O Universo tem o péssimo hábito de falar comigo. Revela indícios e segredos que costumo ignorar, por carecer de validação lógica ou racional. Como boa entendedora que não sou, só percebo quando baixo a guarda da lógica e relaciono eventos, sítios, factos com os sinais recebidos, usualmente sentimentos, impressões, adivinhações. O sentimento esquisito de orientação em sítios onde nunca tinha estado, a confiança cega em pessoas que nunca tinha visto, o encantamento ideológico e emocional por lugares ainda por explicar, tudo parece apontar em direcções que me perdem. O facto de me enamorar o espírito, por me sentir desafiada, embarcar em aventuras sem rumo nem norte, poderá também estar relacionado. Queria saber traduzir os sinais do Universo. Tenho uma fervorosa e urgente necessidade de passar a pente fino cada significado, em busca de uma pista, e um faro dissonante que me dispersa por labirintos sem fim. Sou vencida pelo tempo que não se retém. Pelo sono que não dá tréguas. E até pela paixão branda que me invade todos os espaços de ti.
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Os primeiros beijos contam toda a história da relação que selam. Um pouco como a máxima da ontologia recapitular a filogenia em reverso. O quando, o onde e o como dizem tanto sobre os enamorados.
Às vezes penso nestas coincidências que o Universo nos apresenta, ou que teimamos em escarafunchar até as descobrir.
À porta de casa, como nos filmes, beijo de cinema, longo e lento, uma mão que levava a chave para se despedir, num final já antecipado - e que afinal saiu tão ao lado.
Um atrevimento num comboio lá do outro lado do mundo, com a noite estrelada a lambuzar de azul dois rostos que brilhavam, espantados, mais que nunca, além da projecção imaginada. Ao som de carris a cantar às constelações, a marcar com sinais atabalhoados a surpresa na vida de cada um. Algo mágico que só funciona noutro continente e com outra pele, como um capítulo inteiro entre parêntesis rectos - a retomar um destes dias, bem sei.
E depois os beijos roubados, de repente, a meio de uma rua da cidade, no dia (instante?) em que nos conhecemos, coração a palpitar e pernas a tremer - e agora, o que é que eu faço?!
Beijos inesperados, antecipados num outro cenário ou com outro guião, que saem do plano, que trocam as tintas e as voltas - sou pião, barata tonta, nómada sem mapa. Ainda não lhes sei antever rumo certo, ou suave. Destinados a ser desde a primeira sílaba, inevitáveis, fatais como o destino de que tentamos escapar a todo o custo. Como se acreditássemos em fados, como se não fosse o nosso âmago cristalizado em qualquer coisa sem nome certo, alma ou coração ou quem somos, que nos empurrasse para aquele momento, aquela fuga. Desastre, ruína, sangue e entranhas a escorrer, e tudo está certo e no seu lugar, que o único desfecho possível é morrer de amor de todas as vezes.
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Dizem que a História tende a repetir-se.
Do alto de toda a minha racionalidade, sempre achei que isso é uma redução bacoca, uma daquelas generalizações que se tornam cliché sem fundamentos que o justifiquem. Acho que o que é lógico é que as relações causa-efeito se repitam, porque assim sucede tanto nas leis físicas como nas outras todas, mesmo as que não conseguimos isolar em "laboratório". Desde a maçã que mudou o mundo* que assim é e será.
Mas nem artilhada de ciências e lógicas até aos dentes consigo traduzir as repetições das minhas estórias. Às vezes tenho a sabedoria de reconhecer as pistas e não repetir as minhas acções (porque já sei que vai dar asneira e aprendi da primeira vez), noutras vezes não dou por ela até ser tarde demais e caio vezes e vezes sem conta exactamente da mesma maneira, no mesmo sítio. As nódoas negras aparecem exactamente nos mesmos sítios, estou até capaz de jurar que algumas se tornaram permanentes.
