Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Ainda ontem falávamos disto. E anteontem também. Eu insisto, bato na mesma tecla, para me lembrar e para esfregar pelos olhos adentro dos outros, que teimam em não lembrar. De vez em quando, deixo olhos tristes e molhados. E deixarei, sem comiseração por misérias pequenas, que são as da alma. Quando me dizem que sou tão positiva ou tão forte, é porque não me esqueci, naquele momento, de relativizar. Não sou mais forte, sou da mesmíssima profana matéria que todos nós, banal e esmagada com a pequenez da humanidade. Alimento um mundo inteiro, não parcial, dentro de mim, esforço-me por não esquecer, por ver a big picture, e se diferença houver é apenas esta. Se tenho problemas, dores? Como toda a gente, carradas deles e montanhas delas. Se me lamento? Sim, demasiado para o meu gosto, apesar de quase ninguém me ouvir, de "gritar para dentro" como me diz a minha mãe. Se os problemas são capazes de me abater? Só se eu deixar. E não posso deixar de acreditar, "em mim e no infinito".
E porque o Zé Luís o diz tão brilhantemente, como eu nunca poderia, e porque se aprende mais com os homens que puxam riquexós nas ruas de Deli do que em dúzias de anos dentro de salas de aulas lisboetas. E porque olho em volta e vejo pessoas de quem gosto tanto, tanto, que merecem tanto, tanto, motivos para sorrir. Acreditar é preciso.
Saber é lembrar-se.
Aristóteles, Poética
Zé Luís, nunca te esqueças dos homens que puxam riquexós nas ruas de Deli. Nas subidas, levantam-se do banco das bicicletas para usarem o peso inteiro do corpo em cada pedalada. No banco do riquexó, podem ir sentadas três pessoas, quatro, uma família com filhos ao colo, pode estar empilhada uma altura de sacos, madeira, pedras, barras de ferro. Os homens que puxam riquexós nas ruas de Deli têm vinte, trinta ou sessenta anos, parecem ter setenta, e vestem todos os dias a mesma camisa rasgada, os pés desfazem-se nos chinelos, as mãos agarram o guiador da bicicleta porque esse é o seu ponto de apoio no mundo, é ele que os impede de se afogarem no pó: terra castanha que se cola ao suor. Os homens que puxam riquexós nas ruas de Deli são capazes de sorrir debaixo dessa terra que os cobre, os seus olhos existem; são capazes de dizer algumas palavras em inglês, thank you, sir.
Quando o trânsito não tem solução, quando a estrada é um muro de camiões feitos de lata e parados, motas a passarem pelas folgas estreitas de autocarros negros como galeras, carros antigos, vacas desentendidas, cães exaustos, e pessoas em todas as direcções, esses homens de ossos desenhados na pele do rosto são capazes de levantar os riquexós no ar, de passá-los sobre os separadores centrais e de continuar a puxá-los, todo o seu peso, no outro lado da estrada, em contramão. Não te esqueças deles, Zé Luís. Não te esqueças da sua vontade muito maior do que a miséria, muito maior do que todas as facas, todo o veneno. Esses homens foram aqueles meninos que, hoje, agora, caminham sozinhos nessas mesmas ruas de Deli e estendem a mão a pedir uma rupia ou brincam, esquecidos das buzinas que se embaraçam à sua volta. As suas mães, vestidas com saris, continuam a cavar buracos na berma da estrada, a carregar alguidares com terra e pedras à cabeça. Os seus pais continuam a atravessar a cidade a pé apenas para chegarem ao outro lado e regressarem sem nada. O calor queima-os a todos por igual.
