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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Morreste-me nos braços num dia igual aos outros, antes de o sonho começar a ser real. Quando me sentia ainda excepção pontual, de inseguranças feita e pernas a tremer. Quando ainda eram os teus olhos irreais demais para os saber de cor.

Não sei dizer-te saudade, não sei chamar-te amor.

Não te vejo a meu lado, não te oiço o respirar, os silêncios reticências sombras suspiros. Nem de ti sei, das tuas noites abertas de dúvida, das manhãs chuvosas que interrompem a música do teu sono.

O fio condutor que te trazia a mim cortei-o com os dentes. Memórias não sustentam ninguém, não retiram do ferro o peso acre ou do vazio no peito o sabor dos beijos. Afago os teus dedos sabendo que nada sentes e consumo esta estética da morte lenta que tece frases cinzentas a meia luz, como cicuta.

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Balbuciaram duas ou três sílabas quando ele entrou. Teve de tocar à campainha, já havia entregue as chaves da casa no dia em que formalizaram a escritura e a casa passou a estar só em nome dela. O gato preto, Malaquias, espreguiçou-se e levantou-se pachorrento da pedra do parapeito da janela do quarto, que deixava de estar fresca com a incidência do sol do início de tarde. A última coisa que os unia, além do filho que fizeram juntos uma década antes, estava por fim a ser arrumada, devolvida ao seu lugar. Ele estendeu o livro de páginas amareladas e capa gasta, num tom de laranja que sugeria já ter sido vermelho. 
- Desculpa, parece que foi à guerra... Deixei-o ao sol muitas vezes, levava sempre na mochila quando ia... Quando saía por uns dias.
- Não tem importância, Miguel. – mentiu ela em voz pequenina e despachada.
Esticou o braço e pegou rapidamente no romance sem interesse que ele lhe havia oferecido pelo seu décimo oitavo aniversário, receando que um movimento mais lânguido denunciasse o tremor eléctrico que sentia por todo o corpo. Largou com suavidade na cadeira próxima o volume que lhe entregava aquele homem estranho que tinha sido seu amigo, confidente, namorado, depois noivo e marido durante alguns anos, até se tornar apenas uma cara familiar, que reconhecia das fotografias que ainda mantinha, por respeito ou solidão, nas cómodas e paredes. Sabia tudo deste homem, onde nascera, os nomes completos dos irmãos e pais e tios, a cor da porta da casa onde viveu na juventude, os pratos preferidos e a aversão que tinha ao sabor da hortelã, o jeito como coçava a testa quando tinha sono; porém, não o conhecia. Já não o conhecia nem sabia nada dele. A desabituação de um quotidiano que deixa de ser partilhado pode ser fatal quando a distância se instala, mais do que entre endereços, entre duas vozes caladas. O fosso entre aquelas duas vidas antes entrelaçadas tinha-se tornado fundo demais, sem pontos de contacto, todas as pontes ruídas, deterioradas pelo tempo e por bafios acumulados.
- Bom, então vou andando, não é? Na sexta-feira venho buscar o Pedro para o fim-de-semana, como combinámos.
- Então vá, não te atrases. Na sexta-feira, digo. O menino está ansioso por ver o quarto novo lá na tua casa. Não fala de outra coisa.
- Sim, eu sei. Tu também podes lá ir ver, pintámos o quarto de verde, está giro.
Iniciou um sorriso quase entusiasmado e depois pareceu-lhe despropositado. Que ideia tão descabida, convidar a ex-mulher para ir à casa onde vivia já com a namorada. Pausou.

