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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Na internet, entenda-se. Há algum tempo atrás, eu era uma autêntica carmelita das redes sociais - só aceitava ligações de algumas pessoas conhecidas e mesmo estas só tinham permissões para aceder ao quase nada que disponibilizava. O anonimato no mundo dos blogs era absolutamente sagrado e apesar de ser utilizadora de um ou outro dating site/app, deixava quase tudo por revelar. Destes pontos ainda não abri mão nem sequer ponderei o assunto, até porque o anonimato me permite liberdades que de outra forma não poderia recuperar.

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Há uns anos, vieram insólitas histórias de amor, desamor e amizade e deixei de ser tão picuinhas. Ocasionalmente, passei a aceitar pedidos de ligação de pessoas que não conhecia mas tinham amigos e interesses em comum comigo, ou no caso de redes profissionais, interesses próximos. O conceito foi-se tornando cada vez mais flexível, passei a aceitar literalmente toda a gente no Linkedin (surgiram ali propostas de emprego deveras interessantes, sem outra indicação além da própria rede e mudei de emprego graças a uma destas ocasiões).

No meu Facebook pessoal (não o do blogue), que cheguei a desdenhar e estava mesmo quase a desactivar a conta, mudei o paradigma. Utilizo sobretudo para ter acesso a informação e divulgação dos temas que me interessam (com ênfase na vertente política), faço parte de alguns grupos internacionais de apoio e partilha de experiências (que são francamente úteis para receber e dar apoio a pessoas que tenham gostos/necessidades/situações semelhantes), para debater ideias e para descontrair um bocado com amigos - virtuais e não só - em qualquer canto do mundo.

Continuo a ser muito ciosa da minha privacidade e a ter comportamentos que porventura pecam por excesso de zelo: partilho muito poucos dados pessoais (nem o nome completo agora consta), muito menos locais de trabalho e localização, só partilho fotografias e outras informações mais sensíveis com grupos mais restritos, faço muito uso das listas de amigos para mais facilmente regular as definições de privacidade. Contudo, em termos de relacionamentos percebi que há pessoas que têm mesmo, inevitavelmente, de se encontrar. Não acredito, de todo, no destino, mas acredito nas leis das probabilidades. Seja mais cedo ou mais tarde, é incontornável que algumas pessoas um dia se aproximem, por tantos paralelismos ideológicos, políticos, artísticos e mesmo geográficos partilharem. Sobretudo quando se faz parte dos chamados "grupos marginais", minoritários, de contra-culturas. Estranho seria que pessoas que partilham tanto e num espaço relativamente pequeno passassem a vida toda sem se cruzar, ou que, cruzando-se nos mesmos sítios e eventos, deixassem de se partilhar umas com as outras por timidez ou falta de oportunidades.

Tendo tido experiências particularmente positivas ao longo – sobretudo – deste ano, em que alguns amigos virtuais passaram para o tridimensional e em grande, porque são pessoas mesmo porreiras, com quem me identifico muitíssimo e com quem me sinto desde sempre tão estranhamente confortável e à vontade para ter as conversas mais íntimas e profundas (acreditem que para mim que sou bicho-do-mato é mesmo muito raro isto acontecer), e outros que ainda não passaram para as três dimensões mas que já sabemos que há uma ligação muito forte e até bonita (hoje estou uma lamechas), concluo que em vez de adiar o que é inevitável e tão positivo teremos todos mais a ganhar com uma abertura mais descontraída de algumas portas. Assim sendo, nas redes sociais (sobretudo Facebook e Instagram) passei a ser uma verdadeira libertina. Aceito pedidos de amizade de quase toda a gente, faço pedidos de ligação a desconhecidos amiúde, tenho conversas e debates interessantes com malta que nunca vi e tenho aprendido coisas engraçadas sobre a natureza humana e muito mais.

No fundo, finalmente digo em relação às redes sociais aquilo que já digo há muito tempo em relação ao "online dating". Não há nenhum particular perigo à espreita se toda a gente estiver informada e essencialmente, a internet é apenas mais um sítio para as pessoas se encontrarem, é mais uma forma de estabelecer privacidades e empatias. É aproveitá-las. :)

Descobri mais ou menos por acaso que, pelo menos para iOS, o Facebook tem uma nova (?) função, que me parece muito útil.

