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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Quando era miúda, costumava dizer que não tinha terra. Quando todos os amigos e colegas iam "passar férias à terra", eu sentia que não tinha essa outra terra além daquela em que vivia (e vivo). Tanto pais como avós, todos do mesmo distrito, nunca tive esse património distante das raízes familiares. Sentia-me um bocado triste por não ter as histórias de regressos com conversas à volta do forno a lenha da cozinha, sobretudo triste por não ter as experiências da ruralidade dos animais, apaixonada que sou desde sempre por tudo quanto é bicho, do mato ou doméstico, por qualquer pardal ou lagartixa, burro ou perú, minhoca ou ratazana. Mas ao mesmo tempo sentia-me afortunada por não ter que esperar pelas férias para ter os avós por perto, os meus avós faziam parte da minha vida diária e apesar de disfuncional (não são todas um pouco?), a família não era uma entidade com camadas e fronteiras geográficas, era só aquele núcleo fundamental (porque laços de sangue são uma coisa diferente de família).
O gosto pelas viagens e passeios, muitas vezes sem destino definido, despontou muito cedo. Ansiava por aqueles dias de verão em que partíamos os cinco num automóvel, pelas estradas de Portugal, às vezes Espanha, sem nada marcado, ao sabor da aventura. Chegados a um cruzamento, o meu pai perguntava à minha mãe: "esquerda ou direita?". Que é como quem diz "Norte ou Sul"? Das inúmeras memórias e ensinamentos que o meu pai me deu de herança, essa é uma das melhores. Essa pequena rebeldia de ir para onde quiser ou me apetecer, sem regras ou planos definidos. Nunca sabíamos bem por onde iríamos estar, ou quantos dias íamos ficar. O limite óbvio era o orçamento, que nunca permitiu exuberância de nenhuma espécie. Outra coisa que aprendi com estas viagens foi que nem todas as pessoas gostam ou lidam bem com a ausência de estrutura, horários e planos. O meu avô e a minha mãe, se não estavam sentados para comer "à hora de almoço" ficavam com birra de fome. A minha avó, com muito mais resiliência, também, mas não resmungava, guardava-se para a birra de sono quando de noite ainda não tínhamos alojamento. Muitas, muitas foram as vezes em que almoçámos às quatro da tarde ou à meia noite ainda não fazíamos ideia de qual a residencial de beira de estrada onde podíamos dormir. Assim se faz uma aventureira, com muita descontracção e capacidade de lidar com imprevistos, muito mais fascinada pelos recantos curiosos das aldeias, pelos riachos ou searas, do que interessada nessas coisas mundanas e corriqueiras como comer e dormir.
Foi assim que conheci Portugal de lés a lés e parte de Espanha por dentro, com mil histórias caricatas, incidentes e tropelias para contar. Descobri que a cultura tem diversidades regionais imensas e fascinantes, aprendi que as pessoas não vivem todas com os mesmos confortos ou prioridades, e também aprendi que não importam as diferenças, a língua ou sotaque, a cor, o tamanho ou as roupas que vestem: as pessoas são essencialmente iguais. Nunca mais parei de viajar, tornou-se uma sede incontrolável de aprender, ver e viver na primeira pessoa. Mania burguesa, dirão (não sem razão) os meus camaradas mais puristas. Seguramente que é um privilégio burguês poder viajar para o estrangeiro várias vezes por ano. A seguir ao privilégio é também uma escolha consciente, que implica abdicar de muitas outras coisas que não valorizo tanto. Não planeio abdicar deste privilégio, enquanto o puder manter. Viajar traz-me riquezas que ninguém me pode tirar. Aprendi que um sorriso no olhar é capaz de ultrapassar qualquer barreira linguística e que o mundo, na sua aparente pequenez de distâncias encurtadas e da comunicação imediata, é tão grande quanto estivermos dispostos a ver mais longe.

Olá, será que ainda há alguém por aqui?

Pois que a menina esteve ausente, a fazer o que mais gosta: viajar! Antes de partir tinha as melhores das intenções de vir escrever qualquer coisa de jeito de vez em quando, mas valores mais altos se alevantaram. Não tive muito tempo nem, a bem da verdade, disponibilidade emocional. Os dias foram bastante ocupados, preenchidos com coisas boas - de que eventualmente falarei aqui com mais detalhe. Entre nove aviões, quatro barcos, comboios, autocarros, carrinhas e carros, milhares de fotografias, conversas ricas, refeições maravilhosas, cultura, paisagens de sonho, estive realmente bem entretida e... o que escrevi não veio cá parar. 

Não falei da campanha para as autárquicas, e tanto haveria por dizer... E não falei do que é para mim ainda mais importante, porque pode significar um ponto de viragem na política europeia, que é a situação da Catalunha. Mas lá iremos, que algo me diz que o que estamos a assistir é apenas um ensaio do que está para vir. E tomara que sim.

