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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Olá. O meu nome não é Sofia e eu sou poliamorosa.

Não sou uma extraterrestre, não sou uma pervertida ou tarada sexual. Sou só alguém que, como provavelmente a maior parte das outras pessoas, ama mais do que uma pessoa mas, ao contrário da maior parte das outras pessoas, vive várias relações afectivas e sexuais com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos. Está dito. De seguida, vou explicar um pouco mais. Vamos por partes.

 

Poliquê?

O poliamor é uma das formas relacionais que se enquadram na não monogamia ética e distingue-se por existirem sentimentos românticos por mais do que uma pessoa em simultâneo. Uma imensa panóplia de outros formatos existem, desde as relações abertas à anarquia relacional. A diversidade é tanta que se torna complexo atribuir definições estanques e rótulos. O ponto fulcral de todas as não monogamias éticas é o desejo de manter relações afectivas ou sexuais com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, em que existe consentimento de todas as partes. Podem existir parceiros preferenciais numa hierarquia clara, ou não, parceiros ocasionais, tríades, diferentes graus de envolvimento emocional, com ou sem co-habitação, com ou sem co-parentalidade.

 

O meu percurso

Durante muito tempo achei que era monógama. Não conseguia conceber que tivesse espaço emocional para mais do que um Amor profundo, denso, absorvente, ou acreditava que pelo menos um seria sempre mais importante, mais bonito, mais pesado e, em comparação, a existirem sentimentos por outra pessoa, não podia ser amor, pelo que teria de fazer uma escolha e manter-me fiel ao “amor verdadeiro”. Quer dizer, não concebia isto especificamente para mim, já sabia o que era o poliamor, já apoiava desde sempre todos os formatos de relações abertas e de não monogamia ética, mas apesar do interesse político e social que me despertava, não me via a mim em tal situação. Até que aconteceu. De repente e sem pré-aviso, entrou na minha vida alguém que me abalou uma série de certezas, que me suscitou sentimentos muito fortes e impossíveis de ignorar, e isto sem colocar em causa ou alterar os sentimentos que existiam pela pessoa com quem já mantinha uma sólida relação íntima, a quem nunca escondi rigorosamente nada em nenhum ponto e que, sendo a pessoa absolutamente extraordinária que é, apoiou que explorasse livremente os meus sentimentos e desejos, num processo cheio de dificuldades e complicações particulares que superámos e com o qual aprendemos e crescemos muitíssimo.

 

Ao longo das contínuas incursões analíticas de auto-conhecimento, fui percebendo que já me tinham surgido vários outros interesses amorosos que não os meus parceiros durante o curso de todas as relações em que tinha estado, e que sempre tinha reprimido esses interesses, cortando qualquer hipótese de aprofundar o conhecimento da outra pessoa, porque isso se afigurava como um “risco”, um potencial atentado contra a estabilidade da relação. Tinha condicionado a minha liberdade sentimental a escolhas sucessivas, porque estava profundamente convencida que apenas uma pessoa poderia merecer o meu amor, todo o meu amor, como se de um recurso finito e escasso se tratasse.

 

Percebi finalmente o quão ridículo era deixar passar a oportunidade de deixar entrar na vida pessoas fantásticas, com o potencial de se tornarem muito importantes, por receio de gostar delas e, ao mesmo tempo, depositar toda a pressão de encontrar em todos os momentos o que se necessita de dar e extrair de uma relação emocional em apenas um outro ser humano, com personalidade, gostos e ritmos próprios, com falhas, erros e momentos complicados, e toda a miríade de particularidades individuais que têm direito a existir muito para além, e por vezes em contradição, da esfera da relação entre duas pessoas. Percebi que não só os modelos relacionais não-monógamos fazem muito mais sentido, como as próprias relações, cada uma delas, se torna muito mais saudável, com expectativas mais realistas, com comunicação mais fluida, com mais partilha e, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, muito mais segurança. Percebi enfim que, tendo percebido tudo isto, não havia a menor hipótese de voltar a conceber plausível para mim a monogamia, que agora se afigura como restritiva e desadequada.