O cabelo dela recebia da janela raios transversais de sol que nele acendiam um fogo alaranjado a emoldurar o queixo fino, escorrendo em fiapos pelo pescoço e pelos ombros encolhidos. Por um fragmento de instante, ele vislumbrou a miúda apagada com quem tinha dado o primeiro beijo na adolescência. Franzina, de voz aguda e débil como o corpo, cara sardenta e olhos mortiços. Viu-a então e agora como uma boneca de trapos que precisava de ser salva duma espécie de abandono, que se não fosse trazida à vida definharia prostrada, amarelecida e crespa como o Outono fazia às folhas das árvores, num banco de jardim ou em qualquer outra plateia de onde os picos de acção só são observados e aplaudidos, ancorada aos receios ou a uma qualquer irrealidade paralisante.
Ela passara toda a sua vida na hesitação, não experimentando a água até ser puxada para o mar, à espera que alguém lhe desse permissão para rir, para existir. Sentia que nunca tinha feito nada para conquistar o direito de ser dona de si, caminhava esgueirando-se dos obstáculos, como se a pedir licença para ser feliz, em bicos de pés, para não incomodar. Quando ele a olhou nos olhos antes de a beijar pela primeira vez, não resistiu, nem saberia como. Até a respirar o fazia de mansinho, ligeiro, quase sem se notar. Ele tinha salvo a menina tímida que não sabia quem era, injectou-lhe um fôlego fresco e encantado com os seus beijos e planos a dois. Mostrou-lhe que o mundo era dela se ela o quisesse, e ela ia sempre com ele para onde ele a levasse. De mãos dadas, ela tinha a direcção e o rumo que ele indicasse. Sem a mão dele a guiá-la, sentia-se perdida e sem propósito novamente. Naquele instante que sentia fatal como um ponto final, sentia que tinha falhado na sua única missão de vida: ser uma mãe exemplar, uma esposa dedicada. Só tinha de se ter mantido no plano. Quando, seis anos antes, ele tinha aceite uma proposta profissional a dois mil quilómetros, ela fez o que achou que esperavam dela. Aceitou a decisão que ele comunicou, sem mostrar sequer a mágoa que a roía de nem ter sido consultada. Afinal, era um bom dinheiro que entraria no orçamento, e não havia de demorar mais de dois ou três anos. Ficou, a bem do menino, da estabilidade, sozinha com ele. A vida não era fácil lá para onde o marido ia, as ruas eram inseguras, havia crime e dificuldades. "O pai foi ganhar dinheiro para nós, já está quase a vir ver-te", explicava sempre que o miúdo perguntava ou chamava pelo pai. As birras em que gritava desalmadamente pelo "papá" foram reduzindo e eventualmente foram sendo substituídas pelos pequenos actos de rebeldia, respostas tortas. "Aposto que se o pai aqui estivesse deixava." "Eu quero ir viver com o meu pai!", rosnava decidido para desconsolo da mãe. Ela também queria ter o pai dele ali, presente, a partilhar decisões e responsabilidades. E queria ter o marido ali, presente e a completar o pedaço que lhe faltava. Falavam ao telefone quase todos os dias, no início; ele contava os exotismos que o espantavam, ela dava conta do que se passava na escola do menino e das banalidades que lhe compunham os dias. Às vezes riam-se muito das estórias caricatas que guardavam para despoletar gargalhadas no outro, quase um simulacro das noites gostosas e serenas no sofá, em frente à TV, depois do miúdo estar deitado. Outras vezes ela confessava as saudades que tinha dele, para de seguida se sentir culpada por deixar no ar aquela fraqueza, por lhe infligir uma culpa da ausência dos papéis de marido e de pai, afinal ele estava a fazer o melhor que sabia e podia, a ganhar dinheiro - porque tudo se resume sempre ao dinheiro, porque a renda da casa não se paga sozinha, porque há contas para pagar, há a creche do menino, há as consultas e as vacinas, só em material escolar para cima de um dinheirão! "O pai foi ganhar dinheiro para nós", repetia-se por vezes em surdina, sozinha no quarto, de noite, a meio das insónias. Esticava o braço para o lado dele na cama e os lençóis frios e imaculados confirmavam a ausência, a distância, a falta de materialidade das memórias e o peso de chumbo das saudades. Tinha medo de estar em casa sozinha com o pequeno Pedro. Poucos meses depois da emigração de Miguel, o pequeno já dormia sem sobressaltos e bichos papões, e decidira passar a luz de presença para o seu quarto, com a desculpa de que o miúdo podia precisar de chamar a mãe durante a noite e assim ficava com o caminho iluminado. Desculpa pobre, a única pessoa que ali tinha medo do escuro e de dormir sozinha era ela. 

Sabia racionalmente que a culpa que sentia naquele final era descabida, mas nem por isso a sentença lhe parecia mais leve. Não tinha sido ela a quebrar os votos que tinham feito um ao outro. Tudo na vida dela a fazia sentir em dívida para com o mundo, inferior aos exemplos da mãe e da irmã, super-mulheres, fadas do lar, tolerantes para com as falhas dos seus maridos. Sentia os olhares condescendentes e jocosos quando, no trabalho, no refeitório partilhado com colegas confessava que se esquecera novamente de colocar sal na comida ou quando perguntava por alguma receita ou procedimento culinário muito básico. As outras mulheres faziam tudo parecer tão simples e natural. Divorciadas que orientavam sozinhas a casa e dois e três filhos, solteiras que namoravam e saíam com amigos e viajavam, decididas e sem hesitações. Invejava cada uma, não pelo que tinham, mas pela força que imprimiam em cada decisão, em cada argumento. Quando lhe perguntavam em conversa sobre uma polémica qualquer da actualidade, remetia-se quase sempre à mesma resposta: “não sei, não percebo nada disso” ou “não me meto em política, para mim são todos iguais.” 

