Primeiro, as palavras. As que nunca ninguém antes havia dito. O respeito e a certeza que se foi instalando. A seguir a confirmação de que te esperava desde sempre. A Luz, a resposta passa pela luz que és, que acendeste em mim.
(Feliz Aniversário, Amor. )
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rapaz, as palavras não deixam de existir quando viras a página. As palavras não são engolidas e o passado não evapora.
A tua história, a minha, a de toda a gente, é o percurso, o ontem, o hoje e será o amanhã. O que somos hoje é fruto do que vivemos, as feridas que hoje temos são resultado de dores infligidas antes e os medos que temos existem pelas razões de cada um de nós.
Podes virar tantas páginas quantas quiseres, mas elas vão continuar a existir independentemente de ti.
my boy, words don’t cease to exist when you turn the page. Words are not swallowed and the past doesn’t evaporate.
Your story, mine, everybody’s story, is the path, the yesterday, the today and will be the tomorrow. What we are today is the product of what we have lived, the wounds we carry today are the result of pains inflicted before and the fears we have exist for our very own reasons.
You may turn the pages as much as you want, but they will keep existing regardless of you.
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Cansei-me do snobismo moralizante da escritora (de quem gosto, de há muito, enquanto escritora) que se deixa enganar pelo corrector ortográfico. (Promíscuas tem acento sim, querida.) Demasiadas vezes a criticar do alto dum poleiro que não se justifica. E a disparar em todas as direcções (parece eu, que mau feitio!), desde acções de caridade pelos tigres (porque hão-de ser menos merecedores que pessoas com fome? Desconhece porventura o valor da biodiversidade, é que a humana não está em risco!) aos menus das tias de Cascais.
Já não há paciência para filtrar de entre tanto disparate uma ou outra pérola acutilante que se aproveite. Fora do meu Google Reader, xô!
A amiga mais nova, também escritora e com bem pior rigor ortográfico, é genuína. Gosto da arrogância e do mau feitio desta, vem-lhe de dentro como a ironia que lhe dá salero. Essa, fica.
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Assim que uma pessoa toma consciência da pele em que vive, na de pessoa, começa a ver o padrão da vida como ela é. Ris, dás um tombo, choras, lambes as feridas. Tornas a rir, tornas a tombar, tornas a chorar e a lamber as feridas. Eventualmente, alguns de nós ganham calo e deixam de entornar lágrimas com cada queda. Outros de nós, eventualmente, ganham medo de cair e deixam-se estar no chão, a chorar, sem lamber devidamente as feridas e sem ousar tornar a rir. E vai-se vivendo, o ciclo vai-se repetindo na sua essência. Uns mais permeáveis à esperança, outros alicerçados na Fé, outros mais derrotistas, num infinito leque de variações de tons sempre com a mesma cor. Que isto é igual para todos, digam lá o que disserem os que invejam outros, e é bem possível que as regras kármicas da Humanidade sejam tão inevitáveis como as leis físicas (que ainda assim conhecem excepções). Tornamo-nos um bocadinho cães de Pavlov e de cada vez que temos vontade de rir até o evitamos, desconfiados, que o mais certo é estar para breve um trambolhão e nunca bem se sabe a dureza do solo ou se se põe mal um cotovelo que nos desgrace de vez. É o cinismo que vem com a idade, dizem. Que sempre o pobre desconfia quando a esmola é grande.
Às tantas dás por ti a rir todos os dias, e agora que pensas nisso, já nem sabes bem quando e onde foi o último trambolhão. Começas a travar, que vais por aí fora como se fosses dono do destino e sabes que podes dar por ti com um camião em cima não tarda. Páras. Olhas para todos os lados à procura dos indícios – que eles têm de estar por aí. Um terreno de areias movediças, um buraco escondido, um precipício não anunciado. Não vês nada, não ouves nada, só uma danada duma segurança que de certeza quer apanhar-te em falso. Começas a esperar um terramoto a qualquer momento, de cara fechada, vais reforçando o teu bunker pessoal. E eu, que não sei do futuro nem de lições de moral, mas acho que só há um remédio para combater os medos, que é enfrentá-los, puxo-te pelos cabelos. Agarro em ti e empurro-te do precipício abaixo, para veres que não cais, porque te estou a agarrar. E não vou largar. Nunca.
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Cada pessoa tem um número de mentiras bem definido para gastar na sua vida, e o mesmo se pode aplicar às metáforas que diabólica e sorrateiramente assaltam a demência criativa do escritor. As duas poderão ser simultâneas e compulsivas, logo não desprovidas de sinceridade. Como as pessoas más podem ser fracas ou fortes, mas pessoas boas são sempre fortes, de que modo estabelecerias uma ponte entre a metáfora, a mentira, a sinceridade e tu mesma?
