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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Verão em espiral, alimentado a pêssegos e sopros, despega-te de mim. Permite-me que regresse um arrepio à pele. Verão de pesadelos estagnados, queda-te na rebentação dos meus cabelos. Derrete-te em evaporações absurdas e leva cativos os escombros de mim.

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Odeio palavrões. Odeio ouvi-los, lê-los, odeio as bocas imundas que os proferem. Estão abolidos do meu vocabulário. Não sou púdica, mas sou sensível. Digo merda (oh, em múltiplos sentidos, digo tanta merda!, mas antes dizê-la do que ficar a remoer e a azedar por dentro). E escrevo muita merda também. Nem sequer considero que seja uma palavra hardcore. Jamais palavrão, só palavrinha. Mas não consigo não ficar chocada quando começo a ouvir, até nos ambientes que deveriam primar por uma certa esterilidade de conteúdos (por exemplo, o laboral - e o meu não é propriamente em cima duns andaimes), palavras e expressões que não me permito citar. Mas 'tá tudo doido? Ou é efeito da crise? Essa puta(na) (pois, também digo puta(na) quando em vez, quando a dita me exaspera) também me dá vontade de protestar por todos os meios, mas tenhamos modos, saibamos a dimensão e o contexto das coisas...


 


E sobre o vernáculo, chega. Mas já agora, que falo das comichões nos nervios, há mais duas expressões perfeitamente banais com que embirro solenemente:


1) "fazer amor" - desde quando é coisa que se faça? Ou acontece, ou se sente, ou se querendo referir a intercourse, use-se o coito, as relações sexuais, mesmo a reducionista queca. "Fazer" pressupõe um processo construtivo, como se dum mero coito apaziguador de necessidades fisiológicas brotasse um sentimento nobre e desconcertante. (Oh, daqui poderia nascer uma tese, mas já jurei que este ano não me metia noutra dessas!)


2) "católico(a) não praticante" - hein? como em praticar ténis ou râguebi ou vólei de praia ou ginástica?! O que quer dizer a imensidão de gente que se acomoda nesta muleta, não faço a mais pálida ideia. Provavelmente, que até foram baptizados e à catequese mas não estão para aplicar os princípios católicos às suas vivências diárias. É o que me parece, deste lugarzinho frio e crítico que ocupo no trono acima das crenças e das fés (assim, sem maiúsculas, que não lhes tenho consideração - às fés, pelas maiúsculas nutro até muito carinho). Se se estão a cagar para as missas e os confessionários, porque não dizem claramente que "até acredito em deus e nos santinhos, que foi o que a minha mãe me ensinou, mas não tenho pachorra para padres", ou uma variação sobre o tema? Mas não me digam que praticam ou não esse desporto de rezar terços e bajular figurinhas de gajos semi-nus pregados a cruzes e bonecas com vestidinhos entrapados.


 


E pronto, passa das 4 da manhã e apetecia-me desabafar qualquer coisa sobre temas que não os que me atazanaram os cornos até esta hora. Sim, também digo cornos. Não é palavrão, é palavrinha (de rigor científico; como mamas).

Revisito os nomes. A sua música, o som ao dizê-los, a forma como escritas, as letras parecem inclinar-se para uma direcção, anunciando a rota dos homens que transportam os nomes. Os nomes ficam agarrados à identidade, como se a identidade deixasse de existir sem o seu epíteto, como se a identidade obedecesse às regras impostas na certidão de nascimento de cada um.


E depois há o significado dos nomes, as origens. A tradução que se pretende encontrar nos olhos que dão todo um significado ao nome.


E os nomes que ficam das pessoas, de tão fortemente nos marcarem a existência, de tal modo que aquele nome será, mesmo noutros, o murmúrio daquele que o encetou primeiramente.


Duas sílabas que passam encolhidas na boca esticada em assobio. Palavras esdrúxulas que pendem languidamente nos silêncios indizíveis.


Afinal os nomes são só palavras e as palavras podem dizer tudo e significar nada.




21-02-2009


 


"(...)


