A retórica é apenas uma demolição de ideias, desconstruindo-as em pedaços indivisíveis e, por isso mesmo, impossíveis de refutar. Não vale, portanto, nada mais que a mesma ideia exposta da forma mais crua e directa, desprovida de argumentos e figuras de estilo, só é mais dissimulada nas intenções, pois ludibria quem se deixa apaixonar pelo som das palavras.
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Um nome não é nada além de um aglomerado de sons, não tem significado intrínseco até lho atribuirmos. Ninguém deixa de ser quem é por ser chamar João ou José. Mas é quando ouves o teu nome ser dito por outra boca que o nome faz toda a diferença. Na entoação dos outros podes ouvir todos os discursos da história, se escutares atentamente. Os meus instintos sanguinários, que deixei de reprimir por ter permitido o espírito ser adulto e assumir a paixão pela destruição, gritam o vosso nome com paixão e faíscas, gratidão e doçura. Com vontade de dinamitar cada sílaba desse nome que dá e tira sem pedir permissão, de lançar ácido no acento e transformar em nada o desvio que vive em mim. Gosto que digas o meu nome. Completo ou não, com diminutivos palermas ou fofinhos, mas gosto que me chames pelo nome. Que saibas que sou eu e mais ninguém. Nem Alexandra nem Maria, sem margem para equívocos. Gosto que o sussurres baixinho, em súplica, ou que o digas com esse tom sério de sobrolho franzido, como quem quer repreender mas só me quer prender, chamar à razão, colar-me ao chão. Sabe que não podes! Eu só sossego quando quero, se me tentas agarrar eu vôo em vendaval. Desfaço-te em mil folhas de papel, as letras alvoraçadas, borrões de notas graves aos trambolhões. Todos os nomes são poesia se uivados à lua, soltos à toa. Que nomes tens, que nomes me dás? Incendeia-me o sangue, dobra-me, esmaga-me, estala-me os ossos, derrete-me. Escreve o meu nome nas paredes da rua, trarei a picareta para as fazer ruir. Destroços de ti nas minhas mãos, todo pó, todo ilusão.
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Tento enganar o pensamento, distraí-lo com trabalho, pensamentos abstractos ou disparates, mas é a ti que encontro. Leio mais um conto do velho livro do Gabriel, mas revejo-te nas palavras inesperadas, nos absurdos caribenhos, nas imagens que vou pintando de surrealismo improvisado. Dou por mim a recordar-te a voz suave – suavecito - em repetição, a recordar-te cada pensamento, o idealismo, esse tal que me agarrou forte pelos ombros e me sacudiu de cima a baixo. Divago novamente e regresso aos beijos, a esses lábios de nuvem morna e doce que deixaram saudades. Perco-me.
Faço um esforço para me lembrar que não tens sido correcto, para recordar o buraco fundo no peito em que a tua frieza me enterrou. Respiro fundo e continuo a andar. Nem a mim me engano - os olhos procuram-te na multidão, inconscientes, e a respiração suspende quando outra barba negra surge ao longe. O instinto é perguntar por ti, saber onde estás e quando posso voltar a ter o teu sorriso na mão. Vem ter comigo, vamos ver o mar, fazer festas aos gatos. Fala-me baixinho ao ouvido e pede outra vez que te chame namorado.
Cerro os lábios e insisto, não vou ceder. Não sou um acessório a usar só quando precisas de mim, que pode ficar arrumado na prateleira até lá. Se nunca serei a prioridade, então não quero ser nada. O amor não é lógico mas também não é um sentimento em part-time. Vai lá salvar o mundo com os teus longos textos sem a audiência que merecem, ou dormir, ou recrutar mais um insatisfeito, ou lá o que é que te consome todos os segundos. Fico zangada e triste, mas resisto. Disse que me ias arruinar, mas não vou permitir. É que - sabes? - também é o meu idealismo que me salva de ti.
Já da maldita inquietação…
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Dramáticos e roxos, os pés não mexem. Enterrei-os fundo, sob vários centímetros de neve, que me tolhem a sensibilidade das barrigas das pernas. Os joelhos, engelhados, parecem os dum elefante morto, deixado ao abandono das suas perpétuas memórias. Os braços abertos, palmas das mãos viradas para fora como se dum crucificado se tratasse, presas por correias de angústia à pobreza nua duma cruz sem traves nem pregos nem madeira nem cor. Os cabelos, uma bandeira, sem pátria nem conquistas, apenas a dançar revoltos com a geada. Cobre-me desde os seios até meio das coxas uma velha e rota casca de sobreiro, cortiça mortiça, enrugada, carcaça duma vida outrora suculenta e audaz. Oca, lambida por húmidas putrefacções, oculta reflexos de si própria no vazio instalado. No rosto apenas traços muito grossos: dois cerrados no local onde deviam brilhar os olhos, mortos e abandonados faróis enferrujados de mares imensos, salgados e que escorrem para dentro; outro, mero agrafe do sorriso, para sempre toldado, impedido mesmo de dar espaço a cantos chorados, uivos de solidão.
Assim sou eu, hoje, sem vontade de avançar ou de recuar, sustendo-me do ar e da força que me mantém, firme, de pé, contra tudo e todos. Que posso achar-me vazia, oca, num absurdo desespero, sem apoio de nenhum dos pontos cardeais; posso ter perdido a razão, a emoção, o abraço que me embalou ou o beijo que me amou, mas não deixarei de Ser, sombra talvez do que fui, mas cá estou, de pé, como os bravos. A rendição é inequacionável. Hoje, sobreviver, com os sangues que ainda correm, para nunca deixar de Ser e amanhã, talvez, Voar.
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A todos os que, como eu, dão voltas e voltas para racionalizar o que não se deve, tenho o prazer de anunciar uma luz ao fundo do túnel.
