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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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No planeta em que eu vivo, milhões de mulheres (cerca de seis mil por dia!) são mutiladas enquanto adolescentes, cortam-lhes o clitóris, com uma faca, ou uma navalha, ou um pedaço de vidro, em nome da tradição, que em pelo menos 28 países pode ser sinónimo de castigo pelo azar de se nascer fêmea.

 

No planeta em que eu vivo, há raparigas que são ameaçadas, intimidadas e impedidas pela força, com tiros, se querem ir à escola, porque a educação é um direito que lhes é vedado.

 

No planeta em que eu vivo, são as mulheres que andam dezenas de quilómetros todos os dias para trazerem água e lenha para as suas aldeias (em África, 90% deste esforço é feito por mulheres, e a tarefa pode demorar até 8 horas diárias).

 

 

No planeta em que eu vivo, há crianças, meninas, que são vendidas aos seus futuros maridos por tostões, enquanto o horripilante mercado de tráfico humano movimenta pelo menos 800.000 mulheres e crianças por fronteiras internacionais para servirem enquanto escravas sexuais.

 

Neste planeta, o poder está, maioritariamente, nas mãos dos homens, tal como o acesso ao trabalho, à riqueza, aos direitos, à saúde, à educação. Em Portugal, para não variar, a situação é bem pior do que a média europeia.

 

No planeta em que eu vivo, é tristemente comum, no século XXI, milhares de mulheres nos ditos países desenvolvidos morrerem devido a maus tratos às mãos dos seus maridos e companheiros. Só em Portugal, em 2015, foram trinta e cinco, deixando órfãs quarenta e seis crianças. Neste mesmo planeta, muitas mulheres têm medo, têm vergonha, de fazer queixa e de pedir ajuda em casos de violência doméstica e de violação. O que se torna, em certa medida, compreensível, dados os casos de impunidade descarada, como aquele em que o violador de uma mulher grávida, sua paciente, sai impune porque não ficou provado que tivesse usado "demasiada violência"...

 

Pois, neste planeta onde eu tenho de viver, as violações são assunto corriqueiro e impune em algumas partes do mundo; perdão, em todo o mundo.

 

 

 

Eu vivo num planeta onde os empregadores, nomeadamente os meus, acham que no dia da mulher fica bem oferecer uma flor a cada funcionária, mas onde as condições de trabalho são distintas, tal como os salários e o acesso a certos cargos, para pessoas de um e de outro género. Na Europa, os salários médios das mulheres são 16% mais baixos do que os dos homens, e a diferença foi agravada com a crise económica. Aparentemente, vamos precisar de, pelo menos, mais 118 anos para as desigualdades económicas entre géneros se dissiparem. Legal ou ilegalmente, muitas mulheres perdem o emprego ou oportunidades na carreira pelo simples facto de engravidarem.

 

 

 

 



Infelizmente, este é o meu planeta. Por isso, às pessoas que dizem que o Dia da Mulher é uma tolice, que não faz sentido, que é um dia feito para as floristas venderem rosas e que "não há igualdade porque não há dia do homem", eu pergunto em que planeta vivem. É que gostava muito, mesmo muito, de viver num planeta em que não fizesse falta haver um dia da mulher.

A propósito da COP - 21 (Conferência do Clima), tema que me é particularmente caro e, em boa verdade, não pode deixar ninguém indiferente (desenganem-se os cépticos, toca mesmo a todos, queiram ou não), pus-me outra vez a imaginar quão diferente poderia ser o mundo hoje e nas próximas décadas se, em vez do burgesso George W. Bush, tivesse sido Al Gore o presidente eleito (como deveria, já que teve a maior parte dos votos).



A quem não viu, peço por favor que veja o documentário Uma Verdade Inconveniente. Chamem os filhos, os pais, os amigos, toda a gente deve ver este filme, informar-se sobre os aspectos que lhe causar dúvidas, ter noção da dimensão do problema e da parte que está ao alcance de cada um de nós (todos, sem excepção!) para tentar minimizar o já inevitável estrago. Questionem, pressionem, incomodem, e sobretudo pensem bem como querem definir o futuro global do planeta e dos seres vivos que dele dependem.


