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Há qualquer coisa nos primeiros beijos que nunca se esquece. A emoção, a surpresa, a interrogação...
É que os beijos falam, dizem coisas que as palavras não podem, dizem ao que vêm e as promessas que trazem. Acho mesmo que os primeiros beijos retratam aquilo em que as relações se tornam...
O meu primeiro beijo dos primeiros beijos foi sôfrego de tanta ansiedade, foi diferente do que havia imaginado, não foi doce e mágico e puro e tímido. Mas foi o primeiro e jamais o esquecerei. Uns anos depois chegou o primeiro beijo terno e carinhoso e quase escondido, de surpresa, como se quer. O mais cinematográfico dos meus primeiros beijos foi num hospital, cheio de paixão e encanto e analgesia, e marcou um amor cúmplice muito bonito, um amor que também terminou com um beijo de despedida. E o meu favorito dos primeiros beijos foi na bochecha (imagine-se!), às escuras, com tanta ternura e carinhos na ponta dos dedos que só não pareceu mais irreal porque o cenário era do mais insólito que há memória. E recordo os que se lhe seguiram, recordo o que eles diziam e o que tentavam calar. E já não sei onde meti as memórias do último, talvez de tanto desejar que não o tivesse sido.
E depois há os beijos que ficaram por trocar, e esses dizem estórias de mil e uma noites que mais vale calar.
Dançar sem música. Ou com uma música que só ouvimos na nossa cabeça, mas ouvimos a mesma. E dançamos ao mesmo ritmo, em público, sem querer saber de quem passa e nos acha insanos. E rimos descontroladamente, e rodopiamos, e ficamos tontos, e agarramo-nos um ao outro e abraçamo-nos e beijamo-nos. E quem passa pode ainda achar que somos insanos, mas somos mesmo é felizes.
Às vezes acordo a meio da madrugada, fugida e assustada, de ti, que encontro nos sonhos. Procurando o fio do raciocínio que se enreda em novelos, finda a lucidez. Juro que sinto o teu cheiro e o calor da tua pele. Acendo um fósforo para te ver os contornos e é a manhã que ainda demora a dizer-me que o desejo nunca materializou ninguém. Volto ao sono, na esperança de voltar a ter-te perto na dimensão onírica da perfeição.
Podia ligar-te, para te ouvir a voz. Podia ficar escondida perto das escadas para te ver passar. Podia enviar-te como se por acidente um e-mail ou sms. Podia esbarrar em ti em tantas ocasiões. Podia inventar mil artimanhas para te fazer preocupar comigo, para te obrigar a pensar em mim. Podia dedicar-te músicas na rádio que ouves, podia colocar fotografias nossas em placards. Podia insinuar-me, podia tentar-te, podia pedir-te ajuda. Podia deixar-te recados por toda a parte, aqui, ali... Podia devolver-te um postal rasgado num envelope sem remetente, podia nesse envelope escrever o que quisesse. Podia perguntar por ti aos teus amigos. Podia espantar-te. Podia fazer-te chegar as novidades de mim, as decisões que tomei. Podia fazer passar um avião por cima da tua casa a implorar a tua atenção e o teu amor. Podia fazer-te sentir culpado. Podia suscitar a tua pena ou o remorso. Podia não evitar cruzar-me contigo, podia expôr-me para que soubesses sempre onde encontrar-me, podia estar acessível como sempre tinha estado. Podia muito mais. Poder, podia. Seria fácil, corriqueiro até. Mas não procuro saídas fáceis, não quero a tua atenção se não for genuína nem sentimentos de substituição aos que mereço. Recuso, como recusei os beijos falsos, lembras-te? Não quero nada de ti, se não for de verdade. Nem os pedidos de desculpas. Nem os pontos finais.
Porquê, em cada foto, a vontade de me colar em beijos a ti? Esses olhos de amêndoas tristes que me gritam e me imploram que os devolva à vida, quando os lábios dizem não.
Pára tudo! No meio das nuvens autoritárias e espessas, Ventania viu uma luz, como se um relâmpago lhe acertasse na testa.
