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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Ao longe, vozes que falavam umas com as outras, numa língua que não era a sua. Tinha receio de abrir os olhos. Não tinha a certeza se havia sido sonho, imaginação ou puro desejo. Ousou ensaiar uma espreguiçadela, sentiu os braços dele a envolvê-la. Os pés fizeram-lhe uma festa, as pernas engalfinhadas sorriam. Ele apertou-a e deu-lhe um beijo pequenino, muito rápido, na face. Ela abriu os olhos e inquiriu, sem dizer nada. Ele também não sabia responder melhor. Era assim, ali estavam, isolados, juntos e cheios de hesitantes hipóteses. Esgueirou-se depressa, pés no chão e soltou um nervoso assobio bem-disposto. Ela gostou. Sentiu-se cheia de confiança, pareceu-lhe que a vida acabara de começar, e da melhor maneira. Ensinou-o a dar-lhe os bons dias, com um beijo de confirmação. Tudo era perfeito, o cheiro de sabonete na pele, a música, a distância dos passados que já não importavam. Não tinha sido um engano, sequer a embriaguez duma nova realidade com paredes pintadas a lápis-de-cor. O sentimento, recente sem ser imprevisto, instalara-se como um estandarte.


A vida acabara de começar.