Está nas nossas mãos!



 


Al Gore sou e tuuuu, Al Gore sou eu e tuuuu,


Vamos salvar a Terra, o nosso pelaneta, o pelaneta azuuul.

Eu era (e sou) de esquerda (esquerda a sério), e a favor de uma PGA no acesso ao ensino superior. Não nos moldes da famigerada PGA tal como existia, limitada a questões de Português e História, mas uma PGA com questões essenciais de Português, Matemática, Ciências da Vida, História e actualidade. Considerei uma PGA útil e necessária enquanto aluna do Ensino Secundário, enquanto aluna do ensino superior e enquanto professora do ensino superior. Não acho (sem grandes certezas, porque estou distante da realidade do ensino básico) que os exames nacionais do 4º ano sejam úteis e muito menos necessários, mas acho que a avaliação é necessária e tem de ser encarada com toda a naturalidade.

 

A propóstito deste post do sempre acutilante País do Burro.

Pequenino no pior sentido, e mesquinho. E, infelizmente, racista, de um racismo passivo tolerado e aceite e legitimado pela comunicação social.

 

Como é possível este título do Público? A notícia é a senhora ser negra?! Ou melhor, ser uma senhora e ainda por cima negra?!

 

Permitam-me que considere ofensivo e primariamente nojento. Alguém lá no Público devia olhar para o relógio e ver que estamos no século XXI, e ver além do daltonismo tendencioso e ignóbil.

 

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A política do medo instalou-se por todo o lado. A comunicação social tornou-se ainda mais perversa e vale tudo para vender, vale o título gerador de conflito e de pânico, vale adiantar factos não confirmados, vale desinformar em vez do que devia ser a sua missão primeira, o oposto disso.
Vale a mentira.

A mentira é sempre a pior política, a meu ver. A nível individual, seja nas relações pessoais ou laborais, sigo desde sempre a minha regra da verdade acima de tudo. Traz dissabores, sim. É difícil de gerir, por vezes. Tem de se usar de diplomacia extra para dizer algumas verdades mais penosas (de dizer ou de ouvir). Mas vale a pena, porque não há nada que magoe mais do que a mentira. E é uma ofensa, seja por colocar aquele a quem é dita a mentira num patamar intelectual ou emocional inferior, no mínimo fraco. Ou acham que nunca irás descobrir a mentira, ou que não és capaz de lidar bem com a verdade.

A mentira é, ponto assente e repetidamente comprovado, o modo de viver das classes políticas mais fortes, porque é através dela que chegam ao poder. A mentira vale os votos dos mais distraídos, crédulos, ignorantes, interesseiros e cínicos. O interesse comum e público é cilindrado em prol de alguns interesses pessoais e materiais. É por esse motivo que a educação e a ciência são inimigos do despotismo encapotado, esse sim temível e mortífero e devastador.

Como é que nos habituámos a viver assim, a ser (des)governados assim, e sem muito fazer para trazer a verdade ao de cima?! Vivemos realmente num mundo fabricado, numa matriz para consumo imediato e superficial.

 

Até quando iremos tolerar esta deriva no nevoeiro?

O que me choca mesmo é que haja pessoas que desconhecem os processos democráticos a ponto de genuinamente acharem que o que ser passou dia 10 na Assembleia é uma "aberração", "palhaçada" e outros mimos que ouvi e li por aí. Mal informadas, seguramente, mas diligentes o suficiente para propagarem as suas verdades de bolso como se fossem a voz da razão.

 

Não é demais repetir até à exaustão que as eleições legislativas elegem representantes do povo no Parlamento, ou seja, deputados. Não determinam as cores do governo e muito menos que o que quer que seja sujeito a votação na AR seja aprovado, nomeadamente o presidente da Assembleia, os orçamentos, os programas de governo e quaisquer iniciativas legislativas. Chama-se democracia.

