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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Hoje com uma recomendação de um espectáculo de stand-up comedy: Nannette, da Hannah Gadsby. Na verdade, é menos uma comédia do que uma intervenção ou um confronto com verdades dolorosas e íntimas, um ponto de exclamação feito para abalar e dizer algumas verdades incómodas sobre género, sobre homofobia, sobre patriarcado e feminismo. Imperdível e enriquecedor.

Está na Netflix. Vejam o trailer.

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"I think sex can be about both wanting and not wanting. It's... It's a war between the intellect and instinct, between shame and desire, and that's what makes it so interesting (...)".

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Nos últimos anos, tenho dado por mim a gostar de alguma ficção televisiva que, à partida, diria que não me interessaria por aí além. Um exemplo imediato (entre outros): Walking Dead. Resisti bastante no início, das pequenas partes que já tinha visto lembro-me de achar inúmeras falhas no enredo e na caracterização dos zombies, por exemplo, mas perante a insistência do homem, lá tive de papar acedi a ver as 3 ou 4 temporadas iniciais.


Fiquei "agarrada". Ainda hoje faço os mesmíssimos comentários às incoerências científicas (e não só) que vou apanhando, ou a coisas que me intrigam (tipo o cabelo do Darryl ser SEMPRE oleoso, mesmo depois de tomar duche!...), mas a verdade é que me tornei fã da série.


Pensando a sério sobre o assunto, concluo que os enredos distópicos, quando bem explorados, atraem o público em geral por demonstrarem, com recurso a situações extremas, a verdade nua e crua sobre a natureza humana:



  • Somos animais - e tantas vezes nos esquecemos que somos regulados principalmente por instintos e toda uma herança genética que busca apenas a propagação da espécie, atendendo às necessidades básicas em primeiro lugar, e só depois a considerações morais, filosóficas ou teológicas. Antes de sermos seres cientes, somos bichos.

  • A sobrevivência do mais apto é a regulação natural do sistema; todos morrem, os mais fracos/menos adaptados morrem primeiro.

  • As pessoas nunca mudam! Podem apurar alguns traços de personalidade ou aprender algumas coisas, mas a essência de cada um é essencialmente imutável. Somos fracos, temos vícios, erramos, e a história repete-se porque não se consegue fugir a quem somos.

  • Ninguém é inocente. Nem crianças, nem personagens insuspeitos que foram "bonzinhos" e almas caridosas a vida toda - aparentemente. Todos temos segredos, falhas, vergonhas ou arrependimentos.

  • Todos podemos ser monstros; en circunstâncias extremas vamos buscar forças escondidas e somos capazes de fazer TUDO (mesmo tudo!), para proteger a prole, o clã e a nós próprios (não necessariamente por esta ordem).

  • Os momentos extremos trazem à tona o melhor e o pior da humanidade. Como descrente na Humanidade em geral, desconfio que isto seja mais verdade na ficção do que na realidade, mas dou o benefício da dúvida. Se calhar todos temos um herói cá dentro, mas se calhar também todos temos um vilão à espera de oportunidade para se revelar.

  • Não há bons nem maus. Isto é o que mais me fascina nos cenários distópicos, na televisão, mas sobretudo na Literatura (arte maior, a meu ver), como comprovam grande parte dos clássicos mais geniais. Ao contrário da ficção banal e sensaborona, os grandes mestres conseguiram captar nas suas obras o âmago da essência humana. Não há bons versus maus, não há preto no branco. Todos e cada um de nós somos ambas as faces da mesma moeda. A sangue frio, a análise duma qualquer cena cruel, descontextualizada, leva-nos a tecer quase imediatos juízos de valor. E depois, quando nos envolvemos com a história, e com uma sólida construção dos personagens, invariavelmente criamos empatia, solidarizamo-nos, compreendemos os "actos atrozes" e às vezes passamos a simpatizar com os "malfeitores", porque nos revemos. Porque ninguém é sempre canalha, ninguém é sempre bonzinho, porque ninguém é perfeito nem infalível. Porque isso é ser humano.


Eu já previa que fosse assim. Com a mudança de operador para a "phod-a-phone" (volta, Meo, estás perdoada!) veio uma oferta de 3 meses grátis de Netflix. Claro que antes de terminar o primeiro mês já estávamos completamente "agarrados" e agora pagamos o serviço de boa vontade, até porque praticamente não vemos mais nada na TV. Além de não ser um serviço nada caro, pode-se usar em qualquer sítio (sendo que internacionalmente as contas estão limitadas à oferta daquele país), pode-se ver a maior parte das séries de enfiada (os conteúdos costumam ser disponibilizados por temporada, mas há excepções) e gostamos bastante dos conteúdos próprios da Netflix (o serviço inclui muitos outros), onde descobrimos algumas das melhores surpresas na ficção dos últimos anos.