Se forem pessoas particularmente sensíveis ou de pavio curto como eu, sabem que às vezes, a bem da manutenção da paz, de uma relação de amizade, da camaradagem entre colegas, da cordialidade para com conhecidos, da boa vizinhança, ou mesmo, in extremis, a bem de não ir parar à cadeia, o melhor a fazer é "dar um tempo". Fazer uma pausa, respirar fundo para poupar os nervos, distanciar um bocadinho para que as coisas que agastam a relação não toldem aquilo que se quer preservar. Não se quer cortar relações com a pessoa nem ficar completamente alheio à sua presença, mas demasiada interacção ou um excesso de emotividade pode fazer disparar algumas reacções exacerbadas e com um potencial destruidor irreversível.

O  Facebook simplifica a tarefa com a opção "Take a Break", que surge logo abaixo do "Unfriend" ("Remover Amizade"). Não é mais do que um atalho que permite a edição de várias opções: ver menos publicações daquele amigo, limitar as nossas publicações que o amigo pode ver e editar as opções de partilha para os posts antigos. Mais importante, serve de alternativa apaziguadora quando já vamos lançados para clicar no "Unfriend", enfurecidos, fartinhos até aos cabelos da palermice de um 'amigo'. 

Não faço ideia se esta funcionalidade é nova, mas para mim é novidade e por acaso veio mesmo a calhar. Também não sei se está disponível em todas as plataformas (nos telemóveis em que experimentei, iOS tem, Android não, e no PC também não encontrei). [Se houver por aí entendidos na matéria que queiram partilhar a sua sabedoria e esclarecer as dúvidas do povo, é favor botar faladura ali em baixo na caixa de comentários.]

O que sei é que isto dava um jeitaço também na vida real! Eu iria ser uma utilizadora intensiva, seguramente, pelo menos em ambiente laboral. De cada vez que sou interrompida pelos suspiros e intervenções racistas da chefe, pelas mil perguntas e relatos infindos da colega do lado, pelo karaoke da colega de trás (a acompanhar um rádio despertador que todos temos de gramar), tenho de fazer um esforço hercúleo para não ter um ataque de raiva e começar a bater em toda a gente, ou agrafar-lhes a boca - só porque não me dava jeito nenhum ser despedida neste momento.

Enquanto o teletrabalho continuar a ser a excepção em vez da regra e os meus colegas de trabalho continuarem sem ter a menor noção do que é o respeito pelo tempo e espaço dos outros, tentarei passar a aplicar algumas restrições de privacidade em 3D: não dar conversa, colocar os 'fones' nos ouvidos para me mostrar menos disponível e praticar muito a capacidade de abstracção.

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[Publicado originalmente a 13.07.2010.  E mantenho cada palavra.]

 

 

Hoje vou citar. E vou citar aos bochechos, que muito há para dizer. E quem vou citar? O Edson Athayde, no ionline. Ora vamos:

Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. A vida, para mim, é isso. Tudo mais é complemento, é consequência, é redundância.

 

Não sou tão extremista. Há mais na vida para além dos amigos e, pese embora deva ser uma vida incomparavelmente triste e pobre, há quem não tenha amigo algum (acreditem, há) e tenha uma vida, lhe confira significado e talvez até tenha interesse. E há que separar o trigo do joio. Hesito em chamar amigo a pessoas que conheço, até com profundidade, se não as gosto. Outras há que, conhecendo em menor extensão, confio sem second thoughts, de natural que é. Daquelas coisas que não se explicam com muita lógica, mas que se sentem sem dúvida.

 

Fazer amigos: o mais difícil, com o passar do tempo. Quando miúdos, só são necessários uns interesses em comum. Entre os rapazes a coisa é ainda mais simples: basta ser adepto da mesma equipa, gostar do mesmo sabor de gelado, demonstrar alguma habilidade no Subbuteo, ter uma certa fixação pelos seios da professora Sónia. E assim começa uma longa amizade. Depois de cruzarmos o cabo da boa esperança dos 30 anos aparecem as complicações. Mais ninguém que nos aparece é assim tão confiável. Fazemos colegas de trabalho, companheiros de futebol, cúmplices de bares, mas amigos novos é coisa que vai rareando.