Já se descobriu a fórmula matemática do amor.
Já tinha visto a fórmula do croissant e outras bizarrias, mas a do amor superou tudo.
Não concordo nada. Chorar resolve, nem que seja pelo cansaço, coisas importantes dentro de nós. Ou pelo menos ajuda bastante. Não sendo a melhor das soluções, na falta dum abraço e dum chocolate quente, é a alternativa que se apresenta. Chorar as saudades dry.(Pois, só funciona em bilingue.) É o que faz, literalmente, chorar baba e ranho (pelo menos a mim). Uma torneira de mar salgado em cada ducto lacrimal. Chorar raiva e injustiça. Com a face quente e vermelha e um nó na garganta que sufoca e parece que quer esmagar o peito oprimido e as veias do pescoço a gritarem mais alto. Chorar tristeza, é o que custa mais. Lágrimas lentas, espessas, a correrem com toda a indolência pela cara abaixo, em silêncio, sem se tocarem, até tornarem ao canto da boca e se reciclarem no ciclo da melancolia. Da mesma composição das lágrimas de solidão, ou não fosse a solidão filha da tristeza (ou será vice-versa?).
Não chegou a haver tempo para ter saudades das lágrimas, que se elas andarem avessas uma ou outra semana parece apenas que contemplam umas breves férias, merecidas, por quem está no activo todos os outros dias do ano.
Chorar ausências e o que nunca teve uma oportunidade de ser criado, como um aborto antes da inseminação. Chorar uma última vez (...), como num beijo de despedida, e secar os olhos e untar com camadas espessas de ternura cicatrizante o coração que bate, já bate, e como bate (!), e por tanto e tão forte bater arrepanha as cicatrizes mal curadas.
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Não sou grande adepta das coincidências, o meu hiper-racionalismo não me permite. Desde miúda, divirto-me a encontrar padrões e relações (em grande parte, numéricas/matemáticas) em tudo quanto deito a mão, ou os olhos. Ele é para arranjar mnemónicas, ele é para estimular as sinapses, ou simplesmente porque sim, acho giro, ok? (Já sei, croma, nerd, etc. e tal. Sim, com muito gosto!) Quando era criança, nas viagens de carro, o alvo eram as matrículas dos automóveis. Agora, mais crescidinha, aplica-se também em factos da vida (e se a minha está pejada de supostas coincidências!), e vejo não raras vezes padrões astrológicos coerentes. Isto para dizer que, nem com todo o meu cepticismo, me resigno a considerar a astrologia uma farsa. É arrogante de nossa parte achar que tudo o que não sabemos explicar não é real, até porque quando se começa a explicar o que quer que seja são mais as perguntas do que as respostas. E se a Lua influencia algo de tão visível como os ciclos menstruais e períodos de gestação dos humanos, talvez não seja de todo descabido aceitar que exista uma relação entre posições de outros astros em certos momentos e traços de personalidade (manifestações genéticas, quiçá?). Olhando em redor, é-me impossível não admitir que há um padrão em certas coisas. Por exemplo, o retorno de Saturno. (Google it.) Atrevam-se a pensar nisso a frio, é só o que proponho.
Outra curiosidade, e quem me conhece pode atestar. Cerca de 45% dos meus amigos (e Amigos) são do signo solar de Caranguejo. Os outros 45% dos amigos (e Amigos) são Touro. Dou-me muito bem com Leões e o entendimento com Escorpiões dispensa palavras, é quase telepático. E intensamente fogoso. E estímulos intelectuais a rodos (já o disse, o grande turn-on). Três homens absolutamente extraordinários, admiráveis e a roçar a perfeição (sob os meus parâmetros distorcidos). Duas paixões arrebatadoras, inundadas de admiração, nunca abalada, e uma ‘coisa’ maior que tudo, de dentro do mais fundo da alma até ao infinito e mais além. Os Gémeos masculinos têm uma estranha envolvência que me alicia. Encontro-lhes demasiados defeitos, são uns presunçosos, dissimulados, pouco directos, interesseiros. Mas gostam de mim, que eu sei. E fazem-me querer acreditar no que dizem. Dois (ex-)namorados e uma fling com weirdest first date ever incluído. E zangas, e discussões. E um desejo (pequenino, a instalar-se) que saia um convite em breve... ;)
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Sempre que o amor me quiser
Basta fazer-me um sinal
Soprado na brisa do mar
Ou num raio de sol
Sempre que o amor me quiser
Sei que não vou dizer não
Resta-me ir para onde ele for
E esquecer-me de mim
E esquecer-me de mim
Como uma chama que se esquece
Numa fogueira que arde de paixão
Sempre que o amor me quiser
Sei que a razão vai perder
Que me hei de entregar outra vez
Como a primeira vez
Sempre que o amor me quiser
Vou-me banhar nessa luz
Sentir a corrente passar
E esquecer-me de mim
E esquecer-me de mim
Como uma chama que se esquece
Numa fogueira que arde de paixão
Sempre que o amor me quiser
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Por várias vezes já me perguntaram porquê. E eu esquivo-me, com muitas racionalidades e justificando que o resto não tenho como explicar. Porquê? Não faço ideia, porra! Porque sim, como não? Bate certinho, ao milímetro, nem mais nem menos, medidas perfeitas na transcendentalidade do que não se pode medir. Acasos, coincidências, magia, alquimia... Porque é, não sei. Mas é. Cada vez mais tenho uma certeza inabalável, que nasceu dum sopro que me iluminou a alma. A parte racionalizável já tinha sido exposta, a alquimia foi há dias certos, contados, não vou dizer quantos que é quase humilhante. E assim foi. Foi o sorriso, cheguei a dizer?