E a vida nunca mais foi a mesma... Tem sido um fartote de binge-watching de alguns filmes e séries óptimas, de onde destacamos: Stranger Things, The OA, Sense8, Jessica Jones, The Punisher, Suits, Orange is the New Black, Designated survivor, Shooter, 100, entre outras.


O único ponto negativo são mesmo os "soluços" que o serviço apresenta diariamente, mas alheios à Netflix e inteiramente cortesia da porcaria de serviço da "phod-a-phone".


 


Atenção: este post não é patrocinado nem nada que se pareça.

Dias de baixa em casa, à conta de um polegar mutilado, significam também dias de enfardar séries da Netflix. Acabados os episódios disponíveis das coisas melhores que nos entretêm as noites de semana (zombies, suits, black mirror, etc.), inicia-se uma série com 3 estrelas de classificação que tem vindo a ser sugerida pela Netlix, com base nas outras séries vistas.


Between pode ser resumida como o resultado de uma série para adolescentes aplicada ao cenário distópico de isolamento e ausência de esperança - uma fórmula já provada, por exemplo, nos filmes da saga Hunger Games, ou 100, ou mesmo uma pitada de Under the Dome. O enredo não é particularmente original e para mim, começa a pecar pelas fraquíssimas fundamentações para a súbita epidemia que mata todas as pessoas com mais de 21 anos que habitam na pequena cidade de Pretty Lake. As incoerências e explicações "a despachar" fazem muita comichão no meu cérebro dominado pela ciência e são meio caminho andado para torcer o nariz ao que passa no monitor. Mas há séries que, apesar dessa enorme falha, conseguem dar-lhe a volta e tornam-se interessantes e viciantes. Por exemplo, em Walking Dead e em Fear the Walking Dead, os zombies são acessórios à história - que realmente envolve o espectador. Em Between, isso não acontece. Apesar de haver uma boa dose de conspiração, outra de violência, mais as crises pessoais e entre personagens, o somatório deixa a desejar. Quase todos os personagens que passam do início são os jovens (até 21 anos), que terão perdido pais, família, professores, etc. Contudo, as mazelas dessas perdas quase passam em branco e chega-se mesmo a um ponto em que as mortes já são tão esperadas e mal processadas que quase passam despercebidas e só são introduzidas no argumento como fonte de vinganças. O desempenho do elenco é positivo, embora os destaques não sejam merecidos pelos protagonistas. Falando em protagonistas, alguém explica como é que durante uma crise de um vírus malvado, fome, frio, assassinatos, um tumor e com uma criança recém-nascida nos braços, a Wiley ainda tem tempo/presença de espírito/recursos para se tornar loira? Pois. A evolução da história também é algo lenta, tanto que foram algumas as vezes em que adormeci durante pedaços grandes de episódios e não tive a menor necessidade de voltar atrás para apanhar o fio à meada. Em suma, a não ser que, como eu, já estejam na fase "eagoraoqueéquevouvernaTV?", passem à frente.


Este post está em rascunho na minha mente há meses. Aliás, há anos. É um assunto que ainda é um pouco tabu, sobre o qual ainda há muita desinformação e preconceitos, e por isso mesmo é raro falar disto - mesmo entre amigos próximos.

 

Conhecer pessoas (romanticamente falando) pela internet. Sinto que chegou a hora de dar o meu testemunho, aproveitando que a SIC chamou o tema ao prime time com a sua reportagem especial de domingo.

 

Talvez o meu testemunho seja relevante, até porque as relações amorosas importantes da minha vida passaram todas (as 3) pela internet. A primeira por acaso e há demasiados anos para que coisas como o Facebook ou o Tinder sequer existissem, e numa altura em que havia uma grande dose de cepticismo (de minha parte, pelo menos) no que seria a realidade do outro lado. Passados tantos anos, concluo que ainda há muitos preconceitos e disparates na cabeça das pessoas. Tudo o que digo aqui é, naturalmente, apenas a minha perspectiva, mas acreditem que eu sou qualificada para falar do assunto. Está na hora de desfazer equívocos e dogmas. Vamos a isso!

