saúde pública, com o despertar epidémico de doenças que estavam quase totalmente erradicadas há umas décadas? E os crentes na “terra plana” e as pseudociências (homeopatias, medicinas quânticas e afins) e os negacionistas das alterações climáticas e os criacionistas que querem a religião equiparada à ciência nas salas de aulas? O crescimento de movimentos de extrema-direita, um pouco por todo o mundo, teria dimensão suficiente para eleger democraticamente quem quer acabar com a democracia?

 

Desde os inócuos apócrifos de autores sobejamente conhecidos, às abjectas "fake news" criadas intencionalmente para deturpar a opinião pública num sentido que está longe da inocência, ou desde a idolatria de famosos que tantas vezes o são sem talento outro do que o de angariar seguidores, visualizações, likes e afins à elevação de analfabetos funcionais aos cargos mais poderosos do mundo, o fenómeno está disseminado. E o perigo, esse é assustadoramente real, actual e alastra como fogo, enquanto os mais informados e razoáveis se mantêm a observar passivamente, boquiabertos de incredulidade de como podemos ter chegado ao expoente máximo da acrisia generalizada. Encolhendo os ombros porque não há argumentos para contrapôr pensamentos sem qualquer substrato, alucinações baseadas em coisa nenhuma. Virando costas porque a discussão se torna tão imbecil que “não vale a pena” perder tempo.


A popularidade exponenciada pela tecnologia dos
social media cria heróis e vilões, constrói presidentes e culpados universais, uns na antítese dos outros, em extremos opostos, e na ânsia da simplificação, da análise imediata para consumo rápido, reduz os factos (reais ou “alternativos”) a memes, a hashtags e chavões. Como se só existissem duas opções, como se só as oposições absolutas tivessem lugar neste modo de raciocínio simplório, como se tudo fosse redutível ao preto e ao branco, sem matizes de complexidade ou profundidade. A esta bipolarização simplista e inconsequente só me ocorre comparar o Tinder: análise à queima-roupa, às aparências, ao que é visível à superfície, ou melhor, ao que nos querem mostrar, e daí segue o veredicto: sim ou não, swipe à esquerda ou à direita, serve ou não serve. Olhemos em redor e vejamos se não é esta tinderização de tudo que alimenta celeumas, escândalos, polémicas, opiniões populares e ódios. Em toda e qualquer clivagem ou onda de indignação da opinião pública a regra parece ser a escolha binária, contra ou a favor, embate de opostos. Noite ou dia, vai ou racha, ganhar ou ficar em último, santo ou criminoso, republicanos ou democratas, Brexit sim ou não, Haddad e PT ou qualquer coisa que seja anti-PT, ainda que seja o fascismo. Vale tudo até e além da mentira descabida para criar um falso sentido de escolha única e o caminho mais fácil e eficaz é a diabolização dos opositores, é a força do medo e do ódio, é o incitamento à eliminação dos que não são semelhantes ou ameaçam os privilégios próprios. Não falo contra a radicalização de posições, que a aversão aos extremos, tão válidos como qualquer posição intermédia, é frequentemente ignorância ou medo. Falo de assumir a complexidade dos temas, de debater com sensatez e sem negar e respeitar a existência de todos os naipes de opções, matizes e posições ambíguas, de conhecer a verdade, que é material e objectiva, e pensar sobre ela antes de tomar posição.

 

A validação da idoneidade dos veículos de informação tornou-se acessória. Se há umas décadas a falácia consistia em alguma coisa aparecer escrita num jornal ou divulgada na rádio para se tornar verdade perante o escrutínio do grande público, hoje em dia esse lugar parece ter sido substituído pela internet. É imperativo aguçar o espírito crítico para a validação de tudo o que se vê publicado e é necessário educar para a verdade, para questionar as fontes, para unir os pontos, para apurar os factos antes de cuspir veredictos inflamados pela indignação. É preciso aprender a ver, mais do que a olhar; a não julgar os livros pelas capas; a não aceitar ou rejeitar tacitamente pelo que é aparente e superficial. É preciso conhecer por dentro as coisas e pessoas antes do fanatismo e da rejeição, é preciso explicar, debater, argumentar, interrogar. É preciso ousar sair da caverna de onde só se conhecem sombras e enfrentar a luz, perder o medo que nos empurra e se nenhum dos caminhos que vemos nos servir, encher o peito de fôlego fresco e trilhar um caminho novo.