 

 

Também me chateiam os pessimistas que não acreditam que isto vá resultar. Até podem estar certos, mas não ouviram dizer que pelo sonho é que vamos? Vamos esperar para ver antes de ditar sentenças de morte, sim? Eu sei que a mudança assusta muita gente, até alguns dos que votaram à esquerda, mas quando as coisas não estão bem (e só os patrões podem achar que as coisas estavam bem sob a desgovernação ultra-neo-liberal da coligação, não me lixem!) não vai melhorar sem essa mudança.

 

Chamem-me idealista e utópica à vontade, mas mesmo com todas as reservas em relação ao PS e ao António Costa, o que se passou ontem fica para a história, e pode bem ser o início de uma união à esquerda que eu anseio há décadas, assim o espero.

 

E sim, comovi-me quando li "o governo caiu", quando abracei o meu amor, quando cheguei ao Rossio e a cidade me cheirou a esperança nova, e ainda agora enquanto escrevo estas linhas. Comovi-me porque já não me lembrava de ter orgulho neste país e pela primeira vez em muitos, muitos anos, tenho alguma esperança da vida dos portugueses melhorar um pouco, de não ser obrigada a emigrar para criar uma família em condições.

 

Mesmo que tudo corra mal, agora sabemos que é possível. Já não é só um desejo, uma conjectura, uma hipótese etérea. É real.

 


 


 


O ideal para qualquer criança era ter um lar saudável, um pai e uma mãe, dois avôs e duas avós, todos com muito amor e respeito para dar, carinhosos, sensatos, pacientes, com conhecimentos de pedagogia, psicologia, medicina e já agora magia.


Mas não há famílias ideais, nunca houve. Nada na vida é ideal. Todas as famílias têm questões a resolver, não há pessoas perfeitas, e há muitas pessoas (infelizmente demasiadas) sem a mais pequena aptidão para ter filhos (nem sequer estou a falar das condições - higiene, segurança, estabilidade). Pais que abandonam, maltratam, vendem, molestam, torturam os próprios filhos, são chocantes e deixam-nos perplexos, mas não são raros. Se estas pessoas deviam ter filhos? Obviamente que não, diz a razão, obviamente que sim, diz o livre-arbítrio e a lei.


Famílias disfuncionais são ainda mais, e por múltiplos e variados motivos. Às vezes as consequências para os menores são devastadoras e estes são afastados da família.


 


De facto, há inúmeras crianças pelo mundo fora que nunca tiveram pais, uma família, um colo. Por outro lado, há imensas pessoas que não conseguem ter filhos, ou que conseguem mas querem adoptar, sejam quais forem os seus motivos. Algumas destas pessoas são sozinhas, outras vivem como casais. Pessoas de todas as cores, credos, nacionalidades e tamanhos. Umas são mais ricas, outras mais pobres. Pessoas todas diferentes, algumas que já têm família, e até outros filhos, outras que querem dar uma família a alguém. Alguns dos casais que querem adoptar são casados, outros não; alguns são casais heterossexuais, outros são casais homossexuais. O que é que isso interessa?! Os casais separam-se, divorciam-se, afastam-se, tornam a casar; as famílias abarcam filhos de casamentos anteriores e posteriores, parentes, irmãos, tios, primos... Porque há-de a lei privar tantas crianças de acederem a essa felicidade que é não estar sozinho no mundo?! Porque tem a lei de impedir que algo tão natural como constituir família esteja vedado a casais homossexuais? Alguém retira filhos às mães solteiras por não fornecerem uma figura paternal às crianças? As famílias monoparentais estão porventura condenadas a traumatizar as crianças? A alternativa que a lei e o estado fornecem é deixar as crianças crescer num ambiente institucionalizado de regras e sem figuras-modelo. É isto que queremos fomentar, uma sociedade ainda mais desumanizada?


