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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

E poderia ser uma boa altura para vos deixar um dos meus poemas preferidos, mas não é. Ainda não é. É preciso, para já, que chova mais, muito mais, é preciso que me sinta encharcada até aos ossos, de cabelos a pingar, é preciso um beijo (ou mil) à chuva, é preciso que, da chuva ou dos beijos, sinta arrepios pela espinha, que o calor não se dilua, é preciso dançar com as gotas e sacudir as asas.


So let it rain.


 












"come take my hand, we can walk to the light"



lyrics )

 


 

 Estou com problemas de expressão. Ora porque me faltam as palavras, ora porque sobram as tantas coisas que queria dizer-te. É que as palavras são pequenas, são poucas e indignas do que te quero dizer. Queria dizê-lo com olhares e sorrisos pendurados ao peito, queria que os lesses com avidez e te lambuzasses em cada sílaba. Nem todas doces, algumas mais amargas, como o tempero que nos traz de volta ao inverno, que te permite comparar as realidades que tens e os sonhos que podem ser teus, nossos.

A incerteza move-me, sabes que adoro aquela adrenalina da descoberta pela descoberta, a dúvida e as possibilidades exponenciais que me significam sonhos sem rédeas. Pesadelos e dores, também tenho encontrado. Mas não me queixo senão quando a escuridão não me permite ver mais além. E tu és a luz. Iluminas e arrepias, calor doce e pura ventania.

Queria dizer-te que sei. E que estou dentro de ti. Que quando te sentes a perder o fio condutor, sou eu. Que quando a lógica impera, também sou eu. E que quando sentes a minha falta, não sentes apenas a falta da companheira de aventuras. Queria que fosses tu a reconhecer a capacidade que tens de fazer alguém feliz. Queria que te entregasses ao sabor dessa maré que tens dentro, que pousasses esses remos obstinados. Os planos antigos que traçaste eram bonitos, eu sei. Aconteceu como não devia. Faz as pazes com o passado, com os erros e as razões. Começa de novo, planos novos, que nunca poderão ser iguais... mas serão planos onde cabes tu por inteiro, onde nenhuma dimensão tem de ser vergada. Onde possa caber todo um mundo além do teu.

Queria dizer-te que gostava que me desses flores. Que cometesses uma daquelas loucuras anunciadas, tão tuas. Que me convidasses para um passeio. Queria contar-te da vontade que tenho de te oferecer presentes de Natal todos os dias, de levar-te sumo de laranja à cama e de nunca mais ter saudades tuas.

Queria que pudesses apagar algumas palavras, que as quisesses retirar para sempre. Queria que pedisses desculpa.

Queria dizer-te para perderes esse medo. Queria ensinar-te a amar de novo, melhor. Queria mostrar-te o que me comove no nascer do sol e queria aprender todos os teus risos e olhares. Queria caminhar lado a lado contigo, de dedos entrançados nos teus.

Sei que te encontras nas minhas palavras, sei que a perturbação também chega a esse lado. Queria dizer-te para não resistires... Para arriscares. Para experimentares. Queria que, se no futuro houvesse lugar para arrependimentos, que os houvesse pelo momento em que valeu a pena e não pela ausência duma estória.

Queria dizer-te que há dias em que um beijo vale tudo. E que há beijos que me dão vontade de chorar.

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A música que toca quando te vejo

O modo como rimos juntos

Doer no peito cada dor tua, mesmo as que me magoam mais a mim

Sentir que conhecer-te foi das maiores dádivas que o Universo me podia ter dado

Rever o teu sorriso nos poemas do Eugénio

Guardar cada abraço como um tesouro

Colocar todos os males do mundo em “pause” quando a tua mão procura a minha

Partilhar aventuras contigo que mais ninguém partilharia

O código do meu cadeado ser a tua data de nascimento

Os lírios, tristes, de cada beijo

A ternura com que te ajeito o cabelo

Dar-te impulsos para voar em vez de te querer prender

Acordar a sorrir porque estavas a meu lado

Desde o dia em que te conheci, seres um “brilhozinho nos olhos”

Ter-te dito, com o mesmo espanto com que o assumi, quando descobri que a Paixão por ti havia marcado a minha existência

Passares a mão na minha anca e dizeres “assim deixas-me maluco”

