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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Há uma repórter da RTP, em directo, à porta do Hospital da Cruz Vermelha, onde Maria Barroso está internada, em coma. Chama a atenção para a outra dimensão que ganha o título de uma entrevista de Maria Barroso há algum tempo "valeu a pena ter vivido". A SIC também lá está e aposto que a TVI e os outros todos também.


As televisões e os jornais já andam a compilar a história de vida da senhora, noticiam ansiosos que o seu estado se agravou e já vão fazendo os resumos biográficos. Nas redes sociais vê-se notícias e fotos antigas recuperadas.


A besta do António Costa diz que "era uma mulher muito querida" de todos eles e que "foi uma mulher extraordinária". Era? Foi?! Não podem esperar que a senhora parta em paz para darem início ao elogio fúnebre?


Pode ser dos meus olhos, treinados para detectar cinismo, mas... O que eu vejo é uma cambada de abutres a rondar, o que eu leio nos títulos das notícias é "Maria Barroso ainda não morreu", e os abutres esperam, com capas e reportagens a postos, que a senhora faleça. E isto, não sendo chocante, mete um bocado de nojo.


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(foto retirada do grupo "Fascismo nunca mais") 


(Este post utiliza a figura dos abutres como metáfora, por se tratar de uma ave necrófaga, não devendo ser entendido como ofensa de qualquer tipo aos mesmos. Pelo contrário, escreve-vos uma admiradora dos mesmos. Sabiam disto?)

Não pretendo ofender ou ridicularizar as pessoas que têm uma qualquer fé e acreditam nas fantasias mais rebuscadas em algo "superior", ou Deus, ou lá como quiserem chamar. Eu não acredito, de todo, mas isso sou eu e não tento impôr a minha ausência absoluta de Fé aos outros (apesar de considerar que as religiões apadrinham mais mal do que bem no mundo). De forma simétrica, acho redutor e ofensivo que um jornal supostamente independente publique uns "artigos jornalísticos" apregoando como factos inquestionáveis eventos que carecem de qualquer evidência. 


Vejamos, se eu pegar no jornaleco editado pela IURD (ou visitar o site), não será de espantar que lá pelo meio se diga que a oração curou uma doença qualquer a alguém ou que alguém ressuscitou. Mas se vou ler um jornal diário como o i não me parece muito aceitável que se afirme que o número de casos de possessão demoníaca tem vindo a aumentar, sem indicação sequer da fonte dessa informação. Foi o INE que o disse? Era uma pergunta constante do último Censo? Wtf?!


Não é suposto o jornalismo tentar fazer um relato dos acontecimentos reais e ajudar no esclarecimento da verdade? Em caso afirmativo, estas peças do jornal i não estão sequer perto do que é jornalismo.


Se calhar, publicar um especial conjunto de reportagens com explicação de como fazer um exorcismo, perguntas e respostas que não se sabe bem quem deu (o padre Sousa Lara, que explica como foi o seu percurso de betinho da linha que queria ser santo e pai de dez a padre exorcista?), mas são apresentadas de forma categórica, sem citações ou espaço para alegações e histórias de possessões demoníacas está para o jornalismo como o "Inferno" está para o "Céu" - bué, bué longe!


Será que se eu for dizer por aí que sou vampira e que nas noites de lua cheia o homem se transforma em lobisomem o jornal i também vai fazer reportagens sobre nós?


 


E depois, além da seriedade dos temas escolhidos, ainda temos as pérolas ortográficas...


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O espaçamento também está caro, o melhor é poupar...


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 (A sério, já não há revisores de texto nos meios de comunicação social?)