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Viajar é preciso. É absolutamente essencial para aprender a vida, para reconhecer a humanidade em todos os rostos, para perceber que somos todos feitos do mesmo, de matéria mortal e de sonhos, de medos, de risos e de dor. Viajar é a única forma de compreender a filosofia, a inutilidade da religião, a globalização, a ecologia, a finitude dos recursos e o propósito de existirmos, de unir todos os saberes com uma visão menos parcial e incompleta do que somos - que é nada além do acaso material da vida e da consciência.

Como entender um mundo tão grande e diverso e realmente reflectir sobre os “desafios globais” de que nos falam livros e debates, se permanecermos toldados pela visão pequenina e eurocêntrica do mundo? Viajar não é passar uma semana de reclusão num qualquer resort com tudo incluído, que isso é pior do que não espreitar para a rua desde o abrigo quente das quatro paredes. Viajar é conhecer o resto do mundo com outros olhos, é correr riscos e confrontar cada preconceito, questionar as necessidades que pensamos que temos e o conforto a que estamos habituados, é conhecer a realidade de forma mais isenta, é saber onde vivem os trabalhadores dos outros países, quanto pagam por um litro de leite e que transportes apanham para o trabalho, o que cantam quando comemoram alguma coisa, de que riem e o que fazem ao Domingo. Viajar é viver na pele dos outros, é fazer um esforço para virar a cultura e a sociologia ao contrário quando é preciso, e perceber que afinal todas as diferenças não são mais do que manifestações ímpares daquilo que é comum a todos. Viajar abre horizontes em múltiplos sentidos, mas talvez o mais importante seja calejar a tolerância. Tudo o que pode chocar com o que normalmente tomamos por adquirido encerra um potencial de aprendizagem espantoso que vale por si só, e ainda potencia a empatia para com os outros seres humanos. A empatia é a pedra basilar para fazer um mundo melhor, para revolucionar verdadeiramente o mundo feio e egocêntrico que tritura vidas e esvazia almas em troco do lucro máximo de quem já lucra tudo.

Viajar é preciso, mas não é preciso percorrer os quilómetros para sair de quem somos. Conheço muita gente com inúmeros carimbos no passaporte mas que nunca foi capaz de sair da sua pequenina bolha impregnada de preconceitos e amarras. Felizmente conheço também quem tenha saído pouco do seu país e seja cheio de mundo (respeito imensamente quem se expõe ao desconhecido propositadamente, com um devir consciente e não sem um esforço insistente). Era Bernardo Soares, heterónimo de Pessoa, que dizia, certeiro: “Para viajar basta existir. (...) Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.

Viajar é um acto humanitário, de rebeldia e revolucionário. É cortar amarras de preconceitos e aprender que todas as verdades podem ser discutidas. É também por isto que viajar é muito diferente de ser turista. Ao turista importa ir aos monumentos que o guia da excursão diz que são imperdíveis e tirar uma selfie em cada um para poder atestar que cumpriu os mínimos obrigatórios. Ao viajante importa misturar-se na multidão, fazer compras no mercado e comer nas tascas onde o povo come. Ao viajante importa regressar mais rico, mais duro e mais maduro, porque nunca é o viajante que partiu o que regressa. O viajante não traz respostas no bolso para distribuir pelos outros, recolhe perguntas e confronta-se com elas diariamente. O viajante não sossega, porque a inquietude corre-lhe nas veias e faz reacção alérgica ao conformismo. Quem viaja nunca dirá que está satisfeito, que já viu e viveu tudo o que tinha para ver e viver. Quem viaja tem uma sede insaciável de fazer parte do mundo todo, tem noção da sua pequenez, insignificante presença efémera, e vive atormentado com quaisquer amarras que lhe queiram impor.

Portugal e, em particular, o Porto e Lisboa, parecem ter sido descobertos nos últimos anos como “O” novo melhor destino de férias citadinas. E o título é seguramente merecido, em qualquer dos casos. São cidades lindíssimas, o custo de vida é baixo quando comparado com outras cidades europeias, há Sol e calor com fartura, a gastronomia é estupenda, os vinhos são ainda melhores. Ele é prémios de melhor destino, são sucessivos destaques em publicações internacionais (especializadas e não especializadas), um sururu global ao que vêm ajudar os preços acessíveis e apetecíveis das companhias aéreas low cost.

Como viajante adicta (não é sinónimo de turista, mas já lá vamos) e pelintra, não posso criticar os estrangeiros que têm vontade de conhecer um pouco de Portugal e aproveitam as condições favoráveis para o fazer. Pelo contrário, acho que fazem lindamente. E acho lindamente que o país invista no turismo e retire dividendos do melhor que temos para vender (clima, paisagem, gastronomia e cultura), e que foi subaproveitado durante muito tempo (marcas da ditadura e da psique de “coitadinhos” com sentimentos de inferioridade). Mas, obviamente, tudo tem a sua conta e medida, e neste momento penso que o limite do razoável já foi, em muito, excedido. Falo sobretudo do que conheço no dia-a-dia, que é Lisboa, mas calculo que no Porto se passe o mesmo ou pior.