 

Descobri mais ou menos por acaso que, pelo menos para iOS, o Facebook tem uma nova (?) função, que me parece muito útil.

Se forem pessoas particularmente sensíveis ou de pavio curto como eu, sabem que às vezes, a bem da manutenção da paz, de uma relação de amizade, da camaradagem entre colegas, da cordialidade para com conhecidos, da boa vizinhança, ou mesmo, in extremis, a bem de não ir parar à cadeia, o melhor a fazer é "dar um tempo". Fazer uma pausa, respirar fundo para poupar os nervos, distanciar um bocadinho para que as coisas que agastam a relação não toldem aquilo que se quer preservar. Não se quer cortar relações com a pessoa nem ficar completamente alheio à sua presença, mas demasiada interacção ou um excesso de emotividade pode fazer disparar algumas reacções exacerbadas e com um potencial destruidor irreversível.

O  Facebook simplifica a tarefa com a opção "Take a Break", que surge logo abaixo do "Unfriend" ("Remover Amizade"). Não é mais do que um atalho que permite a edição de várias opções: ver menos publicações daquele amigo, limitar as nossas publicações que o amigo pode ver e editar as opções de partilha para os posts antigos. Mais importante, serve de alternativa apaziguadora quando já vamos lançados para clicar no "Unfriend", enfurecidos, fartinhos até aos cabelos da palermice de um 'amigo'. 

Não faço ideia se esta funcionalidade é nova, mas para mim é novidade e por acaso veio mesmo a calhar. Também não sei se está disponível em todas as plataformas (nos telemóveis em que experimentei, iOS tem, Android não, e no PC também não encontrei). [Se houver por aí entendidos na matéria que queiram partilhar a sua sabedoria e esclarecer as dúvidas do povo, é favor botar faladura ali em baixo na caixa de comentários.]

O que sei é que isto dava um jeitaço também na vida real! Eu iria ser uma utilizadora intensiva, seguramente, pelo menos em ambiente laboral. De cada vez que sou interrompida pelos suspiros e intervenções racistas da chefe, pelas mil perguntas e relatos infindos da colega do lado, pelo karaoke da colega de trás (a acompanhar um rádio despertador que todos temos de gramar), tenho de fazer um esforço hercúleo para não ter um ataque de raiva e começar a bater em toda a gente, ou agrafar-lhes a boca - só porque não me dava jeito nenhum ser despedida neste momento.

Enquanto o teletrabalho continuar a ser a excepção em vez da regra e os meus colegas de trabalho continuarem sem ter a menor noção do que é o respeito pelo tempo e espaço dos outros, tentarei passar a aplicar algumas restrições de privacidade em 3D: não dar conversa, colocar os 'fones' nos ouvidos para me mostrar menos disponível e praticar muito a capacidade de abstracção.

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[Publicado originalmente a 13.07.2010.  E mantenho cada palavra.]

 

 

Hoje vou citar. E vou citar aos bochechos, que muito há para dizer. E quem vou citar? O Edson Athayde, no ionline. Ora vamos:

Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. A vida, para mim, é isso. Tudo mais é complemento, é consequência, é redundância.

 

Não sou tão extremista. Há mais na vida para além dos amigos e, pese embora deva ser uma vida incomparavelmente triste e pobre, há quem não tenha amigo algum (acreditem, há) e tenha uma vida, lhe confira significado e talvez até tenha interesse. E há que separar o trigo do joio. Hesito em chamar amigo a pessoas que conheço, até com profundidade, se não as gosto. Outras há que, conhecendo em menor extensão, confio sem second thoughts, de natural que é. Daquelas coisas que não se explicam com muita lógica, mas que se sentem sem dúvida.

