Uma das insuspeitas dificuldades na vida de um introvertido é ter de lidar com pessoas extremamente extrovertidas, comunicativas, que metem conversa por tudo e por nada. A cada uma destas interacções, o introvertido vai ficando cada vez mais cansado, sem energia, esgotado. Sabem aquele pessoal que trabalha no atendimento ao público e consegue estar sempre a sorrir e gerar empatia em três tempos? São o máximo, não é? Não. Para mim não. Aliás, prefiro mil vezes, por exemplo, ir àquelas lojas enormes em que se precisares de ajuda em alguma coisa tens de andar à procura de um funcionário do que ir a sítios onde, assim que entras, alguém se dirige a ti e pergunta se pode ajudar. Não, não quero ajuda, quero estar aqui a olhar e a dialogar comigo mesma sem ser perturbada nem observada! Eu sou a pessoa mais introvertida do Universo e confesso a grande dificuldade que tenho diariamente. Tenho uma chefe que podia ser apenas o cúmulo da extroversão, mas é muito mais do que o que posso narrar aqui e ainda acresce que tem uma fobia ao silêncio. Não consegue ficar calada, em circunstância alguma, o silêncio é-lhe verdadeiramente desconfortável, interpreta como outra coisa qualquer (desânimo, fatiga, mau feitio, sei lá) e, portanto, o normal é, se mais ninguém fala, tratar de preencher esse "vazio" (que para mim é essencial é sabe tão bem). Quando tenho de passar um dia inteiro só com a chefe, é certo é sabido, chego ao final do dia com a cabeça feita em água. É óbvio que sei que não é por mal, não é defeito, é feitio, mas a sério que ultrapassa todos os limites possíveis. Chega mesmo ao cúmulo de, não tendo mais assunto para falar, ir revelando estórias pessoais e íntimas, nomeadamente que dizem respeito apenas a outras pessoas! Claro que, assim, a vontade de dizer o que quer que seja é cada vez menor... Preciso de privacidade, sossego, recato e em calhando até isolamento. Não tem mal nenhum, fico em óptima companhia.
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Este post está em rascunho na minha mente há meses. Aliás, há anos. É um assunto que ainda é um pouco tabu, sobre o qual ainda há muita desinformação e preconceitos, e por isso mesmo é raro falar disto - mesmo entre amigos próximos.
Conhecer pessoas (romanticamente falando) pela internet. Sinto que chegou a hora de dar o meu testemunho, aproveitando que a SIC chamou o tema ao prime time com a sua reportagem especial de domingo.
Talvez o meu testemunho seja relevante, até porque as relações amorosas importantes da minha vida passaram todas (as 3) pela internet. A primeira por acaso e há demasiados anos para que coisas como o Facebook ou o Tinder sequer existissem, e numa altura em que havia uma grande dose de cepticismo (de minha parte, pelo menos) no que seria a realidade do outro lado. Passados tantos anos, concluo que ainda há muitos preconceitos e disparates na cabeça das pessoas. Tudo o que digo aqui é, naturalmente, apenas a minha perspectiva, mas acreditem que eu sou qualificada para falar do assunto. Está na hora de desfazer equívocos e dogmas. Vamos a isso!
Ninguém é na realidade o que diz ser na internet. Mentirosos há em todo o lado, e convenhamos: quando conhecemos alguém que nos interessa romanticamente não começamos por desvendar os nossos piores defeitos, certo? Depois de muita reflexão sobre o assunto, achei na altura em que conheci o meu primeiro namorado a sério na internet que era mais fácil as pessoas serem transparentes na internet, mais genuinas, do que ao vivo e a cores. E isso traz óbvias vantagens no campo amoroso. Quanto à minha forma de estar na internet, seja em que contexto for, isto sempre foi incontornável - consequência da introversão natural, da auto-estima esfolada, do à vontade com a expressão escrita e da protecção que o monitor traz.
