Fui fotografada com uma SuperBock em frente à tromba cara;
Fui fotografada nO vestido azul;
Consegui dizer aos meus pais coisas que nunca tinha dito;
Quebrei a dieta inúmeras vezes;
Constatei que perdi mais de 1Kg desde a semana passada;
Lanchei bolo-rei ainda morno;
Jantei abacaxi;
Desejei um abraço que não foi dado;
Bati (com força e vontade) em alguém;
Senti o coração parar;
Senti o coração bater como um tambor;
Bebi ginjinha com elas;
Constatei que nunca fui realmente amada por um homem;
Recebi sms dum ex-namorado;
Parti uma gilette;
Senti-me completamente enlouquecida;
Reflecti muito sobre o conceito de perdão;
Abanei fortemente alguns dos pilares por que sempre me defini;
Comprei mais anéis do que os dedos que tenho;
Adormeci no caminho para casa;
Bebi champanhe pela(s) garrafas(s);
Descobri mentiras terríveis;
Chorei a ouvir Lhasa;
Chorei a ouvir Tindersticks;
Chorei a ouvir Caetano;
Chorei a ouvir-me chorar;
Estive noiva;
Comprei tabaco e fumei-o com gosto;
Chovi;
Jantei com alguém que adoro;
Ainda não almocei;
Fui a um hospital;
Ri até me doer a barriga;
Desejei profundamente adormecer e não voltar a acordar;
Tomei ansiolíticos e anti-depressivos;
Rompi o noivado;
Encontrei conforto em pessoas que nunca vi;
Esbarrei no metro com a pessoa de quem mais senti saudades e que era a última que queria ver;
Sonhei com cajús;
Li Ruy Belo, citei Ruy Belo;
Detestei o poema das luvas;
Comecei a planear viagens com amigos de sempre;
Comecei a planear viagens com quase-desconhecidos (outra vez);
Revi amigos muito queridos;
Discuti com a chefia e sugeri que me despedisse;
Odiei a minha mãe;
Bebi demasiado, várias vezes;
Passei dias inteiros sem comer;
Estive 48h sem dormir;
Recebi notícias dum amigo que está longe e não bem;
Andei sempre de saltos ou de chinelos;
Sangrei;
Acabei com o blogue;
Decidi deixar de esperar;
Recebi presentes;
Ainda não bebi café;
Encontrei por acaso um querido amigo com quem não falava há anos e achei que ele mantém o sorriso e o espírito puro que tinha aos 14 anos;
Fui apanhar chuva na cara porque me apeteceu;
Beijei o maior amor da minha vida;
Andei a pedir prozac emprestado;
Constatei que de entre tantas ideias estúpidas a pior terá sido fazer limpezas com as calças de fato vestidas;
Pensei que estava a viver um pesadelo distante da realidade;
Perdi toda a esperança;
Descobri verdades que nunca ninguém me tinha contado;
Andei todo o dia com umas calças azuis que pensei que eram pretas;
Ainda não conheci o meu sobrinho-perú;
Esvaziei uma casa de todos os meus pertences;
Quis tanto acreditar nas cartas da Maya;
Gastei 8 pacotes de lenços de papel em 3 dias;
Fiz reclamações a 3 entidades prestadoras de serviços;
Apaguei cartas de suicídio;
Dei notícias de esperança a quem não espera nada de mim, e menti ao fazê-lo;
Descobri que pareço estar imune às propriedades terapêuticas do etanol;
Contei todos os meus problemas a alguém que conheço mal numa casa-de-banho;
Parece que se calhar não acabei bem com o blogue;
E ainda só estamos a dia 6. 2011 promete...
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2008 foi um ano mau, complicado, de mudanças. Depois, em 2009, tudo se agravou e pensei que tinha sido o pior ano de sempre na minha vida. Accomplishments à parte, que cumpri grande parte do que me havia proposto. Mas foi terrível. Sofri, e sofri, e tornei a sofrer tudo de novo, num repeat tão masoquista quanto mágico. Em 2009 esgotei-me. Apesar de ter sido em 2008 que perdi o chão e vi planos quebrarem-se em cacos, 2008 foi a descoberta de mim sem sideshow. It was all about me. E os instantêneos irreais de paixões imensas a inundarem-me… 2010 começou mal, tão mal, e continuou pior do que podia imaginar. Nada, resume-se a nada. Um enorme vazio, buraco negro em que nada se permite respirar, nem o imaterializado raciocínio que deixou de caber nas sinapses. E de repente, out of nowhere, a coragem para dizer “Basta!”, para quebrar o ciclo, e o ciclo quebrou. E entrou a luz, e entraram sorrisos em catadupa, e entrou magia, e entrou encantamento, e entrou um pássaro azul pela janela, e entrou sangue nas artérias, e entrou ar nos sonhos, e entraste tu e não mais saíste de mim.