 

Fazer amigos: o mais difícil, com o passar do tempo. Quando miúdos, só são necessários uns interesses em comum. Entre os rapazes a coisa é ainda mais simples: basta ser adepto da mesma equipa, gostar do mesmo sabor de gelado, demonstrar alguma habilidade no Subbuteo, ter uma certa fixação pelos seios da professora Sónia. E assim começa uma longa amizade. Depois de cruzarmos o cabo da boa esperança dos 30 anos aparecem as complicações. Mais ninguém que nos aparece é assim tão confiável. Fazemos colegas de trabalho, companheiros de futebol, cúmplices de bares, mas amigos novos é coisa que vai rareando.

 

Na infância, os conceitos de lealdade e confiança são menos permeáveis às nuances das realidades que a vida adulta impõe. E talvez por isso mesmo, quer-me parecer que sempre coloquei as fasquias demasiado elevadas, e cada vez mais com o passar dos anos. No entanto, a vida te-me reservado boas surpresas (ao menos) neste campo. Não guardo amigos de infância. Alguns da adolescência, mas devo dizer que as pessoas excepcionais que fazem ou fizeram parte do meu círculo de Amigos, encontrei-as em grande parte em idade adulta. A comunicação vai muito para além do corriqueiro e toca sensibilidades que não estão expostas aos 15 anos. A frontalidade, o despretenciosismo de se dizer o que se pensa sem querer impressionar ninguém, ajuda imenso a conhecer as pessoas com quem se interage. E por vezes bastam meia dúzia de frases, uma empatia inicial que abre caminho a gargalhadas ou a reflexões. Falo por mim, que tomo consciência de que tenho feito novos amigos, de quem gosto genuinamente e a quem abro a alma sem reservas. As duas moças do curso de escrita, de quem sinto falta das cumplicidades. O pescador gótico com um sentido de humildade que me tocou. A ex-chefe a quem arregalava os olhos e não poupava críticas, de onde nasceram laços profundos. A velha colega de curso que de repente se revelou em palavras à distância. A amiga de amigos com quem estive em duas ocasiões apenas e me lê mais pensamentos do que os que partilho. O dentista que passei a tratar por tu por entre estórias de vida. A colega de trabalho com quem podia conversar dias a fio. É preciso não ter medo. Medo de ser quem somos, de assumir os nossos sonhos e as nossas falhas. Dar um pouco de nós aos outros não nos torna frágeis nem susceptíveis. Torna-nos mais ricos. Dar um sorriso que seja, não custa nada e pode alegrar o dia de alguém. Mais, pode convidar a entrar na nossa vida pessoas que, só por existirem, fazem da vida um sítio melhor.


Manter amigos: dependendo de com quem é pode ser uma missão simples. A amizade permite-nos um sem-número de erros, vacilos, pequenas maldades, desconsiderações. A amizade pressupõe uma quantidade hiperbólica de perdões. Claro, há sempre um limite. Mas não há amigos perfeitos, porque não há pessoas perfeitas. E o que seria da amizade sem a misericórdia, sem a compreensão? Aos amigos, tudo. Aos inimigos, o justo.

 

Não há amigos perfeitos, nem pessoas perfeitas. Dos grandes amigos espera-se demasiado, porque são aqueles que admiramos, que prezamos. As pequenas falhas magoam demais e podem tornar-se desilusões. As mesmas que causamos nos outros. Não há regra nem receita para o sucesso. Bom senso e compreensão costumam ajudar. Ver o lado do outro, walk a mile in their shoes. Perguntar "porque fizeste isto?" antes de julgar. E perceber que se a amizade não vale o suficiente para engolir o orgulho e perdoar, então não é amizade, é conveniência.

 

Perder amigos: costuma ser uma tristeza pior que a morte. Quando o que morre é a amizade e não o amigo, o fantasma do que antes era belo assombra e assusta. Quer pior coisa que um ex-amigo? O ressentimento é o cancro das emoções.