É perigoso. Claro que pode ser muito perigoso, especialmente se em vez de pessoas adultas e responsáveis estivermos a falar de jovens com pouco conhecimento dos riscos que correm em fornecer informações pessoais a estranhos. Isso jamais se faz! E se chegar a hora de marcar um encontro, deve escolher-se sempre um local público, bem iluminado, com bastantes pessoas à volta e, de preferência, policiamento e câmaras de segurança. Adicionalmente, e eu sempre fiz isto com as pessoas que conheci da internet, dizer a um amigo próximo o que vamos fazer e o local do encontro, combinando uma hora para dar notícias. "Se às x horas eu não disser nada e não me conseguires contactar, chama a polícia e dá estes dados" (incluindo n.º de telefone da pessoa com quem nos vamos encontrar, etc.).
É difícil! Encontrar o amor é, realmente, difícil. Pode ser desesperante e pode ser uma busca infrutífera. Mas também pode surgir quando e onde menos esperamos, e nesse momento todos os desgostos, toda a solidão anterior, passa a ser apenas uma névoa sem importância. Eu já tinha deixado de acreditar no amor e desistido completamente quando ele me encontrou, monitor adentro. Quando me inscrevi no site que me deu a conhecer o meu babe, a verdade é que ia sem expectativas. Aliás, dizia explicitamente no meu perfil que não procurava um namorado, estava mais interessada em encontrar um companheiro de viagens. Lá está, não havia nada a perder. Na pior das hipóteses conhecia virtualmente algumas pessoas que poderiam ou não transitar para a "vida real". E fazer uma incursão exploratória é tudo menos difícil, é inserir uns dados num site e voilá. Hoje em dia a maior parte de nós simplesmente deposita a maior parte da energia e do tempo no trabalho, trabalhamos horas a fio, que nem loucos, e quando não estamos a trabalhar estamos a caminho do trabalho ou a cumprir rotinas. Não sobra muito tempo para socializar na rua, em bares e cafés, sobretudo depois dos trintas, quando a disponibilidade das companhias naturais (os amigos) vai também escasseando. O telemóvel está sempre connosco, o computador está ali, e é muito mais fácil e rápido conhecer alguém, ou pelo menos "explorar o mercado" por estas vias.
Quem se conhece pela internet só está interessado em engate. Não é verdade. Temos que contextualizar as coisas. Os factos são que há muita gente sozinha, muitas pessoas que não conseguiram recuperar depois de relações falhadas e ainda os que nunca encontraram alguém especial. Também há (e não são poucos) os que só procuram sexo, um engate de uma noite, ou mesmo um caso extra-conjugal. [Recordo-me de um rapaz que jogou insistentemente a carta do "coitadinho de mim, só conheci uma mulher na vida e tenho curiosidade de saber como é estar com outra pessoa" - a sério, isto resulta com alguém?] E então? Há em todo o lado pessoas que procuram o amor verdadeiro, pessoas que procuram apenas uma companhia, pessoas que procuram apenas encontros sexuais. Basta dizer frontalmente ao que se vai. Se encontramos quem queira o mesmo, muito bem, se não, dizemos que não e passamos p'ra outra.
Dar tampas e o medo da rejeição. Pois, lamento, temos de estar preparados para levar tampas e também para as dar sem grandes demoras. É simples dizer que não. É muito mais simples dizer que não pela internet, em que podemos simplesmente não responder, bloquear alguém ou dizer, honestamente "não estou interessada". Acredito que quem está do outro lado também não terá grande interesse perder tempo em bater na mesma tecla, afinal, há muitos peixes no mar.
Mas só há falhados e gente esquisita nesses sites! Gostos não se discutem, quem feio ama bonito lhe parece e todos os provérbios populares aplicáveis têm o seu fundamento, ok. Nos sites de matchmaking, como na tua rua ou lá no emprego ou em qualquer discoteca, há exactamente o mesmo tipo de pessoas: todas diferentes umas das outras. Nada como experimentar, não há nada a perder, certo? Da minha experiência pessoal, posso dizer que estive uns tempos registada em 2 sites de matchmaking. Num deles, maioritariamente dominado por pessoas de meia idade e com uma perspectiva mercantilista (o site oferecia x mensagens de borla, para aceder a mais era preciso pagar), não encontrei qualquer interesse. Terá sido azar, mas só me contactavam pessoas cujo perfil simplesmente não me interessava minimamente. Já no outro site, o OK Cupid, posso dizer que conversei com várias pessoas e encontrei pessoas realmente interessantes, inteligentes, cultas, com interesses semelhantes aos meus e sistemas de valores compatíveis com o meu, que poderiam facilmente ser minhas amigas. Aliás, foi precisamente aqui que encontrei o amor da minha vida. O OK Cupid faz uns questionários e cruza os resultados, apresentando uma percentagem de compatibilidade entre 2 pessoas, e recomendando pessoas (próximas geograficamente ou não, segundo me lembro esta é uma opção editável) com elevada compatibilidade. Só tenho a dizer o seguinte: resulta!