 

Na infância, os conceitos de lealdade e confiança são menos permeáveis às nuances das realidades que a vida adulta impõe. E talvez por isso mesmo, quer-me parecer que sempre coloquei as fasquias demasiado elevadas, e cada vez mais com o passar dos anos. No entanto, a vida te-me reservado boas surpresas (ao menos) neste campo. Não guardo amigos de infância. Alguns da adolescência, mas devo dizer que as pessoas excepcionais que fazem ou fizeram parte do meu círculo de Amigos, encontrei-as em grande parte em idade adulta. A comunicação vai muito para além do corriqueiro e toca sensibilidades que não estão expostas aos 15 anos. A frontalidade, o despretenciosismo de se dizer o que se pensa sem querer impressionar ninguém, ajuda imenso a conhecer as pessoas com quem se interage. E por vezes bastam meia dúzia de frases, uma empatia inicial que abre caminho a gargalhadas ou a reflexões. Falo por mim, que tomo consciência de que tenho feito novos amigos, de quem gosto genuinamente e a quem abro a alma sem reservas. As duas moças do curso de escrita, de quem sinto falta das cumplicidades. O pescador gótico com um sentido de humildade que me tocou. A ex-chefe a quem arregalava os olhos e não poupava críticas, de onde nasceram laços profundos. A velha colega de curso que de repente se revelou em palavras à distância. A amiga de amigos com quem estive em duas ocasiões apenas e me lê mais pensamentos do que os que partilho. O dentista que passei a tratar por tu por entre estórias de vida. A colega de trabalho com quem podia conversar dias a fio. É preciso não ter medo. Medo de ser quem somos, de assumir os nossos sonhos e as nossas falhas. Dar um pouco de nós aos outros não nos torna frágeis nem susceptíveis. Torna-nos mais ricos. Dar um sorriso que seja, não custa nada e pode alegrar o dia de alguém. Mais, pode convidar a entrar na nossa vida pessoas que, só por existirem, fazem da vida um sítio melhor.


Manter amigos: dependendo de com quem é pode ser uma missão simples. A amizade permite-nos um sem-número de erros, vacilos, pequenas maldades, desconsiderações. A amizade pressupõe uma quantidade hiperbólica de perdões. Claro, há sempre um limite. Mas não há amigos perfeitos, porque não há pessoas perfeitas. E o que seria da amizade sem a misericórdia, sem a compreensão? Aos amigos, tudo. Aos inimigos, o justo.

 

Não há amigos perfeitos, nem pessoas perfeitas. Dos grandes amigos espera-se demasiado, porque são aqueles que admiramos, que prezamos. As pequenas falhas magoam demais e podem tornar-se desilusões. As mesmas que causamos nos outros. Não há regra nem receita para o sucesso. Bom senso e compreensão costumam ajudar. Ver o lado do outro, walk a mile in their shoes. Perguntar "porque fizeste isto?" antes de julgar. E perceber que se a amizade não vale o suficiente para engolir o orgulho e perdoar, então não é amizade, é conveniência.

 

Perder amigos: costuma ser uma tristeza pior que a morte. Quando o que morre é a amizade e não o amigo, o fantasma do que antes era belo assombra e assusta. Quer pior coisa que um ex-amigo? O ressentimento é o cancro das emoções.

 

Não o diria melhor. Tristeza pior que a morte. Sei bem o que é perder um amigo, a pouca importância que têm as culpas e as razões perto do vazio que se instala no peito. Coloca-se tudo em causa: a importância que se teve para o outro, as palavras ditas, a confiança quebrada. Permanece, sobretudo, o sentimento de injustiça. Como pode alguém a quem quero tão bem descartar-me como se lhe fosse incómodo ou nefasto? A amizade valia tão pouco que foi trocada por isto?