Recorda-se das recomendações maternas antes de se casar, aos 22 anos. Sobre a lida da casa, as poupanças, e outras inutilidades que, grosso modo, lhe passaram ao lado. Ninguém lhe tinha dito como lidar com a solidão. Nenhum conselho falava do que fazer quando se sentia oca, sem força para nada, perdida. Sobre quais os passos correctos que podia tomar, sem manchar a reputação ou ofender o marido, quando queria dizer-lhe que tinha falta dele, que tinha vontade dos abraços nocturnos de antigamente, em surdina para não acordar o menino, que a preenchiam e lhe mostravam o mais próximo que conhecia da plenitude por alguns instantes. Não sabia, nem sabia que podia perguntar, por isso continuou sempre, obstinadamente, a fazer o que sabia fazer bem: calar. Viver em fuga. Passo ligeiro. Não incomodar. Quando a relação começou a ver as lonjuras distendidas, os silêncios prolongados, continuamente a ser esmagada com o peso da ausência, sabia que provavelmente devia ter feito alguma coisa, devia ter dito alguma coisa. Nunca o questionou sobre os dias em que ficava incontactável, supostamente a sul, nem mesmo quando lhe chegaram rumores que era por vezes visto com uma mulata muito bonita, de mãos dadas, ou quando viu uma fotografia de um almoço de amigos a que ele a levou. Pensou muitas vezes que o silêncio tinha sido sinónimo de conivência, de permissão até. Não que lhe fizesse uma enorme diferença que houvesse outra mulher, ela nem era dada a ciúmes ou sentimentos de posse, só não queria perder o suporte de que dependia. Nunca lhe disse “preciso de ti”, apesar de ser essa a maior questão. Talvez se tivesse estado disponível para passar algum tempo com ele na vida lá longe, fazer-se corpo presente. Talvez se mostrasse mais entusiasmo pelos relatos dele, se tivesse feito mais perguntas, perguntas diferentes. Talvez se naquele dia em que ele estava a passar umas férias forçadas em casa, à conta do calendário do trabalho, ela não se tivesse esquecido que podia ter sido ele a ir buscar o menino à escola quando ligaram a dizer que estava com vómitos e febre. Como é que ela podia ter-se esquecido da presença tantas vezes desejada do marido e pai do filho? Tinha-se habituado a ser mãe e pai. Tinha-se habituado a depender só dela, a contar só consigo própria, a largar tudo quando fosse preciso. Foi nesse dia que, desnorteada, soube que estaria sempre sozinha. Percebeu que afinal era sozinha que estava já há alguns anos, e até tinha sobrevivido. Privada de muitas coisas, com a solidão por única companhia todas as noites, mas sem precisar tanto de muletas como acreditara até então. Os regressos têm destas coisas. Por vezes passa-se tanto tempo a desejar recuperar uma fotografia difusa do passado que, quando o regresso se dá, reparamos que toda a harmonia que se pretendia recuperar deixou de fazer sentido e deixou de ser, afinal de contas, desejado. A saudade do que tinha, outrora, sido, não pode ser apaziguada senão com uma saudade do que está para vir, novo a estrear. Naquela tarde, depois de fechar a porta, surpreendeu-se quando suspirou de alívio. Não fazia a menor ideia do que se seguiria, mas tinha finalmente a certeza inabalável de que havia um caminho a percorrer e que o faria, passo a passo, com maior ou menor segurança, em qualquer direcção por que optasse. Já não havia ninguém que lhe puxasse a mão, mas também nunca mais admitiria uma outra mão que a travasse.

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O conto "A Mãe sem nome", da minha autoria, foi publicado este ano na colectânea "Ei-los que Partem! - Vol II", da Papel D'Arroz.