Sonhar que o inimaginável é possível, contigo

Atirar-me dum avião contigo

Chorar à tua frente, chorar contigo e por ti

Despir-me à tua frente

Ser-te sempre honesta e verdadeira

Equacionar-te para pai dos meus filhos

O inegável carinho

Partilhar a minha escova de dentes contigo

Ter pedido que te dessem a ti a oportunidade que também te pedi

Ser acordada pelo teu desejo

Fazer um test-drive contigo

Ver filmes indianos contigo

Fazer Amor contigo

Falar contigo de tudo, como se fosse só comigo

Dar beijinhos nas tuas feridas para que sarem mais depressa

Massajar-te os pés

Ter escrito sobre ti num dos jornais mais lidos no país

Adorar o teu rabo, as tuas bochechas e as rugas nos cantos dos olhos

Pedir-te, de coração aberto, uma oportunidade de provar o quão felizes podemos ser juntos

Comermos gelados juntos em três continentes diferentes

Dedicar-te uma música na rádio

Fazer uma aposta no euromilhões por ti, e a chave ser premiada

Tu gostas de doces, eu sou doce e chamo-te docinho

Ter sido tomada por tua namorada ou esposa mais que algumas vezes

Gostarmos das mesmas coisas

Termos o mesmo sentido de humor

Apoiares-me em todas as aventuras tresloucadas, e vice-versa

Defender-te quando um amigo tem vontade de te partir a boca para me defender a mim

Terem-nos desejado "a happy married life"

Dares-me à boca a tua comida para eu provar

Ser a primeira pessoa a quem recorres quando precisas dum favor ou dum ombro

Vermos a Via Láctea e estrelas cadentes de mãos dadas, deitados nas dunas

Amar-te incondicionalmente até que o Sol deixe de nascer

 


 


 


Motivos para te esquecer, sei-os de cor. São mais que muitos. Repito-os todos os dias, sempre que o pensamento resvala para ti. Percorro na memória tudo o que me disseste, cada uma das palavras mais cruéis que se pode ouvir. E oiço a voz da razão, da lógica, de cada amigo que me ampara e aconselha. E sei que consigo, nunca duvidei. Não são as forças que me falham, não é a razão, nem a ausência de esperança, que essa vais destruindo até só faltar um último pedacinho.

Culpar-te, por insistires, por não me deixares morrer em paz na tua vida, por me procurares, depois de eu dizer não mil vezes. Culpar-te, por seres assim, surreal, ideal, perturbado, como eu gosto. Maldizer o dia em que ouvi o teu nome e cada um dos mil acasos que te trouxeram a mim. Não adianta e eu sei que não. Hoje, não. Por muito que o amor seja o sentimento mais forte do mundo, por muito que eu desse tudo, tudo, por ti. Não posso convencer-te que me amas. Nem quero.

 


Gosto de gelados no inverno e de chás quentes no verão. Gosto de fazer rabo-de-cavalo e totós. Gosto de dar beijinhos. Gosto de usar lenços ao pescoço. Gosto de fotografias a preto-e-branco. Gosto do Algarve quando chove e da Serra da Estrela sob um Sol abrasador. Gosto de aventuras grandes e pequenas. Gosto de pessoas genuínas e transparentes. Gosto de surpresas. Gosto de negro total. Gosto de aprender e de ensinar. Gosto de botas e de sapatos de plástico. Gosto de rugas de riso nos cantos dos olhos. Gosto de pão mal cozido e nada estaladiço. Gosto de velocidade. Gosto de nuvens densas e chuvadas de granizo. Gosto de açúcar amarelo e edulcorantes artificiais. Gosto de cicatrizes. Gosto de aguardente e de nescafé, de leite magro e iogurtes naturais. Gosto de ruas escuras e estreitas. Gosto do mar sem ondas nenhumas. Gosto de alturas. Gosto do som do violão e da gaita-de-foles. Gosto de comer chocolate de culinária. Gosto de cabelos brancos e grisalhos. Gosto de andar descalça e de peúgas grossas. Gosto da Lua e do céu estrelado. Gosto de tactear texturas. Gosto de ter as unhas muito curtas e sem cor. Gosto de limpar e arrumar. Gosto de estar completamente perdida no meio de nenhures. Gosto de arte surrealista. Gosto de me esconder atrás dos óculos escuros. Gosto de extremos. Gosto de ouvir pessoas a rir. Gosto de sal e de picante. Gosto de lápis macios e escuros e papel liso. Gosto de peles mulatas e de olhos em bico. Gosto de roupa interior preta e básica. Gosto de malmequeres brancos e desalinhados, de lírios e de túlipas. Gosto de passear de mão dada e de abraços. Gosto de cheirar a frutas e gomas. Gosto de ver filmes de terror e romances de fazer chorar. Gosto de miminhos na alma.


 


Muitas ideias para quando eu fizer anos e está quase, quase!