 


Podia continuar por capítulos inteiros. Esta temática envolve questões tão importantes quão delicadas, e há muitas questões cuja resposta formal do estado português não entendo, de todo. Mas disto não me restam dúvidas:


 


 


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    • em que o P.M. nunca teve curso ou profissão para além de actividade partidária até quase aos 40 anos (depois logo passou a administrador duma série de tachos empresas);

 

    • em que grande parte do eleitorado não é digno desse nome, e sofre de amnésia selectiva;

 

    • em que os ministros não precisam de ter uma sombra de qualificação nas áreas das pastas a que presidem;

 

    • em que houve pelo menos um (ou serão 3?) P.M. que fez o mesmo que o comandante do Costa Concordia e ainda foi promovido;

 

    • em que são os mais pobres a ter de fazer maiores sacrifícios para pagar dívidas que não contraíram;

 

    • em que o P.R. se atreve a queixar-se das "pequenas" reformas (de vários milhares de euros) que ele e sua esposa auferem - qualquer das minhas avós poderia ensiná-lo a sobreviver dignamente e sem quaisquer dívidas, apesar de depois de vidas inteiras de trabalho árduo desde crianças, auferirem reformas de duzentos e picos euros; e não, as minhas avós nem sequer são professoras catedráticas de Economia;

 

    • em que o P.M. sugere a emigração como alternativa para os desempregados;

 

    • em que o património natural e cultural é sacrificado em nome do capital;

 

    • em que o brio profissional é mais raro do que o chico-espertismo;

 

    • em que a educação está subvertida para servir taxas de sucesso e não para efectivamente educar;

 

    • em que a maior parte dos jovens licenciados está no desemprego, em que se instiga a que estudantes cuja formação é um investimento (grande) do Estado vão produzir riqueza para o estrangeiro;

 

    • em que os criminosos não são punidos, em que os corruptos são reeleitos, mas nada disso mexe muito com o ânimo da malta, que o importante é ver a bola e beber as "mines".



Querem que goste de aqui viver? Desculpem lá, não gosto. Não sou particularmente patriota. Gosto de muitas coisas deste país, abomino outras tantas.

 

As minhas expectativas foram frustradas.

 

 

 

Fui (bem) educada, no pressuposto de que é o mérito e o esforço que faz avançar cada um e, por conseguinte, o colectivo. Investi muito, quase todo, o meu tempo, e muito dinheiro, na minha formação. Sempre fui a aluna mais aplicada, disciplinada e bem-sucedida no ensino obrigatório. Segui o meu sonho, porque estava convicta de que teria todas as oportunidades ao meu dispôr, se trabalhasse muito e bem. Trabalhei, muito e bem. Formei-me. Trabalhei muito, naquilo que gostava, em condições ridículas. Era mal-paga, não tinha benefícios sociais, estive a recibos verdes, mas acreditava que as coisas podiam mudar. Especializei-me. Fiz mais cursos extra-curriculares. Trabalhei de borla (porque nunca chegaram a pagar-me) para um instituto público. Continuei a trabalhar muito, a insistir, à procura dum emprego digno desse nome, que praticamente não existe na minha área. Vi quem tinha boas ligações políticas e familiares saltar muitos degraus à frente, independentemente do mérito. Depois duns anos a frustração aliou-se a problemas de outras ordens e bati com a porta. Arregacei as mangas. Fui à luta, disposta a fazer o que fosse preciso. Comecei a trabalhar numa área absolutamente estranha e diferente para mim. Ao fim de 3 meses apenas surgiu um convite para algo melhor dentro da empresa. Ao fim de uma semana no novo projecto fui convidada a liderá-lo. Correu bem. Trabalhei muito. O vínculo continuou a ser muito precário, mas a superação de objectivos valeu-me remunerações mais simpáticas. Quando surgiu o convite para um part-time na minha área agarrei com as duas mãos. Tive 3 empregos em simultâneo, 2 oficiais e mais um biscate numa terceira área completamente diferente. Consegui pagar a entrada duma casa com o fruto do meu trabalho. Quando acabaram aqueles projectos os convites renovaram-se se ambos os lados, mas com um crescente nível de responsabilidades; tive de optar, só podia ficar com um. Optei, provavelmente mal. Joguei pelo seguro, preferi ganhar (muito) menos e trabalhar na área oposta à da minha paixão com um contrato que me garantia estabilidade e paz, em vez de trabalhar numa área do saber próxima da minha, em algo que me deu muito gozo e teve óptimo feedback de todas as partes, pertinho de casa, a ganhar mais do dobro, mas era um emprego que só estava assegurado por seis meses, a seguir ninguém sabia. Escolhi a "promoção" do outro lado, o que implicou passar a trabalhar o triplo e ganhar metade. Também podia ter ficado no desemprego a ganhar o dobro, mas isso seria impensável para mim. Trabalhei muito, imenso. Fiz um mestrado. Tirei outro cursinho, comecei outra licenciatura. Sempre com resultados muito bons.  Este emprego, que ainda mantenho, não me valoriza, não me recompensa, não me satisfaz. Gosto de 80% do que faço; não tenho é perfil para as implicações que este meio acarreta, o graxismo, a falta de transparência, os "yes men"; não gosto que a qualidade do trabalho e o esforço não sejam reconhecidos. Não há perspectivas de evolução na carreira, não há hipótese alguma de promoções ou aumento salarial. Cheguei a um ponto morto.