A ponte do meu âmago para a mentira está por descobrir, que me causa inegável repulsa sob todas as formas. Concebo, sim, representar um papel distante de mim, que terei feito em ocasiões distantes e cuja infelicidade profunda que me causei mais reforçou a necessidade de verdade, quase como uma adicção. Desconfio que quem mente não é feliz. E eu sei que não sou feliz com mentira a poluir-me o sangue, ou a vista, for that matter.
Sendo que as verdades de cada um mudam consigo e com o ponto em que se encontra - é natural que assim seja porque a própria verdade da realidade que percepcionamos é lida de múltiplos ângulos e, assim, cria uma multiplicidade de verdades - e que raramente coincidem com as verdades alheias, a não ser em tratando-se de verdades factuais e verificáveis globalmente, a própria definição categórica que adiantes, de pessoas boas e pessoas más, é permeável, no mínimo. Não há pessoas sempre boas nem pessoas sempre más, há sim pessoas de essência pura e generosa e pessoas de essência egoísta e invejosa (substitui os adjectivos pelos que melhor sumarizarem a tua experiência pessoal).
Ou seja, a relatividade é uma constante até da verdade. A minha verdade pode não ser a tua e vice-versa, o que não significa que um de nós esteja a mentir. É desta percepção que nasce a tolerância e compreensão perante os outros. Não mentir é ser fiel à tua verdade. É em cada momento agires e comunicares exactamente o que pensas e sentes. Ainda que saibas bem que passada uma hora possas discordar de ti próprio. Aqui entra a capacidade de controlar a impulsividade (que tanto me falta e a outros sobeja). Falta-me porque não me rendo à verdade que exista daqui a uma hora, porque aqui e agora não tenho como escapar ao meu crivo interno de autenticidade, que me impele e me ferve, me mantém viva.
Deixei as metáforas para o fim, como uma criança gulosa, porque são as minhas preferidas. E são-no pela absoluta sinceridade que não se transmite de nenhuma outra forma. Muito mais que um simbolismo inerente e as vastas possibilidades de interpretações pessoais que oferecem, mais que a beleza com que os mestres as desferem, as metáforas são, elas próprias, verdade. Repara como alguém se identifica com as características que encontra, por exemplo, numa ventania. Uma metáfora apresenta um carácter bem mais amplo, livre, capaz de evoluir e permanecer, que uma mera descrição, um nome, e só encontra caminho para instalar-se (mais que nascer) nas palavras dum escritor através da sinceridade. Doutra forma, não passa(ria) duma coxa tentativa de forjar figuras de estilo sem identidade, mal semeadas.
E, dizia o Kundera que o amor nasce de metáforas. Sei que sim. Sei duma paixão muda que nasceu de mãos que se tocavam sem se procurar, dum amor que pegou em duas noites estreladas e atou-lhes um nó sem tempo, sei de flores silvestres que brotaram das asas azuis de pássaros perdidos. E esta é a Verdade, esta sou eu.
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Não sei quando começou, sei que começou cedo. Não sendo a maior nem a primeira das paixões, a escrita é uma das paixões constantes que guardo com carinho, como uma velha camarada com quem se passa por todas as grandes lutas. Na adolescência virava-me mais para uns poemas desconexos, a transbordar de melancolia. Chamei-lhes “Palavras Perfeitas”, guardei-os numa disquete e já não lhes ponho a vista em cima há muitos anos. Acho que estarão perdidos para todo o sempre, felizmente. Lembro um ou outro episódio em que a professora de Português (a mesma que me leu a sina) louvava uns trabalhitos que nos mandava fazer, de forma a deixar-me completamente vermelha e encabulada diante da turma toda. Sim, eu sou a timidez em pessoa, odeio ser o centro das atenções e nunca aprendi a lidar muito bem com elogios. O que também acresce à facilidade maior em comunicar escrevendo, escondida aqui atrás do alter-ego. Numa das últimas aulas de Português, com exames à porta e muita expectativa perante a vida universitária, discutia-se as notas finais. A professora confessou que na sua já longa carreira, nunca antes tinha atribuído nota 20 a nenhum aluno. Já tinha uma vez dado nota 19 a um senhor mais velho do que ela, que tinha aulas à noite para terminar o liceu, lia imenso e era um poço de cultura. Não fiquei “inchada” nem surpresa. Nunca tive vaidade nas boas notas que, felizmente, sempre tive, nem falsas modéstias. Era uma questão de mérito, de justiça, e essa faz-me falta à sanidade. Foi só depois que fiquei de olhos esbugalhados e garganta seca. A professora chegou-se a mim, agarrou-me a mão direita com ambas as suas mãos pequeninas e maduras e disse-me: “Filha, tu promete-me! Eu sei que não queres ir e não vais para Letras, mas tu não podes deixar de escrever! Olha o Lobo Antunes, também foi para ciências e é um escritor genial! Tu promete-me que nunca, nunca, vais deixar de escrever!” E eu, prometi. E cumpro sempre as minhas promessas.