Era o quarto dia consecutivo que via a mesma mulher vazia, no mesmo lugar à janela do mesmo comboio, de olhos marejados e pendurados no infinito, transbordantes de negro como a roupa que vestia. Olhava com cara fechada um pequeno monitor na palma da mão, de onde saíam, além de alguma coisa que lhe abria um buraco no peito e que sugava as ondas do mar, gaivotas, peixes e traineiras ao largo, uns auriculares que completavam o cenário de exílio. Ela não estava ali, naquela carruagem que largava o início da manhã, pontuada de sonos, risos e agruras de uma pequena tribo rumo às rotinas laborais, um ou outro turista madrugador a caminho de uma praia ainda quase deserta. Sentiu curiosidade e alguma pena da mulher. Ganhou fôlego, levantou-se e sentou-se a seu lado. Ofereceu o seu mais aberto sorriso, com a placa de cerâmica a restaurar a plenitude da confiança dos seus tempos de galã, quando a mulher desviou rapidamente a mochila azul do assento e o olhar do seu vizinho.

Tornou a virar a cara para a janela, sem emoção, voltou ao seu mar de silêncio encriptado pelas canções de amor e Revolução que lhe cantava o cantor maldito ao ouvido e colocou os óculos de sol que lhe prendiam o cabelo em frente a dois pingos finos que lhe salgavam o rosto. Poucos minutos depois, sentiu tocarem-lhe levemente no ombro. O mesmo sorriso de avô que havia visto antes, curtido pelo sol, com o conforto de um hálito ainda preso a uma caneca de cevada instantânea e torradas acabadas de fazer atreveu-se a falar-lhe com a intimidade de uma flecha certeira já alojada entre as costelas. "Oh menina, não esteja triste. A menina desculpe, mas tenho-a visto aqui desde segunda-feira, sempre com essa tristeza toda... É por causa de um rapaz, não é?..." Ela não conseguiu segurar meio sorriso e meio soluço, acenou com o queixo a tremelicar, como se lhe tivessem feito uma rasteira e estivesse em queda, já antecipando os dois joelhos esfolados no asfalto. "Eu vi logo... Menina, deixe-o ir. Oiça o que lhe digo! Se ele gostar de si não a deixa escapar, uma menina tão bonita... Amanhã trago-lhe uma prenda. Não tenha medo nem me leve a mal, eu tenho duas filhas como a menina, uma é mais velha, já tem dois cachopos pequenos." O idoso sorridente continuou a debitar a sua vida, a tornar-se próximo e amistoso com a facilidade que ela sempre admirava nas pessoas com este dom de comunicar com os outros com a naturalidade de amigos de infância. Falou dos netos e alguma coisa sobre umas férias nas termas, alguma outra coisa sobre doenças próprias da velhice que ela preferiu não escutar, apesar de parecer atenta. "(...) Vou sair nesta, mas amanhã trago-lhe a prenda. É uma flor, a menina gosta de flores, não gosta? Mas já chega de lágrimas, hã?! Até amanhã, menina!"
Ela ficou na dúvida sobre o que tinha ali sucedido. Se calhar só imaginou aquele monólogo, se calhar cedeu ao sono que combatia com ganas e alucinou, ou se calhar foi só mais um dos episódios surreais que lhe pontuam a existência de quando em vez, só para recordar que as improbabilidades acontecem e desafiam a lógica, só para recordar que o inesperado pode ser o que falta para restaurar esperanças afogadas ou pode também ser a certeza de que a tragédia é a mais garantida forma de virar os enredos do avesso.
Cansada dos bons conselhos, iguais a todos os que não seria capaz de seguir, exausta das pausas forçadas para retomar o que já não tem cura e nem chega a ter retoma, ponderou imobilizar-se a meio da linha. Nunca tinha  encontrado beleza na possibilidade de abraçar, de peito feito e com a paz de um sorriso torturado, toneladas de aço e ferro a deslizar poeticamente na inevitabilidade. Analisou as opções. Não saberia fingir que gostava de flores se estas não estivessem vivas, incapaz de se imaginar a sobreviver a uma mesma viagem que já repetira, a que já conhecia as curvas e contra-curvas, os declives e o chiar dos carris, cansada de a estação terminal ser sempre o mesmo destino de solidão, decidiu. Não mais voltaria àquele comboio. Aquela tinha sido a última viagem.