 

Não o diria melhor. Tristeza pior que a morte. Sei bem o que é perder um amigo, a pouca importância que têm as culpas e as razões perto do vazio que se instala no peito. Coloca-se tudo em causa: a importância que se teve para o outro, as palavras ditas, a confiança quebrada. Permanece, sobretudo, o sentimento de injustiça. Como pode alguém a quem quero tão bem descartar-me como se lhe fosse incómodo ou nefasto? A amizade valia tão pouco que foi trocada por isto?

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Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. Repito, repito, repito. Penso e repenso nisso ao reparar nas mais de 6500 almas que me adicionaram como “friend” no Facebook. O que devo fazer para não decepcionar essas pessoas que não conheço? Como posso tornar sustentáveis milhares de relações virtuais sem (com isso e para isso) descuidar das pessoas de carne e osso que teimam em ter-me como amigo?
Há muitas respostas para essas perguntas. Mas não gosto de estabelecer regras nem professar ciências. Só queria alertar para que vale a pena pensar no assunto. Conheço gente que, desde que começou a facebookear, passou a tratar com descaso as pessoas reais das suas vidas. Eu mesmo apanho-me de vez em quando enciumado com amigos que postam nas suas páginas coisas que, teoricamente, só os mais íntimos deveriam saber. Se calhar é coisa minha (minha idade emocional não vai muito além dos cinco anos). Mas recomendo atenção. Amigos, amigos, Facebook a parte.
Ou como diria o meu Tio Olavo: “Amigo é alguém que, ao nos conhecer de verdade, não sai a correr.” 

 

Amigo é quem me conhece e, ainda assim, gosta de mim. Digo eu, que nunca privei com o Sr. Olavo. Não vejo porque separar os amigos "reais" do facebook. O facebook (e quem  diz facebook diz qualquer rede social) pode (e deve) conter apenas laços reais, cujo suporte se prolonga no mundo virtual. Longe das advertências do Edson, eu sou apologista incondicional das vantagens emocionais do facebook. Cuide-se da privacidade com bom senso (sempre) - e há ferramentas para isso, e as amizades não têm porque não sair fortalecidas. Claro que não é caso para trocar o convívio pessoal com o virtual. Mas, é inevitável, uma boa parte dos amigos e conhecidos não estão sempre por perto. Há uma boa porção de pessoas que as circunstâncias da vida afastam do dia-a-dia e que nas redes sociais não têm de estar afastadas. Convenhamos, quem vai telefonar ou enviar um e-mail àquele velho colega que está há dois anos emigrado e com quem não se manteve contacto regular só para dizer "olá" ou "ontem li uma notícia que me fez pensar em ti"? E porquê criar anticorpos à tecnologia, se esta, bem utilizada, não só não se substitui aos laços 'reais' como pode mesmo estreitar laços em que, de outra forma, não se investiria o suficiente?...

Estão a ficar umas pirosonas do piorio! Não todas, mas algumas, de um círculo laboral do passado. Não é muito mau estar a fazer um post sobre isto se lhes digo o mesmo na cara e olhos-nos-olhos, pois não? Olhem, se for, que se lixe, é a mais pura das verdades, e uma pessoa tem de desabafar. É que passei 10 minutos no livro das fronhas e ainda estou um bocadinho em choque, a interrogar-me como é que isto aconteceu, quem são estas pessoas e - o pior - será que alguma vez vou ficar assim?


Vejamos:



  • Estão loiras-platinadas-mesmo-muito-loiras-quase-suecas. Isto nos primeiros três dias após a coloração, depois começam a ver-se as raízes escuras e passados quinze dias baixa o look Buraca-Damaia-Cova da Moura. (Impossível não pensar naquela prima da minha colega de faculdade que se interrogava "porque é que estas raparigas loiras tão giras pintam as raízes de preto?")

  • Uma delas colocou mesmo extensões. A mise dá uma trabalheira e como tem de aguentar a semana toda, mete-se uns raibantes a fazer de bandolete, a ver se disfarça as raízes oleosas.

