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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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O problema dos lugares é que ficam tatuados nas memórias, acoplados aos cheiros, às emoções [coração no túnel, fora do peito], ao tacto, ao som de cada palavra [tuas dentadas, bochechas salgadas]. Não se consegue dissociar o lugar das memórias fortes, felizes ou infelizes, e isso gera toda uma expectativa inconsciente de que os lugares, só por existirem, asseguram para a eternidade os sentimentos que outrora testemunharam. Por isso se recomenda não voltar aos sítios onde já se foi feliz. O cérebro adora encontrar padrões na realidade que apreende e espera a reprodução daquela outra felicidade [os beijos de nuvem, boca macia de volúpia]; claro que o mais certo [o amor não é física, não se reduz a explicações nem a fórmulas matemáticas] é a realidade não encaixar na expectativa. Se a História se repete é por falha no guião, alheio à natureza mutável do mundo e dos homens [podia bem ser a tua mulher]. Culpa da memória que vai lapidando e erodindo as recordações, às vezes forjando algum pormenor [as tuas mãos nas minhas mãos, o meu nariz aninhado] ou submergindo-o por inteiro.

Insisto na teimosia [camarada]. Lugares há em que deambulo todos os dias, vão massacrando pela repetição da ausência, raspando ao de leve a pele com uma lixa suave e meiga [a tua barba negra, os caracóis], mais e mais, até a ferida aberta já não ter pele nem carne nem osso nem sangue nem vazio [fome de ti]. Comprarei um seguro contra desgostos. Uma mezinha para me untar, inteira, loção de aço, à prova de corações partidos e promessas de poesia [Teresinha]. Não tenho como atravessar os mesmos lugares de primeiros beijos [tão doces] e joelhos no chão, com os cacos espalhados, enterrados.

Como é que se esquece, como é que se cala, como é que se ignora que estamos a ir no sentido oposto - e não era nada disto que eu queria [à nora]? Caramba, como é que se respira?!

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Belíssimas histórias de amor, sangue, heroísmo, a eterna luta dos mais fracos contra os poderes dominantes, escravos contra senhores, muito sangue, com efeitos especiais surpreendentes, muito sexo, explícito e sem pudores, traição, mais sangue, homens lindos.



 





 


 


 


  


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

O Paulo Côrte-Real disse tudo o que era necessário no Jugular. Os questionários são mal feitos, ponto. As questões relativas ao comportamento sexual dos candidatos a dadores cujas respostas interessam deveriam ser, objectivamente:


- manteve relações sexuais (inclui sexo vaginal, sexo anal e sexo oral) desprotegidas nos últimos 6 meses?


- teve contacto, nos últimos 6 meses, com mais do que um parceiro sexual?


Só isto.



 


Independentemente das questões colocadas, não há como validar a veracidade das mesmas, pelo que o questionário cumpre apenas com a função de despiste prévio (evitando recolha de sangue que, após análise, seja identificado como portador de algum factor de risco, como por exemplo vestígios de doenças infecto-contagiosas). Caso um candidato a dador seja excluído durante esta triagem, evita a dádiva (que pode provocar algum desconforto e fraqueza), e são evitados os custos associados à recolha, transporte e análise de tecido sanguíneo que não será utilizado para dádivas a outrem e ainda tem de ser destruído.


Após a recolha são, naturalmente, realizadas as análises consideradas necessárias (cujo resultado é partilhado com o dador).


Mas há outro ponto que acho sensível e importante e que partilho convosco. Há genes que se sabe terem uma correlação com o desenvolvimento de algumas doenças auto-imunes. A doação de sangue por parte de portadores desses genes não é consensual. Ora, eu fui dadora de sangue durante alguns anos (como acho que todos os que podem e reúnem condições para a dádiva, tanto de sangue como de medula, deviam ser). Depois descobri que sou heterozigótica para um destes genes malvados e fui investigar. Pois que nuns países se dizia que sim senhor, não se conhecem efeitos nos receptores de sangue quando os dadores são portadores e, por isso, não havia impedimento algum. Noutros países, por precaução, a recomendação é que os seropositivos para aquele gene não doassem sangue (e agora já não me recordo se era feita a análise ou se os questionários de rastreio incluíam alguma questão sobre o tema). Eu sabia que cá em Portugal o tema não era abordado especificamente nos inquéritos de rastreio (apesar das questões incidirem também sobre o histórico clínico, mas a questão é que se pode ter este gene sem haver desenvolvimento de doença auto-imune ou as suspeitas de doença só surgirem mais tarde). Vai daí, perguntei ao Instituto Português do Sangue qual era a postura adoptada, e se poderia ou não continuar a ser dadora. A resposta foi a mais imbecil possível. Diziam-me qualquer coisa como "depende da opção de quem estiver a fazer o rastreio, o melhor é vir cá e logo se vê". Se seria possível ser mais ambíguo ou irresponsável? Duvido.


 


[Infelizmente para mim, a dúvida deixou de fazer sentido quando se confirmou que me havia "saído a lotaria", ou seja, tenho uma doença crónica auto-imune e passei a tomar drogas que ninguém quer no seu sangue e me excluem da possibilidade de doar sangue.]