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Há uns anos passear na Baixa lisboeta era francamente triste. As ruas vazias, silenciosas, ocas; as lojas outrora cheias de movimento e vida estavam quase todas fechadas, falidas, ou deixadas ao abandono. Passar na Rua Augusta vazia, triste, era uma sombra amarga e melancólica do que Lisboa tinha sido nos anos ‘80 e início dos ‘90. Lembro-me bem do ambiente da Baixa nessa altura, meio hippie e intelectualóide, cheio de lojas da moda e alternativas, cheia de artesãos, caricaturistas e alfarrabistas nas arcadas da Praça do Comércio, que faziam as minhas delícias. (Dizia eu que, se o curso dos meus sonhos corresse mal e não encontrasse trabalho ia fazer pinturas e desenhos para a Rua Augusta para ganhar a vida.)

Hoje em dia, o ambiente é bastante diferente. A língua mais ouvida não é o português (mas ouve-se muito francês, inglês, italiano, alemão, espanhol, chinês...), a Baixa e quase toda a cidade e arredores fervilham de energia, de agitação, há lojas com nomes estrangeiros por todo o lado, há restaurantes da moda, com conceitos alternativos e preços “salgados”, há hotéis e hostels a nascer em tudo quanto é sítio. Há tuc-tucs em azáfama contínua a largar e apanhar grupos de turistas, há músicos de rua, estátuas humanas, filas imensas para subir ao Elevador de Santa Justa, os eléctricos passam apinhados, os comboios para Sintra apinhados vão, logo às oito e picos da manhã, os comboios (e as bilheteiras) para as praias da linha de Cascais não dão vazão aos magotes de “beach droids” altos, loiros e com pele vermelha que fazem fila pelo Cais do Sodré fora.

E os lisboetas? Esses deixaram de ter casas para arrendar (porque os proprietários descobriram que o arrendamento de curta duração aos turistas rende bastante mais), deixaram de ter poder de compra para os preços exorbitantes do m2, deixaram de ter lugar nos transportes públicos disponíveis (a qualidade dos transportes públicos lisboetas, que nunca foi boa, tem conseguido piorar significativamente). Portanto, lisboetas em Lisboa são cada vez mais raros, já que a um trabalhador comum se torna impossível comportar a despesa de uma renda ou prestação de hipoteca no centro da cidade. Estes trabalhadores vêem-se assim, cada vez mais, “empurrados” para os subúrbios, ou para quartos em vez de apartamentos, ou para T0 e T1 em vez de T2 e T3, de acordo com o rendimento ou, em termos politicamente inertes, "classe sócio-económica". A gentrificação é bem real, é mais uma manifestação de que o sistema burguês sacrifica tudo, incluindo a própria identidade, a favor do capital, e está a assumir proporções incomportáveis. 

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O que se prevê que suceda num futuro próximo (sem ser necessária bola de cristal) é óbvio: a oferta irá, eventualmente, começar a superar largamente a procura, os hotéis, restaurantes e lojas vão começar a insolver e fechar portas, os preços irão novamente cair, e se nada mudar entretanto, o ciclo repetir-se-á. Com o novo aeroporto na Margem Certa, o mesmo fenómeno tenderá a alastrar, mas a um ritmo mais brando, também aos subúrbios.

É, obviamente, necessário regular as actividades económicas directamente relacionadas com o turismo de massas. Caso essa regulação não suceda, é muito provável termos um cenário de protestos idêntico (na versão soft, que já se sabe que os portugueses são um povo de “brandos costumes” - infelizmente, digo eu) ao que se vive já em outras cidades hiper-saturadas de turismo, como Barcelona ou Veneza.

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O turismo de massas é um verdadeiro factor dissuasor para o verdadeiro viajante, garanto eu, apesar de serem as massas a trazer consigo a promessa do lucro fácil. O viajante quer realmente conhecer o sítio e o povo que visita, quer misturar-se com os locais, quer comer o que comem os locais, andar de transportes públicos, sem grandes planos, à aventura. O turista (o tal das massa$) usa o táxi para ir do aeroporto ao hotel porque vem carregado com 2 trolleys para os 4 dias de férias, quer ir aos monumentos todos, bater uma selfie e passar ao próximo, para poder correr toda a lista de pontos de interesse que os guias lhe apresentam. Quer comer hambúrgueres ou o que seja para ele “normal” sem se aventurar em sabores muito exóticos. O viajante prefere alojamentos locais, o turista usa hotéis de quatro estrelas. O turista não se importa nada de pagar 4€ por uma imperial ou 30€ por meia hora de cruzeiro no Tejo, porque até está de férias e não lhe faz grande diferença. O viajante paga 1€ pela imperial, porque é o preço nas tascas sem pretensiosismos e apanha o barco para Cacilhas (1,25€ por trajecto) para explorar o Ginjal.

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Em suma, o turista papa o que lhe puserem à frente, não questiona muito e sai sem perceber muito bem se esteve em Espanha, Portugal ou lá como se chama o sítio que tem paellas e tapas por todo o lado. Já o viajante, quando percebe que o tal sítio se transformou numa espécie de Disneylândia feita de cenários de cartão (“para inglês ver”) e filas para as “atracções”, sem vislumbre da autenticidade que tornava o sítio especial e sem habitantes, só turistas… Foge para outras paragens.

