Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Os abraços, os prometidos que nunca senti e os tantos que vou enviando em silêncio, acumulam-se no caixote dos amores impossíveis, negados, aleijados. Não correspondidos. Vou tentando sentir na pele algum calor que me erice os pêlos, a tua presença em que preciso de me embrulhar. Imagino os teus braços a conterem-me por inteiro. Encostar a cabeça ao teu peito e ouvir-te sem dizeres uma palavra. Sentir o teu coração a sossegar, finalmente, na paz do tanto bem que te quero e os teus lábios cheios a declamarem irrealidades só nossas. As minhas mãos exploram as tuas, amam-te a cada centímetro, desfolham os teus segredos indizíveis. És bonito, tão bonito. Repito baixinho que viver nesse teu sorriso bastar-me-ia. É um sonho apenas. Nos sonhos podemos tudo, podemos até repetir os beijos mal ensaiados. Podemos ficar um no outro, podemos só olhar-nos nos olhos, profundezas de oceanos negros por explorar, podemos chorar de felicidade e fazer promessas novas, ilibando as antigas que nos apartam.

De volta à realidade, a tua presença distante não dá tréguas. A vontade que te tenho não se contenta com sonhos sem rédeas, as conversas que temos com as canções que dizem coisas que não podemos dizer não bastam para aplacar os vazios em que só tu poderias caber.

Cumpriria a mesma promessa mesmo sem ter prometido. Não seguirás sozinho jamais nem eu sigo sem ti. Abraça-me.

0pez.jpeg

 

knees.jpg

"Isso acabou." "Não haverá próxima vez."

Ela não lhe via os olhos mas sabia que ele provavelmente acreditaria nas suas próprias palavras e sabia de cor que os olhos dele vagueavam cabisbaixos, à procura da certeza que ela tinha na voz, ou de uma confirmação divina de que bastavam as suas melhores intenções para lhe evitarem os desvios.

Ele não sabia que mentia porque não é preciso mentir quando todo o caminho ainda por percorrer existe num plano passado a limpo em cadernos quadriculados, e está fotografado de antemão em película por revelar. Ela tinha o condão de ler as pessoas e de saber, com uma certeza inexplicável que nunca se enganara, tudo o que precisava de saber, qual mística Blimunda. Ainda assim, insistia em dar o benefício da dúvida, uma e outra e mais outra vez. Recolhia os cacos do seu ego estilhaçado e lambia as próprias feridas, quase pedindo desculpa por incomodar com as marcas de sangue nos degraus.

Que teimosia era aquela que a fazia avançar sem hesitações quando sabia, por ter visto por dentro, que cada novo tropeção lhe esfolaria novamente os joelhos já em osso?

Que perdão concedido à partida era aquele que, por amor ou condescendência, garantia a quem (sem querer?) a agredia, repetidamente?

"Vive as coisas com naturalidade" - aconselhava ele antes de mudar de assunto, com ingenuidade forçada, como que a dar uma odiosa palmadinha nas costas, e talvez seguro de que uma próxima agressão não seria ainda a última, não seria ainda o limite, não seria ainda suficiente para ela sair sem bater com a porta, de mansinho, a meio de um Domingo distraído e solarengo em que nenhuma promessa se havia cumprido.

Enquanto descia as escadas devagarinho, a esconder os olhos do Sol que a abraçava e com toda a bagagem enrolada debaixo do braço, ela pensava nele e em quão desorientado ele se encontraria nos meses todos que ia demorar a notar que ela não regressaria, tinha saído para sempre, sem dar explicações, empurrada com toda a violência por uma leve palmadinha nas costas.

 

Os primeiros beijos contam toda a história da relação que selam. Um pouco como a máxima da ontologia recapitular a filogenia em reverso. O quando, o onde e o como dizem tanto sobre os enamorados.

Às vezes penso nestas coincidências que o Universo nos apresenta, ou que teimamos em escarafunchar até as descobrir.

À porta de casa, como nos filmes, beijo de cinema, longo e lento, uma mão que levava a chave para se despedir, num final já antecipado - e que afinal saiu tão ao lado.

Um atrevimento num comboio lá do outro lado do mundo, com a noite estrelada a lambuzar de azul dois rostos que brilhavam, espantados, mais que nunca, além da projecção imaginada. Ao som de carris a cantar às constelações, a marcar com sinais atabalhoados a surpresa na vida de cada um.  Algo mágico que só funciona noutro continente e com outra pele, como um capítulo inteiro entre parêntesis rectos - a retomar um destes dias, bem sei.

E depois os beijos roubados, de repente, a meio de uma rua da cidade, no dia (instante?) em que nos conhecemos, coração a palpitar e pernas a tremer - e agora, o que é que eu faço?! 