 

Como se gere?

Na não monogamia ética todas as relações (emocionais e/ou sexuais) são consentidas entre todos e existe um grau variável de liberdade para explorar afectos e desejos com outras pessoas. Isto é ponto assente. Depois, cada relação tem as suas dinâmicas, regras e hábitos próprios, que os intervenientes vão construindo e desconstruindo, ajustando, desejavelmente na óptica da confiança e transparência e com muita comunicação. Os formatos são múltiplos, não existem conceitos de relações “certos” ou “errados”. Há relações abertas (em que os intervenientes têm liberdade de explorar outros interesses afectivos ou apenas sexuais), há relações poliamorosas (em que as ligações implicam um envolvimento sentimental), podem existir relações com hierarquia distinta (com parceiros primários distintos dos secundários), ou no caso da anarquia relacional, sem regras estanques, e mais uma panóplia de variações. Há quem faça “contratos” ou estabeleça regras vinculativas e há quem vá acordando e decidindo o que é melhor e mais confortável para todos à medida que as situações e desafios surgem. As pessoas e as relações não são estanques, evoluem e adaptam-se. E acontecem problemas, crises, zangas e rompimentos, bem como fases excelentes e momentos fabulosos, como em todas as relações.

 

E o ciúme?

Na minha perspectiva, o ciúme é apenas um reflexo da insegurança ou do desajuste de expectativas. Não posso dizer que nas relações não monógamas não há ciúme. É claro que pode haver, porque a insegurança pessoal não se ultrapassa com passes de mágica, mas é vivido de outra forma. A comunicação aberta e constante é um imperativo, pelo que o cenário mais provável é que as pessoas inseguras deixem claras as suas inseguranças ou expectativas frustradas, e os seus parceiros façam o melhor que sabem e podem para as aplacar. Além disso, o mindset de uma pessoa não monógama é, à partida, capaz de resolver grande parte do problema na sua génese. A liberdade é a maior prova de amor. Se temos e damos aos nossos parceiros liberdade para estar com quem escolhermos, sem amarras ou condições, sabemos que quem está connosco só está porque quer e enquanto quer, e não para manter uma promessa ou contrato de fidelidade exclusiva.

 

O próprio oposto do ciúme é sentido frequentemente pelos poliamorosos. Chama-se compersão à alegria e felicidade que se sente quando um dos nossos parceiros encontra uma nova pessoa que o faça feliz - e não, asseguro que não é um mito.

 

Porque é que a monogamia é a norma?

A monogamia é o tipo de relação exclusiva (normalmente, em termos emocionais, sexuais, estruturais e sociais) entre duas pessoas. É a norma cultural vigente, dado que a presunção implantada colectivamente é a de que a relação romântica ocorre apenas entre duas pessoas. O conceito de monogamia está intrinsecamente ligado ao conceito de propriedade privada - e mais concretamente à ideia de, numa relação heterossexual, a mulher ser propriedade privada do homem. Na família monogâmica patriarcal, surgida com o advento da agricultura e do sedentarismo das populações, o homem é o centro do poder e tem um direito inquestionado de “ser infiel” (nos machos a líbido é apenas uma manifestação de virilidade, como é sabido), mas uma vez que precisa de garantir que os seus herdeiros são filhos legítimos, a mulher não aufere do mesmo direito. A (o)pressão acrescida que se atribui às mulheres verifica-se em todo um código de conduta subentendido que as obriga à monogamia e à fidelidade. Uma transgressão da mulher ao elo do matrimónio monógamo é, ainda hoje, vista como "um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem", citando o célebre – pelos piores motivos – acórdão do juiz Neto de Moura.

 

Como resultado desta opressão histórica propagada de forma quase universal, e reforçada pelo clero, as normas sociais vigentes impõem sobre o amor romântico uma série de regras e mitos sem fundamentos plausíveis.