  • Vão a concertos do Tony Carreira. A Rihanna eu ainda tentei compreender, o Anselmo Ralph já foi demais, mas o Tony?! Se isto é assim agora, quando tiverem 40 anos vão vibrar com quem, o Marco Paulo e o Emanuel?

  • Fazem likes nos próprios posts. Em todos e cada um deles. E partilham citações da Chiado Editora, e dizem bom dia e boa noite todos os dias no FB, com imagens de animaizinhos ou poeminhas cheios de erros ortográficos.

  • São as rainhas das selfies. Quatro em cada cenário, sempre a fazer pose, num exercício narcísico contínuo, piores que as adolescentes. Há todo um esforço para parecer que as fotos são 'profissionais' (como em tiradas pelo fotógrafo que mete os noivos na montra numa montagem cheia de corações), mas depois têm os pés cortados ou um caixote de lixo ao fundo.

  • As produções das fatiotas às vezes fazem lembrar aquelas boutiques finas onde as irmãs Kátia Andresa, Ariana Cristina e Bianca Raquel compram os vestidos de folhos para os casamentos. Ele é racha, ele é decote, ele é justinho, ele é transparências. Tudo ao mesmo tempo.


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  • A maquilhagem também está sempre completa (para ficar bem nas selfies, pá!), laranja até ao pescoço. E unhaca de gel (juro que uma delas andava com uma unha de cada cor - "c'horror!").

  • E depois há o bling! Ah, os meus olhos!!! Na sandália, no pescoço, nos dois pulsos, nas orelhas, nos dedos. O statement necklace sentiu-se sozinho e chamou toooda a família. Todos a fazerem statements muito alto.

  • Vivem em apartamentos sem varanda, mas têm cadelas, iguais, a que põem laçarotes na "franja" (?) e casaquinhos no inverno.




  •  Last, but not least, os amantes/namorados que estas moças arranjaram... Elas são boas moças, que são, mas com o tino foi-se a auto-estima. Que os fulanos tenham troncos de seguranças de discoteca e falhas na dentição, que não saibam fazer uma conta de somar, que mostrem as correntes de ouro sobre os peitorais oleosos ou que mastiguem de boca aberta, gostos não se discutem. O que me amofina mais é que o seu Q.I. seja inversamente proporcional à capacidade de infidelidades ata/desata por mês. E que ainda assim possam ser um upgrade em relação aos anteriores.

Algo me diz que a nova página da Luciana Ab(r)eu no Facebook não é dela. Ou é uma página fake, que se dedicou a colocar anúncios e tudo (foi assim que tive conhecimento), ou é uma página a gozar, só pode.


C'mon people, por mau português que a moça possa ter (não faço ideia, mas as minhas expectativas são baixas), nem a Luce seria capaz de escrever com tantos erros (8 erros numa frase, fora a gramática e a pontuação é um bocado demais, não?)! Pelo menos no próprio nome havia de acertar, digo eu.


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Há mesmo casais que partilham tudo. Muito para além de casa comum, carro, conta bancária. Há casais que partilham até a conta de Facebook. Vocês também os conhecem, andam aí pelas redes sociais com nomes maravilhosos como "José Carla" ou "Vítor Sónia" ou "Mónica Paulo". E isso deixa-me com profundas questões filosóficas.

 

A privacidade, para começar, onde fica? Será que duas pessoas abdicam da sua individualidade, da sua identidade, e não lhes parece nem um pouco estranho? Acham mesmo que a partilha sem limites é sinónimo de amor e de cumplicidade? Para mim vai tudo culminar na perda de liberdade, de autonomia. Não vale tudo, por excelente que seja uma relação, tem de existir uma linha (mais flexível ou mais rígida) a partir do qual o outro deixa de ter de saber ou tem uma palavra a dizer. Isto também é respeito. Já para nao falar dos "amigos" na rede social que têm todo o direito de só pretender manter uma relação virtual com um dos elementos do casal, ou partilhar certos conteúdos com apenas um e, por arrasto, ter de o fazer com mais uma pessoa.