O que raio ando eu a fazer da minha vida? Que incapaz resignação é esta, que me deixa prostrada entre memórias de circunstâncias e sonhos ficcionados? Eu valho muito mais do que viver em suspenso, à espera de decisões que não se podem decidir. Pronto, encontrei um tipo que me virou a vida, coração, cabeça e entranhas do avesso. Amo-o, com certezas e convicções maiores que o Sol e a Lua. Ele não me ama. Ponto final. Pior, ele não me ama mas usou-me, magoou-me, mudou de ideias demasiadas vezes, recorreu a mim para mais do que podia ter ousado. Disse-me que não e de seguida chamou-me. E eu fui. Seguindo sempre um chamamento duma força maior que o raciocínio, que o instinto, que o desejo. Uma e outra vez a estória a repetir-se. Ele chamava, eu ia, ele repelia. E eu iria sempre, continuaria a ir, ciente dos riscos, a fazer equilibrismo sem rede num pedaço desfiado de esperança. Nunca acreditei que fosse só amizade. Tricotei-lhe desculpas, pretextos do passado, do presente. Mas nunca acreditei. Quem não ama, incerto que esteja, inseguro que seja, não envereda por caminhos sinuosos que desembocam em mágoas comuns. Os erros... Errar, todos erramos. Repetir os erros, tantas vezes, tem de ter uma contrapartida muito forte. Nunca foi uma simples amizade. É uma crença minha, uma fé. Mas eu sou mais racional e pouco atreita a convicções sem factos.
Não mereço sufocar num sofrimento contínuo por não o ter mais. Fizeram-me coisas feias, coisas injustas. Perdi um amigo, um dos melhores. Acusou-me de ser um entrave à felicidade dele. Mas ele não sabe nada... Tolo. Se só vê o que querem que veja, se não suspeita da enormidade deste último erro, realmente não sabe mais que as sombras. Tenho saudades dele, a cada dia, em crescendo. Ter saudades é sentir dor na ausência, é não me contentar com as memórias, é desejar nunca repetir, mas fazer mais, ir mais além. É querer enviar o coração para dentro do dele e ali render-me.
Já chega. Mereço mais do que isto. Ele pode ser o melhor do mundo (até agora), mas não me quer. E eu sou mais importante que ele, serei sempre. No centro da minha vida, EU. E sou maior do que ela, a que ele procura em todas, por razões que não merecem ser lembradas. E eu não tenho o direito de me negar à vida. Sou uma mulher inteira, resolvida, interessante, independente, inteligente, densa, cheia de ambições maiores do que o mundo. Não vou deixar a vida passar-me ao lado. As oportunidades. Não posso continuar a rejeitar cada olhar como se fosse uma maldição. Ele não me merece, neste momento, nem de empréstimo, e eu não sei dar-me sem ser completamente.
Se consigo viver sem ele (em oposição a sobreviver)? Claro que sim. Eu acredito, luto para acreditar. Se é já hoje? Claro que não. É que “sem ele” significa mais do que sem o amor dele. É sem ele, a pessoa extraordinária que ele é, o amigo maravilhoso que ele é, a pessoa espantosa que iluminou as minhas descrenças e me provou que os sonhos se tornam realidade. “Sem ele” significa que no lugar dele reside uma ausência que lamento profundamente, residem mágoas e ofensas, e reside a lembrança duma oportunidade falhada, negada. A impossibilidade de alcançar o impossível. Tenho de lamber as feridas, canalizar raiva, desgosto e pesar para o mesmo luto. Tenho de calar as fotografias, as palavras escritas e ditas, os olhares e cheiros e lugares. Tenho de pegar em cada um dos mil pedacinhos estilhaçados e começar a reconstrução. Tenho de afastar as tentações e resistir. Tenho de me fazer prometer.
I should have said it before. I really do hope you're happy now. No one standing on your way. I miss you and our true moments of joy. I miss my friend and my insanity partner. I miss the stupid hope that someday you just might love me enough. I will always love you...
I hope you're feeling happy now.
I hope you're feeling happy now
I see you feel no pain at all it seems
I wonder what you're doin' now
I wonder if you think of me at all
Do you still play the same moves now
Or are those special moods
For someone else
I hope you're feeling happy now.