Por isso e por mais do que isso, não te esqueças dos homens que puxam riquexós nas ruas de Deli, Zé Luís. Depois de quilómetros a puxarem um casal de namorados, o rapaz irá pagar-lhes 10 rupias (60 rupias = 1 euro, mais ou menos) e se o homem, ainda sentado no banco da bicicleta, achar que merece 20, se abrir a boca para dizer duas palavras abafadas em hindi, o rapaz há-de dar-lhe dois murros onde o apanhar, no peito ou na cara. E o homem que puxa o riquexó há-de encolher-se porque estará já rodeado por muitos outros rapazes, de castas mais altas, que o olham com o mesmo desprezo do casal de namorados. Como te atreves?
Durante o dia, os homens que puxam riquexós nas ruas de Deli poderão trocar uma nota suja por pão (naan) e água. Enquanto o estiverem a mastigar, terão os olhos abertos e sentir-se-ão privilegiados. À sua volta, monges com os braços cortados pelos pulsos, cegos agarrados às paredes, raparigas despenteadas a vasculharem montes de lixo. Ao serão, os homens dobrar-se-ão sobre o banco do riquexó e, após instantes, poderão adormecer por fim. Se alguém chegar e lhes empurrar os ombros, serão capazes de reconstruir a organização dos ossos, passar a palma da mão aberta pelo rosto, lixa, e pedalar até onde for preciso, 10 rupias. O que se espera da vida? Há um corpo, a pele, e há o sofrimento que se é capaz de conceber, o conforto que se desconhece. Zé Luís, os homens que puxam riquexós nas ruas de Deli estão neste momento a sonhar com aquilo que rejeitas e agradecer aquilo que deixaste de sentir. Não são eles que correm o risco de se esquecer da vida, és tu. O teu padrinho tinha uma bicicleta igual àquela com que eles puxam o riquexó. Lembras-te ainda de como soava a sua campainha à entrada da rua de São João? Lembras-te ainda da sua voz quando falava para ti?
Quanto estiveres a ponto de te preocupar com merdas, os dilemas da poesia portuguesa contemporânea, o IRS, o código do multibanco, os carros que te roubam o estacionamento, a falta de rede no telemóvel, as reuniões de condomínios, o tampo da sanita, lembra-te dos homens que puxam riquexós nas ruas de Deli. É essa a tua obrigação.
Nunca te esqueças do mundo, Zé Luís.
Podes estar descansado, Zé Luís. Eu não me esqueço.
José Luís Peixoto, in revista Visão (Abril, 2010)
Estou cansada, sabes? Cansada de chorar com saudades de ti, cansada de esperar que me estendas a mão e o coração, cansada de não saber qual é o meu lugar, cansada de me convencer que não te perdi, a ti e a mim. Estou cansada de não ter vontade de nada, nem de vir, nem de ficar, de não saber para onde me posso virar e chorar mais um pouco sem ninguém ver. Estou doente de cansaço de não saber de ti, de não saber encher o buraco que deixaste na minha vida. Estou cansada de não dizer o que me apetece gritar. E o que me apetece gritar é que preciso de ti, é que nunca deixarei de te amar, é que a tua ausência me levou a vontade de viver. Não sei o que pensas ou sequer se pensas em mim. Não sei se encontraste alguém para colocar na bagagem ou apenas para ocupar o tempo ou se não encontraste ninguém. E também podia gritar que ninguém te vai amar como eu te amo, que nunca ninguém te soube amar como mereces e que mereces tudo mas não se faz o que me fazes. Não há um minuto em que consiga não pensar em ti, não há noite em que os sonhos de ti me dêem tréguas e não há maneira de encontrar saída daqui. Não quero culpar-te, não quero a tua atenção nem a tua condescendência. Mas continuo a querer-te a ti. Aqui, ao pé de mim. Não quero que o passado regresse, quero reescrever cada linha com a mesma tinta de verdade e ternura. Estou cansada de ter de dar as mesmas explicações às mesmas perguntas, de não conseguir reagir aos tantos esforços dos meus grandes amigos. Estou cansada de ter medo de nunca mais te ter. Estou cansada de sentir tanto assim.
