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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Que merda de sociedade nojenta, preconceituosa, racista, xenófoba, iludida, alienada, equivocada, é esta, em que ler o Corão é considerado perigoso, em que é possível e aceite com naturalidade que se faça uma queixa por suspeitas de alguém estar pacificamente sentado a ler um livro electrónico, e que um cidadão seja detido, inquirido e tratado como um criminoso porque, repito, estava a ler um livro?!

 

Que nojo é este em que nos estamos a tornar? Ainda há uns meses eram todos Charlies, os mesmos Charlies que apontam e olham desconfiados para pessoas com outra cor de pele, ou com um traje diferente!

 

Não se conhece e não se compreende o que está escrito num livro e até se assume que é um outro livro - e se fosse? Por favor, alguém que me explique porque é que ler o Corão constitui algum tipo de ameaça! 

 

Eu li o Corão quando era adolescente, da mesma forma que li a Bíblia e os Versículos Satânicos do Rushdie, e o Evangelho Segundo Jesus Cristo do Saramago e O Capital de Marx, e muitas dezenas de outros, até policiais manhosos e os livros condensados das Selecções. E Torga, e Urbano Tavares Rodrigues, e Sartre, e Jorge Amado... E se me apetecer levar o Corão na próxima viagem de avião, isso é motivo para me mandarem prender e interrogar?

 

Nestas alturas, e digo isto com a maior sinceridade, fico grata por não ter filhos. Não estou preparada para trazer alguém a este mundo a quem tivesse de explicar estas idiossincrasias, nem a Humanidade merece ter grande futuro enquanto isto for tudo aceite como se não se passasse nada de absolutamente aberrante e perverso. É que este tipo de segregação também é terrorismo. Livros considerados proibidos e perigosos e subversivos eram outra coisa aqui há umas décadas. Caminhamos para lá novamente?