Uma reflexão colectiva impõe-se, e em boa hora (eleições autárquicas a 1 de Outubro, caso não tenham reparado). O que é que queremos? O que é mais importante para o país, que os seus habitantes e trabalhadores tenham condições para cá viverem e trabalharem, ou transformar os locais icónicos em grandes negócios de hotelaria, com muitas camas e poucas casas? Vamos permitir que nos expulsem progressivamente de nossas casas?

Da primeira vez que estive em Amesterdão, fui sozinha. Estava um frio de rachar. Não percebi todo o deslumbramento generalizado com a cidade. Achei gira e tal, mas suja e completamente sobrevalorizada.
Da segunda vez, fui com uma amiga. Estive mais tempo, o tempo estava frio e chuvoso, e conheci mais coisas, mas continuei a ter uma opinião morna. Tudo caro, algo sujo, sem nada que fascinasse.
Desta vez, fui contigo. Não choveu, mas também estava bastante frio. Só que, desta vez, tudo me pareceu bonito, sereno, em sintonia. O Sol brilhou. Realmente um raio de sol faz toda a diferença na Luz, nos reflexos, no estado de espírito, nos sorrisos das pessoas na rua.
Passeámos muito de mãos dadas, fizemos piqueniques improvisados nos parques, apanhámos estafas nos museus. E a cidade ganhou outra cor, outro encanto adocicado, suave e afável como a superfície do Amstel num dia de Primavera.
Já viste como pode apenas o Sol mudar tudo em nosso redor e dentro de nós?

Quando estivemos em Paris também senti o mesmo, as ruas dos subúrbios encantadoras, cada detalhe fortuito engraçado e simpático, e até a língua, de que nunca gostei, me pareceu menos presunçosa e mais aberta e interessante. Também deve ter sido o Sol a fazer a diferença, tão grande diferença em cada momento. A cidade abraçou-nos, estendeu o tapete vermelho e convidou a ficarmos para sempre numa pintura de Saint-Lazare.


Só que em Paris não vimos o Sol, choveu o tempo todo.


só que foi real.

 

Uma pessoa da empresa em que trabalho ia viajar em serviço. Foi barafustar com o departamento responsável pela marcação das viagens porque o vôo incluía uma escala em Bruxelas, no aeroporto de Zaventem, e não queria passar por nenhum aeroporto em que tivessem ocorrido atentados, porque é "muito perigoso" e "irresponsável" e "sem garantias reais de segurança" e tal. A pessoa em questão tem, convém esclarecer, um bocadito (grande) de paranóia com a segurança e as funções que exerce estão, em certa medida, relacionadas com o tema. Tentou tudo por tudo para alterar o vôo, mas já não foi possível porque não havia alternativas para as datas em que era necessário viajar. Até aqui tudo certo.

 

Mas qual era o destino final, conseguem adivinhar? Eu digo-vos. Era o Afeganistão.

 

 

 

Falar inglês não é obrigatório; mas lá que dá um jeitaço em praticamente qualquer sítio do mundo, em muitos contextos profissionais, e até apenas enquanto factor facilitador do lazer ou entretenimento, não há a menor dúvida. 

 

Obviamente, não é vergonha nenhuma não saber, ou estar mais enferrujado, ou pronunciar um bocado ao lado.
Vergonha é uma empresa pública como o Metropolitano de Lisboa não ter encontrado melhor alternativa para as mensagens bilingues que passa nos altifalantes do que a gravação de uma senhora com uma dicção terrível e pronúncia ainda pior. O Zezé Camarinha poderia ter feito melhor.

 

É verdade. Continuo a odiar a Fertagus. Às normais horas de ponta a coisa já é difícil, irritante, incómoda, cheia de gente, muito cheia de gente, com pouco espaço, cara. Mas pensava (pensava mesmo, sou tão ingénua!) que antes e depois a coisa marchava com mais facilidade. Mas consegue ser pior.

 

Chegar à estação antes das 7, com alguma pressa. Não ter bilhete. A bilheteira está fechada. Vou às máquinas, no outro extremo da estação. Mete cartão, escolhe bilhete, escolhe trajecto, escolhe quantidade, escolhe com NIF, o teclado está perro, repete o NIF. Paga. Não tenho moedas, não faz mal, a máquina aceita notas de 5, 10 e 20. Tenho uma nota de 20. Afinal a máquina não gosta das notas de 20, só tem troco se for nota de 10. Não tenho mais nenhuma nota, experimento a máquina do lado. Mete cartão, escolhe bilhete, escolhe trajecto, escolhe quantidade, escolhe com NIF, o teclado está perro, repete o NIF. Paga. A máquina também não gosta da nota de 20. A pessoa atrás de mim na fila confirma que as máquinas nunca deram para as notas de 20, não se percebe porque é que têm indicação das notas de 20 como aceites... Volta para trás, vai ao Multibanco, espera na fila, procura cartão, continua a esperar. Mete cartão, mete pin, escolhe operação, escolhe levantamento, escolhe valor: 10€. Volta para trás, mete cartão na máquina da Fertagus, escolhe bilhete, escolhe trajecto, escolhe quantidade, escolhe com NIF, o teclado está perro, repete o NIF. Paga com os 10 euros, sai o jackpot, moedas por todo o lado, agarra o talão, agarra as moedas, agarra o cartão. Comboio quase a chegar. Cartão dá erro de leitura. Outra vez. Parece que a culpa é da bagagem que está em frente ao sensor. Passa finalmente. Desce as escadas, o comboio chegou, já vem cheio, porra. Entra no comboio, encontra um lugar, tira a mochila, mete mala ao colo, mochila de lado. Encolhe joelhos para outra pessoa passar. Joelhos da frente a roçar nos meus joelhos. Pessoas por todo o lado, nos corredores, nos degraus. Entram mais e mais pessoas na estação seguinte e a minha mente divaga sobre a dinâmica de fluidos e a arrumação de passageiros nas carruagens. Chego ao destino. O intervalo entre o comboio e a plataforma é enorme, não sei como não há gente a esbardalhar-se ali a toda a hora. Escadas rolantes paradas. Odeio a Fertagus!