Podia ser uma explicação. Outra, mais simples e igualmente verdadeira: escrevo porque gosto. Chega?
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«Amanhã encontro-te. Não sei onde mas encontro-te. No automóvel ao meu lado no sinal vermelho, no correio por causa de uma encomenda, na mesa acolá, do restaurante onde almoço, numa passagem de peões, na sala de espera do dentista, seja onde for, encontro-te. Não deves ter mudado muito, nenhum de nós, mesmo que tenha mudado muito, mudou muito: qualquer coisa, uma expresão, um gesto e reconheço-te logo, reconheces-me logo apesar de pintares o cabelo, apesar de eu ter engordado (...)»
Já vos aconteceu escreverem posts que acham medíocres, não quero dizer que não sejam sentidos, mas se calhar um bocado a constatação do óbvio, sem arte nem engenho de especiais, e que vos digam que é lindo e maravilhoso? E, pelo outro lado, quando escrevem com tanto sentimento, aqueles textos em que se deixa pedaços de alma a arrastar nas palavras, ninguém liga puto?
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(always did and always will)
You with the sad eyes don't be discouraged oh I realize it's hard to take courage in a world full of people you can lose sight of it all and the darkness inside you can make you fell so small
But I see your true colors shining through I see your true colors and that's why I love you so don't be afraid to let them show your true colors true colors are beautiful like a rainbow
Show me a smile then don't be unhappy, can't remember when I last saw you laughing if this world makes you crazy and you've taken all you can bear you call me up because you know I'll be there
And I'll see your true colors shining through I see your true colors and that's why I love you so don't be afraid to let them show your true colors true colors are beautiful like a rainbow
(True Colors, by Cindy Lauper)
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Há uma palavra de malmequeres selvagens que quer soltar-se nos teus olhos...
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Os teus olhos
exigindo
ser bebidos
Os teus ombros
reclamando
nenhum manto
Os teus seios
pressupondo
tantos pomos
O teu ventre
recolhendo
o relâmpago
A palavra e a pele
em uníssono pedem
que lhes pegue.
Amor
Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
essa perna é tua?, esse braço?,
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente á tua boca,
abre-se a alma à língua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi fácil, nunca,
também a terra morre.
Despojo
Já depois de colhido pela mão do segredo, o amor foi cortado com a faca do medo. Das metades mordidas na vertente das fugas, tão-somente ficaram remorsos, raivas, rugas.
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As mãos, abertas e fechadas, pousadas na urgência de permanecerem desconhecidas, riem. Abertas como nuvens, imóveis enquanto escrevem. Sussurram cantigas e poemas desgarrados. Próximas, tão próximas, as mãos que pousam como palavras no meu ombro, gaios tontos nas telhas do sótão. Afinal tocam-se, dançam juntas na celebração banal do que é, afinal, maior que as palavras que as mãos trocam.
A palavra estranha que tocou o ombro estremeceu, mas deixou-se ficar.
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parece um diálogo entre mim e a minha gémea malvada...
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Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca, Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca. ... Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto, Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas, inesperadas Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído, No papel abandonado)
Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte.
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Ela não questiona, só em surdina, porque as questões teimam em ter as mesmas cores das ilusões. E em vez disso, responde que sim, ma non troppo. Prefere chamar-lhes enfatuações, quase uma arqueologia dos sentimentos próprios. Lemos palavras alheias e saltamos-lhes para o dorso, deixamos que nos levem a destinos imaginados e íntimos sem abrir os olhos. E não queremos saber do risco de abri-los e acharmo-nos na escuridão, porque não se trata do que é real. Vamos, porque precisamos de ir. Precisamos de saber sentir uma emoção maior num qualquer vislumbre, para quebrar o vício de nunca mais sentir. Precisamos de provar que até podemos dar mais uma oportunidade às improbabilidades. A isso chamo eu de não ceder aos infames limites do possível, de ter garra de viver. E nós temo-la a pingar de cada poro.