 

E quais as razões para nascerem estas aberrações de duas cabeças? Será para poupar alguma coisa - porque não sabem que as contas são gratuitas? Será que um dos elementos do casal insistiu muito para fundirem as contas pessoais com meio milhão de argumentos válidos, do tipo "é mais giro assim" ou... hmm...  (Não me ocorre rigorosamente nada!) Isso parece-me, claramente, que arrasta um certo grau de desconfiança ou necessidade de controlo da outra pessoa. E já devíamos todos saber que o ciúme desmedido e outros comportamentos obsessivos numa relação de casal são um caminho muito perigoso...

 

Tenho família afastada, em termos de laços de sangue e também geográficos, que nunca conheci ao vivo e a cores. O meu pai descobriu há uns anos os contactos deles e manteve alguma ligação por telefone, depois também por e-mail. Há alguns meses as minhas "primas" (p'raí em 20º grau) adicionaram-me no Facebook e posso dizer que acho algo espantoso, mas temos imensas coisas em comum. Fisicamente temos várias semelhanças óbvias (até para mim que sou péssima a tirar parecenças) e, mais do que isso, os interesses delas têm tudo a ver com os meus. Por exemplo, a prima mais nova tirou o mesmo curso que eu, a mesma especialização, e é tão fascinada por viagens como eu, até os destinos favoritos coincidem.


 


Cool genes. Cool facebook. Cool cousins. :)


 


Se mais de 6 anos a escrevinhar aqui ou ali nunca haviam chegado para me sentir uma blogger plena, eis que o momento chegou.


Não, este blogue não vai passar a ser um blogue com passatempos, com considerações sobre as colecções das lojas x ou y, com graças geniais, sequer com maledicências gratuitas e os milhares de visitas que premeiam os blogues das categorias anteriores (e digo isto sem snobismo, que sigo alguns e se não gostasse não perdia tempo a ler).


Nada disso, meus caros (em média diária, cerca de 100... uau?) leitores.


Sinto-me gente neste mundo porque, como só acontece a gente invejada e que suscita dores de corno a alminhas mesmo muito tristes, a minha conta de Facebook foi cancelada. Alguém desconfiou que Princesa Ventania não fosse o meu nome real e vá de denunciar a conta. Well, guess what? "Tô nem aí..." Tenho muito mais (e tão melhor) em que pensar, não vou chatear-me nem abrir outra conta. Foi bom enquanto durou. Tinha cerca de 2.500 amigos virtuais, chegaram-me mensagens muito positivas, feedbacks engraçados, conversas enriquecedoras e sobretudo, gente boa. Chegaram, não vão desaparecer e sabem quem são. São as excepções, as tais de que gosto. Quem quiser entrar em contacto comigo tem a caixa de comentários e o e-mail (ventaniaazul@gmail.com). Aos outros, que denunciam contas de bloggers (que, não tendo os pseudónimos no BI têm o mesmo direito à existência social em ambientes reais e virtuais, "penso eu de que" - claramente o Mr. Zuckerberg discorda), e que são cada vez maiores argumentos da (minha) regra*, fuck you. E que a diarreia que têm no lugar do cérebro se entranhe nas tripas e vos faça cagar de esguicho todos os dias da vossa patética existência. (Não é só mau-feitio nem é só desejo de vingançazinha, é mesmo uma arrogância eugénica de quem gostaria de ver o mundo liberto de trastes.)


 


 



 


 


 


*A minha regra é "as pessoas não valem um tostão furado."

Descobrir a amiga desaparecida há anos e, ao mesmo tempo, que já tem uma filhota crescida, giríssima, parecidíssima com o pai, outro querido amigo de há muitos anos.


 


Descobrir o antigo colega, que era um puto tão engraçadinho (apesar de loiro), e reparar que a linha de cabelo dele recuou pelo menos uns 10 cm.