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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Não concordo nada. Chorar resolve, nem que seja pelo cansaço, coisas importantes dentro de nós. Ou pelo menos ajuda bastante. Não sendo a melhor das soluções, na falta dum abraço e dum chocolate quente, é a alternativa que se apresenta. Chorar as saudades dry. (Pois, só funciona em bilingue.) É o que faz, literalmente, chorar baba e ranho (pelo menos a mim). Uma torneira de mar salgado em cada ducto lacrimal. Chorar raiva e injustiça. Com a face quente e vermelha e um nó na garganta que sufoca e parece que quer esmagar o peito oprimido e as veias do pescoço a gritarem mais alto. Chorar tristeza, é o que custa mais. Lágrimas lentas, espessas, a correrem com toda a indolência pela cara abaixo, em silêncio, sem se tocarem, até tornarem ao canto da boca e se reciclarem no ciclo da melancolia. Da mesma composição das lágrimas de solidão, ou não fosse a solidão filha da tristeza (ou será vice-versa?).


Não chegou a haver tempo para ter saudades das lágrimas, que se elas andarem avessas uma ou outra semana parece apenas que contemplam umas breves férias, merecidas, por quem está no activo todos os outros dias do ano.

Chorar ausências e o que nunca teve uma oportunidade de ser criado, como um aborto antes da inseminação. Chorar uma última vez (...), como num beijo de despedida, e secar os olhos e untar com camadas espessas de ternura cicatrizante o coração que bate, já bate, e como bate (!), e por tanto e tão forte bater arrepanha as cicatrizes mal curadas.

 

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