 

A mononormatividade é incutida e reforçada socialmente de forma transversal. A ideia de que só se ama uma pessoa, de cada vez ou na vida toda, que quando se encontra “aquele alguém especial” se sabe, porque esse amor é tão único e irrepetível que só há um cartucho para gastar durante toda a vida, a noção de que ter sentimentos por outra pessoa além do parceiro já existente é uma espécie de falha ou poluição que invalida a veracidade do amor, está presente em todas as facetas da vida no mundo actual. Está presente nas narrativas romantizadas do amor idílico em filmes, romances e demais ficções em que os triângulos amorosos e outras alterntivas à ideia de amor perfeito único são apresentadas como obstáculo a superar, dilema a resolver. Está presente em toda a lógica dos mercados orientados para a vida a dois, em casal (e, já agora, em casal heterossexual e binário). Está presente na religião, na lei, na justiça, e está presente nos casamentos e ainda em grande parte das famílias divididas.

 

Quantas relações monógamas actuais são destruídas porque alguém sente interesse, atracção, amor por outro alguém e o reprime, causando desconfortos e desequilíbrios em si e na dinâmica relacional, ou persegue um novo interesse de forma escondida, sem assumir a verdade perante a relação já existente, como se a atracção ou o amor fossem algo de feio, sujo ou ilícito? Onde está escrito que só se pode ter uma relação, um amor, um companheiro?

 

Curiosamente, muito pouca gente parece parar para questionar esta ideia tosca e tão pouco sensata do amor romântico único. Em mais nenhuma relação emocional a sociedade interfere de forma a limitar a um o objecto de afecto. Não tem cabimento para ninguém obrigar as pessoas a escolher apenas um filho para amar, apenas um irmão, ou o pai ou a mãe, que os dois é demais. Ninguém fica boquiaberto perante o facto de alguém ter mais do que um(a) amigo(a) com quem gosta de passar tempo. O moralismo pequeno-burguês marca a natureza distinta das relações pela presença de intimidade carnal. Novamente, é a ideia fundada nas raízes da cultura judaico-cristã e reforçada pelo feudalismo de que o sexo é uma coisa pecaminosa (sobretudo para as fêmeas, já sabemos) a destrinçar o que é aceitável do que é um atentado aos bons costumes.

A monogamia enquanto norma social é, assim, uma opressão difícil de contornar.

 

Falar da não monogamia a pessoas monógamas

Não é fácil assumir e viver publicamente sem vínculos às expectativas do que é a norma social. O que existe em contra-regra é olhado como estranho, como anormal, é caricaturado e conotado com uma série de ideias pré-concebidas sem qualquer fundamento. No caso das não monogamias, a desinformação abunda e a desconfiança e o preconceito também. Falar da não monogamia a pessoas monógamas é um desafio e muitas vezes torna-se frustrante. Dizer e viver a verdade parece ser mais estranho do que encobrir com mentiras que tornam tudo muito mais normalizado. Na sociedade actual, em que o adultério é perfeitamente normalizado e até, em certa medida, expectável porque não só não questiona a norma da monogamia, como a reforça e reproduz, são as vivências amorosas e sexuais múltiplas com consentimento de todas as partes que são percepcionadas como transgressões sociais e morais. É curioso, não é, que a transparência e a verdade sejam consideradas imorais, mas que as opressões, mentiras e traições sejam corriqueiras e banalizadas?

 

Fazer uma saída do armário (“coming out”) pode ou não fazer sentido, consoante o contexto social e familiar, a personalidade e estrutura mental e emocional de cada pessoa. Não estando a fazer nada de errado ou que seja motivo de vergonha, pode ser esquisito fazer esforços para esconder o modo de vida; contudo, assumir perante o mundo formatado para a visão oposta e informar inusitadamente os outros pode também significar abrir a porta a preconceitos, a incompreensão, a tensões e a lutas que, muito francamente, podem aportar muito pouco além de desgaste emocional e turbulências desnecessárias.

