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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Aguarda pacientemente no escuro, observa com cuidados cada detalhe, ao longe, em silêncio, sem se fazer notar, de mãos nos bolsos a forçar uma atitude blasé. Com vontade de aventura, sim, mas sem grande certeza de querer arriscar. Hesita e calcula, calcula e hesita. 
Gosta de partilhar a melancolia mas odeia ter de a explicar. Tem uma voz possante que ocupa todos os espaços, tem uma presença vincada que quase o mascara. O discurso tem falhas, sobretudo nas costuras, frouxas por serem impermeáveis às razões alheias. A postura de macho alfa leva ao engano, ele aprecia a protecção que lhe dá de quem o julga capaz de tudo. Preso numa vida que o esmaga e sufoca, cheia de horários, frustrações, contas e obrigações, tudo o que queria era algum silêncio, paz, tempo para se esquecer e leveza para encontrar a alegria do seu sorriso espelhado no de um filho. Não cede nunca, resiste a tudo, e pensa que é isso que o faz parecer invencível. Atrás de cada porta que fecha, por força do orgulho desmedido em continuar só, deixa um amigo vazio, sem mais nada para dar. Isolado no alto do seu castelo de distâncias caladas, grita e esperneia Baltasar. Se é som ou silêncio que fala, não importa, que as muralhas em volta são blindadas e dentro delas só circula o ar. É um gigante pateta, recto e honesto, triste por estar só, mas não deixa vivalma se aproximar. Quer que lhe leiam nos olhos as histórias difíceis e a solidão, que se confirme que é raro e especial, mas é profissional das fugas, não pára quieto no mesmo lugar. É um menino pequeno, carente de colo e de cumplicidades, brinca com frases e corações, morde e pisca o olho, mas sempre sem se dar. Gostava de encostar a cara a alguém que não o julgue e só descansar. Gostava de receber beijos molhados, não antecipados, abraços apertados. Gostava de não ser um maneta emocional, de se deixar erguer quando outros braços o tentam puxar. Queria ser outro, noutro lugar. 

[Podia ensinar-te a sorrir, se desaprendesses a calar.]

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1. Manuel Maria Carrilho


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Isto sim, é amor! Bebia só para que ela não bebesse tudo sozinha. É o que se chama partilhar o fardo. (Por acaso eu também faço o mesmo, não posso ver o homem a comer um pedaço de chocolate que me atiro logo a ele e roubo-lhe uns quadrados, só para ele não comer tudo, que lhe faz tão mal...)


Além disso, Manuel Maria Carrilho compara ainda os seus livros a filhos, que foram maltratados e atirados para dentro de caixotes (os livros), como se fossem batatas. As batatas às vezes também têm olhos negros, os livros não sei...


 


2. François Fillon



François Fillon foi um marido do caraças, tendo arranjado uns piquenos biscates à sua esposa, que não davam muito trabalho (quase nada, na verdade) e por isso pagavam pouquito. Além disso, é ainda um pai do caraças, tendo ajudado os seus filhos na difícil integração no mercado de trabalho mesmo antes de terminarem os cursos.


 


3. John



 


Escolha difícil...


 

O meu homem tem tanta queda para a cozinha como o Jorge Jesus para a Geografia.


Eu sou casmurra e defensora acérrima da divisão equitativa das tarefas domésticas, por isso de cada vez que estou a cozinhar chamo o babe para me "ajudar" e fazer outras coisas que não sejam cozinhar, como lavar a loiça ou arrumar alguma coisa.


Estava de volta do fogão a preparar o almoço e peço-lhe que me tire do armário a varinha mágica. O que é que ele pôs em cima da mesa?



Isto. A batedeira.

Belíssimas histórias de amor, sangue, heroísmo, a eterna luta dos mais fracos contra os poderes dominantes, escravos contra senhores, muito sangue, com efeitos especiais surpreendentes, muito sexo, explícito e sem pudores, traição, mais sangue, homens lindos.