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Trocamos poesias e músicas que falam ao ouvido as palavras mil que evitamos, farpas de honestidade ferrugenta por baixo das unhas. Trocamos beijos e sorrisos inseguros sem nos tocarmos, de olhar no vazio, esperanças desertas e vontades casmurras. Recordo o teu discurso cheio de razões quando só queria ver-te sorrir. Devia ter-te calado com um beijo sôfrego nos teus lábios de glaciar impertinente, um beijo apressado, espantado do desejo que me apanhou na curva. É que o teu sorriso arrepia, ainda que viva só num sítio feito por mim, à tua medida, onde ris exuberante, onde os teus olhos brilham em festim guloso e jamais acusam saudade ou desesperança. Os teus sorrisos, difíceis de conquistar, acendem coisas obscuras em mim, sombras lilases de uma ternura sem fim. Juro que podia viver nesse sorriso, podia respirar só esse ar fresco de poesia, de seiva a escorrer do excesso de beleza que trazes ao mundo. Queria tecer-te um casulo de doçura para te ensopar as melancolias, as agressões, as arestas cortantes das noites de solidão, protecção que abraça e te afaga o cabelo, que te embala e promete que tudo vai passar. As paredes rombas da fortaleza que sou eu têm ninho para ti, têm navios cargueiros pendurados do tecto para caberem as tuas fugas, toda a bagagem rota que arrastas nos bolsos da servidão. Sempre te afastas da porta como se fosse a entrada dos infernos, como se a estética dos meus afectos te ofendesse, como se entrar aqui na arcada do meu peito em clamor significasse que descarrilas do rumo que não queres seguir. Recolhe os silêncios na noite espessa, não sabes ainda que todas as palavras podem caber na poesia, que a beleza não se encerra nas palavras chão e flor, nuvens e pardais, que o amor também vive nos desapegos banais que me gritas à janela, em impropérios invernosos e desabafos que a almofada desconhece.

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Costumava usar a saudade como uma pauta objectiva de avaliação sentimental, mas até isso questiono. Sinto muito a tua falta, mas não é saudade o que sinto. Onde estava alguma coisa cheia, por vezes invasiva, que ocupava tudo em redor, hoje não está, mas está tudo bem.

Descobri que onde te tinha a ti cabem outros universos, porventura mais bonitos, mais interessantes, mais honestos, mais descomplicados. Reparei que o medo que me travava as aproximações destes outros mundos tinha o teu nome, e quando o soube fiz jus à pessoa destemida que me orgulho de ser e mergulhei, em apneia e a toda a velocidade. Foi o melhor que podia ter feito, estou (mais) feliz. Descobri que outros lábios são mais ternos, que no tempo que açambarcavas, de dia e de noite, cabem aventuras, cabem ligações de aço, cabem descobertas com cheiro a maresia, cabem planos e lições e labirintos. Descobri que outros olhos vêem em mim o que me espantou que tivesses visto, desbravei caminhos que me eram alheios e insuspeitos. Como todas as viagens, esta mudou-me, organizou muitas coisas num caos delicioso. 

Tendo dado luz verde para retomarmos o melhor que tínhamos, continuo a auscultar o teu silêncio, com capa dura de indiferença, que já deixou de me magoar. Serás sempre muito importante para mim, hei-de gostar estupidamente de ti para sempre, só já esgotaste as hipóteses de ser o centro de alguma coisa na minha vida. É preciso dizer que falhaste miseravelmente enquanto amigo. Eu disse-te há meses que ia ser exactamente assim, porque só podia ser assim.

Quando voltarmos a encontrar-nos, quem conhecias já estará longe. Espero encontrar também outro de ti, mais maduro e seguro, de quem venha a poder ter saudades. 💙

#dias 7 a 10

O teu umbiguismo continua a afligir-me e tenho vontade de te bater, de gritar contigo, de culpar-te de todos os males do mundo. Prefiro não falar de ti quando surge o teu nome. Tenho saudades, interrogo-me por quem me terás substituído enquanto tento substituir-te a ti.

Ainda te defendo de quem te desdenha em privado, de quem te acusa, de quem te desvaloriza. Argumento e contraponho, mesmo sabendo que se fosse ao contrário não o farias por mim. Disseram-me há pouco que achavam que eu era tua namorada. Ri, com vontade de chorar, como se fosse uma ideia muito tola e por demais inconcebível.

Vai-te embora. Pára de assombrar cada esquina de mim. Preciso de tréguas...

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#dia 6

 

Velhos hábitos são muito difíceis de largar. Ainda sigo atentamente as tuas palavras, ainda te corrijo as gralhas que mais ninguém corrige. Não se sou eu que confundo ou tu que estás muito determinado, leio tudo o que dizes ou não dizes como ódio para comigo. Demasiada dedicação pode dar a ideia oposta, suponho. Desprezar-me não me dá força aos propósitos, só me faz ter rasgos em que lamento a decisão. Se pudesses tratar-me como a uma pessoa seria mais saudável.