Just because you feel good
Doesn't make you right (oh no)
Just because you feel good
Still want you here tonight
Does laughter still discover you
I see through all those smiles
That look so right
Do you still have the same friends now
To smoke away your
Problems and your life
Oh how do you remember
Me the one that made
You laugh until you cried
I hope you're feeling happy now
Just because you feel good
Doesn't make you right (oh no)
Just because you feel good
Still want you here tonight
Solo
Just because you feel good
Doesn't make you right (oh no)
Just because you feel good
Still want you here tonight
I wonder what you're doing now
I hope you're feeling happy now
I wonder what you're doing now
I hope you're feeling happy now
Sou uma margarida, singela, complexa, de pétalas (que são cada uma, uma flor) ao vento, livres, despenteadas. Pega-me em ramalhete e atira-me ao ar, desfolha-me ansioso que te diga quão bem-te-quero. Rega-me de olhares doces e abraços, prende-me nas tranças que cheiram a alecrim. Deixa-me mostrar-te as sombras do nosso jardim.
Karma. I rest my case.
Ele agarrou-lhe a mão, e ela agarrou-lhe as mãos, e ficaram de mãos agarradas, primeiro a olharem para as mãos, depois levantando lentamente os olhos, que por fim se encontraram, perdendo-se uns nos outros, sem já saber quem via ou era visto, os olhos ao mesmo tempo a verem e a serem vistos, nus, sem qualquer pudor.
Pedro Paixão in "Muito, Meu Amor".
The real thing. Not cassia. E quem se contenta com uma imitação quando se deseja o original, quem almeja um simulacro se a emoção só é verdadeira quando os momentos são reais?
Se ainda sonho com O desejo? Sempre. Como não?
teria sido um bom dia para as "cartas da Maya" acertarem em cheio.
SAÚDE: A conjuntura ilumina o seu dia.
AMOR: Será finalmente presenteado com gestos de amor, por quem esperou tanto tempo que se manifestasse.
DINHEIRO: Novas propostas profissionais surgirão na sua vida, como uma lufada de ar fresco.
Se abriria a porta?
Abrir uma porta não significa apenas deixar alguém entrar. Significa que se está pronto para sair e explorar sítios novos, lá fora e cá dentro. Dentro de mim. A ti deixava-te entrar, como deixei sempre, tu entraste mal viste uma brecha, sem perguntar se podias. E eu não te expulsei. Achei até que entraste com tanta avidez que querias mesmo cá estar, e ficar. Entraste de rompante, impuseste a tua voz no meio dos meus sonhos e agarraste-me pela cintura. Deste-me a mão, levaste-me portas fora e portas dentro com rodopios, com esses sorrisos que me desfazem por dentro, com carinho e cumplicidade, possuíste-me, com força, com o que se parecia com mais do que paixão movida a desejo. E um dia saíste sem te despedires, deixaste a porta aberta e eu fiquei, parada, a ver-te longe, agarrada ao espanto do vazio e à solidão da dor. Chegaste a voltar, envergonhado e a medo, quase que a pedir desculpa por não teres resolvido as dúvidas que persistem como ferrugem num prego velho. E com mais amor que medo te voltei a abrir a porta. Agora, que não sei de ti, não sei o que pensar ou onde deixei o coração, decidi manter a porta aberta. Porque tenho todos os motivos para a trancar e vedar a pessoas como tu. Mas repara, está vedada aos outros. A minha porta convida-me a sair, mas eu não vou longe. Não quero ir sem ti. Se soubesse como encontrar-te ia até ao fim do mundo buscar-te, salvar-te. Quando quiseres ser salvo, a minha porta está aberta para ti. E só a fecho quando vieres com mais do que a paixão movida a desejo.
I will stop it, someday.
Se viesses fazia-te um chá. Mostrava-te o quadro que quero pintar. Se viesses perfumava a casa toda com aroma de maçãs verdes e dava-te um abraço para te receber. Se viesses verias os meus olhos a brilhar, e sorrias a confirmar todas as certezas. Se viesses dava-te aquela romã, adoçada. Far-te-ia uma festa na cara e no cabelo. Se viesses eu ria muito e tu também. O tom de voz estaria mais elevado e agudo e o sol brilharia com mais força, até de noite. Se viesses mostrava-te a lua a reflectir no rio e as copas das árvores prateadas. Se viesses ficava contigo na varanda, a combater o teu frio. Dava-te a mão e o resto, pela alma fora.