Último ataque de riso (acontece-me, às vezes nos piores momentos).


Em viagem de trabalho aos Açores, com a chefe.


Assim que o avião aterra, anda só um pouco na pista e pára. A tripulação (bem divertida e simpática, por sinal) pede desculpa pela pequena interrupção e esclarece que a mesma se deve ao facto de estar um pequeno animal na pista, mas que já estava no local uma viatura com alguém para remover o bicho. Pergunta a chefe: "O quê, está uma vaca na pista?!"



Aeroportos e estações de comboios, feitos ambos de movimentos, uns perpétuos e rotineiros, outros cortes de guilhotina com o tempo e o espaço, marcando a cinzel um antes e um depois. Tudo passa, passam as gentes, para a frente e para trás, ficam uns enquanto outros partem, uns correm para o seu destino, expectantes ou desiludidos, como quem foge da sorte. Outros suspiram pelo reencontro, um regresso adiado, ansiado, para o seu lugar.
 
A vida acontece sob lentes caleidoscópicas e de ampliação de tudo o que mais importa nos aeroportos e estações de comboios. Como se fosse mais pura, mais filtrada do que é acessório e banal. Mesmo que não haja nada mais banal do que apanhar o comboio de volta para o sítio onde se iniciou.
 

As viagens ampliam a vida.
 

A definição oficial de pelintra abarca quem é pobre ou mal-arranjado, mal vestido, forreta, sovina, somítico... Mais valia porem uma fotografia minha, porque sou tudo isso!


 

Além de ser uma forreta, tenho o terrível vício das viagens, que é coisa em que nunca tenho pena de gastar dinheiro porque acho que é o melhor uso que lhe posso dar. E custa-me dar muito dinheiro por coisas materiais porque essa verba poderia estar a ser canalizada em algo que realmente merece a pena - leia-se: viagens, passeios, refeições, espectáculos. Por exemplo, com o dinheiro de um iphone eu poderia pagar os vôos de umas férias na Ásia; com o dinheiro de um par de botas de marca, eu iria passar um fim de semana a Barcelona; com o dinheiro de umas calças de ganga de marca poderia jantar fora num sítio bom ou ir a 2 ou 3 concertos. Como estes exemplos, há mais mil e, não parecendo à primeira vista uma poupança significativa, tudo junto é o suficiente para que uma assalariada com um salário mil-eurista consiga coisas que lhe valem muito, como não dever nada a ninguém (além do crédito habitação), poder viajar para o estrangeiro sempre que lhe der na real gana (e os parcos dias de férias o permitirem), ter uma casa confortável em que não falte nada, fazer uma compra particular ou ir comer fora ou a um concerto ou peça de teatro ou ao cinema sempre que queira, sem estar à espera do fim do mês como muitas pessoas em condições idênticas.


Vai daí, a minha pelintrice inata é uma mescla da condição de pobre e mal-paga com a opção de poupar tostões para as coisas que realmente (me) interessam. Mas que ninguém se iluda, não há facilidade nenhuma em ser pelintra. A pelintrice exige esforço, concentração, espírito de sacrifício, muito foco e uma grande dose de desenrascanço.


 


Ando a matutar no tema e cheguei a uma lista de 10 caratcterísticas que permitem diagnosticar um bom pelintra, que também pode perfeitamente ser uma lista de 10 belíssimas dicas de poupança.


 


1 - Está sempre a par das promoções. Seja nas lojas físicas ou online, seja na farmácia ou supermercado. Tem cartão de cliente de tudo o que permita obter desconto.


2 - Está registado em alguns daqueles sites de descontos, ou pelo menos num agregador (a je usa o Forretas). Raramente compensa, mas de quando em vez surge um bom negócio e o pelintra não quer deixá-lo passar em branco!


3 - Não consegue resistir a uma pechincha, nomeadamente nos saldos, mesmo que só vá usar no ano seguinte.


4 - Faz stock de bens não perecíveis que compra com desconto. (A minha arrecadação tem uma belíssima colecção de papel higiénico, rolos de cozinha, desodorizantes, champôs, detergentes vários...)