fazes-me rir. Juro. Mesmo sem me dizeres uma sílaba, só mesmo esse teu jeito de fugir a quem és... Devia estar zangada e barafustar e tal, eu sei, mas eu não sou normal (tu sabes). Fazes-me chorar também, demasiado. Umas vezes pelas dores que me infliges, outras pelas dores que sentes e eu, realmente, lamento. Mas hoje fizeste-me rir. Só mesmo tu, com essa criatividade toda para obliviar o óbvio. "Princess Shin"?! Deve ser por estas e outras que gosto tanto de ti. Aliás, adoro-te e não vou privar-me de dizê-lo! ADORO-TEEEE!
Não, não me esqueci que existes. Já te disse que nunca poderei esquecer. E tenho saudades tuas. Espero que estejas bem e que sintas muito a minha falta. (Honestidade sempre, doa a quem doer... E eu sei que vai doendo. A mim também.)
Vá, sorri...
"Não sei o que há em ti que se fecha e se abre sem parar. Mas alguma coisa em mim sabe que a voz dos teus olhos é mais profunda do que todas as rosas. Ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão delicadas mãos."
PP
Eu sei o que é e vou agarrar-te essas mãos com todas as minhas forças. E vou espreitando de cada vez que te abres e é a tua alma que a minha alma vê, no fundo dos olhos, no eco da voz. E compreendo-te todo, e amo-te todo, confio-te todo. Talvez espere por ti só até ao momento em que me tentes alcançar e me encontres já perdida. Mas será sempre amor.
Uma vez escrevi num postal de aniversário estas exactas palavras:
"A felicidade processa-se do interior (de ti próprio) para o exterior. Não depende de outra pessoa, nem de qualquer factor externo ao teu íntimo. Não é o que fazes, o que tens ou quem te acompanha que te definem, mas antes quem escolhes ser. Que encontres a sabedoria que te permita escolher ser, espontaneamente, Feliz. Não desejo que se concretizem todos os teus sonhos; o meu desejo egoísta é que sejas muito feliz."
Vá, toca a experimentar a fórmula mágica para a Felicidade. Se resultar, venham cá dizer.
P.S. O meu desejo egoísta mantém-se.
Aquele que ilumina os meus dias acabou de 'dar-me' isto.
The one who light up my days just 'gave me' this.
I will stand by you, every day of our lives, if you let me.
Acordo todos os dias com vontade de me virar para o lado, tomar a tua cara entre as mãos e beijar-te, primeiro a face, depois os lábios, apertar-te e abraçar-te e amar-te, fazer-te sorrir e dar-te o mundo todo, step by step. E sonho com o dia em que estejas de facto lá na metade vazia da minha cama, em que me dês a mão antes de dormir. Posso não saber muitas coisas, mas sei que a felicidade é por aí. Sei, porque apesar de todas as condicionantes, nunca fui tão feliz como quando acordava a teu lado, quando me acordavas tu a meio da noite, com vontade de mim. Eu amo-te. Nunca o tinha dito, assim. All this time I've been afraid to say it. But I do love you, so! E adoro-te por tudo o que és, por quem és. I'll wait for you to fall in love with me, for as long as it takes.
And then I gave him this.
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.
De quem é a cara abatida, de olhos mortiços, que me devolve o espelho?
Porque rebentou aquela lágrima calada, que se perpetua na face e na alma? Será o degelo do coração? Escorrem-me as memórias a cada som, cada cor... E invejo a tua amnésia selectiva.
Sofremos, por opção. E choramos, e berramos, contra ventos e mares e paredes, esperneamos e reivindicamos o que é nosso por direito, assim o cremos. Acalentamos a dor com achas de memórias do futuro e culpas do passado.
P.S. Este blogue não é um diário
Durante muito tempo pensei que os alicerces da minha felicidade eram o amor e a presença de outra pessoa. Estava errada. Os alicerces da minha felicidade são a minha força e a minha personalidade.