As evidências tornam-se mais claras, apesar de gostar de ti ser muito mais fácil do que odiar-te. Faço um esforço acrescido, lavo as mãos peganhentas de não te tocarem. Será que alguma vez tiveste vergonha de mim? Vais pedir satisfações aos outros como fazias comigo? Mostras o que almoçaste? Partilhas as cabeçadas?...

 

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Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar

#dia 5

 

Pus um pé na água, para ter certeza de que ainda molha, e a água estava fria, mais fria do que antecipei. Não sei se levo a mal ou se agradeço. Não sei se percebeste bem ou bem demais, ou se te encomendaram a distância.
Reparei que arranjei um destinatário substituto da verborreia e tornei a constatar o que a Sinéad já sabia, mas a diferença está mais do meu lado do que no outro. Respirei fundo uma mão cheia de vezes mas mantive os olhos secos. 

 

Sinéad O'Connor - Nothing Compares 2U

It's been seven hours and fifteen days Since you took your love away I go out every night and sleep all day Since you took your love away Since you been gone I can do whatever I want I can see whomever I choose I can eat my dinner in a fancy restaurant But nothing I said nothing can take away these blues 'Cause nothing compares Nothing compares to you It's been so lonely without you here Like a bird without a song Nothing can stop these lonely tears from falling Tell me baby where did I go wrong I could put my arms around every boy I see But they'd only remind me of you I went to the doctor and guess what he told me? Guess what he told me? He said girl you better try to have fun No matter what you do, but he's a fool 'Cause nothing compares Nothing compares to you All the flowers that you planted mama In the back yard All died when you went away I know that living with you baby was sometimes hard But I'm willing to give it another try 'Cause nothing compares Nothing compares to you Nothing compares Nothing compares to you Nothing compares Nothing compares to you

 

#dia 1

Foi a olhar para o pinheiro do lado de fora de uma janela que não era a minha, numa cama que não era a minha que os conselhos desapareceram e ouvi só a voz da consciência, que há tanto me dizia o mesmo que as vozes em uníssono no coro regado a álcool. Decidi. Fixei prazos e metas. Suspirei. Tive vontade de me afundar num outro corpo sedento à procura do desejo que não encontrei em ti. Decidi escrever e não te escrevi uma palavra.

 

#dia 2

Silêncios que estranhas, que vou convertendo em palavras e frases que não são inéditas. Tento começar pelo fim, para não perder o rumo. Suspiro e arrumo coisas nas gavetas, na cabeça também. Reparo que tenho mais tempo livre quando não estás. Escrevo em chorrilho. Abro e fecho o mesmo documento mil vezes. Hesito. Tenho raiva. Odeio que perguntes por mim.

 

#dia 3

Reparo que é só a saudade que me desata as lágrimas. São ribeiros encharcados de saudade. Ultimo os escritos, apago farpas. Tenho saudades de te abraçar, de te falar, de me rir dos disparates e de te beliscar o ego. Mergulho em músicas que contrariam o meu estado de espírito para não fraquejar. Fraquejo, repenso tudo, equaciono tudo. Respiro fundo e avanço. Aceitas com a leveza que te admiro e ressinto. Pondero fazer uma lista de coisas que terei para te contar quando regressar. Aceito que serei sempre ridícula. Adormeço a chorar.

 

#dia 4

Ainda respiro, com alguma surpresa. Tenho amigos maravilhosos. O mundo segue lá fora e o dia será bom. Tenho orgulho de ter feito algo só por mim, movida a egoísmo. A música ainda ajuda e o chocolate não atrapalha.

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De entre as coisas mais estúpidas que o ser humano pode sentir deve estar a saudade por antecipação. Sobretudo quando a saudade não faz sentido, porque na prática a distância sempre existiu, geograficamente ou de outra forma. Mas a distância é também um factor psicológico de peso, saber que se precisarmos um do outro de repente, de um abraço (sou só eu que preciso, bem sei) ou de ajuda para carregar um peso, figurado ou não, não é fácil ou rápido combinar na estação onde sempre nos desencontramos, beber uma cerveja a acompanhar aquelas discussões em que ninguém diz nada de novo.
Fazes-me falta. Não há mistério, ambos sabemos que em breve vais esquecer-te de mim, vai chegar o dia em que não trocamos uma palavra ou piadola e esse dia vai passar a semanas e meses. Eu vou continuar a fingir que tenho uma vida preenchida e imensas outras fontes de conversas estimulantes (tenho, mas não chegam perto das nossas conversas), a procurar os dejà vus que me lembrem das ilusões com o teu nome, a projectar bocadinhos de quem podia ser contigo no que sou com os outros.
Tenho saudades tuas. Só te conheço desde sempre há uns meses e queria não ter perdido um instante. Sei que não irei contigo, mas tu não sabes que vens sempre comigo. Fazes-me falta, já disse?