Das duas, uma: ou o que eu acho que são os insólitos que se me repetem não são tão insólitos quanto isso, ou as repetições são sinais que o Universo me esfrega na cara, mas claramente não falamos a mesma língua. Probabilísticamente, as coincidências são tão irrelevantes que nem as admito enquanto possibilidade.
Portanto, com a vossa licença, vou ali para o único abrigo blindado anti-catástrofe que conheço e deixo aqui apenas uma sombra do que estava guardado para o amanhã.
* Para os mais distraídos, trata-se da maçã que caiu na tola do Isaac Newton.
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Sou só eu que acho que uma sociedade que celebra e regozija com a morte dum ser humano (assassino de muitos inocentes, sim, não questiono) é uma sociedade pervertida, em que todos os valores morais de justiça e liberdade caíram em parte incerta? Não se vinga assassínios com mais mortes, dizem os sistemas penais ocidentais. Curioso que sejam esses mesmos "valores ocidentais" que repudiam outras formas de encarar a justiça e liberdade, que se creiam legitimados para acções deste cariz. Dizia aqui no outro dia sobre a vingança: “An eye for an eye, makes the whole world blind.”
Muito triste. Fico muito triste quando páro para reflectir sobre este mundo, o único que temos. Não consigo quantificar as doses de revolta, pena e tristeza que trago comigo. Há dias em que me sinto realmente um E.T. nesta terra.
Se calhar o melhor mesmo é seguir sem parar, comprar uns sapatos, deliberar sobre o casório da Cátia Meio-Tom com o Wills e deixar de questionar o que quer que seja. Puta de vida.
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Este ano vou tentar não sair (muito) da Península Ibérica. Será coincidência que por todos os sítios onde passe venha a haver um atentado terrorista, uma revolução popular ou uma desgraça natural? Ou será o Universo a dizer "'tá quieta, rapariga, deixa-te estar so'gadita!"?
É uma boa desculpa e mais original do que "Ah, estou nas lonas, o plano para as férias é ir uns dias à Fonte da Telha". Para mais, só a perspectiva da Fonte da Telha no Verão me dá náuseas. Claro que se me sair o euromilhões, passo a estar-me nas tintas para a estatística e o plano mantém-se: passaporte, cartão de crédito, escova de dentes e mochila às costas, passar em casa dos pais a dar uma beijoca e deixar as chaves para me irem regar as plantas, seguir para o aeroporto e até qualquer dia. Ah, e cumprir uma promessa que fiz de oferecer um bilhete para o transiberiano. Mas esse mando pelo correio.
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A Papoila gosta de avelãs e eu também. Mas enviei-lhe rabanadas com calda, que já não tenho avelãs. As últimas que comi foram oferecidas por um desconhecido que nunca me viu, apanhadas pelas suas mãos. Dizem-me que é um moço estranho, psicótico e que só come carne de porco. Esteve muito perto de encontrar compreensão num ombro ainda mais psicótico, mas feito essencialmente de carnes brancas, peixe e marisco. Só porque gosto muito do nome dele, e de avelãs. O que me traz de volta à Papoila, que para além de gostar de avelãs ofereceu-me o melhor postal do mundo e mandou-me passear, que como sabem, é a melhor prenda do mundo. E para onde me mandou a Papoila? Para a terra do psicótico das avelãs, onde foi criado por uma loba, ele e o gémeo. O Universo está constantemente a enfiar-nos mensagens pelos olhos dentro. Eu é que tenho pouco jeito para decifrá-las.
Sempre fui uma indecisa crónica. Escolher é-me penoso, talvez porque aos meus olhos sobressaem sempre as possibilidades e pontos positivos aos pontos negativos. Como também o optimismo crónico me faz sempre almejar o best case scenario e é este que coloco no prato da balança. Pouco realista, talvez, mas sonhar, como voar, não faz sentido se for rasteirinho. Se tenho de escolher, meço até onde vai o sonho, e escolho o maior, o melhor que pode acontecer ainda que menos provável.
