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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Para encerrar Agosto e celebrar o final oficial da silly season e a rentrée política*, recomendo vivamente o blogue Porto de Amato, que já consta ali da selecta lista de links à direita (salvo seja, que neste porto de abrigo está-se do lado certo).

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*Cada vez me parece menos que a silly season alguma vez tenha descanso ou abrandamento, a julgar pelas pérolas que me assolam a televisão em horário nobre. Da mesma forma, também me parece que a política a sério é uma prática em vias de extinção, ninguém debate política, ninguém questiona ideologias ou faz reflexões sérias sobre o estado das coisas e os objectivos de cada actor global. Revolução é palavra em desuso até da suposta esquerda. Restam-nos as ideias e conversas entre grupos marginais, em blogues ou redes sociais fechadas sobre si mesmas. Outra vez batatas.

Ainda estamos, oficialmente, na silly season. Em Agosto o país está a banhos, as notícias nem chegam a ser parciais de tão tontas (há umas semanas vi um efeito, num jornal da noite, com as cabeças dos líderes dos principais partidos políticos dentro dum carro a dirigirem-se aos seus locais de férias - de onde me surge a exclamação "mas vão todos no mesmo carro?!"). Sendo que o povo português já não prima propriamente pela boa memória, tão pouco pela seriedade quando é chamado a botar cruz nos boletins de voto, esta silly season inquieta-me sobremaneira. Mesmo as poucas pessoas que ainda pensam, falam e debatem política, chegam aos seus dias de dolce fare niente de papo para o ar e a cabeça entra em modo de poupança de energia, em que a decisão mais crítica que deve fazer é se vai para a praia do costume ou se vai para a outra praia, se vai à vila almoçar um peixe grelhado ou se fica por ali e petisca qualquer coisa numa esplanada. (E estão no seu mais pleno e amplo direito, sobretudo após 11 meses de trabalho num emprego cansativo, mal pago, longe de casa, em que são feitas muitas horas extra não remuneradas, com medo de o perder e com ele o sustento da família, dos problemas de saúde agravados pela ansiedade e pelos cortes forçados nos cuidados médicos e até no tipo de alimentos.)

 

 

 

 

Mas é precisamente por isto que a silly season é tão perigosa. O neurónio com consciência crítica e política, a existir, vai de férias e, no regresso, já nem tem bem presentes as patifarias perpetradas durante todo um mandato, ou toda uma república. E depois ainda há a agravante do futebol, ópio do povo, com mais intrigas do que as novelas da TVI, o mercado dos jogadores, os treinadores "traidores", a pré-epoca e toda essa puta da loucura que tem zero interesse para a vida real e os problemas reais do país, mas consegue absorver energias e paixões de homens e mulheres que vivem daquela fogosidade, sofrem pelas suas cores, saem à rua em êxtase quando o seu clube ganha qualquer coisa, mas não têm qualquer interesse em ir votar, ou em conhecer aquilo em que votam.

 

Em suma, o português "médio" (é como o português suave mas sem nicotina) regressado de férias é bem capaz de se ter olvidado dos desabafos, argumentos e declarações convictas do "nunca mais voto nestes ladrões!". Pior, vem conformado e já diz "os outros ainda são piores, querem é encher os bolsos".

 

É verdade que amanhã já será Setembro e vai passar a falar-se da reentrée. Mas quanto ao que interessa, deu-se o reset "que lhes interessa". Em termos políticos, a silly season portuguesa dura 12 meses no ano. E enquanto não for exigida uma cultura política e social participativa, que é o pilar da Democracia, enquanto não se ensinar nas escolas, em cada casa, na comunicação social, que a política é feita por todos os cidadãos e que só não somos donos do nosso destino colectivo se não quisermos, então seja o (des)governo PS, PàF, PSD ou outra corja idêntica, temos exactamente o país que merecemos.

 

 

 

Os meses de verão são um prado ressequido por onde arde, impiedosa, a Silly Season, e isso nota-se sobretudo no mês de Agosto. Se faz parte da minoria de portugueses que, como nós, prefere não fazer férias em Agosto (ou não pode) e se vê perante o mesmo dilema de tentar fugir à estupidificação das massas sem saber bem como, nós estamos cá para ajudar, em 3 simples passos.

 

 

 

- Ignorar toda a programação televisiva. [Ou, vá, pode tentar ver as notícias, mas assim que começarem a falar do que almoça David Cameron no Algarve ou outra coisa de elevadíssimo interesse nacional, carregar no botão do OFF. Idem aspas para a rádio.]

