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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Há uns 2 anos veio o padre cá da terra viver para o nosso prédio. Fez-se anunciar com uma cartinha em cada caixa de correio, juntou os votos de Boa Páscoa e tal e tal. Era simpático, mas cromíssimo. Uma vez entrei no elevador, no R/C, onde o sr. padre já vinha, vindo da garagem. Vinha a ler, livro aberto numa mão e a outra ocupada com qualquer coisa. Quem é que lê no elevador entre a cave e o 2º piso!? Enfim. Foi substituído por outro padre passado uns tempos, um rapaz novinho que mais parece aluno de liceu - não fosse a batina, claro. Por razões que agora não interessam, assisti a um evento na igreja onde o senhor padre aproveitou para dizer umas palavras. Fiquei horrorizada. Ali mesmo, em frente a umas boas dezenas de pessoas, confessou-se apaixonado por Bento XVI (Ratzinger). Sim, a palavra que usou foi "apaixonado".

 

Entretanto o tempo foi passando e nós afastadíssimos dos temas relacionados com a igreja e o padre, como sempre (somos ateus do mais convicto que há e até com uma certa "alergia" à Igreja Católica - e não só). Até que há uns tempos nos contaram cenas dignas de telenovela que eu honestamente achava que só seriam possíveis algures na TVI Ficção. Cenas estas que incluem o padre andar a ser assediado e ameaçado - parece que alguém (dizem as más línguas que as beatas mais supostamente devotas) não gosta deste novo padre e anda a tentar fazer de tudo para o mandar embora. Parece que não só o senhor ficou com medo de andar no seu carro e trocou-o ou anda com um outro carro emprestado pela Diocese, como recebeu no outro dia uma estranha encomenda... Uma cabeça de pato (morto, obviamente) pejada de alfinetes!

 

Parece mentira, só que não é. Quem é que é capaz de fazer uma coisa destas!? Bons católicos, cheios de amor no coração, seguramente...

Não pretendo ofender ou ridicularizar as pessoas que têm uma qualquer fé e acreditam nas fantasias mais rebuscadas em algo "superior", ou Deus, ou lá como quiserem chamar. Eu não acredito, de todo, mas isso sou eu e não tento impôr a minha ausência absoluta de Fé aos outros (apesar de considerar que as religiões apadrinham mais mal do que bem no mundo). De forma simétrica, acho redutor e ofensivo que um jornal supostamente independente publique uns "artigos jornalísticos" apregoando como factos inquestionáveis eventos que carecem de qualquer evidência. 


Vejamos, se eu pegar no jornaleco editado pela IURD (ou visitar o site), não será de espantar que lá pelo meio se diga que a oração curou uma doença qualquer a alguém ou que alguém ressuscitou. Mas se vou ler um jornal diário como o i não me parece muito aceitável que se afirme que o número de casos de possessão demoníaca tem vindo a aumentar, sem indicação sequer da fonte dessa informação. Foi o INE que o disse? Era uma pergunta constante do último Censo? Wtf?!


Não é suposto o jornalismo tentar fazer um relato dos acontecimentos reais e ajudar no esclarecimento da verdade? Em caso afirmativo, estas peças do jornal i não estão sequer perto do que é jornalismo.


Se calhar, publicar um especial conjunto de reportagens com explicação de como fazer um exorcismo, perguntas e respostas que não se sabe bem quem deu (o padre Sousa Lara, que explica como foi o seu percurso de betinho da linha que queria ser santo e pai de dez a padre exorcista?), mas são apresentadas de forma categórica, sem citações ou espaço para alegações e histórias de possessões demoníacas está para o jornalismo como o "Inferno" está para o "Céu" - bué, bué longe!


Será que se eu for dizer por aí que sou vampira e que nas noites de lua cheia o homem se transforma em lobisomem o jornal i também vai fazer reportagens sobre nós?


 


E depois, além da seriedade dos temas escolhidos, ainda temos as pérolas ortográficas...


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O espaçamento também está caro, o melhor é poupar...


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 (A sério, já não há revisores de texto nos meios de comunicação social?)