Se me desiludo muitas vezes? Só com as pessoas, acho. Dou tudo o que tenho em mim quando sonho. E depois dou mais o que não sabia que tinha. Embarco em empreitadas incompreendidas. Tal como os sonhos. Muito poucos compreendem que se pode sonhar para dentro, para se ser, apenas. Para saber, apenas. Porque se gosta, apenas.
E tu sempre compreendeste.
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2009 foi dos piores anos que sempre para mim, pelo menos nesta encarnação. Mas nem tudo foi mau, claro. Para tentar compensar os desaires, o universo arranjou maneira de me brindar com duas vibrações muito zen. Durante uns meses, duas vezes por semana, formava-se um trio muito especial, identificado pelo sonoro gargalhar tantas vezes inoportuno. Fiz duas amigas. Dois doces, muito especiais. Algo me diz que as nossas aventuras triangulares ainda só agora estão no prelúdio.
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teria sido um bom dia para as "cartas da Maya" acertarem em cheio.
SAÚDE: A conjuntura ilumina o seu dia.
AMOR: Será finalmente presenteado com gestos de amor, por quem esperou tanto tempo que se manifestasse.
DINHEIRO: Novas propostas profissionais surgirão na sua vida, como uma lufada de ar fresco.
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A música que toca quando te vejo
O modo como rimos juntos
Doer no peito cada dor tua, mesmo as que me magoam mais a mim
Sentir que conhecer-te foi das maiores dádivas que o Universo me podia ter dado
Rever o teu sorriso nos poemas do Eugénio
Guardar cada abraço como um tesouro
Colocar todos os males do mundo em “pause” quando a tua mão procura a minha
Partilhar aventuras contigo que mais ninguém partilharia
O código do meu cadeado ser a tua data de nascimento
Os lírios, tristes, de cada beijo
A ternura com que te ajeito o cabelo
Dar-te impulsos para voar em vez de te querer prender
Acordar a sorrir porque estavas a meu lado
Desde o dia em que te conheci, seres um “brilhozinho nos olhos”
Ter-te dito, com o mesmo espanto com que o assumi, quando descobri que a Paixão por ti havia marcado a minha existência
Passares a mão na minha anca e dizeres “assim deixas-me maluco”
Sonhar que o inimaginável é possível, contigo
Atirar-me dum avião contigo
Chorar à tua frente, chorar contigo e por ti
Despir-me à tua frente
Ser-te sempre honesta e verdadeira
Equacionar-te para pai dos meus filhos
O inegável carinho
Partilhar a minha escova de dentes contigo
Ter pedido que te dessem a ti a oportunidade que também te pedi
Ser acordada pelo teu desejo
Fazer um test-drive contigo
Ver filmes indianos contigo
Fazer Amor contigo
Falar contigo de tudo, como se fosse só comigo
Dar beijinhos nas tuas feridas para que sarem mais depressa
Massajar-te os pés
Ter escrito sobre ti num dos jornais mais lidos no país
Adorar o teu rabo, as tuas bochechas e as rugas nos cantos dos olhos
Pedir-te, de coração aberto, uma oportunidade de provar o quão felizes podemos ser juntos
Comermos gelados juntos em três continentes diferentes
Dedicar-te uma música na rádio
Fazer uma aposta no euromilhões por ti, e a chave ser premiada
Tu gostas de doces, eu sou doce e chamo-te docinho
Ter sido tomada por tua namorada ou esposa mais que algumas vezes
Gostarmos das mesmas coisas
Termos o mesmo sentido de humor
Apoiares-me em todas as aventuras tresloucadas, e vice-versa
Defender-te quando um amigo tem vontade de te partir a boca para me defender a mim
Terem-nos desejado "a happy married life"
Dares-me à boca a tua comida para eu provar
Ser a primeira pessoa a quem recorres quando precisas dum favor ou dum ombro
Vermos a Via Láctea e estrelas cadentes de mãos dadas, deitados nas dunas
Amar-te incondicionalmente até que o Sol deixe de nascer
Motivos para te esquecer, sei-os de cor. São mais que muitos. Repito-os todos os dias, sempre que o pensamento resvala para ti. Percorro na memória tudo o que me disseste, cada uma das palavras mais cruéis que se pode ouvir. E oiço a voz da razão, da lógica, de cada amigo que me ampara e aconselha. E sei que consigo, nunca duvidei. Não são as forças que me falham, não é a razão, nem a ausência de esperança, que essa vais destruindo até só faltar um último pedacinho.