 

Ninguém é na realidade o que diz ser na internet. Mentirosos há em todo o lado, e convenhamos: quando conhecemos alguém que nos interessa romanticamente não começamos por desvendar os nossos piores defeitos, certo? Depois de muita reflexão sobre o assunto, achei na altura em que conheci o meu primeiro namorado a sério na internet que era mais fácil as pessoas serem transparentes na internet, mais genuinas, do que ao vivo e a cores. E isso traz óbvias vantagens no campo amoroso. Quanto à minha forma de estar na internet, seja em que contexto for, isto sempre foi incontornável - consequência da introversão natural, da auto-estima esfolada, do à vontade com a expressão escrita e da protecção que o monitor traz.

 

É perigoso. Claro que pode ser muito perigoso, especialmente se em vez de pessoas adultas e responsáveis estivermos a falar de jovens com pouco conhecimento dos riscos que correm em fornecer informações pessoais a estranhos. Isso jamais se faz! E se chegar a hora de marcar um encontro, deve escolher-se sempre um local público, bem iluminado, com bastantes pessoas à volta e, de preferência, policiamento e câmaras de segurança. Adicionalmente, e eu sempre fiz isto com as pessoas que conheci da internet, dizer a um amigo próximo o que vamos fazer e o local do encontro, combinando uma hora para dar notícias. "Se às x horas eu não disser nada e não me conseguires contactar, chama a polícia e dá estes dados" (incluindo n.º de telefone da pessoa com quem nos vamos encontrar, etc.).

 

É difícil! Encontrar o amor é, realmente, difícil. Pode ser desesperante e pode ser uma busca infrutífera. Mas também pode surgir quando e onde menos esperamos, e nesse momento todos os desgostos, toda a solidão anterior, passa a ser apenas uma névoa sem importância. Eu já tinha deixado de acreditar no amor e desistido completamente quando ele me encontrou, monitor adentro. Quando me inscrevi no site que me deu a conhecer o meu babe, a verdade é que ia sem expectativas. Aliás, dizia explicitamente no meu perfil que não procurava um namorado, estava mais interessada em encontrar um companheiro de viagens. Lá está, não havia nada a perder. Na pior das hipóteses conhecia virtualmente algumas pessoas que poderiam ou não transitar para a "vida real". E fazer uma incursão exploratória é tudo menos difícil, é inserir uns dados num site e voilá. Hoje em dia a maior parte de nós simplesmente deposita a maior parte da energia e do tempo no trabalho, trabalhamos horas a fio, que nem loucos, e quando não estamos a trabalhar estamos a caminho do trabalho ou a cumprir rotinas. Não sobra muito tempo para socializar na rua, em bares e cafés, sobretudo depois dos trintas, quando a disponibilidade das companhias naturais (os amigos) vai também escasseando. O telemóvel está sempre connosco, o computador está ali, e é muito mais fácil e rápido conhecer alguém, ou pelo menos "explorar o mercado" por estas vias.

 

Quem se conhece pela internet só está interessado em engate. Não é verdade. Temos que contextualizar as coisas. Os factos são que há muita gente sozinha, muitas pessoas que não conseguiram recuperar depois de relações falhadas e ainda os que nunca encontraram alguém especial. Também há (e não são poucos) os que só procuram sexo, um engate de uma noite, ou mesmo um caso extra-conjugal. [Recordo-me de um rapaz que jogou insistentemente a carta do "coitadinho de mim, só conheci uma mulher na vida e tenho curiosidade de saber como é estar com outra pessoa" - a sério, isto resulta com alguém?] E então? Há em todo o lado pessoas que procuram o amor verdadeiro, pessoas que procuram apenas uma companhia, pessoas que procuram apenas encontros sexuais. Basta dizer frontalmente ao que se vai. Se encontramos quem queira o mesmo, muito bem, se não, dizemos que não e passamos p'ra outra. 

 

Dar tampas e o medo da rejeição. Pois, lamento, temos de estar preparados para levar tampas e também para as dar sem grandes demoras. É simples dizer que não. É muito mais simples dizer que não pela internet, em que podemos simplesmente não responder, bloquear alguém ou dizer, honestamente "não estou interessada". Acredito que quem está do outro lado também não terá grande interesse perder tempo em bater na mesma tecla, afinal, há muitos peixes no mar.