Beijos inesperados, antecipados num outro cenário ou com outro guião, que saem do plano, que trocam as tintas e as voltas - sou pião, barata tonta, nómada sem mapa. Ainda não lhes sei antever rumo certo, ou suave. Destinados a ser desde a primeira sílaba, inevitáveis, fatais como o destino de que tentamos escapar a todo o custo. Como se acreditássemos em fados, como se não fosse o nosso âmago cristalizado em qualquer coisa sem nome certo, alma ou coração ou quem somos, que nos empurrasse para aquele momento, aquela fuga. Desastre, ruína, sangue e entranhas a escorrer, e tudo está certo e no seu lugar, que o único desfecho possível é morrer de amor de todas as vezes.

1500831439290137.jpg

 

Se sofrem, como eu, deste flagelo que é a pele oleosa, mas mesmo oleosa, partilham da minha dor. Deve ser uma minoria, mas garanto que há peles assim, cheia de brilhos incontroláveis, que não toleram cremes, no geral, e ainda por cima são bastante sensíveis. Eles podem ser cremes apenas hidratantes e hipoalergénicos, desenhados especificamente para peles oleosas, com efeito matificante e quase sempre caríssimos. Podem ser em formato gel para ser ainda menos agressivos. Podem ser linhas XPTO feitas para peles adolescentes com acne. Ou bases milagrosas aclamadas por meio mundo, supostamente perfeitas para peles muito oleosas. Não resultam. Comigo, não resultam. Só me dão uma sensação nada fresca e bastante peganhenta de quem tem a cara a escorrer nhanha.


E depois, o Verão. O calor e o Sol podem ser muito desejados por quase todos, mas para a minha pele são o desastre absoluto. Torna-se ainda mais fácil que num instante a zona T fique a brilhar como os biceps dos halterofilistas.


 


Há, contudo, boas notícias. Finalmente, após mais de 20 anos de experiências científicas exaustivas e muitos testes (sempre no mesmo animal - moi même), estou capaz de dizer “eureka! - encontrei a solução!”. Obviamente, é a minha solução, o que funciona comigo, é natural que não funcione da mesma maneira para o resto do mundo. Contudo, pela primeira vez na minha vidinha de blogger (e já lá vai mais de uma década, hein) vou partilhar as minhas "dicas de beleza". Não tornam ninguém mais belo (ohhhh!) mas pode ser que seja útil para alguma alminha gorduroooosaaaa necessitada que por aqui passe.


Vamos por partes, começando pelo princípio (que original!) e pelo mais importante: Lavar.


(Ah, e não, este post não é patrocinado! O que é pena.)



Lavar/Limpar


“Ai que os detergentes são tão agressivos, ai que a água seca a pele” e beca beca. Tretas. Não há leite, tónico ou água micelar (faz-me sempre pensar em sopa de cogumelos) que supere uma lavagem como deve ser e com a frescura da água. Pelo menos ao acordar e antes de dormir. A primeira coisa que faço quando chego a casa depois de um dia de trabalho é descalçar-me, a segunda é lavar a cara, com a ajuda de uma esponjinha ou escova própria para massajar e, em simultâneo, retirar o excesso de células mortas e sujidades. Há líquidos próprios para lavar as peles oleosas e alguns até são bons: dou-me muito bem com os da Bioderma, que são caros p’ra caraças – mas na Polónia são a metade do preço, quando lá fui trouxe 2 ou 3 embalagens para stock!


MAS... para mim a melhor solução é mesmo o bom do sabão offenbach artesanal (da cor do meu coração, ou seja, azul e branco ou ainda na variante rosa e branco). O sabão de Marselha também é muito bom, se for artesanal. Atenção que nem todos os sabões são seguros para usar na pele, sobretudo a mais sensível – quanto menos aditivos, perfumes e “extras” tiver, melhor. Eu comprava os do meu supermercado alemão favorito, mas descobri um sítio em que é ainda mais barato.


Sabonetes, há alguns também bastante bons para a (minha) pele: os de alcatrão vegetal e os sabonetes ayurvédicos. Destes últimos, os indianos Medimix (ali na imagem) são para lá de espectacular. Aquando da minha viagem à Índia, antes de me vir embora, agarrei no equivalente a 5 € e trouxe um saco deles, que ando a racionar desde então.


A esfoliação também faz parte integrante das minhas rotinas. Como tenho pele com tendências acneicas, são frequentes os odiosos pontos negros e brancos, e para prevenir e dar cabo deles o melhor é mesmo a bela acção mecânica. Além da escovinha que mencionei acima (a higiene da mesma tem de ser a mais cuidada possível!), esponjas e produtos com acção mais abrasiva (ou em versão low cost, açúcar) são essenciais. Cuidado para não esfoliarem demais, como me acontece por vezes, e acabarem com a pele magoada.


