O argumento que vou apresentar de seguida já tive de defender anteriormente, era eu estudante universitária.
Havia um prazo para um trabalho importante e que valia uma boa parte da nota de uma disciplina, que não era comum a todos os estudantes (depois dos anos comuns tínhamos vários ramos da licenciatura e as disciplinas eram optativas de entre um variado leque). Calha que foi agendado um evento social de relevo para o dia antes do fim do prazo para entregar o trabalho. Os alunos daquela disciplina dividiram-se entre os que abdicaram do evento social para se dedicarem a ultimar o trabalho lectivo, e os que decidiram não abdicar do evento social e confiar que após muito choradinho o professor iria estender o prazo de entrega do trabalho. O professor não estendeu o prazo. Eu e vários outros colegas entregaram o melhor trabalho possível dentro do prazo. Os colegas que foram ao evento social entregaram o trabalho após o prazo. O professor aceitou os trabalhos de todos e classificou-os com os mesmos critérios. Foi justo?
Não. Esta foi, é e será sempre a minha posição, que discuti exaustivamente com o professor na defesa do trabalho em questão. O professor, por outro lado, defendeu que não beneficiou ninguém, apenas não penalizou os colegas que entregaram o trabalho fora de prazo. Ora, sob este entendimento, é claro e objectivamente comprovado que alguns alunos tiveram efectivamente mais tempo para concluir o importante trabalho, de resto em igualdade de circunstâncias, já que não existiu penalização pelo atraso.
A meu ver, o não prejuízo dos infractores traduz-se num prejuízo dos cumpridores, que completaram o trabalho num período mais curto sem qualquer benefício na avaliação. Para mim isto é bastante claro e nem seria passível de discussão, de tão óbvio. O professor, que era quem tinha o poder de decisão no caso, defendeu que estava a ser justo para todos, e manteve a sua decisão.
No caso da tolerância de ponto do dia 12 de Maio passa-se exactamente a mesma coisa.
Nem falando no absurdo que é um estado (supostamente) laico dar tolerância de ponto a todos os funcionários públicos porque o Papa vem dar um pulinho a Fátima (onde uns chavalos inventaram uma peta que parece que esteve na causa de uma outra alucinação colectiva a outros tolinhos, mas isso são outros quinhentos), na prática temos os funcionários públicos a terem uma folga adicional não planeada, e o resto da população a ter de arranjar solução para lidar com este "imprevisto": crianças sem escola, consultas, exames, julgamentos e demais afazeres em organismos públicos adiados.
Em suma, um benefício atribuído a uma parte da população e que prejudica directamente o resto da população torna-se numa injustiça. Se a ideia era manifestar o respeito por uma maioria católica numa data aparentemente significativa, faça-se ao 13 de Maio o que se faz a 15 de Agosto (e tantos outros) - feriado nacional. Os motivos continuariam a ser deveras questionáveis, mas pelo menos o feriado seria para todos