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Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. Repito, repito, repito. Penso e repenso nisso ao reparar nas mais de 6500 almas que me adicionaram como “friend” no Facebook. O que devo fazer para não decepcionar essas pessoas que não conheço? Como posso tornar sustentáveis milhares de relações virtuais sem (com isso e para isso) descuidar das pessoas de carne e osso que teimam em ter-me como amigo?
Há muitas respostas para essas perguntas. Mas não gosto de estabelecer regras nem professar ciências. Só queria alertar para que vale a pena pensar no assunto. Conheço gente que, desde que começou a facebookear, passou a tratar com descaso as pessoas reais das suas vidas. Eu mesmo apanho-me de vez em quando enciumado com amigos que postam nas suas páginas coisas que, teoricamente, só os mais íntimos deveriam saber. Se calhar é coisa minha (minha idade emocional não vai muito além dos cinco anos). Mas recomendo atenção. Amigos, amigos, Facebook a parte.
Ou como diria o meu Tio Olavo: “Amigo é alguém que, ao nos conhecer de verdade, não sai a correr.” 

 

Amigo é quem me conhece e, ainda assim, gosta de mim. Digo eu, que nunca privei com o Sr. Olavo. Não vejo porque separar os amigos "reais" do facebook. O facebook (e quem  diz facebook diz qualquer rede social) pode (e deve) conter apenas laços reais, cujo suporte se prolonga no mundo virtual. Longe das advertências do Edson, eu sou apologista incondicional das vantagens emocionais do facebook. Cuide-se da privacidade com bom senso (sempre) - e há ferramentas para isso, e as amizades não têm porque não sair fortalecidas. Claro que não é caso para trocar o convívio pessoal com o virtual. Mas, é inevitável, uma boa parte dos amigos e conhecidos não estão sempre por perto. Há uma boa porção de pessoas que as circunstâncias da vida afastam do dia-a-dia e que nas redes sociais não têm de estar afastadas. Convenhamos, quem vai telefonar ou enviar um e-mail àquele velho colega que está há dois anos emigrado e com quem não se manteve contacto regular só para dizer "olá" ou "ontem li uma notícia que me fez pensar em ti"? E porquê criar anticorpos à tecnologia, se esta, bem utilizada, não só não se substitui aos laços 'reais' como pode mesmo estreitar laços em que, de outra forma, não se investiria o suficiente?...

Abrir o Facebook pessoal.


Ver os primeiros 2 segundos do vídeo espectacular do "dia dos amigos" de um amigo. Scroll down.


Ver os primeiros 2 segundos do vídeo espectacular do "dia dos amigos" de uma amiga. Scroll down.


Ver os primeiros 2 segundos do vídeo espectacular do "dia dos amigos" de outra amiga. Scroll down.


Ver os primeiros 2 segundos do vídeo espectacular do "dia dos amigos" de outro amigo. Log out.


Este post está em rascunho na minha mente há meses. Aliás, há anos. É um assunto que ainda é um pouco tabu, sobre o qual ainda há muita desinformação e preconceitos, e por isso mesmo é raro falar disto - mesmo entre amigos próximos.

 

Conhecer pessoas (romanticamente falando) pela internet. Sinto que chegou a hora de dar o meu testemunho, aproveitando que a SIC chamou o tema ao prime time com a sua reportagem especial de domingo.

 

Talvez o meu testemunho seja relevante, até porque as relações amorosas importantes da minha vida passaram todas (as 3) pela internet. A primeira por acaso e há demasiados anos para que coisas como o Facebook ou o Tinder sequer existissem, e numa altura em que havia uma grande dose de cepticismo (de minha parte, pelo menos) no que seria a realidade do outro lado. Passados tantos anos, concluo que ainda há muitos preconceitos e disparates na cabeça das pessoas. Tudo o que digo aqui é, naturalmente, apenas a minha perspectiva, mas acreditem que eu sou qualificada para falar do assunto. Está na hora de desfazer equívocos e dogmas. Vamos a isso!

 

Ninguém é na realidade o que diz ser na internet. Mentirosos há em todo o lado, e convenhamos: quando conhecemos alguém que nos interessa romanticamente não começamos por desvendar os nossos piores defeitos, certo? Depois de muita reflexão sobre o assunto, achei na altura em que conheci o meu primeiro namorado a sério na internet que era mais fácil as pessoas serem transparentes na internet, mais genuinas, do que ao vivo e a cores. E isso traz óbvias vantagens no campo amoroso. Quanto à minha forma de estar na internet, seja em que contexto for, isto sempre foi incontornável - consequência da introversão natural, da auto-estima esfolada, do à vontade com a expressão escrita e da protecção que o monitor traz.