 

Não pretendo fazer a apologia da não monogamia ética versus a ridicularização da monogamia. Não há certos ou errados no que diz respeito às relações pessoais íntimas. Cada qual sabe de si e o que funciona bem para uns não tem de funcionar para outros. Pretendo, sim, desmistificar as construções fictícias em torno da monogamia como modelo desejável, recomendável e caminho único para a felicidade amorosa. Pretendo, sim, fazer a apologia da liberdade, da aceitação, da tolerância. Acima de tudo, quero evidenciar aquilo que toda a gente, no fundo, já sabe. O amor não é um bem precioso que se deva guardar num cofre e dar a um receptor único. O amor é infinito, é plural, contagioso. O amor não se divide, multiplica-se.

No teu corpo de abrigo

Sou inteira

Sem filtro

No desejo de ti todo

Encontro

O que é selvagem

Perdido

Procuro um casulo

Refúgio

Meu lar

Escondido

Nossos peitos abertos

Sofridos

Esmagados e comprimidos

Colados

De par em par

A sede que te tenho

Inebria

Teus beijos

De oásis

Estremecem

As mãos nos quadris

Padecem

Línguas que se abraçam

Dormentes

Peles que se roçam

Brilhantes

O embalo melódico do coito

Gemidos 

Nomes que se soltam

Volúpia

Cantam tesão

Teu corpo de abrigo

Contido

Meu porto amigo

Secreto

Final em vibrato

Explosão

Começa-te em mim

De fogo

Alma aberta

Paixão

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Sempre a melhor amiga, a companheira, amiga, camarada, o ombro amigo, confidente... mas nunca a mulher desejada. São décadas disto, e cansa. São décadas disto, e dói. Por uma vez que fosse, gostava de saber qual é a sensação de se ser o objecto de desejo e atenção de alguém. Gostava de saber que suscitava a lascívia pura de alguém, sem se deter com as intelectualidades, que me dizem intimidar os outros, sem haver egos gigantes carentes de atenção, sem dramas nem complicações, sem solidões a pedinchar um mimo para aplacar uma dor causada por outra. Por um momento, gostava de poder ser só uma mulher interessante que deixasse um homem com suores frios, com borboletas no estômago, doente de desejo, louco de tesão. Por um momento, gostava que o meu ego fosse mais importante. Gostava de deixar de me preocupar, gostava de conseguir largar, gostava de ser capaz de não gostar. Décadas disto, e cansa, e dói.

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É no teu peito que me aninho para voltar a casa. É contigo que partilho mais do que alguma vez ousei pensar que poderia partilhar. É por ti que me viro do avesso e respiro quando antes podia gritar e latejar todas as raivas. Sabes quais os pontos das minhas costas que me fazem gemer e qual o ritmo em que gosto de te sentir.

Apoias-me as ideias mais loucas, não me cortas nunca as asas, por mais disparatado ou picado que seja o vôo. Vens comigo para as aventuras longínquas que invento, aturas-me as birras, as dores, os delírios e os sonhos inalcançáveis. Tiras-me do sério e excedes todos os meus limites. Sobretudo o do amor.

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Amo-te.

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"I think sex can be about both wanting and not wanting. It's... It's a war between the intellect and instinct, between shame and desire, and that's what makes it so interesting (...)".