Culpar-te, por insistires, por não me deixares morrer em paz na tua vida, por me procurares, depois de eu dizer não mil vezes. Culpar-te, por seres assim, surreal, ideal, perturbado, como eu gosto. Maldizer o dia em que ouvi o teu nome e cada um dos mil acasos que te trouxeram a mim. Não adianta e eu sei que não. Hoje, não. Por muito que o amor seja o sentimento mais forte do mundo, por muito que eu desse tudo, tudo, por ti. Não posso convencer-te que me amas. Nem quero.
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Devias ser tudo o que não és.
Desejei-te de mil outras maneiras.
Rejeitei-te sem antes te ter considerado possível.
Agora decidi-te.
Não preciso de mais do que sou.
Serei o teu tudo.
Deves ser tu que me andas a consumir todas as lágrimas que se recusam sair.
Não sei se tudo acontece por um motivo.
Podes bem ser o meu motivo para aqui ter chegado.
Sozinha, mas de pé.
Agora, seremos amados.
Eu por ti e tu por mim.
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Chegou! E apetece-me cantar isto:
Finding someone that cares for you
And I
I dress my songs because I care for you
cause I
I'll take my time driving you slow
driving out cause I care for you
but then
someone loves you but I don't care for you
cause I...
I will get my life,
because I will be your life
oh no
And there were so many times that I cared for you
but then
I found that girl that could smile for you
And I start to be something
and I
I don't care
Why should I care?
I will get my love
Because I will be your love
(...)
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8 meses depois de ter definido assim as ausências de mim, ainda ecoa a mensagem no buraco cheio de nada que sou eu.
Apetece-me pôr a vida no prego, suspendê-la por uns tempos e ir ali viver outra vida por alguém... Só para fazer uma pausa nesta que é a minha e de que em regra tão pouco me queixo. Pois que se lixem as regras, não sou eu que estou dentro de mim, e hoje queixo-me. Em regra não choro, não grito, não sofro, não perco a calma nem a compostura, em regra relativizo e sei que estou bem, que hei-de estar bem ou pelo menos fazer bem a alguém. Hoje flutuo por uma realidade alternativa em que não me revejo, descuido os travões emocionais e deixo cair quanta chuva me sobra da alma afogada, sufocada.
Em regra arrisco e transbordo de palavras e exponho o que me falha e que não sei, em regra os baldes de água fria surpreendem-me sem a gabardina vestida. E em regra sorrio porque a surpresa me apraz, em regra vejo um raio de sol despontar e logo a energia se me renova desde o âmago mais primitivo do Ser, seca-me as dores e continuo a marcha, decidida, em direcção à rota e não ao destino.
Hoje não é o meu eu que de relance se reflecte em cada janela. Perdi o norte e o mapa e ando em passos tontos de sobe-e-desce que não chegam a lado algum. Sou dúvida incerta até de duvidar, sem suporte nem amparo, sem rede mas também sem risco. Flutuo em paralelos que não me tocam, passo incólume ao tempo e ao girar do mundo, vou existindo, adiando o desmaio que espreita pelas brechas de cansaço. Não ser eu também cansa.
Quebrada, partida, exausta, vazia, cinzenta. Reservo-me o direito de estar nesse canto poeirento e escuro que passo o resto do tempo a evitar. Quedei-me por aqui e não trouxe vontade (que a força sempre encontro) de me desencostar.
Ai de quem vier sem (a)braços para voar, sem coragem para amar!
