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Para os frequentadores habituais, como para qualquer pessoa que já tenha feito uma única visita à Festa do Avante, os mitos propagados pela maioria da comunicação social e pelos anti-comunistas de forma geral são apenas hilariantes. Mas não precisam de acreditar em mim. Podem ver com os vossos olhos ou, melhor ainda, dar o benefício da dúvida e experimentar ir um dia para confirmar in loco que a maior parte das ideias pré-concebidas acerca da Festa são mitos fomentados pela desinformação. Alguns dos mais caricatos:
Nota: fotos e vídeos retirados daqui.
Os olhos como filme fotográfico, que observam e registam do seu ângulo toda a beleza do mundo, em cada banalidade. Focam e desfocam, brincam com a cor e o contraste, recortam os uivos excessivos e catalogam os negativos.
Não há um diazinho que tenha passado, desde que me conheço por gente, que não tenha este desejo a roer-me a pele por dentro. E podia ir mais além e extrapolar, mas fico-me pelo sentido literal. É um bocado doentio, na verdade. Começa a acumular-se uma pressão cá dentro, uma moinha, uma vontade de pegar na mochila e na máquina fotográfica e sair sem destino e sem dar cavaco a ninguém. É quase uma claustrofobia, uma mágoa na alma, que pede o que lhe faz bem, não sei explicar muito melhor. A verdade é esta, se fico muito tempo sem viajar, passear, ir para fora cá dentro que seja, há qualquer coisa que me morde, a inquietação não dá tréguas. O que pode ser uma real chatice, porque nem sempre há condições: dinheiro, companhia, tempo (por esta ordem, que o tempo vai-se arranjando, nem que seja um fim-de-semana quando em vez para desenferrujar). Estou desesperadamente a necessitar duma injecção de passeata veias adentro. E depressa!
Mais que memórias, porque a história tende, tragicamente, a repetir os seus erros. O que é passado tem de ser presente, explica-o (não o justificando) e pode bem tornar a ser presente num futuro mais ou menos próximo.
Este ano, nas minhas férias, tive uma vez mais o privilégio de ser atordoada. Parece que é algo que procuro repetidamente, choques de realidade fora da zona de conforto, mas isso são outros quinhentos. Dizia, fui atordoada. Nós na garganta, incontáveis. Olhos marejados, silêncios sufocantes, socos no estômago. Passei por locais devastados por uma guerra relativamente recente e que já tiveram tempo de se recompor em grande parte. E, ainda assim, é devastador. Arranca-nos pedaços da alma ver capitais com marcas de bombardeamentos e rajadas de metralhadora por todos os lados. Edifícios magníficos destruídos, prédios residenciais com enormes buracos ou marca deles. E aldeias pequenas com destruição presente como se tivessem sido atingidas há duas semanas. E, observando com atenção, muitas pessoas a quem faltam membros, com cicatrizes, com queimaduras. Marcas visíveis duma guerra, que como todas, foi incompreensível, foi brutal, foi o expoente da vertente mais cruel e abominável da espécie humana. E eu saúdo o povo que não se resigna ao esquecimento, e traz vivas as memórias, por um lado, das suas desgraças, e por outro, da sua admirável capacidade de regeneração, reconstrução, tolerância. Vi fotografias, e vi com os meus olhos, as marcas, a imensa sensação de perda e impotência. Começamos a pensar nas estórias por detrás da história; a tentar imaginar uma mãe que está na cozinha a preparar uma refeição quando o quarto onde brincam os filhos desaparece num estrondo; Nos soldados mutilados, nas valas comuns, na fome, nas famílias separadas.
Noutro canto do mundo, há 65 anos, uma catástrofe atroz, sob a capa da II GG, foi lançada na vida de pessoas. Não foram soldados, não foram números. Nem inocentes nem culpados, nem anjos nem demónios. Pessoas, como todas, com vidas, com problemas, com amores, com famílias, com crimes. Com tudo, e tudo se transformou numa tragédia, num sofrimento prolongado, propagado por gerações. Há fotografias inéditas, que todos devemos ver, ver como nunca vimos, para que saibamos sem dúvida que não queremos voltar a ver. Hiroshima e Nagasaki, 1945, by Bernard Hoffman.
"Loveliness, despair, godlessness, jealousy, egotism, scrooge, unhappiness,
unsuccesfulness, characterless, meaningless and loneliness..."
Devias ser tudo o que não és.
Desejei-te de mil outras maneiras.
Rejeitei-te sem antes te ter considerado possível.
Agora decidi-te.
Não preciso de mais do que sou.
Serei o teu tudo.
Deves ser tu que me andas a consumir todas as lágrimas que se recusam sair.
Não sei se tudo acontece por um motivo.
Podes bem ser o meu motivo para aqui ter chegado.
Sozinha, mas de pé.
Agora, seremos amados.
Eu por ti e tu por mim.
Fotografia de José Marques
Apetece-me pôr a vida no prego, suspendê-la por uns tempos e ir ali viver outra vida por alguém... Só para fazer uma pausa nesta que é a minha e de que em regra tão pouco me queixo. Pois que se lixem as regras, não sou eu que estou dentro de mim, e hoje queixo-me. Em regra não choro, não grito, não sofro, não perco a calma nem a compostura, em regra relativizo e sei que estou bem, que hei-de estar bem ou pelo menos fazer bem a alguém. Hoje flutuo por uma realidade alternativa em que não me revejo, descuido os travões emocionais e deixo cair quanta chuva me sobra da alma afogada, sufocada.
Em regra arrisco e transbordo de palavras e exponho o que me falha e que não sei, em regra os baldes de água fria surpreendem-me sem a gabardina vestida. E em regra sorrio porque a surpresa me apraz, em regra vejo um raio de sol despontar e logo a energia se me renova desde o âmago mais primitivo do Ser, seca-me as dores e continuo a marcha, decidida, em direcção à rota e não ao destino.
Hoje não é o meu eu que de relance se reflecte em cada janela. Perdi o norte e o mapa e ando em passos tontos de sobe-e-desce que não chegam a lado algum. Sou dúvida incerta até de duvidar, sem suporte nem amparo, sem rede mas também sem risco. Flutuo em paralelos que não me tocam, passo incólume ao tempo e ao girar do mundo, vou existindo, adiando o desmaio que espreita pelas brechas de cansaço. Não ser eu também cansa.
Quebrada, partida, exausta, vazia, cinzenta. Reservo-me o direito de estar nesse canto poeirento e escuro que passo o resto do tempo a evitar. Quedei-me por aqui e não trouxe vontade (que a força sempre encontro) de me desencostar.
Ai de quem vier sem (a)braços para voar, sem coragem para amar!
E já que estamos numa fase mais pictórica e menos verbal... A não perder, a obra de Clifford Ross, de quem deixo um aperitivo.
O vento anda, corre e voa!
sempre.