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Nua, em frente ao espelho da casa de banho, revejo o meu corpo. Percebo que falta algo que não identifico de imediato. É mais do que a habitual falta de correspondência com a imagem que tenho de mim própria. Falta algo em todo o corpo, no conjunto, como uma embalagem, como se ao litro de leite faltasse o tetrapack. Falta algo que contém, mas mais, falta algo que dá forma e que confere todo um sentido. Como se este corpo tivesse sido engenhado para corresponder a uma origem, ou a um fim.

A água a correr, o cheiro familiar e herbal de espumas doces e terapêuticas.

Percebo, ainda de olhos fixos na imagem reflectida, que vejo mais do que o que realmente o espelho devolve. Vejo-te a ti por trás de mim, cabeça entretida em beijos no meu pescoço, o teu peito contra as minhas costas, os teus braços a cobrirem-me peito e barriga, os meus braços a cobrirem os teus, os meus dedos a dizerem aos teus que sim, que os quero para sempre colados a mim. É isso que falta. Faltas-me tu, no lugar onde pertences, junto a mim.

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Deve chamar-se saudade, esta necessidade tão grande de um abraço teu, dos teus beijos tão cheios, em que não cabia mais nada além de uma história por contar, a começar e a terminar ali, tão fugaz. Beijos tão decisivos que nunca mais me permitiram paz. Os teus braços enrolados ao que há de cristalino e puro, como bóias, como âncoras, que me prendem e me mantêm à tona, que me desgraçam e me elevam.

Prometo-me não repetir, prometo-me a cura, vou vedando frestas. Volto sempre ao teu abraço, aos teus beijos tão cheios. Gosto de ti, gosto muito, gosto tanto de ti.

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Estou com problemas de expressão. Ora porque me faltam as palavras, ora porque sobram as tantas coisas que queria dizer-te. É que as palavras são pequenas, são poucas e indignas do que te quero dizer. Queria dizê-lo com olhares e sorrisos pendurados ao peito, queria que os lesses com avidez e te lambuzasses em cada sílaba. Nem todas doces, algumas mais amargas, como o tempero que nos traz de volta ao inverno, que te permite comparar as realidades que tens e os sonhos que podem ser teus, nossos.

A incerteza move-me, sabes que adoro aquela adrenalina da descoberta pela descoberta, a dúvida e as possibilidades exponenciais que me significam sonhos sem rédeas. Pesadelos e dores, também tenho encontrado. Mas não me queixo senão quando a escuridão não me permite ver mais além. E tu és a luz. Iluminas e arrepias, calor doce e pura ventania.

Queria dizer-te que sei. E que estou dentro de ti. Que quando te sentes a perder o fio condutor, sou eu. Que quando a lógica impera, também sou eu. E que quando sentes a minha falta, não sentes apenas a falta da companheira de aventuras. Queria que fosses tu a reconhecer a capacidade que tens de fazer alguém feliz. Queria que te entregasses ao sabor dessa maré que tens dentro, que pousasses esses remos obstinados. Os planos antigos que traçaste eram bonitos, eu sei. Aconteceu como não devia. Faz as pazes com o passado, com os erros e as razões. Começa de novo, planos novos, que nunca poderão ser iguais... mas serão planos onde cabes tu por inteiro, onde nenhuma dimensão tem de ser vergada. Onde possa caber todo um mundo além do teu.

Queria dizer-te que gostava que me desses flores. Que cometesses uma daquelas loucuras anunciadas, tão tuas. Que me convidasses para um passeio. Queria contar-te da vontade que tenho de te oferecer presentes de Natal todos os dias, de levar-te sumo de laranja à cama e de nunca mais ter saudades tuas.

Queria que pudesses apagar algumas palavras, que as quisesses retirar para sempre. Queria que pedisses desculpa.

Queria dizer-te para perderes esse medo. Queria ensinar-te a amar de novo, melhor. Queria mostrar-te o que me comove no nascer do sol e queria aprender todos os teus risos e olhares. Queria caminhar lado a lado contigo, de dedos entrançados nos teus.