 





 


 


 


  


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

Eu viajo algumas vezes a trabalho. Esta semana é uma dessas, e estarei fora a partir de amanhã. Por isso mesmo, hoje tive de trazer comigo uma série de coisas além das habituais (mala, marmita e afins), nomeadamente o computador portátil (a que chamo, carinhosamente, "o trambolho", porque é pesado como o raio), o carregador, o rato, mais umas coisas necessárias ao sítio para onde vou. Ainda não preparei a mala, não me posso esquecer de uma série de coisas que tenho de preparar esta noite, nomeadamente pintar as unhas, que o verniz do chinês é mesmo excelente, mas as minhas unhas crescem tanto que já se vê a parte branca e não posso passar o resto da semana nestes preparos.


Entretanto, o gajo decidiu ir ao futebol, ver o Tondela (Tondeeeeeelaaaaa!) contra não sei quem. E lembrou-se de me pedir para levar a mochila dele para casa. Hoje. Porque já vou pouco carregada. E só apareceu mais tarde do que partiu o transporte que eu devia ter apanhado. Porque eu hoje até nem tenho pressa nenhuma. Grrrrr!


Se isto não é amor, não sei o que será.

 

    • Quem fala de política sem medo de divergir da maioria.

 

    • Quem é fiel aos seus princípios e defende até ao fim aquilo em que acredita.

 

    • Quem trata bem os animais.

 

    • Quem sorri quando fala e ouve falar de viagens boas.

 

    • Quem leu pelo menos dez vezes mais livros do que teve namoros.

 

    • Homem com barba.



Che Guevara sexy barba comunismo política

 

 

 

Disclaimer: as minhas definições, a vocês (os três) que me lêem, estejam à vontade para discordar.

Foi preciso chegar aos 30 para reconhecer que deixei de ser uma miúda a tempo inteiro. Passei a ser mulher, pelo menos às vezes.


Foi por isso que os rapazes que nunca são capazes de ser homens deixaram de ter a mesma piada naquele instante. Aliás, muito antes, mas foi ali que me caiu a ficha.


Foi um homem que me viu como mulher que me ensinou a ver o mesmo que ele via. Ele via muitas coisas, mas também deixou escapar algumas importantes. Ele era um Homem a sério, que às vezes era rapazola.


 


Por isso, aquele choque que te disse ter sentido quando te conheci, por pareceres um "homenzão" mas seres afinal um miúdo, não foi um elogio.


Nunca deixaste de ser o miúdo para seres, ao menos por um bocado, homem. E eu já não sou só uma miúda.


 


pululam teorias na minha cinética neuronal que chegavam para 20 longas-metragens à la Hollywood, mas eu sou mais indie e por isso faço um só filme perturbador e indecifrável que mantenho apenas na cabeça, não me vão internar num hospício por onde a massa não passe no refeitório. E a massa, como os homens, faz falta para degustar e desequilibrar a saúde. E por massa refiro-me a noodles, que é onde todas as estórias se cruzam, e só por pratos de noodles poderia resumir a minha triste existência nos braços do género masculino. Em pacotes ou artesanais, todos mais ou menos iguais, mais ou menos integrais. Depois é o que se faz com os temperos. Eu gosto deles simples, mas com manjericão fresco e nozes (também pode ser cajus). E parecendo que não, mais ninguém que tenha comido à mesma mesa fez essa escolha.


 


 



 


 


 


(Fortemente inspirado pela imagem da Lady oh my Dog a dar na koka)

O amor não resolve nada. O amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. Mas isto não transcende o colectivo. Levamos já dois mil anos dizendo-nos isso de amar-nos uns aos outros. E serviu de alguma coisa? Poderíamos mudá-lo por respeitar-nos uns aos outros, para ver se assim tem mais eficácia. Porque o amor não é suficiente.

 

“Saramago, el pesimista utópico”, Turia, Teruel, nº 57, 2001

Nos "outros cadernos de Saramago".