 

Mas só há falhados e gente esquisita nesses sites! Gostos não se discutem, quem feio ama bonito lhe parece e todos os provérbios populares aplicáveis têm o seu fundamento, ok. Nos sites de matchmaking, como na tua rua ou lá no emprego ou em qualquer discoteca, há exactamente o mesmo tipo de pessoas: todas diferentes umas das outras. Nada como experimentar, não há nada a perder, certo? Da minha experiência pessoal, posso dizer que estive uns tempos registada em 2 sites de matchmaking. Num deles, maioritariamente dominado por pessoas de meia idade e com uma perspectiva mercantilista (o site oferecia x mensagens de borla, para aceder a mais era preciso pagar), não encontrei qualquer interesse. Terá sido azar, mas só me contactavam pessoas cujo perfil simplesmente não me interessava minimamente. Já no outro site, o OK Cupid, posso dizer que conversei com várias pessoas e encontrei pessoas realmente interessantes, inteligentes, cultas, com interesses semelhantes aos meus e sistemas de valores compatíveis com o meu, que poderiam facilmente ser minhas amigas. Aliás, foi precisamente aqui que encontrei o amor da minha vida. O OK Cupid faz uns questionários e cruza os resultados, apresentando uma percentagem de compatibilidade entre 2 pessoas, e recomendando pessoas (próximas geograficamente ou não, segundo me lembro esta é uma opção editável) com elevada compatibilidade. Só tenho a dizer o seguinte: resulta!

 

Não conheço casos de sucesso. Talvez conheças mais do que pensas. Acontece que, como disse acima, as pessoas ainda têm receio de falar abertamente sobre o tema, para evitar comentários parvos e preconceituosos, bem como perguntas tontas e indiscretas. Há muitos, mesmo muitos, casos em que a coisacorreu francamente bem. Conheço um casal que não só se conheceu pela internet, como começaram oficialmente a namorar apenas através da internet (tinham todo um oceano a separá-los), e ficaram noivos sem nunca antes se terem tocado. Hoje, passados uns 12 anos, vivem juntos e felizes, têm um filhote, e confirmam que foram feitos um para o outro, mas sem a internet dificilmente se teriam cruzado. 

 

E os blogues?! - perguntar-me-ão. Os blogues são janelas privilegiadas para a alma das pessoas que os escrevem. Com todas as vantagens e desvantagens que isso pode trazer, eu acredito que podemos realmente conhecer algumas pessoas simplesmente lendo aquilo que escrevem. Tenho bons amigos que os blogues me trouxeram ao longo dos anos. Tenho um grande amigo que me perguntou há anos, quando tinha um blog anónimo e muito pouco conhecido, se era eu a autora, porque reconheceu a minha escrita. Tive um namorado que se apaixonou por mim conhecendo apenas as palavras que depositava num blogue.

 

 

A conclusão que retiro de tudo isto é apenas uma: a internet é apenas mais um lugar onde as pessoas se podem conhecer, apaixonar, fazer amigos, criar ódios viscerais, dizer e fazer disparates, perder tempo ou encontrar a felicidade. Ou seja, exactamente como uma extensão do resto do mundo.

Belíssimas histórias de amor, sangue, heroísmo, a eterna luta dos mais fracos contra os poderes dominantes, escravos contra senhores, muito sangue, com efeitos especiais surpreendentes, muito sexo, explícito e sem pudores, traição, mais sangue, homens lindos.



 





 


 


 


  


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

Hoje apoderei-me da rubrica musical da casa, que normalmente está a cargo do macho, porque desde a Season 1 da série "The Affair" que esta canção me envolve de uma forma quase hipnótica no genérico (as imagens também ajudam). Começámos a ver a Season 2, e algo me diz que vamos dar conta dos 13 episódios quase sem fazer pausas.


 



I was screaming into the canyon




At the moment of my death
The echo I created
Outlasted my last breath


My voice it made an avalanche
And buried a man I never knew
And when he died his widowed bride
Met your daddy and they made you


[Hook:] 3x
I have only one thing to do and that's
To be the wave that I am and then
Sink back into the ocean


Sink back into the o-
Sink back into the ocean
Sink back into the o-
Sink back into the ocean
Sink back into the ocean




 

 

Em grande parte, devido ao Rodrigues dos Santos, que é uma besta.


Não é uma besta por causa da gaffe (se é que foi foi gaffe, porque se foi uma das graçolas profundamente ignorantes, só reforça a sua condição de besta).


Eu acho-o uma besta desde que numa cerimónia da entrega do prémio Nobel da Fisiologia, a criatura insiste em dizer é repetir incessantemente, dióxido de carbono, quando o que estava em causa era o monóxido de carbono, escrito em rodapé e por todo o lado, CO, dito em inglês pelos jornalistas de quem JRS estaria a fazer a tradução simultânea, amplamente escrito em todas as notícias sobre o assunto. Só um oxigénio que a criatura decidiu duplicar.


