Tive uma chefe, há uns 15 anos, que me dizia isto sempre que eu contestava alguma coisa no local de trabalho ou de forma pública contra as políticas da empresa que nos pagava o salário. Não foram poucas vezes e nunca conseguiu demover-me, naturalmente.
Não posso discordar da frase, contudo. Só discordo no fundamental da questão. É que não é o patrão que tem a bondade de me alimentar com os seus míseros tostões, é a minha força de trabalho que alimenta a riqueza do patrão. A subversão do paradigma alimenta o medo e o poder dos mais fortes, até que os trabalhadores percebam que esse poder, podia, e devia, estar nas mãos de quem produz. Até que se sintam, finalmente, mordidos até ao osso, e percebam que das mãos se fazem punhos erguidos e dos punhos se fazem vitórias.
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Pese embora a Sr.ª D. Isabel Jonet (só) diga enormidades que me fazem rosnar e espumar dos cantos da boca... Pese embora ainda o cariz dúbio da caridadezinha... bem como as negociatas que a mesma envolve... Eu contribuo para as campanhas de recolha de alimentos do Banco Alimentar. Sempre. Desde sempre (era pré-adolescente e já fazia questão de contribuir com alguma coisa, mesmo que só um Kg de arroz ou de esparguete). Porque sejam quais forem as perdas pelo caminho, há muita gente (mas mesmo muita gente!) a depender desta ajuda para comer. E não é razoável virar as costas a quem precisa.
Muitas coisas podem estar erradas com o processo, e estão. Há muitas associações a lucrar com o negócio da solidariedade, há "voluntários" que são empregados sem contrato, mas auferem vencimento e muitas vezes também prestação social, há gestores destas associações que andam de Porsche, há despensas de quem não precisa cheias com os alimentos doados. Há parcerias comerciais com marcas que aproveitam a publicidade para vender mais, há toda uma margem de lucro que vai direitinha para os cofres das superfícies comerciais, há os impostos que vão ter aos cofres do mesmo Estado que deveria ser a primeira entidade a dar o exemplo e ajudar as famílias carenciadas. Há a visão burguesa e desfasada da realidade portuguesa a dar a cara pela causa, quiçá prejudicando a mesma.
Mas há também muita ajuda a famílias carenciadas que depende das parcerias com o Banco Alimentar, e há, sobretudo, muita fome e necessidade. Não é legítimo virar a cara e, em pondendo, não ajudar desta forma - a não ser que se consiga ajudar de uma forma mais abrangente, ou efectiva. Em última análise, há que saber destrinçar a causa das pessoas que a gerem e das vicissitudes inerentes. E a causa merece, infelizmente, toda a colaboração possível. Enquanto houver pobreza em Portugal, eu contribuo para o Banco Alimentar.
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Alguém explique às criaturas ignorantes do código do trabalho, da constituição portuguesa, e do bom senso em geral que quem paga as baixas médicas e subsídios e licença de maternidade é, por ora, a segurança social e não a pobre entidade empregadora sem orçamento para contratar mais do que uma pessoa e, por isso, se acha no direito de questionar as mulheres se planeiam engravidar numa entrevista de recrutamento (ou em qualquer outra situação, by the way). E que a lei do trabalho permite a contratação de trabalhadores temporários para suprir as ausências de trabalhadores em licença de parentalidade. Duh! E também me podiam explicar onde estão esses médicos porreiraços que passam baixas só por lhes pedirmos. Deve ser no mesmo sítio onde as mães portuguesas preferem ficar tanto tempo quanto possível a receber só uma %do salário, porque a malta trabalha mesmo é para aquecer, o salário é irrelevante. Yeah. Num mundo imaginário habitado em exclusivo por patrões e jotinhas.