 


 

Do outro lado da vidraça, frio. Nevoeiro, chuva. Do lado de cá, um homem em contraluz debruçava-se na cama e exclamava, como se confessasse com vaidade à família, - só que a família não estava lá, presencialmente pelo menos - cheio de ternura no sorriso, confessava "Eu amo tanto esta menina!". A menina sorria, aqueles momentos de amor gratuito e óbvio saíam-lhe pelos poros em memórias renovadas, eram lanternas apontadas aquelas palavras, a calar as dúvidas que a sua natureza e a sua rota lhe tinham cravado na identidade. Naqueles olhares cruzados, eles sabiam que faziam parte um do outro, eles sabiam que eram felizes e queriam que o tempo parasse. Naquelas noites claras, límpidas de razão, a pele era mais macia, os beijos largavam perfume, os cabelos misturavam-se na mesma almofada e dormiam em paz, abraçados, enrolados, de mãos dadas, ambos feitos de açúcar, em casa no peito que tocavam. Naquelas noites frias lá fora, eles eram fogueira, iluminavam tudo em redor e o dia acordava seco, em raios de sol sorrindo para os cães, para os lobos, para as ovelhas. E eles despertavam no quarto, em beijos mornos de certezas, a guardar o sol nos bolsos para uma ou outra noite chuvosa em que fosse necessário recordar.


 


 



 


 

Apetece-me cozinhar-te em lume brando. 

Estás cru. Seguro-te com as duas mãos, retiro-te da embalagem com os meus dedos a colher-te como pinça, sinto-te a textura fresca, tensa, sinto o teu peso, cheiro-te em ânsia e confirmo perdida de vontade que me vais saber bem. Inalo nano- partículas até encher o peito de de ti, chegas-me ao palato espessas-me a saliva pelo tanto te querer provar, molho-te com a língua, e sinto-te o gosto. Aliso-te de mãos espalmadas e redefino-te formas enquanto as moldas a mim. 
Tempero-te comigo. Deixo-te depositado o meu sal e o meu óleo e adejo-te ramos de tomilho embebidos em calda de citrinos. Não te deixo repousar sob meu corpo, besunto-te a carne e humedeço-te os sulcos, rolo redondos, daqueles rosa pimenta, que incorporas. Aperto-te e escorregas como êmbolo que
inebria num casulo ao meu toque. 
Vou-te virando enquanto te aqueço a fogo e sinto escorrer os sucos que recupero sobre a tua pele tostada. Contenho-me a não te devorar
al dente. Com fome. 
Estalas agora,
crepitas, oiço-te, estás tão quente, tentas-me... 

Estás pronto. Vou-te comer.


 


 


Phoebe, Na Terra dos Lalás

Verão em espiral, alimentado a pêssegos e sopros, despega-te de mim. Permite-me que regresse um arrepio à pele. Verão de pesadelos estagnados, queda-te na rebentação dos meus cabelos. Derrete-te em evaporações absurdas e leva cativos os escombros de mim.

egyseg.jpg

 Nunca tinha sentido a pele a reivindicar tanto um toque, como um pólo dum íman debaixo dela, da pele, a chamar, a instigar o outro. Duas peles que têm apetite pela outra, que partilham temperaturas e o mesmo cheiro.

É muito mais do que a pele, porque é tudo o mais no seu expoente máximo. Mas é, sem dúvida, toda a pele. Toda a mordaz tentação a que o tacto não consegue resistir.

É a química, as feromonas que se encaixam tão na perfeição. É o fogo líquido que exige ser saciado.

É a textura de leite nos ombros e naquela curva que eu gosto, no pescoço. É um lóbulo da orelha mordiscado, e depois o outro, lambido. É a ponta do meu nariz a acariciar os mamilos, a subir até ao queixo, a aspirar com vagar e dedicação os aromas das maçãs do rosto ali ao lado.

 É a doçura que derreto e faço pingar em cada gesto e o picante dos sentidos atiçados.

É a pouca vergonha com que me toca. É o umbigo perfeito a beijar o meu num namoro provocante. É a ousadia do joelho que me arrepia as coxas.

É a força nos braços que me guiam e os lábios sempre tímidos a revelar segredos monossilábicos. É a masculinidade imponente, a rebentar de vigor. São os dentes esfomeados nos meus seios e os dedos curiosos nas minhas costas. É a língua, deliciosa e exploradora. São os dedos, enterrados na posse dos corpos.

É o arrepio do abraço pela cintura e a audácia do ritmo inconstante.

Dois desejos entrelaçados, num festim de sexos húmidos e de carnes palpitantes.

É o sal de lágrimas e suor.

É o momento em que o tempo pára para contemplar o prazer.

É a expressão dos olhos fechados, límpidos, inegáveis. É a posição em que dorme cansado e a vontade de tornar a cansá-lo.