5 - Não tem a menor dúvida de que se vivesse nos EUA seria um daqueles maluquinhos dos cupões que se vê na trash TV, que conseguem comprar 4 carrinhos de supermercado cheios até acima e pagar menos de 20 USD. Sendo tuga, leva em cada visita ao supermercado todos os cupões que encontrou.


6 - O pelintra usa as coisas que tem até ao último suspiro. Cola sapatos descolados, cose roupa com buraquinhos (incluindo meias e cuecas), transforma calças rotas em calções e camisas com os punhos desfeitos em camisas de manga curta, rapa o fundo das embalagens. lambe a tampa dos iogurtes e junta água aos detergentes para aproveitar até à última gota.


7 - O pelintra não desperdiça nada e reutiliza tudo o que pode. Guarda os laços dos presentes, frascos e frasquinhos, talheres de plástico, caixas vazias, germina caroços de frutos e do que mais se lembre, usa papel impresso como folhas de rascunho e põe borras de café nos vasos de plantas.


8 - O pelintra guarda sempre os pequenos artigos de higiene que os hotéis colocam à disposição - e se deixado à solta pode mesmo subtrair uma ou duas mantas dos aviões (as melhores são as da Lufthansa!).


9 - Apesar de ser fã do conceito, o pelintra não é fã de mealheiros, porque os porquinhos não rendem juros. Prefere meter as poupanças numa conta aforro ou num PPR.


10 - O pelintra leva almoço de casa para o trabalho sempre que pode. A marmita é a sua grande amiga e não se chateia nada de comer restos do dia anterior. Se vai comer fora e sobra alguma coisa, traz consigo um doggy bag, quer exista doggy ou não!



E o vosso nível de pelintrice, qual é? Fazem algumas destas coisas ou outras? Contem-me tudo.

Disclaimer: se pensam que vão descobrir alguma novidade neste post, corram já para trás. Este é o post mais cheio de lapaliçadas de que há memória.



Contudo, a julgar pela quantidade absurda de comentários, conversas, discursos e verdadeiras dissertações sobre o frio que se faz sentir, nomeadamente na comunicação social, alguém tem de o dizer com frontalidade: É o Inverno, estúpidos!
Estamos no hemisfério norte, é Janeiro. Queriam praias quentes, banhos de mar e bikinis, era? Vão para a "metade de baixo" do mundo, não está assim tão longe.



Eu sei que todos temos a mania que vivemos numa espécie de país quente, só porque temos trezentos dias de sol por ano. Os arquitectos que pensaram as nossas casas também têm essa mesma mania, ė por isso que não levam a sério o isolamento (ou então foram todos presenteados com um hotspot!!!) e é por isso que dentro das nossas casas temos mais frio do que os nossos amigos holandeses ou mesmo os russos.
Mas tudo na vida é relativo. 3°C é frio para nós, mas imaginem se o povo da Ucrânia reclamasse tanto como nós de temperaturas destas... Quando chegassem aos não raros - 20°C já tinham a língua e a garganta congeladas de tantos ais.



Para se calarem duma vez com o queixume, Dicas absolutamente essenciais e inéditas (not!) para combater o frio:



  • Isolamento, isolamento, isolamento. Se tiverem a oportunidade de construir a vossa própria casa, tenham a sabedoria de investir no isolamento térmico. A eficiência energética dispara e a poupança a longo termo é brutal!
    Se sois pobres como nós, podeis fazer algumas obras de melhoria do isolamento térmico, mas nunca será a mesma coisa. Por isso, há que compensar da melhor maneira que puderem.

  • Lembram-se de haver "chouriços" de pano debaixo das portas e janelas das nossas avós? Façam o mesmo. As avós sabem, sempre.

  • Acendam a lareira (e usem pinhas em vez de acendalhas, por favor), comprem um aquecedor a gás, a óleo, de halogéneo, o que entenderem. Mas aqueçam a casa com segurança e inteligência. Pode saber muito bem ter todas as divisões da casa a 24°C, mas vale a pena gastar uma pipa de massa para aquecer tanto divisões que nem sequer se usam muito?

  • Para enfrentar o gelo matinal na rua, não se esqueçam das luvas, do gorro, cachecol e tapa-orelhas (depende apenas da vossa resistência ou tolerância).

  • A roupa em camadas é sempre boa ideia, mesmo para quem, como eu, não tolera mais do que 3 camadas (camisola interior, camisa ou camisola e casaco bem quentinho). Para os pés, umas meias de vidro por baixo e outras de algodão por cima fazem o mesmo que meias grossas de lã.

  • Durante o dia, se trabalharem num sitio interior "normal", não terão problemas. Se tiverem a mesma sorte que eu e trabalharem num escritório em que o ar condicionado está avariado 4/5 do tempo, o ideal é mesmo ter um casaco de malha ou um poncho de reserva.

  • Uma caneca de chá quentinho aquece as mãos, a garganta e a alma

  • Um saco de água quente dentro da cama, sobretudo se os lençóis forem polares, faz milagres! Um pijama quentinho e umas pantufas não são menos confortáveis do que um top e calções.




  • E por último, voltando ao óbvio... Se está frio aqui, agarrarem na trouxa e pirem-se para os trópicos!