 

Arranje um sítio para obter séries de TV. Não estamos, naturalmente, a incentivar a partilha ilegal de ficheiros em clientes de torrents, cruzes credo, jamais! Faça um empréstimo da sua biblioteca/videoteca local, peça a um amigo rico que compre os DVDs ou assim

 

- Recoste-se no sofá com um refresco na mão, ou durante o jantar, e carregue no play, para pôr-se a par de séries boas que lhe possam ter escapado e estar preparado para a rentrée com novas seasons. [Vai dar jeito, acredite, sobretudo se na noite eleitoral as profecias sondagens se concretizarem, porque as notícias daí em diante serão cada vez mais indigestas.]

 

 

 

Aproveitando o destaque do Sapo para fazer um update com algumas coisas que ficaram esquecidas, algumas séries que já toda a gente viu (ou não?)... O que recomenda este casal de geeks



    • 12 Monkeys - Pandemias e Máquinas do Tempo, em tempos idos foi um filme realizado por Terry Gilliam (Monty Python) e protagonizado por Bruce Willis.

 

    • Breaking Bad - do melhor que apareceu pelas TVs nos últimos anos, imperdível! O mesmo não se pode dizer do seu spin-off, Better Call Saul

 

    • Dexter - brilhante Michael C. Hall, brilhante argumento, cativa e faz-nos torcer pelo bad guy, para variar.

 

    • Downton Abbey - das melhores séries de época de sempre, com um retrato social excelente e muito atento a todos os pormenores, delicioso para quem conhece a história inglesa (e fascinante para toda a gente).

 

    • Extant - Halle Berry e colegas de elenco igualmente colunáveis numa teoria da conspiração futurista.

 

    • Fringe - série de culto cá em casa, com muita ciência e universos paralelos.

 

    • Hannibal - A fotografia da série é estupenda, mas o resto é fraquinho. Este Dr. Lecter não consegue, nem de perto nem de longe, suscitar a espécie de empatia aterrorizada que o Anthony Hopkins consegue, os diálogos são forçadérrimos e ninguém percebe o propósito do enredo. Dá, contudo, para matar saudades da Gillian Andersen

 

    • Homeland - Cheio de propaganda política e religiosa americana / ocidental (o que me irrita sobremaneira), mas depois tem uma Claire Danes brilhante no papel de louca genial, e nunca nada é aquilo que parece...

 

    • How to Get Away With Murder - Mais uma trama com o dedo de Shonda Rhimes e culpa a rodos para dar e vender. Viola Davis com momentos de genialidade!

 

    • Guerra dos Tronos - ainda haverá alguém que não viu ou está a ver?! Eu perco-me um bocado no meio de tantos personagens e histórias entrelaçadas (se calhar não devia escrever posts ao mesmo tempo que vejo TV, não é?), mas na verdade aquilo é mesmo bom.

 

    • Mr Robot - Geeks, Hackers e Activismo, mudar o mundo atrás de monitores de computador.

 

 

 

    • Orphan Black - Muitos clones e um desempenho exímio da actriz principal que se desdobra e desdobra e desdobra...

 

    • Scandal - Esqueçam lá a Anatomia de Grey, aqui é que a Shonda Rhimes se esmerou. Muita intriga política onde o bem e o mal não se distinguem facilemnte, e um romance que se torna enjoativo (aqui já há quem torça para a Mellie e o Fizz se reconciliarem e a protagonista Olivia ficar com o Jack).

 

    • Sense8 - genérico excelente, sobretudo para os maluquinhos das viagens (como a Anti-Social), e enredo em que a empatia é levada a todo um novo nível.

 

    • The Affair - Não é uma obra prima, mas prende pelo toquezinho de thriller e a sensualidade natural

 

    • The Following - a série tem um enredo apelativo o suficiente (seita de psicopatas serial killers) para manter a primeira season, depois disso vive quase exclusivamente do Kevin Bacon

 

    • Under the Dome - Terreola americana leva com uma espécie de "queijeira" - a que chamam redoma - em cima. A velha receita de isolar uma população e explorar o pior e o melhor da natureza humana em condições extremas.

 

    • Walking Dead - Apocalipse Zombie, baseada livremente numa Banda Desenhada iniciada em 2003. Os "zombinhos" têm uma infinidade de incongruências e excessos, mas gostamos da exploração da vertente distópica do enredo. (Alerta: aquela malta nunca se lava!)

 

    • Wayward Pines - Mais uma vez, a distopia, a adaptação a condições extremas e uma reflexão muito pungente sobre tudo o que damos por adquirido.