Se viesses, eu ia gostar e tu quererias ficar.
Quando vieres, não vou deixar que te vás.
Estou com problemas de expressão. Ora porque me faltam as palavras, ora porque sobram as tantas coisas que queria dizer-te. É que as palavras são pequenas, são poucas e indignas do que te quero dizer. Queria dizê-lo com olhares e sorrisos pendurados ao peito, queria que os lesses com avidez e te lambuzasses em cada sílaba. Nem todas doces, algumas mais amargas, como o tempero que nos traz de volta ao inverno, que te permite comparar as realidades que tens e os sonhos que podem ser teus, nossos.
A incerteza move-me, sabes que adoro aquela adrenalina da descoberta pela descoberta, a dúvida e as possibilidades exponenciais que me significam sonhos sem rédeas. Pesadelos e dores, também tenho encontrado. Mas não me queixo senão quando a escuridão não me permite ver mais além. E tu és a luz. Iluminas e arrepias, calor doce e pura ventania.
Queria dizer-te que sei. E que estou dentro de ti. Que quando te sentes a perder o fio condutor, sou eu. Que quando a lógica impera, também sou eu. E que quando sentes a minha falta, não sentes apenas a falta da companheira de aventuras. Queria que fosses tu a reconhecer a capacidade que tens de fazer alguém feliz. Queria que te entregasses ao sabor dessa maré que tens dentro, que pousasses esses remos obstinados. Os planos antigos que traçaste eram bonitos, eu sei. Aconteceu como não devia. Faz as pazes com o passado, com os erros e as razões. Começa de novo, planos novos, que nunca poderão ser iguais... mas serão planos onde cabes tu por inteiro, onde nenhuma dimensão tem de ser vergada. Onde possa caber todo um mundo além do teu.
Queria dizer-te que gostava que me desses flores. Que cometesses uma daquelas loucuras anunciadas, tão tuas. Que me convidasses para um passeio. Queria contar-te da vontade que tenho de te oferecer presentes de Natal todos os dias, de levar-te sumo de laranja à cama e de nunca mais ter saudades tuas.
Queria que pudesses apagar algumas palavras, que as quisesses retirar para sempre. Queria que pedisses desculpa.
Queria dizer-te para perderes esse medo. Queria ensinar-te a amar de novo, melhor. Queria mostrar-te o que me comove no nascer do sol e queria aprender todos os teus risos e olhares. Queria caminhar lado a lado contigo, de dedos entrançados nos teus.
Sei que te encontras nas minhas palavras, sei que a perturbação também chega a esse lado. Queria dizer-te para não resistires... Para arriscares. Para experimentares. Queria que, se no futuro houvesse lugar para arrependimentos, que os houvesse pelo momento em que valeu a pena e não pela ausência duma estória.
Queria dizer-te que há dias em que um beijo vale tudo. E que há beijos que me dão vontade de chorar.
Lembrei-me de quando te ensinei a contar. Ou comecei a ensinar. Chegámos ao seis ou sete, não? Eram tentativas de alcançar o 658 mil e qualquer coisa, se bem me lembro.
Prometeste-me beijos, não cumpriste o suficiente. Um... Dois... ...
"Achas que se pedirmos muitas vezes o mesmo desejo às estrelas cadentes aumentam as probabilidades dele se realizar?"
Eu peço sempre o mesmo, desde que te conheci, pelo menos. Na noite em que comecei a ensinar-te a contar devo tê-lo pedido umas 7 vezes. Sete, my lucky number. Um por cada uma das estrelas cadentes, ao som do nada, ao som apenas das nossas vozes, das nossas respirações. Ao som do vento.
Nunca desejei tanto coisa nenhuma. Preferia este desejo realizado a meia dúzia de primeiros prémios no euromilhões, a poderes mágicos ou aptidões extra-sensoriais. Nunca desejei tanto. Nunca me senti tão rendida e presa a um sentimento que mais parece calamidade, condenação a prisão perpétua. Nunca fugi com tanta obstinação, querendo fugir na direcção oposta. Também nunca antes tinha amado assim, antes não havias tu e não vou repetir-me os porquês e os talvez.
