Nua, em frente ao espelho da casa de banho, revejo o meu corpo. Percebo que falta algo que não identifico de imediato. É mais do que a habitual falta de correspondência com a imagem que tenho de mim própria. Falta algo em todo o corpo, no conjunto, como uma embalagem, como se ao litro de leite faltasse o tetrapack. Falta algo que contém, mas mais, falta algo que dá forma e que confere todo um sentido. Como se este corpo tivesse sido engenhado para corresponder a uma origem, ou a um fim.
A água a correr, o cheiro familiar e herbal de espumas doces e terapêuticas.
Percebo, ainda de olhos fixos na imagem reflectida, que vejo mais do que o que realmente o espelho devolve. Vejo-te a ti por trás de mim, cabeça entretida em beijos no meu pescoço, o teu peito contra as minhas costas, os teus braços a cobrirem-me peito e barriga, os meus braços a cobrirem os teus, os meus dedos a dizerem aos teus que sim, que os quero para sempre colados a mim. É isso que falta. Faltas-me tu, no lugar onde pertences, junto a mim.