 

 

 

Vivo num país que me maltrata e que não me aprecia. Como numa relação de violência doméstica, não pode ser o hábito a manter a relação. A paz de espírito vale muito mais. E eu preciso de paz, desesperadamente.

 

 

 

Não, não gosto de aqui viver. Para além de tudo o mais, e acreditem-me, há muito mais, é Portugal que me desgasta.

 

Este ciclo tem de ser encerrado. Duma maneira ou de outra.

no Portal do Eleitor que consultei há pouco, vi isto:



 

 

Podia ter ficado quieta e encolher os ombros, podia. Mas fazendo jus à fama que ganhei na DRH da minha empresa, de "pessoa que quer mudar o mundo" (com entoação negativa, como quem recomenda "fica mas é quietinha que ainda te lixas"), não fiquei. O mundo muda-se aos poucochinhos e se toda a gente fizer um bocadinho todos os dias é muito mais fácil.


 

 

Yours truly,


 

 

The Dreamer :)


 

 

Quando eu for eleita (cofcof) Portugal passa a produzir bens alimentares, primeiro para consumo interno e só depois para exportar (a produção nacional de alimentos só é exportada se o consumo interno for integralmente satisfeito – ou seja, só se importa alimentos que não sejam produzidos em terras lusas); o objectivo é reduzir ao indispensável a importação. E a principal exportação vai ser o sol, que os turistas têm de vir cá à procura. Vai vir chartres de turistas todos os dias, vende-se sol, mar, pescarias, birdwatching, azeite, vinho, pão, queijo, sapatos, têxteis, cultura e tecnologia. Leiloa-se concessões piscatórias em 50% da ZEE, o resto fica para nós. Vende-se conservas. Faz-se viveiros naturais de atuns, sardinhas, carapaus, ostras, cação... acabam-se os eucaliptais, põe-se no lugar deles sobreiros, azinheiras, pinheiros, nogueiras, etc. - só espécies endémicas. Vamos voltar a investir na cortiça e exportá-la também. O tabaco começa a ser taxado com taxa especial de IVA de 95% (e nos rótulos deve constar “cancro em palitos”); o açúcar, óleos vegetais e carnes vermelhas passam a ser racionados e assim poupa-se milhões no Sistema Nacional de Saúde. Será proibido fumar em todos os espaços públicos, fechados e abertos. As drogas serão todas liberalizadas e vendidas só com receita médica nas farmácias. A educação passa a ser completamente em vez de tendencialmente gratuita e quem até aos 18 anos não conseguir passar com aproveitamento os 12 anos obrigatórios, trabalha gratuitamente 20h semanais para o Estado até conseguir. Os contributos do herário público para as instituições religiosas acaba e as instituições religiosas começam a pagar mais impostos do que as empresas. Os clubes desportivos idem. Existirá um tecto máximo para os salários de quaisquer profissões e quaisquer cargos, no estado ou privados, sem benesses extra. (Estou a pensar em 20 k€/mês. A primeira-ministra ;) aufere o salário máximo.) O salário máximo deve ser atingido após 10 anos de experiência para as profissões de professores, polícias, cientistas, enfermeiros, médicos, deputados e todos em serviço directo ao Estado. TODOS os partidos políticos terão assento parlamentar obrigatório, ainda que o n.º de eleitores seja directamente proporcional ao peso dos votos dos deputados. Todos os hospitais e clínicas privados serão utilizados para escoar os pacientes que não tenham lugar no SNS a custo zero e esse é a única condição fiscal imposta para manterem o negócio aberto. Cada município manterá, do mesmo modo que faz com espaços de cultura e lazer, de acesso livre: espaços de hortas comuns, ensino para adultos (cursos gratuitos, com oferta de refeição semanal, de cidadania, sustentabilidade, apoio social, etc.), espaços integrados de jardim de infância e de 3ª idade, biblioteca e centro de tecnologias. Todos os reclusos, independentemente da pena, terão um horário de trabalho (não remunerado) de 5h de 2ª a sábado, frequência diária (4h) de cursos de reabilitação e reintegração na sociedade e possibilidade de saída todos os domingos, com vigilância electrónica. As pensões deixam de ser acumuláveis e têm o mesmo valor mínimo que o salário mínimo, indexado a 2.000€ em 2011 + inflacção, e o valor máximo igual ao salário máximo. O horário de trabalho passa a ter um valor máximo de 35h semanais para full-time. O hino nacional será substituído pela carvalhesa canção "E o Povo, Pá?". Os Homens da Luta e Paulo Futre integrarão a comissão de conselheiros da presidência. A primeira-ministra (eu) terá direito a 3 meses de férias por ano e mais 3 em visitas oficiais. :D