A péssima literatura que produz (já ouvi amigos escritores dizerem que consta entre as más línguas que quem produz são uns escritores fantasma contratados para o efeito, mas aos boatos não se deve dar grande importância) não ajuda a descolar a imagem. E o pior mesmo foi a palhaçada de reportagens feitas na Grécia, de dar vómitos com a falta de isenção e fabricação de opiniões. Do pior que o jornalismo pode ter.


 


Entretanto, o jornal i compilou uma série de polémicas da criatura. (Desculpem a estranho espaçamento da peça, o i também está fraco em termos de revisores e editores, já se sabe.)


 


(Um abraço ao brilhante professor Quintanilha, de quem sou fã há quase 20 anos, desde uma palestra tão rica de ciência como de humanismo, que me ficou na memória.)

Os meses de verão são um prado ressequido por onde arde, impiedosa, a Silly Season, e isso nota-se sobretudo no mês de Agosto. Se faz parte da minoria de portugueses que, como nós, prefere não fazer férias em Agosto (ou não pode) e se vê perante o mesmo dilema de tentar fugir à estupidificação das massas sem saber bem como, nós estamos cá para ajudar, em 3 simples passos.

 

 

 

- Ignorar toda a programação televisiva. [Ou, vá, pode tentar ver as notícias, mas assim que começarem a falar do que almoça David Cameron no Algarve ou outra coisa de elevadíssimo interesse nacional, carregar no botão do OFF. Idem aspas para a rádio.]

 

Arranje um sítio para obter séries de TV. Não estamos, naturalmente, a incentivar a partilha ilegal de ficheiros em clientes de torrents, cruzes credo, jamais! Faça um empréstimo da sua biblioteca/videoteca local, peça a um amigo rico que compre os DVDs ou assim

 

- Recoste-se no sofá com um refresco na mão, ou durante o jantar, e carregue no play, para pôr-se a par de séries boas que lhe possam ter escapado e estar preparado para a rentrée com novas seasons. [Vai dar jeito, acredite, sobretudo se na noite eleitoral as profecias sondagens se concretizarem, porque as notícias daí em diante serão cada vez mais indigestas.]

 

 

 

Aproveitando o destaque do Sapo para fazer um update com algumas coisas que ficaram esquecidas, algumas séries que já toda a gente viu (ou não?)... O que recomenda este casal de geeks



    • 12 Monkeys - Pandemias e Máquinas do Tempo, em tempos idos foi um filme realizado por Terry Gilliam (Monty Python) e protagonizado por Bruce Willis.

 

    • Breaking Bad - do melhor que apareceu pelas TVs nos últimos anos, imperdível! O mesmo não se pode dizer do seu spin-off, Better Call Saul

 

    • Dexter - brilhante Michael C. Hall, brilhante argumento, cativa e faz-nos torcer pelo bad guy, para variar.

 

    • Downton Abbey - das melhores séries de época de sempre, com um retrato social excelente e muito atento a todos os pormenores, delicioso para quem conhece a história inglesa (e fascinante para toda a gente).

 

    • Extant - Halle Berry e colegas de elenco igualmente colunáveis numa teoria da conspiração futurista.

 

    • Fringe - série de culto cá em casa, com muita ciência e universos paralelos.

 

    • Hannibal - A fotografia da série é estupenda, mas o resto é fraquinho. Este Dr. Lecter não consegue, nem de perto nem de longe, suscitar a espécie de empatia aterrorizada que o Anthony Hopkins consegue, os diálogos são forçadérrimos e ninguém percebe o propósito do enredo. Dá, contudo, para matar saudades da Gillian Andersen

 

    • Homeland - Cheio de propaganda política e religiosa americana / ocidental (o que me irrita sobremaneira), mas depois tem uma Claire Danes brilhante no papel de louca genial, e nunca nada é aquilo que parece...

 

    • How to Get Away With Murder - Mais uma trama com o dedo de Shonda Rhimes e culpa a rodos para dar e vender. Viola Davis com momentos de genialidade!

 

    • Guerra dos Tronos - ainda haverá alguém que não viu ou está a ver?! Eu perco-me um bocado no meio de tantos personagens e histórias entrelaçadas (se calhar não devia escrever posts ao mesmo tempo que vejo TV, não é?), mas na verdade aquilo é mesmo bom.