 

É perigoso. Claro que pode ser muito perigoso, especialmente se em vez de pessoas adultas e responsáveis estivermos a falar de jovens com pouco conhecimento dos riscos que correm em fornecer informações pessoais a estranhos. Isso jamais se faz! E se chegar a hora de marcar um encontro, deve escolher-se sempre um local público, bem iluminado, com bastantes pessoas à volta e, de preferência, policiamento e câmaras de segurança. Adicionalmente, e eu sempre fiz isto com as pessoas que conheci da internet, dizer a um amigo próximo o que vamos fazer e o local do encontro, combinando uma hora para dar notícias. "Se às x horas eu não disser nada e não me conseguires contactar, chama a polícia e dá estes dados" (incluindo n.º de telefone da pessoa com quem nos vamos encontrar, etc.).

 

É difícil! Encontrar o amor é, realmente, difícil. Pode ser desesperante e pode ser uma busca infrutífera. Mas também pode surgir quando e onde menos esperamos, e nesse momento todos os desgostos, toda a solidão anterior, passa a ser apenas uma névoa sem importância. Eu já tinha deixado de acreditar no amor e desistido completamente quando ele me encontrou, monitor adentro. Quando me inscrevi no site que me deu a conhecer o meu babe, a verdade é que ia sem expectativas. Aliás, dizia explicitamente no meu perfil que não procurava um namorado, estava mais interessada em encontrar um companheiro de viagens. Lá está, não havia nada a perder. Na pior das hipóteses conhecia virtualmente algumas pessoas que poderiam ou não transitar para a "vida real". E fazer uma incursão exploratória é tudo menos difícil, é inserir uns dados num site e voilá. Hoje em dia a maior parte de nós simplesmente deposita a maior parte da energia e do tempo no trabalho, trabalhamos horas a fio, que nem loucos, e quando não estamos a trabalhar estamos a caminho do trabalho ou a cumprir rotinas. Não sobra muito tempo para socializar na rua, em bares e cafés, sobretudo depois dos trintas, quando a disponibilidade das companhias naturais (os amigos) vai também escasseando. O telemóvel está sempre connosco, o computador está ali, e é muito mais fácil e rápido conhecer alguém, ou pelo menos "explorar o mercado" por estas vias.

 

Quem se conhece pela internet só está interessado em engate. Não é verdade. Temos que contextualizar as coisas. Os factos são que há muita gente sozinha, muitas pessoas que não conseguiram recuperar depois de relações falhadas e ainda os que nunca encontraram alguém especial. Também há (e não são poucos) os que só procuram sexo, um engate de uma noite, ou mesmo um caso extra-conjugal. [Recordo-me de um rapaz que jogou insistentemente a carta do "coitadinho de mim, só conheci uma mulher na vida e tenho curiosidade de saber como é estar com outra pessoa" - a sério, isto resulta com alguém?] E então? Há em todo o lado pessoas que procuram o amor verdadeiro, pessoas que procuram apenas uma companhia, pessoas que procuram apenas encontros sexuais. Basta dizer frontalmente ao que se vai. Se encontramos quem queira o mesmo, muito bem, se não, dizemos que não e passamos p'ra outra. 

 

Dar tampas e o medo da rejeição. Pois, lamento, temos de estar preparados para levar tampas e também para as dar sem grandes demoras. É simples dizer que não. É muito mais simples dizer que não pela internet, em que podemos simplesmente não responder, bloquear alguém ou dizer, honestamente "não estou interessada". Acredito que quem está do outro lado também não terá grande interesse perder tempo em bater na mesma tecla, afinal, há muitos peixes no mar.