 


Querem melhor programa eleitoral? TOCA A VOTAR!


 


 

Lembro-me de andar na escola primária, 3ª ou 4ª classe. Estávamos no Inverno, talvez Novembro ou Dezembro. O trabalho de casa era fazer uma redacção sobre o nosso feriado preferido. Inevitavelmente, uns 25 dos 30 meninos escreveram sobre o Natal, a paz, a família, os doces, as prendas, as férias da escola. Eu escrevi sobre o 25 de Abril. Escrevi sobre fotografias que tinha visto de cravos nas espingardas e de soldados amigos do povo, que ganharam aos mauzões que prejudicavam as pessoas. Juro por tudo que nunca, até hoje, ninguém da minha família tentou influenciar as minhas opções políticas (ou religiosas, for that matter), nunca fui brainwashed para pensar assim ou assado. O que naquela altura sabia sobre o 25 de Abril era o que via na televisão a preto e branco da sala e o que me iam respondendo às muitas perguntas. Lembro-me de ouvir os meus avós falarem do "antes do 25 de Abril", de quando tinham para o jantar de três um ovo e uma sardinha, tomavam banho num alguidar e viviam por favor na casa duma irmã. Lembro-me das dezenas de cartas guardadas no armário da sala da minha avó, trocadas entre os meus pais quando namoravam, ele no ultramar, ela a trabalhar em lojas da Baixa desde os 13 anos, em que se falava da guerra e do regime e se sonhava com um futuro. Lembro-me de acreditar que éramos vencedores de qualquer coisa, que o 25 de Abril tinha sido um triunfo dos bons sobre os maus, da justiça, e que dali em diante nunca mais nos íamos deixar espezinhar, que quando alguma coisa estivesse mal só tínhamos de falar e defender os nossos direitos.