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Demasiado independentes, como já me acusaram de ser, como se fosse uma coisa má pensar pela própria cabeça e não esperar pelo aval de ninguém para fazer o que se decidiu fazer. 
Curiosamente, não me revejo nada nessa adjectivação. Até me sinto bastante dependente, com necessidade de que gostem de mim, dependente do amor de um homem (digo-lho amiúde que é uma doença, uma dependência irritante, e que é frustrante não conseguir deixar de gostar dele, mesmo quando me irrita e faz zangar a sério). 
Admito, contudo, que o que passa aos outros como independência e capacidade de suportar tudo sem apoios externos pode trazer outros problemas, nomeadamente nas relações amorosas. A outra parte vê-nos resolver coisas, tomar decisões e iniciativas, fazer mudanças, levar a cabo ideias peregrinas, muitas vezes só porque metemos isso na cabeça e não pedimos licença a ninguém para avançar. Desbravamos terreno, muitas vezes sozinhas, vamos buscar forças desconhecidas, superamos os obstáculos e nunca nos damos por vencidas. Aguentamos o barco quando os outros à nossa volta têm problemas, e toda a gente os tem. Acho que as mulheres portuguesas do século XXI têm quase todas um complexo de super-mulher. E os nossos parceiros vêem-nos ser super-mulheres, mesmo que também consigam ver as fraquezas - porque as fraquezas tentamos esconder, não damos parte de fracas, e só os argutos vão conseguir ver além do que julgamos permitir. Porque como super-mulheres não queremos falhar com ninguém e não queremos sobrecarregar os outros, que já têm os seus problemas, e por isso não nos queixamos. Nunca. Engolimos as dores, as frustrações, os anseios e inseguranças. Quando estamos mais fragilizadas, a capa endurece ainda mais e, por mim falo, as reacções podem ser desproporcionadas e injustas para quem está mais perto. (Além disso tudo ainda há toooooda a agravante hormonal e TPM, etc. e tal, que exacerba tudo 500 mil vezes.) 
Somos, portanto, qualquer coisa que se assemelha a bombas-relógio, passíveis de explodir com um breve tic-tac, uma coisa mínima. E seremos muitas vezes incompreendidas, porque - não se enganem - toda a aparente independência não implica desapego, não implica que não seja necessário dar carinho, atenção, ter a flexibilidade de perceber como é estar na nossa pele. Mesmo os cactos precisam de água.

 

[Posso ser casmurra como uma porta e só fazer aquilo que bem entendo, mas se peço uma opinião é porque me importa saber o que pensas. Posso repetir mil vezes que estava bastante feliz e em óptima companhia quando estava sozinha, mas se peço que me acompanhes é porque prefiro estar contigo.]

 

Podemos ser demasiado independentes, demasiado aventureiras, demasiado racionais, demasiado inteligentes (?). Os nossos parceiros podem sentir-se ameaçados por isso, se forem inseguros, ou não o compreenderem, ou sentirem a sua virilidade ameaçada (e os mais tolos tentarão conter ou suavizar-nos, se não forem parceiros à altura). Podemos achar que somos super-mulheres e temos de superar todas as (nossas) expectativas. Mas não nos esqueçamos de ser também, apenas, absoluta e exactamente quem somos. Não a 99% nem a 101%, mas plena e absolutamente quem somos. E isso começa por sermos humanas.

 

Belíssimas histórias de amor, sangue, heroísmo, a eterna luta dos mais fracos contra os poderes dominantes, escravos contra senhores, muito sangue, com efeitos especiais surpreendentes, muito sexo, explícito e sem pudores, traição, mais sangue, homens lindos.



 





 


 


 


  


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

 

    • Quem fala de política sem medo de divergir da maioria.

 

    • Quem é fiel aos seus princípios e defende até ao fim aquilo em que acredita.

 

    • Quem trata bem os animais.

 

    • Quem sorri quando fala e ouve falar de viagens boas.

 

    • Quem leu pelo menos dez vezes mais livros do que teve namoros.

 

    • Homem com barba.



Che Guevara sexy barba comunismo política

 

 

 

Disclaimer: as minhas definições, a vocês (os três) que me lêem, estejam à vontade para discordar.

Eu, por acaso, acho que a maior das intimidades é partilhar o sono com alguém. Porque partilhar o sono equivale a partilhar os sonhos, a confessar fraquezas, a correr o risco do hálito matinal ser violento, e nada disso prejudicar, antes pelo contrario, a relação entre as pessoas. E dormir de mãos dadas, podem discordar, mas eu cá acho que é melhor que sexo, no que toca a estreitar os laços de um casal.

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E já to disse, e já to repeti, e repetirei, e desejarei, porque não sei saciar a fome da minha pele pela tua.