Sei que te encontras nas minhas palavras, sei que a perturbação também chega a esse lado. Queria dizer-te para não resistires... Para arriscares. Para experimentares. Queria que, se no futuro houvesse lugar para arrependimentos, que os houvesse pelo momento em que valeu a pena e não pela ausência duma estória.

Queria dizer-te que há dias em que um beijo vale tudo. E que há beijos que me dão vontade de chorar.

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(publicado inicialmente a 26.12.2009)

 

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As grandes, enormes, histórias de amor, não deviam acabar. Porque ao acabarem acabam com a capacidade de se voltar a amar, porque não há tempo que cure a mágoa, porque as outras pessoas deixam de existir.

 

Porque há amores que deixam o peito estéril, vazio, seco, de tanto que deram, de todos os inícios terem secado por falta de alimento. O teu amor foi sal no solo do meu coração. Onde toda a vida teve lugar, nunca mais pode vingar nada. Nunca. Nada.

 

Preferia que me tivesses morrido. Preferia agarrar-me a uma força maior, a uma injustiça dos deuses em que não acredito; passaria a acreditar só para sonhar em voltar a ter-te. Preferia saber que o amor que juraste para todo o sempre podia ser mesmo para sempre. Sempre... Ceifaste-me o gosto pela vida, levaste-me a todos os extremos. Porquê, para quê?! Quem és tu, demónio, que foste a promessa de tão mais do que ousei sonhar, e tiraste tudo de mim, o respeito, a sanidade, o ar.

 

E que me queres quando regressas nas entrelinhas do meu sono, quando sinto a tua respiração na minha orelha, oiço a tua voz e o teu cheiro se me entranha na pele. Deixa-me em paz, nem fantasma sabes ser, esses têm a decência de falecer primeiro! Não quero a tua presença ao meu lado, nem afagar-te a mão quando deitas o braço sobre as minhas costas, não preciso dos teus pedidos de perdão que se esfumam no ar. Incomoda-me o teu espírito colado a mim, tão palpável que luto entre o acordar e deixar-me ir, e é nesse limbo que aflige mais, sabendo que ali não estás porque não podes estar e sentir o teu calor, a tua voz, os teus dedos, o teu peso a entalar-me nos lençóis e a tua barba.

 

Deixa-me em paz, a definhar em silêncio no vácuo do que já fui.

Estou presa num loop. A enlouquecer, tonta, num loop que se repete ad eternum.

 

Os mesmos nomes, as mesmas caras, as mesmas frases. As aproximações, as fugas, as rejeições, o medo, os argumentos, as expectativas, os sorrisos, a audácia, o risco, a entrega, a paz, a ausência, o conflito, a dor, a mágoa, o perdão, a mágoa maior, o amor, a confiança, a desilusão, a ruptura, a dor maior, o luto, a revolta, o amor, a saudade, a dor, a desilusão, as fugas, a saudade, o amor, as cicatrizes, as aproximações, as fugas...

 



Lembras-te quando apertavas tanto as minhas mãos que eu ficava com nódoas negras?

Enquanto passeávamos na rua, quando dormíamos lado a lado, quando íamos ao cinema. Sempre os dedos tão juntos e entrelaçados que pareciam personagens dum tango sensual, uns no prolongamento dos outros, como se sussurrassem ao ouvido, abraçados, enamorados.

Lembras-te do enamoramento? E de quando as tuas mãos procuravam as minhas e não descansavam enquanto não as tivessem? Lembras-te de quando os beijos eram pingos de orvalho que brotavam nas flores que me punhas nas mãos?

Lembras-te de falar comigo como quem declama poesia, de me olhar como quem está em casa, de me amares como eu nunca pensei ser amada?


Se te esqueceste, lembra-te do que diziam as nossas mãos, as flores na almofada, os nossos sorrisos. Porque nunca mais ninguém nos voltará a dizer o mesmo.

 


Sair à rua com uma sede imensa
de te esqueçer
sentar-me num lugar com indiferença
por não te ver
e de repente sei que é isto que eu não quero
olhar à volta e saber que ainda te espero
sentir a sensação de quem não está no seu lugar
não quero lá estar
assim...


nha cretcheu
nha cretcheu...


voltar a casa com um sentimento
de solidão, 
fingir que estás no pensamento
sem razão
e de repente sei que é isto que não quero
voltar a casa e saber que ainda te espero
fazer de conta que já estou no meu lugar
mas não quero lá estar
assim...


nha cretcheu
nha cretcheu...