Não conheço casos de sucesso. Talvez conheças mais do que pensas. Acontece que, como disse acima, as pessoas ainda têm receio de falar abertamente sobre o tema, para evitar comentários parvos e preconceituosos, bem como perguntas tontas e indiscretas. Há muitos, mesmo muitos, casos em que a coisacorreu francamente bem. Conheço um casal que não só se conheceu pela internet, como começaram oficialmente a namorar apenas através da internet (tinham todo um oceano a separá-los), e ficaram noivos sem nunca antes se terem tocado. Hoje, passados uns 12 anos, vivem juntos e felizes, têm um filhote, e confirmam que foram feitos um para o outro, mas sem a internet dificilmente se teriam cruzado.
E os blogues?! - perguntar-me-ão. Os blogues são janelas privilegiadas para a alma das pessoas que os escrevem. Com todas as vantagens e desvantagens que isso pode trazer, eu acredito que podemos realmente conhecer algumas pessoas simplesmente lendo aquilo que escrevem. Tenho bons amigos que os blogues me trouxeram ao longo dos anos. Tenho um grande amigo que me perguntou há anos, quando tinha um blog anónimo e muito pouco conhecido, se era eu a autora, porque reconheceu a minha escrita. Tive um namorado que se apaixonou por mim conhecendo apenas as palavras que depositava num blogue.
A conclusão que retiro de tudo isto é apenas uma: a internet é apenas mais um lugar onde as pessoas se podem conhecer, apaixonar, fazer amigos, criar ódios viscerais, dizer e fazer disparates, perder tempo ou encontrar a felicidade. Ou seja, exactamente como uma extensão do resto do mundo.
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Pois é, eu faço mesmo jus ao nome. Anti-social (desde) sempre.
Não é por não gostar das pessoas, que até, em particular, vou gostando de algumas e, mesmo quando contrariada, conheço pessoas novas acabo por dar o braço a torcer e achar que é muito bom. Mas ir propositadamente ao encontro de pessoas, ainda por cima em grupos, não é mesmo para mim. Bem sei que os introvertidos são uns incompreendidos, mas o resto de vós, por favor, pelo menos tentem colocar-se no nosso lugar. Socializar drena-nos a energia, ao passo que aos extrovertidos recarregam baterias com a energia que retiram destes ambientes. Nós, depois de um encontro social, barulho, risadas (que são coisas que nos exigem esforço, apesar de saírem naturalmente), só queremos fugir para o nosso silêncio e voltar a encontrar a sintonia com o nosso íntimo.
Especificamente, conhecer colegas de blogosfera... Pá, não. Obrigadinha, mas não. Primeiro coloca-se a questão da privacidade, que aprendi a não abdicar. (Já lá vai o tempo em que ia descurando aos poucos esta vertente e já meio mundo sabia do blog, já toda uma intrusão do meu mundo escapava para quem devia e para quem não devia.) É bem mais interessante conhecer bloggers que não fazem puto ideia de quem eu sou ou fui. Segundo, e se as pessoas são todas iguais aos seus blogues? Vão desatar tod@s a fazer abdominais e burpees e falar mal dos vestidos e (credo!) mostrar os joanetes ao sunset e comprar fraldas, de gin com pimentas na mão? E eu, ficava ali a um canto a ser invisível e a beber rum? Nah, ide vocês que eu fico aqui a apreciar a minha vista para o Tejo.