 


P.S. Independentemente de teres tido um comportamento absolutamente idiota desde o dia em que acabaste comigo, quero que saibas que não te guardo qualquer rancor. Nem sequer por todas as mentiras. Já não és importante o suficiente para não te perdoar. Desejo-te muito sinceramente que encontres a felicidade, que chegues a ser uma pessoa plena e de bem com a vida. Eu estou bem, fiquei mal na altura, como deves calcular, mas superei as dores e até percebi rapidamente que as coisas entre nós nunca poderiam resultar sem que alguém ficasse aquém dos seus objectivos na vida. Somos demasiado diferentes em demasiados aspectos. Tiveste uma lucidez maior que a minha, ou talvez a minha teimosia tivesse sido maior. Percebi que o enorme sentimento que tive por ti talvez não tivesse sido por TI, mas pela situação gerada. Talvez me tenha apaixonado pelas hipóteses, pela paixão que tiveste por mim, pelos muitos inegáveis fantásticos momentos que vivemos. É difícil definir sentimentos e chamar nomes às coisas. Se o tempo tivesse parado, provavelmente continuaria a chamar-lhe amor. Não sei… Mas quero que tenhas presente que nunca tive noção da diferença enquanto estive contigo; cada beijo, cada palavra, foi tudo verdadeiro e sentido, de coração puro. Fui tua, só tua, do primeiro ao último dia dos quase 5 anos que partilhámos.


A percepção da diferença veio depois, inesperadamente. A magnitude dos sentimentos (ainda que também a estes não os consiga definir) abateu-se sobre mim, acho que também sabes com quem. E não sem uma generosa dose de espanto, de incredulidade. Só prova que afinal conhecias-me profundamente. Independentemente do que possas ter pensado, foram sucessões de acasos que em ocasião alguma visaram atingir-te ou magoar-te, nada foi planeado ou sequer previsível. Foste tu que de repente me excluíste da tua vida, não deveria existir lugar a mágoas, certo? Se porventura ficaste magoado, só posso dizer que lamento. E sim, tinhas razão, ele é perfeito para mim. Fizemos uma viagem onde podia caber uma vida inteira, uma vida passada, em que tudo mudou para sempre. Em que eu mudei, cresci, aprendi tanto. Hoje sou uma pessoa tão diferente de quem conheceste… Tão mais consciente. E tão mais EU.


 


Espero que estejas bem e que saibas que, apesar dos pesares, se alguma vez precisares de mim para o que quer que seja, não te vou negar a amizade, a que dizias querer manter mas cuja hipótese te apavorou. (Sim, já sei que vais negar. Eu também te conheço bem.) Não condeno; É difícil gerir sentimentos, sobretudo quando se age contra a sua natureza.


 


Ia escrever-te uma mensagem sucinta e que acabou por ser uma declaração de (bons) sentimentos. Algumas coisas nunca mudam. :)


 


Fica bem. Um abraço,"


 


ipsis verbis... Feliz Aniversário!


 

Tira-me do sério que as situações sentimentos momentos pensamentos medos receios alegrias simpatias ideias e ideais não sejam transcritos traduzidos repetidos exaustivamente por todas as palavras sinónimos significados possíveis inteligíveis descritíveis.


Dá-me nervoso miudinho tamanho burburinho de cochichos entredentes entrelinhas subentendidas diagnósticos mal percebidos julgamentos extemporâneos gaguejos hesitantes constantes declarações exclamações e mil questões intimidantes.


Resumir reduzir simplificar minimizar é no fundo dar lugar a cada qual interpretar como melhor lhe aprouver. Discordo repreendo rejeito este trejeito que as sentenças do meu modo são insistir e repetir e sublinhar e reforçar a negrito e maiúsculas garrafais cada sílaba marcada desenhada repisada não vá a mensagem sair ao lado deturpada enviesada equivocada mal parada enfeitiçada em orelha desassossegada distraída entupida desatenta iludida que só ouve o que quer.


 




As meias-palavras irritam-me. Mais do que palavra nenhuma. Caro Universo, faz o favor de elaborar, de usar quantas palavras conheças para te traduzires.