 


Desejo, by Boca de lís


 


Desejo. É uma coisa engraçada e dá-se-lhe pouco apreço. No amor todos querem espetar o dedo, como quem gira um globo de plástico e o pára só para dizer "Estive aqui!", apontando para um sítio do planeta. "Amei aqui!", dedo espetado na ferida que esse bastardo tem por costume deixar. Do desejo fala-se pouco: levantam-se mãos que “Não fui eu!”. Varre-se para debaixo do tapete, desligam-se as luzes antes de o cumprimentar, porque ai de quem lhe veja os olhos. O seu lado lunar, pulsando vaidades animalescas que ninguém consegue pintar em alegorias. O amor ensina-se às crianças; sexo tem idade. Podemo-nos apaixonar aos 4 anos e seremos idolatrados do infantário à reforma – é história de se gabar aos netos. Se aos 4 fala de sexo, é prematura e dir-se-á promíscua até aos 30 – e só os pais saberão o pudico e secreto incidente. Contam-se romances e interioriza-se que o amor é uma coisa tão agradável que não lhe bastam todas as metáforas nem suficientes lhe são todas as líricas. O amor é como um suminho de laranja natural, apetece. A apregoada imagem de um casal idoso que dá as mãos, passeando na rua, comove mundos. Imaginam-se enredos, de uma paixão proibida, restringida, e um amor que vinga incondicional e independentemente. Não há histórias da luxúria na primeira pessoa, os contos exigem coerência que o desejo não tem. Desejo-te. Não se diz. É comprido demais, tem muitas sílabas, não fica bem em inglês e certamente se perde nas traduções para o francês. Roça o pornográfico se virmos por línguas espanholas. Cai em desuso, porque áspero. O desejo é como um limão, não se lhe pode trincar que incomoda até às vísceras. Até faz parecer que não se gosta de uma pessoa: queremo-la. E se "quero-te bem" é amoroso, "quero-te", assim, sozinho, desnudo, já parece capricho. Mas queres porquê? Egoísmo, pela certa! E ai dos Homens que se prestem a vanglórias, olhem o amor que é altruísta! Coisa bonita! Existe para lá do corpo e... morre sem ele. Porque dêem-me quantas líricas queiram, poética que o seja, não vejo amor sem desejo. Sem um "chega-me para cá essas pernas, mulher!" ou um agarrar de unhas cravadas nas costas dele, porque se o deseja por inteiro. Só havendo laranjas, não nos sai da cabeça a imagem amarela e reluzente daquele limão - Trinca-me.

E porque é o que mais nos aproxima dos animais, é o que mais nos assusta. Julgamo-nos tão racionais e, no final de contas, tão especiais... que nos esquecemos que é o desejo que nos alimenta o amor. Impropriamente, o Amor Próprio - rei de todos os outros.

 

Apetece-me cozinhar-te em lume brando. 

Estás cru. Seguro-te com as duas mãos, retiro-te da embalagem com os meus dedos a colher-te como pinça, sinto-te a textura fresca, tensa, sinto o teu peso, cheiro-te em ânsia e confirmo perdida de vontade que me vais saber bem. Inalo nano- partículas até encher o peito de de ti, chegas-me ao palato espessas-me a saliva pelo tanto te querer provar, molho-te com a língua, e sinto-te o gosto. Aliso-te de mãos espalmadas e redefino-te formas enquanto as moldas a mim. 
Tempero-te comigo. Deixo-te depositado o meu sal e o meu óleo e adejo-te ramos de tomilho embebidos em calda de citrinos. Não te deixo repousar sob meu corpo, besunto-te a carne e humedeço-te os sulcos, rolo redondos, daqueles rosa pimenta, que incorporas. Aperto-te e escorregas como êmbolo que
inebria num casulo ao meu toque. 
Vou-te virando enquanto te aqueço a fogo e sinto escorrer os sucos que recupero sobre a tua pele tostada. Contenho-me a não te devorar
al dente. Com fome. 
Estalas agora,
crepitas, oiço-te, estás tão quente, tentas-me... 

Estás pronto. Vou-te comer.


 


 


Phoebe, Na Terra dos Lalás

 Nunca tinha sentido a pele a reivindicar tanto um toque, como um pólo dum íman debaixo dela, da pele, a chamar, a instigar o outro. Duas peles que têm apetite pela outra, que partilham temperaturas e o mesmo cheiro.

É muito mais do que a pele, porque é tudo o mais no seu expoente máximo. Mas é, sem dúvida, toda a pele. Toda a mordaz tentação a que o tacto não consegue resistir.