 

    • Mr Robot - Geeks, Hackers e Activismo, mudar o mundo atrás de monitores de computador.

 

 

 

    • Orphan Black - Muitos clones e um desempenho exímio da actriz principal que se desdobra e desdobra e desdobra...

 

    • Scandal - Esqueçam lá a Anatomia de Grey, aqui é que a Shonda Rhimes se esmerou. Muita intriga política onde o bem e o mal não se distinguem facilemnte, e um romance que se torna enjoativo (aqui já há quem torça para a Mellie e o Fizz se reconciliarem e a protagonista Olivia ficar com o Jack).

 

    • Sense8 - genérico excelente, sobretudo para os maluquinhos das viagens (como a Anti-Social), e enredo em que a empatia é levada a todo um novo nível.

 

    • The Affair - Não é uma obra prima, mas prende pelo toquezinho de thriller e a sensualidade natural

 

    • The Following - a série tem um enredo apelativo o suficiente (seita de psicopatas serial killers) para manter a primeira season, depois disso vive quase exclusivamente do Kevin Bacon

 

    • Under the Dome - Terreola americana leva com uma espécie de "queijeira" - a que chamam redoma - em cima. A velha receita de isolar uma população e explorar o pior e o melhor da natureza humana em condições extremas.

 

    • Walking Dead - Apocalipse Zombie, baseada livremente numa Banda Desenhada iniciada em 2003. Os "zombinhos" têm uma infinidade de incongruências e excessos, mas gostamos da exploração da vertente distópica do enredo. (Alerta: aquela malta nunca se lava!)

 

    • Wayward Pines - Mais uma vez, a distopia, a adaptação a condições extremas e uma reflexão muito pungente sobre tudo o que damos por adquirido.



 

 

Como casal de esquerdalhos com a mania que são intelectualóides, poderia esperar-se que nos tempos "livres" a malta aqui de casa se ocupasse com cenas altamente selectas, como mostras de cinema coreano independente ou teatro russo, ou concertos jazz e música clássica, e em casa só ligássemos a TV na RTP 2 ou para ver documentários sobre o impressionismo*. Mas não. Já saturados das notícias (eu mudo de canal quando o tema é desporto e assim que há uma menção ao (des)governo ou ao PR o homem entra em histeria a gritar violentamente com a TV - aposto que os vizinhos ouvem ameaças de morte, mas eu cá não confirmo nem desminto, antes pelo contrário), a nossa companhia à hora de jantar é mesmo a trash TV. Nunca sentimos qualquer atracção pela casa dos segredos ou telenovelas, mas é dar-nos um cheirinho dos programas do TLC ou do A&E e ficamos agarrados como lapas.
Pois então que temos nos favoritos: "90 days to wed", "age gap love ", "who gives more?", "sex sent me to the ER" e por aí fora. Eu ainda gosto particularmente da "long Island medium" e tudo o que seja histórias de fantasmas e do sobrenatural.
Nada melhor para descansar o cérebro do que metê-lo em ponto morto meia horita de vez em quando!

*quaisquer semelhanças entre as opções mencionadas e a realidade não são mera coincidência - tão hipsters que nós somos!

a SIC Mulher também está na lista de irritações recentes. Durante os cerca de 20 minutos em que tive a triste ideia de ver um programa chamado Stylista, contei pelo menos seis as vezes em que a voz-off disse "in this never before seen moment". Mas não havia mais palavras para utilizar?!


Acho que estou pouco habituada a ver TV. E é melhor não me empolgar a falar aqui nas descobertas que tenho vindo a fazer, senão começo nas legendas (desde erros ortográficos a erros crassos de tradução) e acabo na dicção e capacidade de comunicação dos intervenientes naquela coisa da SIC em que as anorécticas são lançadas como manequins e há criaturos que dizem que a parte favorita do seu corpo é o "pénes". Claro que qualquer entrevista a crianças enervadas e semi-nuas deve começar com uma questão objectiva e clara como "então?!"...


 




Acabei de ouvir e ver, no Diário da Manhã da TVI, uma repórter em directo do Gerês (Sofia Fernandes de seu nome, creio) dizer que aquela "é a única área protegida do país", e ainda que o Parque Peneda-Gerês "é o único Parque Natural do país". A isto se chama desinformação, ou simplesmente ignorância. O que a jovem quereria dizer, se soubesse as enormidades que disse, é que o Parque Nacional Peneda-Gerês é o único Parque Nacional do nosso país.


Sr. Director de Informação da TVI, empreste um mapa para a menina estudar...