Pode ser para muitos uma tarefa fastidiosa e que se vai empurrando com a barriga até à última da hora, mas é uma das coisas que nao me importo mesmo nada de pensar exaustivamente, organizar, e depois despachar em 3 tempos. FAZER A MALA! Até porque fazer a mala é sinal de viagem próxima, e se há coisa melhor do que viajar (de preferência com a nossa companhia preferida), ainda estou por descobrir qual é.


Assumindo que quando chega a altura de pensar na bagagem as coisas mais importantes (como vistos e bilhetes comprados) estão tratadas, tratar da bagagem pode ser uma tarefa bastante simples e rápida. Seguem-se algumas coisas importantes e que podem fazer toda a diferença para que a viagem corra mesmo bem:


 



  • escolher a mala, troley ou mochila, conforme o gosto pessoal e o tipo de viagem/destino. Ninguém vai fazer uma escalada de troley numa mão e necessaire na outra, naturalmente... Bem como também não será muito comum aparecer num hotel de 5 estrelas duma metrópole com uma mochila Quechua velha e coçada - eu sou a excepção que confirma a regra...  Nós somos fãs de mochilas e não nos vejo a mudar de opinião tão cedo - os troleys pesam menos, verdade, mas só quando estão a rolar, porque sempre que há degraus (e há em todo o lado) não dão jeito nenhum. Eu uso uma mochila de 40l e o homem uma de 60l. Nunca ficam cheias, pelo menos à ida, e andar com elas às costas é o maior incentivo para levar realmente apenas o necessário. Ou seja, deve-se fazer exactamente o oposto do que um amigo que anda por estes dias na Índia fez, com uma mochila de 65l a abarrotar e ainda mais uns extras por fora (saco-cama e outras coisas assim maneirinhas).

  • verificar o tipo de tomadas eléctricas no destino; se for necessário, levar um adaptador - há uns adaptadores universais que valem o pequeno investimento (comprei o meu no sítio onde há de tudo, o meu amigo ebay);

  • fazer uma lista com os itens a não esquecer (ou exaustiva, para os maníacos das listas como eu): passaportes, medicação habitual, vouchers de alojamentos e transfers, protector solar, geringonças electrónicas (máquina fotográfica, carregadores, etc.)

  • se só leva bagagem de cabine, não é preciso, mas se a bagagem for no porão, por precaução, uma roupa interior e uma t-shirt lavada na bagagem de mão, não vá o diabo tecê-las e dar-se um extravio das malas. Nunca nos aconteceu, mas é das coisas mais chatas, mesmo que a bagagem não tenha nada de especial, mesmo que a companhia aérea pague a compensação devida, é um stress acrescido e que rouba tempo da viagem em si para ter de ir comprar uns essenciais enquanto a mala não chega ao destino - e pode mesmo nunca chegar, por isso...

  • não colocar itens essenciais ou valiosos na bagagem de porão. Eu nunca me separaria da my precious, a máquina fotográfica, por exemplo - vai sempre comigo, bem como medicação crónica e documentos. Para estas coisas e ouras utilidades, como snacks, telemóvel ou um guia do local, costumo usar uma day bag (mochilita leve) para usar durante o dia de passeio.

  • Last but not least... Roupa. É importante ver a previsão meteorológica antes de escolher as peças de roupa a levar: se vai estar um calor abrasador, pode deixar o casaco de malha no roupeiro, mas se vai chover é melhor levar um impermeável e um pequeno chapéu-de-chuva. A não ser que vão com ideias de desfilar em vez de aproveitar o tempo para conhecer o destino, a palavra de ordem é conforto. Sobretudo no calçado, é imperativo levar o calçado mais confortável que se tenha, ponto. Quantos pares? Os mesmos que os pares de pés que se tenha e uns chinelos de quarto/praia, se necessário. A roupa deve ser versátil e se as peças combinarem todas entre si, é muito mais fácil escolher combinações que agradem sem ter de levar o roupeiro atrás. Descomplicar é a outra palavra de ordem. O que quero dizer com isto é: umas calças de ganga podem vestir-se várias vezes antes de precisarem de lavagem. Outras peças e roupa interior, por exemplo, nem por isso. Mas isso significa que temos de levar 21 cuecas para 3 semanas de férias? Não. Água e sabão, meus amigos... E eventualmente, uma pequena corda para servir de estendal. Lavar t-shirts, meias e cuecas ao final do dia e deixar a secar durante a noite ou no dia seguinte são A chave para o célebre travel light. Com alguma prática acabarão a colocar tanta roupa na mochila para um fim-de-semana prolongado como para 3 semanas. 



Dica extra: levar um lenço largo ou uma écharpe é das melhores coisas para o viajante descomplicado: serve de aquecimento para o pescoço, de acessório de moda, serve de chapéu para proteger do sol ou do vento, serve para cobrir a cabeça, os braços ou pernas se estavam mal preparados para visitar um sítio de culto, para tapar nariz e boca quando há muito pó ou smog, serve de toalha de praia e mais trinta por uma linha.


 


Boas viagens!