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Não me esqueci da data: 20 de Março. Foi quando batalhava contra a verdade e a memória; tentava esquecer-me que ele existiu e que a sua existência arrombou os cadeados da minha. Tentei esquecer todas as coisas que me ensinou e os sentimentos que me apanharam na curva e me acagaçaram de morte. Apaguei as fotografias, proibi-me (e, com a força das expressões de dor que devia transpirar na altura, a todos quantos adivinharam a estória) de pronunciar o seu nome, de sequer falar dos sítios em que a realidade se tinha tornado um lugar melhor. Queria fingir que as lembranças dos sabores da pele e da língua dele eram de outro, ou dum qualquer. Quanto mais me forçava a ignorar a sua presença, mais a sua ausência ecoava em cada movimento dos ponteiros. Tentei substituir a sua imagem na minha cabeça mas a cada pestanejo ele me surgia de sorriso aberto até ao canto dos olhos; o mesmo sorriso que me virou as tripas e a lógica e o coração do avesso; os mesmos olhos que, cerrados, me fitavam na noite, desde a primeira, em que me soube rendida àqueles contornos de amêndoas tristes, quebrando todos os silêncios. Tentava, com todas as minhas forças, bani-lo de mim. E chorava, no escuro (eu, que nunca chorava!), com a falta dele a meu lado na cama, com o abismo da diferença entre o que era e o que tinha sido. Chorei também acompanhada, azul de vergonha, em frente a todos e sem controlo. Havia sido apanhada em falso, do nada, quando alguém me perguntou (antevendo a resposta por tão bem conhecer os meandros de mim) se sentia saudades dele. Aquelas duas palavras, o nome dele e “saudades”, como duas pequenas gotas que obrigaram os meus mares a transbordar, a derrubar os diques que tanto havia engenhado para não quebrarem.
Foi num desses dias, de pensamentos acorrentados e palavras abafadas, que tudo desabou. Cheguei, à hora habitual, no lugar habitual - uma das poucas rotinas com que vou convivendo pacificamente. Quando me aproximei para sentar, os joelhos, juro, tremeram. Não queria acreditar. Ali, no “meu” canto, alguém escrevera o seu nome, em maiúsculas como que a berrar-me que não podia fingir que não estavam ali. Porquê o seu nome, que foge a sete pés da oblíqua escuridão em que todos os Pedros e Paulos e Josés e Antónios se atropelam aos tropeções?! Aquele nome que, quanto mais virava costas, mais a cidade gritava aos meus olhos, dedos e ouvidos. Estava por toda a parte, a multiplicar-se como quando se compra um carro novo e os seus gémeos repentinamente erguem o pescoço entre as congestionadas multidões. Assim era o nome dele, repetido, esgotado, fantasmagoricamente assolando cada dia e cada noite, cada livro, cada café, por toda a urbe e até naquele chiado ondulante… Que ausência de ordem é esta neste universo, que faz questão de mo impor, quando só lhe quero fugir? Quando, no fundo, só quero aninhar-me nos seus braços e fazê-lo meu. Sentei-me sem saber como não quebrar, hipnotizada na realidade que fugia. Foi nesse momento exacto, em que o seu nome surgiu tatuado no meu seat by the window, que baixei as defesas, abri mão da carapaça e voltei a casa, ao lugar que é só meu. Onde me encontro comigo, e com ele, que faz inevitavelmente parte de mim. Retornei a mim, ciente que estou por minha conta, mas liberta de medos e máscaras, liberta da negação do que foi e que continua a ser. Não foi fácil, não foi uma cedência. Foi antes o culminar duma árdua luta que não queria ganhar. Foi mais do que baixar os braços, foi aceitar uma verdade que queima o peito como ferros em brasa. Foi saber que o íngreme caminho que é o meu (que não escolhi e que não tenho poder para recusar) não tem atalhos e que terei de percorrê-lo descalça. Sob sol, chuva, neve e granizo e sem garantias de algum dia chegar ao cume da gigante montanha.
Tal como aquela tinta azul, de esferográfica que mais parece permanente, que não cede, não desgasta, assim em mim permanece a companhia que deixei de evitar, o sentimento que deixei de negar. Já não fujo ao seu encontro nem ao seu nome. Já não fujo à vontade de cuidar dele e protegê-lo, de encaixar-me no seu corpo doce, de rir-lhe músicas feitas de amor. Enquanto assim for, nada tenho a lamentar. Não recusando que esta verdade venha a mudar, mas também não silenciando a força que tem o seu pulsar.