 

Hoje sinto-me defraudada pelas expectativas que tinha aos 8 anos. Não percebo para onde foi a memória colectiva deste país que se encolhe e resigna aos maiores insultos e parece-me que o povo que imaginei a fazer a revolução de abril está todo esclerosado e entrevado e que os seus filhos e netos já nasceram cheios de artroses e são (somos) um monte de incapazes que só reagem ao futebol. Cada um de nós agarrado a uma desculpa de coitadinho, à rasca, pobrezinho. Sinto que somos uma cambada de sacos de porrada, de todas as gerações. Coitadinhos dos reformados que têm pensões microscópicas, coitadinhos dos trabalhadores que são explorados, coitadinhos dos estudantes que não vão arranjar emprego, coitadinhas das criancinhas que não têm futuro. Os grandes e mauzões tiram-nos o dinheiro do almoço e a gente só sabe é chorar. Caramba, pá! Recuso-me a ser coitadinha! Recuso-me a encolher-me na cadeira sem fazer ondas, a rezar para que o FMI não me tire o subsídio, recuso-me a comer e calar, recuso-me a ver o meu trabalho ser desvalorizado e os meus impostos entregues aos bancos e às Donas Brancas de Wall Street. Recuso-me a ser condenada pela austeridade, pela crise e pelo medo. Não tenho medo, nem de trabalhar e muito menos de lutar pelo meu país, pelos direitos do meu povo, pela saúde dos avós e pela educação dos filhos. Somos pobres, mas somos muitos, somos bem-formados e temos livre-arbítrio! Sejamos da esquerda ou da direita, somos todos pessoas, temos direitos e temos deveres, temos voz, e tanto quanto vejo daqui, estamos todos na merda. Que tal, para variar, tirar o rabo do sofá, ir fazer pela vida e sair da merda? Para a rua gritar, às urnas votar, agarrar na trouxa e bazar, seja qual for a melhor forma de nos fazermos à vida. Em 1974 fez-se a mais bela revolução do mundo. Em 2011 nada nos impede de voltar a acreditar.

 

O 25 de Abril continua a ser o meu feriado preferido. Mas todos os dias do calendário são igualmente valiosos e cada um deles merece ser vivido com dignidade, liberdade e consciência. E enquanto tiver palavras, ninguém me pode calar!

 

25 de Abril sempre! O povo unido jamais será vencido!

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Aquela altura do ano sem a menor relevância para não-católicos, em que os coelhinhos põem ovos, que são de chocolate e ocos, em que há um feriado à sexta-feira (estamos mesmo num estado laico?) em que não se come carne, e passados dois dias se finca o dente em pequenos cabritinhos silenciados, para comemorar a ressurreição dum carpinteiro desempregado, bastardo, que andava enrolado com uma senhora da vida e liderava um gang de alucinados cuja ocupação principal era viajar na maionese.

 

(O meu querido Saramago já não está cá, alguém tem de tentar manter a heresia em dia.)

 

 

 

 

 

 

 

 

Boa Páscoa, everyone! Eu vou ali comemorar os tempos em que os portugueses tinham tomates e mudavam as coisas que estavam mal.

 

 

 

 

 

 









Um homem queixa-se ao balcão do bar. Diz ele que a vida vai de mal a pior e que se fosse mais novo mudava de país. Estou a tomar café sozinho mesmo ao lado e, apesar de ele olhar apenas para abarwoman que finge prestar-lhe atenção enquanto arruma melhor os pastéis de nata numa travessa, está a falar para todos os presentes. Está zangado e quer que todos o ouçam.

Eu concordo com ele, que este país vai de mal a pior, até porque esta manhã já tinha lido no Público Online que a mãe do nosso primeiro-ministro comprou a pronto um apartamento a um "offshore" num ano em que declarou menos de 250 euros de rendimento. É apenas mais um apontamento na cascata de más notícias que todos os dias nos assola. O que acho estranho é que todos os que se queixam queiram mudar de país e não mudar o país. Talvez seja por isso que estão sempre os mesmos no Governo.
Nas relações também é assim. Quando correm mal foge-se e não se tenta perceber. Não se tenta mudar. Ontem, também num café, um amigo dizia-me entre algumas garrafas de cerveja vazias que já vai no segundo casamento e que não está a resultar. Se fosse mais novo tentava já o terceiro. Nunca somos velhos demais para aceitar o sofrimento, respondi-lhe. Muito menos quando ainda estamos nos quarenta, insisti depois depois de mais um gole. O amor, por um homem, por uma mulher ou por todos nós (diga-se país), é também a nossa capacidade de intervir nele. Sem desistir...