É a química, as feromonas que se encaixam tão na perfeição. É o fogo líquido que exige ser saciado.

É a textura de leite nos ombros e naquela curva que eu gosto, no pescoço. É um lóbulo da orelha mordiscado, e depois o outro, lambido. É a ponta do meu nariz a acariciar os mamilos, a subir até ao queixo, a aspirar com vagar e dedicação os aromas das maçãs do rosto ali ao lado.

 É a doçura que derreto e faço pingar em cada gesto e o picante dos sentidos atiçados.

É a pouca vergonha com que me toca. É o umbigo perfeito a beijar o meu num namoro provocante. É a ousadia do joelho que me arrepia as coxas.

É a força nos braços que me guiam e os lábios sempre tímidos a revelar segredos monossilábicos. É a masculinidade imponente, a rebentar de vigor. São os dentes esfomeados nos meus seios e os dedos curiosos nas minhas costas. É a língua, deliciosa e exploradora. São os dedos, enterrados na posse dos corpos.

É o arrepio do abraço pela cintura e a audácia do ritmo inconstante.

Dois desejos entrelaçados, num festim de sexos húmidos e de carnes palpitantes.

É o sal de lágrimas e suor.

É o momento em que o tempo pára para contemplar o prazer.

É a expressão dos olhos fechados, límpidos, inegáveis. É a posição em que dorme cansado e a vontade de tornar a cansá-lo.

 

 

 

 

Sim, continuo a sonhar acordada com uma cena digna de filme, vista de bem perto, mas ao lado.


Ela chega a casa mais tarde do que o costume, desejosa de um duche e do conforto do sofá. Está alguém de pé, junto à porta, de costas. Ela sobe os degraus com a chave na mão e prepara-se para evitar contacto visual com o suposto vizinho ou visita de vizinho. Ao aproximar-se, reconhece a posição, as pernas, o casaco. O coração tenta saltar pela boca no momento em que esta ia começar a balbuciar um “boa noite” tímido e incógnito. Não chega a dizer nada. Ele vira-se e os olhos dele encolhem, de surpresa, alívio e terror. “Pensava que não me querias abrir a porta. Boas noites.” “O que estás aqui a fazer?” – responde ela com o tom mais seco que consegue e a chave ainda imóvel a meio caminho da fechadura. E são as últimas palavras que trocam naquela noite.


 


Se abriria a porta?


Abrir uma porta não significa apenas deixar alguém entrar. Significa que se está pronto para sair e explorar sítios novos, lá fora e cá dentro. Dentro de mim. A ti deixava-te entrar, como deixei sempre, tu entraste mal viste uma brecha, sem perguntar se podias. E eu não te expulsei. Achei até que entraste com tanta avidez que querias mesmo cá estar, e ficar. Entraste de rompante, impuseste a tua voz no meio dos meus sonhos e agarraste-me pela cintura. Deste-me a mão, levaste-me portas fora e portas dentro com rodopios, com esses sorrisos que me desfazem por dentro, com carinho e cumplicidade, possuíste-me, com força, com o que se parecia com mais do que paixão movida a desejo. E um dia saíste sem te despedires, deixaste a porta aberta e eu fiquei, parada, a ver-te longe, agarrada ao espanto do vazio e à solidão da dor. Chegaste a voltar, envergonhado e a medo, quase que a pedir desculpa por não teres resolvido as dúvidas que persistem como ferrugem num prego velho. E com mais amor que medo te voltei a abrir a porta. Agora, que não sei de ti, não sei o que pensar ou onde deixei o coração, decidi manter a porta aberta. Porque tenho todos os motivos para a trancar e vedar a pessoas como tu. Mas repara, está vedada aos outros. A minha porta convida-me a sair, mas eu não vou longe. Não quero ir sem ti. Se soubesse como encontrar-te ia até ao fim do mundo buscar-te, salvar-te. Quando quiseres ser salvo, a minha porta está aberta para ti. E só a fecho quando vieres com mais do que a paixão movida a desejo.