E porque este blog ultimamente parece-se com a página de Facebook da nossa cidade à beira-Tejo plantada, ou seja, um obituário, vamos a animar as hostes antes que o próprio do blog faleça - e não queremos isso, pois não? Vamos falar de uma das melhores coisas da vida: COMIDA!

 

No último aniversário da família (que foi o meu), e depois de muitos anos a fazer pressão nesse sentido, a geração sénior lá cedeu a concordou em comemorar num dos meus restaurantes favoritos em Lisboa: O Grande Palácio de Hong Kong.

 

Adoro comida chinesa em geral e cantonesa em particular, quase tanto como adoro viajar, e ainda por cima adoro a cultura chinesa, adoro comprar coisas tipicamente chinesas (nomeadamente comida) e vindas da china (ahahah!) e o Grande Palácio tem o dom de ser um daqueles sítios que nos transporta realmente até à China. Primeiro, grande parte da clientela pertence à comunidade chinesa em Lisboa, e só isso já atesta pela qualidade e genuinidade da comida. O serviço não prima pela simpatia, as mesas são grandes e corridas e se é um jantar romântico com privacidade que procura, não é aqui que o vai encontrar, porque provavelmente vai acabar por ter desconhecidos como companheiros de mesa. Isto também ajuda a formar o ambiente típico dum autêntico restaurante chinês.

 

Por último e o mais importante, a comida. Depois de nos termos deliciado no fantástico e galardoado com estrelas Michelin Tim Ho Wan em Hong Kong (nós fomos ao de Sham Shui Po, há outros, incluindo um no metro, mas mais concorrido), especializado em Dim Sum e conhecido também por ser o restaurante com estrelas Michelin mais barato do mundo (nós pagámos, pelos 2, com claramente demasiada variedade de pratos e ainda 2 coca-colas "caras", que pedimos estupidamente porque não tínhamos percebido que o chá estava incluído, cerca de 13€), é verdade que nunca mais encontrámos dim sum como aqueles. Com excepção do Grande Palácio, que anda lá perto, muito perto! Adoramos regressar aos nossos clássicos favoritos e experimentar coisas novas em cada visita (quantos mais comensais melhor, porque podem pedir uma variedade grande de dim sum para partilhar). A prova de fogo são os pãezinhos doces com carne de porco... Meus amigos... que delícia! A textura do pão faz-nos acreditar que mordemos uma nuvem adocicada que se dissolve na boca, o recheio tenro de porco com molho barbecue combina na perfeição os sabores doces e salgados, e ficamos com a sensação de que podíamos comer mais 6 ou 7 sem nos fartarmos ou enfartarmos. Ainda na lista das recomendações tenho de incluir o incontornável pato à pequim com pele estaladiça, os bolinhos de nabo, os fritos de inhame, os raviois de gambas... Mas o melhor mesmo é aventurar-se na imensa carta.

 

Aqui paga-se um bom bocado mais do que no Tim Ho Wan, mas considerando o que se poupa em bilhetes de avião, ir ao Grande Palácio de Hong Kong é uma imperdível oportunidade de comer comida autenticamente cantonesa, preparada de forma exímia e absolutamente deliciosa.

 

 

Nota: Nem o Tim Ho Wan nem o Grande Palácio de Hong Kong nos pediram ou compensaram de qualquer forma por este post (mas se nos quiserem dar refeições de borla, estamos sempre à disposição =D).

 

 


Ajustar as expectativas, no que diz respeito a viagens, é essencial para não maldizer cada dia e cada cêntimo gastos. Mas igualmente importante é:

- não ir em carneiradas, excursões, épocas altas, sítios da moda;

 


- dar tempo e espaço à descoberta e improvisação;

 


- chegar mais cedo ou mais tarde aos pontos críticos;

 


- fugir do "beaten path";

 


- conhecer os sítios como os locais o fazem, ir aos sítios que os locais vão e fazer o que eles fazem;

 


- estudar, perguntar, pesquisar;

 


- deter os pequenos pormenores e ter capacidade de abstracção.

 


 

A viagem não é uma check-list de pontos turísticos, é a experiência real, é lidar com multidões, com lixo, com stress, é saber aproveitar quando está frio, quando chove e está nevoeiro. É chegar a tempo de ver o nascer do sol no Taj Mahal e pensar que não há fotografia que faça jus áquela beleza. É provar vinhos nas tascas de ruelas esquecidas e quase desertas de Veneza. É experimentar todo o género de comida de rua na Tailândia e achar, em casa paragem, que aquela é a melhor refeição da vida. É dar um beijo apaixonado na grande muralha da China e pensar em quantos terão feito o mesmo nos últimos 2 milénios. É encontrar poesia nas aves que se abrigam durante uma trovoada tropical. É adorar andar perdido no meio de ruelas escuras e ser confundido com um nativo. É fechar os olhos no palácio imperial de Viena e senti-los mareados quando imaginas o pequeno e genial Mozart ao colo da princesa Sissi. É sentires estranhíssimos déjà vus no antigo império Otomano e admitires a possibilidade de reencarnação.

 


É não saber o que te vai fascinar e ficar guardado na memória da próxima viagem.

 

A propósito disto.