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Hoje vai ser um dia de reencontros. Curioso como o acaso os reuniu no mesmo canto do continuum espacio-temporal.
Hoje é dia de retornar a um ponto de onde há muito parti, cheia de pontos de interrogação nos bolsos e vontade de entrar por novas portas. Entrei, era um labirinto, mas não desisti, como nunca desisto de nada do que quero. De volta a este ponto, vejo luz difusa, porém, Luz. Não é escuro o meu futuro, porque jamais o permitirei. Incerto, sim, que bom!
Hoje é também dia de voltar ao local onde o meu coração disparou com um sorriso, à velocidade da luz, e comecei a temer uma profecia antiga, aparentemente irracional. Já mencionei que o perdi, ao coração? A quem o possa encontrar por aí, deixai-o estar, que as mazelas fora do peito talvez doam menos, em falsete. Deixei de preferir a dor aos analgésicos (emocionais, entenda-se)… Sabemos todos que as pessoas não servem para penso-rápido e orgulho-me de ter conseguido resistir a essa apelativa tentação. Melhor assim, menos baixas a registar.
Pensando bem, adensa-se a coincidência… Não era por ali que se encontravam aqueles estranhos personagens, entre insinuações e reticências?
Uns passos à frente, reencontro ainda a esquina em que te senti pela última vez. Estava(s) frio. Hoje, um raio de sol mesmo que chova. Daqui, ainda… tudo.
And last, but surely not least, um reencontro há tanto tempo desejado… Com uma pessoa tão, mas tão importante por estes anos fora. Repito-me: a distância só ilude os olhos. Que bom ter-te de volta, ouvir-te e tornar a pegar em tantas cumplicidades como pegas nas minhas mãos, com ânsias de intimidades revisitadas. Como se nunca tivesses partido.
Hoje vai ser um dia de reencontros.
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Hoje atrevi-me a revisitar aquele céu dramático, pautado de guarda-rios, onde o paraíso estava tão perto. Ouvi o som das doces águas, da tua voz, o cheiro dos lírios entranhou-se na minha alma. Por um momento, um bater de asas duma efémera, o tempo parou e a realidade ausentou-se de mim. Sopraste-me um beijo… e tornei a ser feliz.
Quem te deu esse direito, de pôr e dispor do brilho dos meus olhos com o abrir dum sorriso? Quem deixou a porta do infinito aberta para que invadisses o meu mundo com um mero vislumbre de ti? Irónico o modo do Universo esbofetear quem se atreve a duvidar, quem insiste em encurtar as rédeas das emoções.
…
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O meu instinto anda a querer dizer-me qualquer coisa... e eu não estou a gostar do que começo a ouvir.
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Tira-me do sério que as situações sentimentos momentos pensamentos medos receios alegrias simpatias ideias e ideais não sejam transcritos traduzidos repetidos exaustivamente por todas as palavras sinónimos significados possíveis inteligíveis descritíveis.
Dá-me nervoso miudinho tamanho burburinho de cochichos entredentes entrelinhas subentendidas diagnósticos mal percebidos julgamentos extemporâneos gaguejos hesitantes constantes declarações exclamações e mil questões intimidantes.
Resumir reduzir simplificar minimizar é no fundo dar lugar a cada qual interpretar como melhor lhe aprouver. Discordo repreendo rejeito este trejeito que as sentenças do meu modo são insistir e repetir e sublinhar e reforçar a negrito e maiúsculas garrafais cada sílaba marcada desenhada repisada não vá a mensagem sair ao lado deturpada enviesada equivocada mal parada enfeitiçada em orelha desassossegada distraída entupida desatenta iludida que só ouve o que quer.
As meias-palavras irritam-me. Mais do que palavra nenhuma. Caro Universo, faz o favor de elaborar, de usar quantas palavras conheças para te traduzires.