O pior ano da minha vida acabou por abrir portas ao melhor de mim.
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adormecer antes de ter terminado de jantar
adormecer abraçada ao aquecedor
fechar os olhos entre duas estações de metro e ter uma epifania on the move
baixar os braços e continuar a bater nas paredes
deixar de lutar contra as manifestações emocionais mais deslocadas
escrever todo o tipo de baboseiras no blogue para fingir que não houve tempo de publicar as páginas e páginas de revoltas e angústias que atormentam cada vez mais
resignar os olhos ao inchaço que se tornou constante
entregar a saudade a uma fotografia que passou a andar sempre comigo
desviar o assunto 24h por dia, quando o assunto me assola 24h por dia
Lutar contra os sentimentos (puros e genuínos, já disse?) cansa com'ó caraças. Tentar esquecer o inesquecível e pôr para trás das costas o que de mais precioso se teve é uma traição; aceitar as impossibilidades e as curvas dum fado escrito por outrem causa-me overload a nível celular. Parece-me que ando a tentar forçar o planeta a girar no sentido contrário com o poder da mente. E a mente está por um fio. Estou verdadeiramente exausta de andar aqui.
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As palavras não valem nada, já sabemos, são ocas. Mesmo as ditas com vigor e verdade, tendem a trespassar-nos e a não deixar memória. A não ser que magoem muito. Essas tendem a ficar tatuadas na memória, são as mais difíceis de lavar, persistem, languidamente, puxando todas as outras para si mesmas, como um buraco negro.
As palavras não valem nada. Como nos permitimos dar-lhes tamanha importância, acreditar em quaisquer sílabas que alguém se lembra de juntar? As mentiras não são mais do que palavras, palavras na ausência e na distância de factos. Ainda que sejam, concedo, interpretações retorcidas duma verdade desfocada. E as mentiras são abomináveis. Abomináveis amontoados de palavras insignificantes, que não valem nada, mas que têm um inigualável poder corrosivo, destruidor mesmo. E como as palavras não valem nada, nada podemos contra essas mentiras maléficas que alguém plantou de soslaio, nas sombras, às escondidas. Na sombra lá germinam o seu putrefacto caminho e lá se vão apoderando de corações outrora puros.
E quando alguém que pensamos amar nos mente? Ousamos acreditar, porque quem julgamos amar roça a perfeição e vamos engolindo mais ou menos a seco. Vou confessar: alguém que amei mentiu-me, há muito tempo. E eu sabia, tentava não ver, e o amor foi criando rachas. Quando a pressão rebentou o amor desfez-se em cacos e desapareceu na maré. É que os amores construídos sobre mentiras são ocos e fraquinhos.
As mentiras são hediondas e as bocas que as proferem ou os dedos que as escrevem deviam um dia ser condenados ao silêncio, para que não mais magoassem. Deviam, mas não são, porque as palavras não são provas nem testemunhas, as palavras não valem nada. O que se diz hoje desdiz-se amanhã, os sonhos caem por terra, os planos fingem que nunca terão existido nem na imaginação. Afinal, é tão fácil mentir! Dizer que se ama, se odeia, se pretende ou se deseja. Dizer para sempre, dizer nunca mais. São só verbos, sinónimos e pronomes misturados com pouca mestria e olhos baixos.
Devia aprender a mentir um dia destes. Talvez me fosse menos tumultuoso conviver com as mentiras alheias. Isso e ficar de boca calada quando as verdades andam ao soco para se libertar. Um dia destes...
Acho que fiz outrora o elogio do verbo. Tão fundamental que ele é. Com verbos as mentiras são mais fáceis de articular. E as verdades também. Valem o mesmo. Nada.