 

Mas só há falhados e gente esquisita nesses sites! Gostos não se discutem, quem feio ama bonito lhe parece e todos os provérbios populares aplicáveis têm o seu fundamento, ok. Nos sites de matchmaking, como na tua rua ou lá no emprego ou em qualquer discoteca, há exactamente o mesmo tipo de pessoas: todas diferentes umas das outras. Nada como experimentar, não há nada a perder, certo? Da minha experiência pessoal, posso dizer que estive uns tempos registada em 2 sites de matchmaking. Num deles, maioritariamente dominado por pessoas de meia idade e com uma perspectiva mercantilista (o site oferecia x mensagens de borla, para aceder a mais era preciso pagar), não encontrei qualquer interesse. Terá sido azar, mas só me contactavam pessoas cujo perfil simplesmente não me interessava minimamente. Já no outro site, o OK Cupid, posso dizer que conversei com várias pessoas e encontrei pessoas realmente interessantes, inteligentes, cultas, com interesses semelhantes aos meus e sistemas de valores compatíveis com o meu, que poderiam facilmente ser minhas amigas. Aliás, foi precisamente aqui que encontrei o amor da minha vida. O OK Cupid faz uns questionários e cruza os resultados, apresentando uma percentagem de compatibilidade entre 2 pessoas, e recomendando pessoas (próximas geograficamente ou não, segundo me lembro esta é uma opção editável) com elevada compatibilidade. Só tenho a dizer o seguinte: resulta!

 

Não conheço casos de sucesso. Talvez conheças mais do que pensas. Acontece que, como disse acima, as pessoas ainda têm receio de falar abertamente sobre o tema, para evitar comentários parvos e preconceituosos, bem como perguntas tontas e indiscretas. Há muitos, mesmo muitos, casos em que a coisacorreu francamente bem. Conheço um casal que não só se conheceu pela internet, como começaram oficialmente a namorar apenas através da internet (tinham todo um oceano a separá-los), e ficaram noivos sem nunca antes se terem tocado. Hoje, passados uns 12 anos, vivem juntos e felizes, têm um filhote, e confirmam que foram feitos um para o outro, mas sem a internet dificilmente se teriam cruzado. 

 

E os blogues?! - perguntar-me-ão. Os blogues são janelas privilegiadas para a alma das pessoas que os escrevem. Com todas as vantagens e desvantagens que isso pode trazer, eu acredito que podemos realmente conhecer algumas pessoas simplesmente lendo aquilo que escrevem. Tenho bons amigos que os blogues me trouxeram ao longo dos anos. Tenho um grande amigo que me perguntou há anos, quando tinha um blog anónimo e muito pouco conhecido, se era eu a autora, porque reconheceu a minha escrita. Tive um namorado que se apaixonou por mim conhecendo apenas as palavras que depositava num blogue.

 

 

A conclusão que retiro de tudo isto é apenas uma: a internet é apenas mais um lugar onde as pessoas se podem conhecer, apaixonar, fazer amigos, criar ódios viscerais, dizer e fazer disparates, perder tempo ou encontrar a felicidade. Ou seja, exactamente como uma extensão do resto do mundo.

Há mesmo casais que partilham tudo. Muito para além de casa comum, carro, conta bancária. Há casais que partilham até a conta de Facebook. Vocês também os conhecem, andam aí pelas redes sociais com nomes maravilhosos como "José Carla" ou "Vítor Sónia" ou "Mónica Paulo". E isso deixa-me com profundas questões filosóficas.

 

A privacidade, para começar, onde fica? Será que duas pessoas abdicam da sua individualidade, da sua identidade, e não lhes parece nem um pouco estranho? Acham mesmo que a partilha sem limites é sinónimo de amor e de cumplicidade? Para mim vai tudo culminar na perda de liberdade, de autonomia. Não vale tudo, por excelente que seja uma relação, tem de existir uma linha (mais flexível ou mais rígida) a partir do qual o outro deixa de ter de saber ou tem uma palavra a dizer. Isto também é respeito. Já para nao falar dos "amigos" na rede social que têm todo o direito de só pretender manter uma relação virtual com um dos elementos do casal, ou partilhar certos conteúdos com apenas um e, por arrasto, ter de o fazer com mais uma pessoa.

 

E quais as razões para nascerem estas aberrações de duas cabeças? Será para poupar alguma coisa - porque não sabem que as contas são gratuitas? Será que um dos elementos do casal insistiu muito para fundirem as contas pessoais com meio milhão de argumentos válidos, do tipo "é mais giro assim" ou... hmm...  (Não me ocorre rigorosamente nada!) Isso parece-me, claramente, que arrasta um certo grau de desconfiança ou necessidade de controlo da outra pessoa. E já devíamos todos saber que o ciúme desmedido e outros comportamentos obsessivos numa relação de casal são um caminho muito perigoso...