Evito falar-te, ver-te e pensar-te. Ambos sabemos que não adianta um milímetro. Se consigo abafar a maior parte das recordações, continuo a não conseguir escapar às imagens dos abraços que me são devidos pelo destino ou pela justiça. Quase como premonições, vejo-te a procurares o meu calor para enterrar o sorriso frio, sinto os beijos que ficaram por dar, vejo a tua felicidade reflectida nos meus olhos. Tão reais, estes sonhos acordados, com os teus sons e cheiros, sem fantasmas nem medo.
Talvez esteja só a ficar demente. Mas ainda peço às estrelas o mesmo desejo, sempre o mesmo. Às estrelas, à lua, ao mar e ao vento, só ainda não pedi a deus nem aos santinhos, para não darem ainda mais azar. Perturba-me a realidade em que este desejo não tem lugar, mas ainda me perturba mais que não consiga deixar de pedi-lo e não peça antes alguma paz. Tu e eu, não fomos feitos para estar a flutuar numa paz sem sentido. Fomos feitos para conquistar (o mundo?), para voar, juntos.
Até quantos sabes contar?
Hoje acordou minutos antes do chilrear que sairia do despertador do telemóvel, pousado estrategicamente no apoio de cabeceira, perto o suficiente da mão preguiçosa que normalmente o calava duas vezes antes de a cabeça despertar na mentalização de que teria eventualmente de sair da cama morna. Hoje deixou-se ficar um pouco, de olhos vagueantes pelo quarto. A cama que sempre ocupa só pela metade esquerda pareceu-lhe mais vazia, como se o seu corpo ocupasse menos espaço e se tivesse intimidado perante a outra metade, cheia de ninguém, lençóis imaculados, sem rugas. Não tinha dona, aquele espaço. Talvez só à figura que ia imaginando, persistentemente; que não queria ocupar aquele vazio, na sua cama e no seu coração, já há bastante tempo. Hoje não esqueceu que desejava ser acordado pela mulher que amava e que se tinha tornado um pano de fundo, quieto e pesado, nos últimos anos da sua vida. Nunca o esquecia; nunca A esquecia. Mas hoje não sentiu a falta dela a dormir em silêncio a seu lado. Hoje esboçava um sorriso por dentro, pensando na possibilidade de vê-la - outra mulher, amiga, que essa sim o amava desde antes de o encontrar. Hoje não calou o som dos pássaros que imaginava patetas e alegres, saltitando no paial da janela; sempre amenizavam mais o despertar de insuficientes horas de sono que o apito estridente de que o resto do mundo parecia ser adepto. Dava-se a pequenos luxos, brinquedos quase todos electrónicos, que lhe permitissem um maior bem-estar. Gostava de si, do seu umbigo e apesar da usual relutância em gastar os cobres que ganhava, com um trabalho de que normalmente gostava e o mantinha entretido várias horas por dia, não se importava de gastá-lo em pequenos mimos, talvez tentando suprimir a falta de aconchegos mais etéreos e emocionais. Telemóvel que nem é de gama muito alta, pensou, mas o som é porreiro. Quase que parecem os sons do acordar do fim-de-semana. Esgueirou-se agilmente de entre os lençóis e rapidamente completou a sua rotina matinal, o banho, a barba. Cantarolou qualquer coisa em frente ao espelho, com o seu jeito de rapazola, abanando tímida e descoordenadamente os ombros e o crânio, enquanto passava a máquina pela cara e pescoço. Deteve-se um segundo e pensou que ela mencionava amiúde a predilecção por barbas de uma ou duas semanas. Tomou cuidado na escolha da camisa, apesar de saber que ela nem repara nesses detalhes. O que ele nem sempre se recorda é que ela gosta dele de qualquer maneira, amarrotado ou roto, de fato e gravata ou descalço, de calções ou despido. Colocou uns borrifos de perfume, viria ela a presumir que para lhe agradar. Ela não tinha pensado nele naquele dia, não na possibilidade dum fugaz encontro, o que lhe causou estranheza quando reflectiu. Talvez se tenha habituado às ausências, sempre presentes.